Ao deixar claro aos discípulos que ele deveria ir a Jerusalém para sofrer muito da parte dos anciãos, sumos sacerdotes e mestres da lei, para ser morto e ao terceiro dia ressuscitar (cf. Mt 16,21), Jesus sabia que nós podemos abusar de uma imagem otimista de Deus; podemos tornar Deus inofensivo, usá-lo para nós mesmos, para que as coisas nos corram bem.
Ao se opor às palavras de Jesus, dizendo “Que Deus não permita tal coisa, Senhor! Isso nunca te acontecerá!” (Mt 16,22), Pedro mostra que havia excluído de sua imagem de Deus o sofrimento. Nossa imagem de Deus atualmente também é assim: sem lugar para o sofrimento. Nós construímos uma imagem de Deus que corresponde aos nossos gostos. Quando, então, um sofrimento nos atinge, nossa imagem de Deus se desmorona. E quando Deus não corresponde a esta imagem, nós nos distanciamos dele.
Corrigindo Pedro (cf. Mt 16,23), Jesus nos lembra que com a nossa imagem de Deus misturam-se nossos próprios pensamentos e desejos. Não pensamos como Deus pensa, mas como agrada aos seres humanos. Nossos pensamentos não procedem de Deus, mas das expectativas e projeções humanas. Enquanto Deus se comporta de acordo com nossos desejos, nós conseguimos professar nossa fé no Deus que liberta, ama e cura. Mas logo que o sofrimento nos atinge, esta bela imagem de Deus se desmorona.
Jesus nos ensina que nós não podemos nos servir de Deus. Não podemos usá-lo para que as coisas nos corram melhor. Deus não é o encarregado de cumprir os nossos desejos. Deus não é a droga que possamos consumir para escapar à realidade. Numa época como a nossa, onde os livros mais vendidos são os de auto-ajuda, Jesus não nos diz como podemos “tirar o máximo” da vida. O que a ele importa é antes que estejamos comprometidos com a vida. Só aquele que se esquece de si, e se envolve com a vida, é que há de sentir o que a vida é, e que riquezas ela esconde. Só quem deixar de usar tudo para si mesmo, só quem estiver pronto para envolver sua vida em favor de outros, só este a haverá de ganhar (cf. Mt 16,25).
A mensagem de Jesus dirige o nosso olhar para longe de nós. Temos que deixar de girar de maneira egoísta em torno de nós mesmos e descobrir para que somos chamados. O que decide não é o que desejamos fazer de nossa vida, mas o que Deus nos confia, e o desafio que Ele nos faz.
Esta reflexão foi retirada do livro “Se quiser experimentar Deus”, de Anselm Grün.
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