terça-feira, 1 de maio de 2012

O silêncio como abertura para Deus


o silêncio serve ao ouvir, ao escutar a palavra de Deus. Ele aguça a percepção para a presença de Deus como espaço em que nos movimentamos, e para a palavra de Deus que nos aponta o caminho. No silêncio eu escuto a doutrina do Senhor, que mostra-me o caminho para a vida. Nós devemos fazer silêncio a fim de mantermos a abertura para a presença de Deus.
O silêncio torna possível uma atmosfera em que seja possível rezar. E isto preserva aquilo que nasceu e cresceu durante a oração. Quando alguém volta a falar logo após a oração em comum, este não é capaz de preservar o fruto da oração. O recolhimento dissipa-se, o que junto no seu íntimo é derramado. Mas o silêncio faz com que a oração continue ressoando, que ela se consolide no coração.
O silêncio também é uma reação a uma profunda experiência de Deus, e não, ao invés, um meio para provocar uma experiência de Deus. A própria Sagrada Escritura revela que o silêncio profundo é sempre uma reação provocada pela força da manifestação do próprio Deus: “O Senhor está no seu templo santo: silêncio em sua presença, terra inteira!” (Hab 2,20); “Silêncio diante do Senhor Deus, pois o dia do Senhor está próximo” (Sf 1,7); “Quando (o Cordeiro) abriu o sétimo selo, houve silêncio no céu por espaço de meia hora” (Ap 8,1). Em todos estes textos, o silêncio puro e profundo é provocado pelo próprio Deus.
Às vezes nossas imagens de Deus são para nós mais importantes do que Deus mesmo. Quando nos desvinculamos de todas as nossas imagens, e mergulhamos no fundamento mais íntimo de nós mesmos livre de toda e qualquer imagem, então nós somos um com Deus. No silêncio trata-se de nos desnudarmos de todas as imagens e ideias, a fim de que o caminho não fique bloqueado para Deus. Quando tivermos renunciado a todos os pensamentos próprios, quando tivermos mandado embora o Deus que nós criamos, estaremos dando a Deus a possibilidade de nascer em nós.
Em cada um de nós existe um lugarzinho onde o silêncio é completo, um lugar livre do ruído dos pensamentos, livre das preocupações e desejos. Não temos necessidade de criá-lo, ele já existe, apenas está obstruído por nossos pensamentos e preocupações. Quando desobstruímos em nós este lugar do silêncio, poderemos encontrar Deus como ele é.
Deixamos passar todas as expectativas, a expectativa de uma intensa experiência de Deus, toda expectativa de sentimentos de felicidade; de nossas ideias e imagens, de nós mesmos. Não temos necessidade de apresentar a Deus coisa alguma, nem pensamentos edificantes nem sentimentos piedosos. Simplesmente estamos diante de Deus – e em silêncio. Conservamos nosso coração vazio em sua presença para deixarmos que se encha com seu amor inefável, que já não pode ser descrito em palavras. Calamo-nos diante de Deus e aguardamos. Não sabemos se Deus vem e se ele toma posse de nós. Sabemos pela fé que ele está aí, mesmo que não o experimentemos. Perseverar e esperar, suportar também a não experiência de Deus, desapegar-nos da solidez da terra firme, deixarmo-nos cair no amor de Deus, abrir-nos para a presença de Deus sem a certeza de dela experimentarmos alguma coisa, é nisto que para os monges consiste o silêncio. É um silêncio esvaziado de todos os pensamentos e sentimentos humanos, um silêncio que ultrapassa toda experiência, um silêncio desapegado de toda busca de si mesmo e de toda experiência, um silêncio que se deixa cair confiantemente nos braços de Deus.

Do livro de Anselm Grün, As exigências do silêncio.

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