sexta-feira, 2 de novembro de 2012

DEIXAR-SE SANTIFICAR


Missa para o dia de todos os Santos. Palavra de Deus: Apocalipse 7,2-4.9-14; 1João 3,1-3; Mateus 5,1-12a.

Qual é o objetivo principal da nossa vida de fé? A resposta a essa pergunta varia de pessoa para pessoa. Uns estão buscando cura; outros, libertação de algum problema; uns querem resolver seus problemas afetivos; outros, seus problemas financeiros. Embora as razões que levam as pessoas a procurarem por Deus sejam inúmeras, o dia de todos os santos, que celebramos hoje, nos recorda que o objetivo principal da nossa vida de fé, da nossa relação com Deus, é a nossa santificação.
Muitas vezes ficamos frustrados com Deus porque os resultados que colhemos em nossa vida de fé não são aqueles que esperamos. Não entendemos por que isto ou aquilo nos acontece. Contudo, se a vontade de Deus é a nossa santificação, devemos confiar que Ele conduz todas as coisas segundo esse propósito. Aquilo que para nós não tem nenhum sentido pode estar acontecendo justamente em função da nossa santificação.
É assim que podemos entender o sentido da tribulação em nossa vida. Quando o livro do Apocalipse descreve os Santos, usa essas palavras: eles “vieram da grande tribulação. Lavaram e alvejaram suas vestes no sangue do Cordeiro” (Ap 7,14). É verdade que algumas das tribulações que passamos na vida são resultado da nossa obstinação em caminhar fora da vontade de Deus. Contudo, quando procuramos caminhar na fidelidade a Deus, vamos experimentar muitas tribulações, nas quais a nossa vida será mergulhada no sangue do Cordeiro, isto é, no sofrimento de Cristo na cruz pela sua fidelidade ao Pai. 
O que torna desafiadora a nossa santificação é que ela não está em função de nós mesmos, mas de Deus. Nós somos chamados a ser santos não em vista dos nossos próprios méritos, mas para que a vida de Deus se manifeste ao mundo por meio de nós. Se existe hoje uma perda de fé em Deus no coração de muitas pessoas é porque também existe uma perda de santidade em muitos de nós, que dizemos crer em Deus.
Jesus, no seu evangelho, nos propõe um caminho de santificação: as bem-aventuranças. Elas são atitudes de vida. A proposta de Jesus é que vivamos diariamente a nossa santificação por meio dessas atitudes: ser pobre em espírito, isto é, viver na absoluta dependência de Deus e na confiança em seu amor; ser aflito, no sentido de deixar-se afetar pelo sofrimento alheio; ser manso, aprendendo a lidar consigo mesmo e com os outros; ter fome e sede de justiça, no sentido de não desistir de ser uma pessoa justa e de trabalhar em favor daquilo que é justo; agir com misericórdia para consigo mesmo e para com os outros; ser puro de coração, tendo reta intenção e valorizando o bem que habita em cada pessoa; promover a paz, desarmando-se e ajudando os outros a se desarmarem no relacionamento cotidiano; suportar ser perseguido ou criticado por ser uma pessoa justa; enfim, suportar ser perseguido ou criticado por servir a Jesus e à causa do Evangelho. 
            O apóstolo João nos lembra que a nossa santificação é um processo que dura a vida toda e só vai ter a sua conclusão no momento da nossa ressurreição, do nosso encontro com o Senhor Jesus. Partimos daquilo que somos e caminhamos na direção daquilo que somos chamados a ser. O que nós somos como pessoa não é algo definitivo. Estamos em abertura, em processo, em transformação: a santificação tem por objetivo nos tornar semelhantes a Jesus, até que sejamos puros como ele é puro, até que sejamos como ele é: um verdadeiro sacramento de Deus.  
Quando professamos a nossa fé, dizemos: “Creio na comunhão dos santos”. Na liturgia desse dia de todos os santos, os cristãos na terra se unem aos cristãos no céu para proclamar que “a salvação pertence ao nosso Deus, que está sentado no trono, e ao Cordeiro” (Ap 7,10). Tanto a salvação quanto a santificação são pura graça de Deus, nunca méritos nossos. É Deus quem nos santifica, assim como é Deus quem nos salva por meio de seu Filho Jesus, o Cordeiro imolado. A nós cabe nos deixar conduzir pelo Espírito de Deus, nos deixar santificar por seu Filho Jesus, assumindo em nossa vida cotidiana os valores descritos nas bem-aventuranças que Jesus nos anunciou hoje.
                                                                                    Pe. Paulo Cezar Mazzi 

Nenhum comentário:

Postar um comentário