Nos
chamados “cultos eletrônicos”, transmitidos pela televisão, sobretudo, existe
uma avalanche de testemunhos de pessoas que receberam este ou aquele milagre de
Deus. Quando olhamos um pouco mais a fundo, percebemos que esses testemunhos
normalmente são dados mais para dar credibilidade a esta ou àquela igreja, a
este ou àquele pastor, do que propriamente exaltar o nome do Senhor, do qual
provém todo e qualquer milagre.
Mas há uma questão muito mais séria
que tem comprometido aquilo que a Sagrada Escritura entende por fé: a ideia de
que se a minha fé não produz milagre, ela não é verdadeira. Pior ainda, a ideia
de que ter fé significa exigir e esperar de Deus intervenções grandiosas,
respostas esmagadoras às nossas preces, sem que tenhamos que fazer a nossa
parte para resolver problemas que muitas vezes nós mesmos criamos.
Assim como as igrejas estão cheias
de pessoas buscando milagres, elas também estão cheias de pessoas que “folgam”
com Deus, esperando tudo do céu e não dando o passo que não somente podem como devem dar, se quiserem ter seus problemas resolvidos. Esta é uma fé
que poderíamos chamar de “malandra”, “preguiçosa” e “irresponsável”, uma fé que
cai muito bem para a geração atual, uma geração que quer respostas rápidas e
imediatas para os seus problemas, sem ter que suar a camisa para resolvê-los.
Contudo, a verdadeira fé nos ensina
que a maneira como Deus age, na maioria das vezes, não é de forma espetacular,
sensacionalista e imediatista, mas silenciosa, simples e a longo prazo,
exigindo de nós confiança, perseverança e constância em nosso caminhar com Ele.
Não foi à toa que Deus disse ao profeta Habacuc: “Se demorar, espera-a, pois
certamente virá e não tardará. Quem não é correto vai morrer, enquanto o justo
viverá por sua fé” (Hb 2,3-4).
Chegará um tempo em que não
viveremos por aquilo que comemos ou bebemos, muito menos por aquilo que o nosso
dinheiro pode comprar. Chegará um tempo em que viveremos apenas se tivermos fé,
uma fé que não depende de milagres, de intervenções esmagadoras e imediatas de
Deus, uma fé que, mesmo não vendo, se dispõe a dar os passos de que é capaz de
dar, confiando que Deus intervirá como Ele quiser, não como nós queremos.
Na Bíblia, fé e fidelidade caminham
de mãos dadas. Ter fé em Deus significa não somente confiar que Ele fará a
parte d’Ele, mas me manter fiel naquilo que é a minha parte a fazer. Se somos
fiéis em nossas pequenas tarefas diárias, Deus nos confiará muito mais, como
disse Jesus (cf. Lc 16,10-12). Se nos mostrarmos fiéis nas pequenas coisas do dia
a dia, se não desprezarmos os pequenos sinais da intervenção diária de Deus em
nossa vida, veremos a concretização dos Seus “milagres” em nós.
Então, se você tem
duas pernas perfeitas, mas tem a mania de querer que Deus te carregue no
colo..., se você não sabe se conter, gasta mais do que ganha, e vive clamando a
Deus pelo milagre da prosperidade..., se você não se dispõe a rever a forma
como constrói (e também destrói) seus relacionamentos, e vive pedindo que Deus
faça um milagre e resolva seus problemas afetivos..., se você não dá os passos
que pode dar e vive exigindo uma garantia para confiar em Deus..., ou seja, se
sua fé precisa de milagres constantes para sobreviver, é melhor rever o que
você entende por fé.
Pe. Paulo Cezar Mazzi
Perfeito ! Ter fé é fundamental , sem fé não permanecemos de pé , isso é indubitável. Mas é importante saber que a vida não tem controle remoto, precisamos levantar e mudar.
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