Missa para o dia de todos os Santos. Palavra de Deus: Apocalipse 7,2-4.9-14; 1João 3,1-3; Mateus 5,1-12a.
Qual é o objetivo principal da nossa
vida de fé? A resposta a essa pergunta varia de pessoa para pessoa. Uns estão
buscando cura; outros, libertação de algum problema; uns querem resolver seus
problemas afetivos; outros, seus problemas financeiros. Embora as razões que
levam as pessoas a procurarem por Deus sejam inúmeras, o dia de todos os
santos, que celebramos hoje, nos recorda que o objetivo principal da nossa vida
de fé, da nossa relação com Deus, é a nossa santificação.
Muitas vezes ficamos frustrados com Deus
porque os resultados que colhemos em nossa vida de fé não são aqueles que
esperamos. Não entendemos por que isto
ou aquilo nos acontece. Contudo, se a
vontade de Deus é a nossa santificação, devemos confiar que Ele conduz todas as
coisas segundo esse propósito. Aquilo que para nós não tem nenhum sentido pode
estar acontecendo justamente em função da nossa santificação.
É assim que podemos entender o sentido
da tribulação em nossa vida. Quando o livro do Apocalipse descreve os Santos,
usa essas palavras: eles “vieram da grande tribulação. Lavaram e alvejaram suas
vestes no sangue do Cordeiro” (Ap 7,14). É verdade que algumas das tribulações
que passamos na vida são resultado da nossa obstinação em caminhar fora da
vontade de Deus. Contudo, quando procuramos caminhar na fidelidade a Deus,
vamos experimentar muitas tribulações, nas quais a nossa vida será mergulhada
no sangue do Cordeiro, isto é, no sofrimento de Cristo na cruz pela sua
fidelidade ao Pai.
O que torna desafiadora a nossa
santificação é que ela não está em função de nós mesmos, mas de Deus. Nós somos
chamados a ser santos não em vista dos nossos próprios méritos, mas para que a
vida de Deus se manifeste ao mundo por meio de nós. Se existe hoje uma perda de
fé em Deus no coração de muitas pessoas é porque também existe uma perda de
santidade em muitos de nós, que dizemos crer em Deus.
Jesus, no seu evangelho, nos propõe um
caminho de santificação: as bem-aventuranças. Elas são atitudes de vida. A
proposta de Jesus é que vivamos diariamente a nossa santificação por meio
dessas atitudes: ser pobre em espírito,
isto é, viver na absoluta dependência de Deus e na confiança em seu amor; ser aflito, no sentido de deixar-se afetar
pelo sofrimento alheio; ser manso,
aprendendo a lidar consigo mesmo e com os outros; ter fome e sede de justiça, no sentido de não desistir de ser uma
pessoa justa e de trabalhar em favor daquilo que é justo; agir com misericórdia para consigo mesmo e para
com os outros; ser puro de coração,
tendo reta intenção e valorizando o bem que habita em cada pessoa; promover a paz, desarmando-se e ajudando
os outros a se desarmarem no relacionamento cotidiano; suportar ser perseguido ou criticado por ser uma pessoa
justa; enfim, suportar ser perseguido
ou criticado por servir a Jesus e à causa do Evangelho.
O apóstolo João nos lembra que a
nossa santificação é um processo que dura a vida toda e só vai ter a sua
conclusão no momento da nossa ressurreição, do nosso encontro com o Senhor
Jesus. Partimos daquilo que somos e caminhamos na direção daquilo que somos
chamados a ser. O que nós somos como pessoa não é algo definitivo. Estamos em
abertura, em processo, em transformação: a santificação tem por objetivo nos
tornar semelhantes a Jesus, até que sejamos puros como ele é puro, até que
sejamos como ele é: um verdadeiro sacramento de Deus.
Quando professamos a nossa fé, dizemos:
“Creio na comunhão dos santos”. Na liturgia desse dia de todos os santos, os
cristãos na terra se unem aos cristãos no céu para proclamar que “a salvação
pertence ao nosso Deus, que está sentado no trono, e ao Cordeiro” (Ap 7,10).
Tanto a salvação quanto a santificação são pura graça de Deus, nunca méritos
nossos. É Deus quem nos santifica, assim como é Deus quem nos salva por meio de
seu Filho Jesus, o Cordeiro imolado. A nós cabe nos deixar conduzir pelo
Espírito de Deus, nos deixar santificar por seu Filho Jesus, assumindo em nossa
vida cotidiana os valores descritos nas bem-aventuranças que Jesus nos anunciou
hoje.
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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