Missa do 5º. dom. da páscoa. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 9,26-31; 1João 3,18-24; João 15,1-8.
Sabemos que se o galho de uma árvore não permanecer unido ao tronco, murchará, secará e não poderá produzir nenhum fruto. Mas, como a maioria de nós vive numa cultura urbana, podemos usar um outro exemplo: se você não conectar a bateria do seu celular ou do seu notebok numa rede elétrica de vez em quando, ficará na mão quando precisar deles, e eles se tornarão inúteis para você.
Seja o galho unido ao tronco, seja a bateria do celular ou do notebok unida à rede de energia, o fato é que essas imagens falam de nós e revelam que nós não temos a vida em nós mesmos, não somos autossuficientes; nós só vivemos se recebermos a vida de Alguém maior do que nós. Como Jesus deixa claro, “como o ramo não pode dar fruto por si mesmo se não permanecer na videira, assim também vós não podereis dar fruto se não permanecerdes em mim” (Jo 15,4).
Se, por um lado, muitas pessoas optaram por se desvincularem de Jesus e de uma comunidade cristã, por considerarem que não precisam disso para alimentar a sua fé, por outro lado temos pessoas que se conectam com Deus ou com seu Filho Jesus na oração apenas para recarregar suas baterias: depois de terem ido a uma igreja no fim de semana e recarregado suas baterias, voltam para as suas atividades e passam os demais dias da semana sem se conectarem com Deus por meio da oração. Essas pessoas, e também muitos de nós, ainda não entenderam o recado de Jesus: “Sem mim, nada podeis fazer” (Jo 15,5).
Qual é o problema com a nossa vida de oração, com a nossa vida de fé, com a maneira como nos relacionamos com Deus, como vivemos a nossa religião? Nós não sabemos “permanecer”. Jesus mencionou essa palavra oito vezes, no evangelho que ouvimos. Na vida da maioria das pessoas que têm uma religião, existe uma procura por Deus, mas não um permanecer n’Ele. Além disso, o nosso “permanecer” é vivenciado sob determinadas condições: eu só permaneço em Deus enquanto as coisas estão caminhando como eu quero. Porém, Jesus me convida a permanecer em Deus também quando não há resposta na minha oração; quando não há consolação diante da minha desolação; quando o meu estar unido a Ele me custa sofrimento, humilhação, perseguição; quando tantos se desconectam de Deus para se conectar a outras coisas aparentemente mais interessantes. Jesus me convida a permanecer em Deus também quando chega o período da poda...
A hora mais difícil de permanecer no Pai é a hora em que Ele , o Agricultor, tem que nos podar, para que possamos produzir frutos melhores (cf. Jo 15,2). A “poda” a que se Jesus se refere é um tapa na cara da nossa geração, uma geração egocêntrica, cheia de melindres, que busca a religião em função do próprio bem estar e se esquece que o objetivo principal da nossa vida de fé não é o nosso bem estar, mas que guardemos os mandamentos de Deus e façamos o que é do seu agrado, isto é, que acreditemos em seu Filho Jesus e que nos amemos uns aos outros (cf. 1Jo 3,22-23).
O ramo só pode produzir fruto se estiver conectado ao tronco. Que frutos são produzidos na sua vida como resultado do tempo em que você passa conectado na Internet? O fruto a que Jesus se refere é fazer aquilo que é do agrado do Pai: que o Pai seja glorificado por meio de nossas atitudes (cf. Jo 15,8). Você utiliza a sua energia espiritual para fazer aquilo que agrada a Deus, para glorificá-Lo, ou para sustentar atitudes na sua vida que desagradam a Deus, que desonram o Nome d’Ele perante os outros? Que cortes você está precisando fazer na sua vida para efetivamente permanecer conectado em Deus? Que tipo de poda, de limpeza precisa ser realizada em você, para que produza um fruto realmente bom no seu relacionamento afetivo, profissional, social? Você se relaciona com as pessoas, inclusive da sua comunidade de fé, como alguém capaz de produzir frutos que alimentem, que deem vida a esses relacionamentos, ou sua postura é a de um parasita, de um sanguessuga, de um vampiro que vive do sangue alheio?
O evangelho de Jesus é a Palavra que tem a capacidade de nos limpar, de podar em nós aquilo que tem desagradado a Deus (cf. Jo 15,3). Permaneçamos diariamente nessa Palavra, permitindo que ela devolva a seiva do Espírito Santo aos nossos ramos, e nos ajude a amar “não só com palavras, mas com ações e de verdade” (1Jo 3,18). Permaneçamos na presença de Deus, que “é maior que o nosso coração e conhece todas as coisas” (1Jo 3,20). Vivendo nessa imensa “rede social” que é o nosso mundo moderno, onde tantos se conectam a pessoas e situações que lhes roubam a seiva da vida, saibamos permanecer conectados Àquele que disse: “É de mim que procede o teu fruto” (Os 14,9). Permaneçamos n’Ele, porque sem Ele nada podemos fazer...
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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