quinta-feira, 13 de junho de 2013

CHEIRO DE PERFUME

Missa do 11º. dom. comum. Palavra de Deus: 2Samuel 12,7-10.13; Gálatas 2,16.19-21; Lucas 7,36 – 8,3.

            A maioria das pessoas usa perfume. Por qual motivo? O que o perfume simboliza? O perfume pode ser sinônimo de sedução, usado para atrair alguém. No sentido bíblico, ele é a manifestação da amada para com o seu Amado (cf. Jo 12,3). No sentido espiritual, ele simboliza a nossa alma, tanto que São Felipe Neri tinha o dom de sentir o mau cheiro da alma das pessoas que estavam em pecado. Desse modo, o perfume verdadeiro da nossa alma deve ser a santidade. As pessoas podem sentir o cheiro do seu perfume, mas não da sua alma. Se pudessem, seria um cheiro bom ou um mau cheiro?
            Uma mulher, conhecida publicamente como pecadora, fica sabendo que Jesus está na casa de um fariseu, pessoa que se considerava impecável na sua conduta. Sem ser convidada, ela entra na casa e chora os seus pecados aos pés de Jesus. Você ainda é capaz de chorar seus pecados, ou já se habituou tanto com eles que se tornaram uma espécie de segunda personalidade sua? Quando foi a última vez que você chorou? Por qual motivo? Nos ombros de quem você costuma chorar?
            Aquela mulher já havia estado com muitos homens, mas agora chora aos pés de Jesus porque compreendeu que nenhuma força humana é capaz de tirar o homem do pecado em que vive. Somente a ação de Deus pode libertá-lo. Como anda a sua consciência em relação ao pecado? As palavras do profeta Natã a Davi descrevem como é a dinâmica do pecado em nós (cf. 2Sm 12,8-9): parece pouco o que Deus no dá; queremos mais; acabamos por fazer o que desagrada a Deus; queremos nos apropriar de “algo” que não é nosso; achamos que os fins justificam os meios; por isso, até “matamos”, se for preciso. Depois que o estrago foi feito, nos damos conta de que o mal que provocamos nos outros se volta contra nós (cf. 2Sm 12,10). O pecado tem suas consequências: mesmo nos arrependendo do erro que cometemos, o “filho” que nasceu do nosso pecado, da nossa atitude errada, morrerá, morrerá porque não existe vida onde existe o pecado (cf. 2Sm 12,13). Todo pecado gera morte em nós.
Aquilo que morre passa a cheirar mal, e não há perfume que disfarce o mau cheiro. Nossa alma precisa de um bom banho, e esse banho consiste, segundo o Salmo 32, em confessar o nosso pecado, reconhecer a falta cometida, nos arrepender, nos convencer de que aquilo não é bom para nós; nos deixar libertar e curar por Deus. Segundo São Paulo, se trata de nos convencer de que a nossa justificação, a regeneração da nossa alma, só pode se dar quando cremos no Filho de Deus que nos amou e se entregou por nós (cf. Gl 2,20). Na cruz, Jesus derramou o seu perfume, isto é, doou sua vida, em favor do perdão dos nossos pecados.
 Reconhecendo-se amada e perdoada por Jesus, a mulher beija-lhe os pés e derrama sobre eles o seu perfume. Ela, que conviveu com muitos homens e nunca foi amada de verdade por nenhum deles; ela, que sempre encontrou nos olhos dos homens um olhar de condenação, encontrou nos olhos de Jesus um olhar de misericórdia. Desse modo, ela demonstrou todo o seu amor por Jesus porque se sentiu perdoada por Ele. Assim acontece conosco: Jesus nos perdoa porque nos ama; nós O amamos porque fomos perdoados por Ele.
Assim como Jesus se dirigiu ao fariseu, assim se dirige hoje a nós: “Tu não me ofereceste água... Tu não me deste o beijo... Tu não derramaste óleo...” (Lc 7,44-46). Jesus é a expressão da generosidade do coração de Deus. Porque Ele nos ama, derrama continuamente sobre nós o perfume da vida de seu Filho, por meio do Espírito Santo. Mas, quantas vezes nós respondemos a essa generosidade, a esse imenso amor, com atitudes mesquinhas? Quantos de nós vive sua fé querendo apenas receber, mas nunca ou raramente doar? Você é generoso com Deus no tempo que diariamente reserva (ou deveria reservar) para a sua oração? Você exala na comunidade o perfume do seu dízimo, ou o mau cheiro do medo que tem de se prejudicar financeiramente ao tornar-se dizimista?  
      “Teus pecados estão perdoados” (Lc 7,48). Quantas pessoas caminham pela vida convencidas de que precisam se resignar diante deste ou daquele sofrimento porque estão “pagando” pecados de erros passados ou de supostas vidas passadas? Jesus está aqui para dizer: ‘Você não tem nenhuma dívida para com Deus (cf. Cl 2,13-14). Você não precisa carregar consigo nenhuma condenação (cf. Rm 8,1). “Tua fé te salvou” (Lc 7,50), a fé no meu perdão, a fé na misericórdia do Pai, a fé que mostra que a sua vida pode ser vivida de maneira diferente. “Vai em paz!” (Lc 7,50). Você encontrou em mim a sua paz, a paz que tanto procurou, mas em lugares errados, em pessoas erradas e de formas erradas. Pode ir, e leve para onde você for o perfume do meu amor e do meu perdão!’ 
                                                                     Pe. Paulo Cezar Mazzi 

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