terça-feira, 23 de dezembro de 2025

A "PALAVRA QUE SE FEZ CARNE" SÓ PODE SER OUVIDA NA SIMPLICIDADE E NO SILÊNCIO

 Missa de Natal. Palavra de Deus (Noite): Isaías 9,1-6; Tito 2,11-14; Lucas 2,1-14; (Dia): Isaías 52,7-10; Hebreus 1,1-6; João 1,1-18.

 

 “Eu vos anuncio uma grande alegria (...): Nasceu para vós um Salvador, que é o Cristo Senhor” (Lc 2,11). Como você está celebrando este Natal? A notícia do nascimento de Jesus enche seu coração de alegria, ou a tristeza pela enfermidade, pela dificuldade financeira, pela perda de alguém, pelo rompimento de um relacionamento etc., tem sufocado a alegre notícia de saber que, antes de você vir ao mundo e se confrontar com muitas situações tristes, o seu Salvador já havia nascido?

“Nasceu para vós”. Jesus não nasceu para si mesmo, assim como não viveu para si mesmo. Ele nasceu para cada um de nós. Além disso, viveu e morreu em favor da salvação de cada um de nós. Crer que Jesus se tenha feito pessoa humana e entrado na história humana não muda nada na vida de ninguém. O que muda é o fato de crermos que Ele nasceu como Salvador de cada um de nós; nasceu como “a luz da verdade que, vindo ao mundo, ilumina todo ser humano” (Jo 1,9). Luz é sinônimo de vida, verdade, direção e orientação. Vivendo dentro da grande desorientação do mundo atual, onde a IA se tornou um instrumento perfeito para se disseminar todo tipo de mentira nas redes sociais, nós seguimos Jesus: Caminho (orientação), Verdade (aquilo que é sólido e digno de confiança) e Vida (sentido e transcendência).

 A simplicidade do nascimento de Jesus – seu primeiro berço foi uma manjedoura, lugar onde os animais comem – é um ótimo questionamento para nós, que nos afastamos de tudo o que é simples e passamos a viver escravos das constantes solicitações da tecnologia e da propaganda de consumo. Como a nossa mente não suporta o excesso de informações (ou seria, na verdade, desinformações?) e o nosso emocional se esgota devido ao excesso de solicitações, a manjedoura de Jesus continua a nos alertar que a doença está no excesso, enquanto que a cura está na simplicidade. Nenhum excesso (comida, bebida, dinheiro, bens, poder, sexo, validação etc.) é capaz de responder à nossa busca mais profunda: a busca pelo sentido da vida.

No dia em que celebramos o nascimento do nosso Salvador precisamos ter a coragem de escutar o nosso coração, com suas angústias e tristezas, suas perguntas ainda sem respostas, seu vazio que não pode ser preenchido com nada que o mundo invente e nos venda com a falsa promessa de felicidade. Aliás, quanto mais presentes uma criança ganha, menos ela os valoriza; quanto menos, mais valorização e cuidado. Justamente porque a celebração do Natal foi corrompida pela indústria e pelo comércio, na sua sede insaciável de vender e lucrar conosco, para muitas pessoas o sentido do Natal passou a depender da quantidade de presentes que ganham.

O verdadeiro sentido do Natal está numa Palavra que se fez pessoa humana e desejou entrar em diálogo conosco: “E a Palavra se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). Jesus, Palavra viva do Pai, se fez pessoa humana para falar ao humano de cada um de nós. Ele se fez “carne” para dialogar com a nossa carne, a qual, no sentido bíblico, significa debilidade, ambiguidade, contradição, miséria, insuficiência, algo sujeito à tentação e ao pecado, aquilo que é chamado a ser (ideal), mas que constantemente se acomoda ao que é (real)... Jesus é verdadeiramente a Palavra viva do Pai para falar à nossa carne, e essa Palavra só pode curar, perdoar, libertar, ressuscitar e transformar aquele que faz silêncio para ouvi-La; aquele que, em meio às inúmeras solicitações por atenção, toma a decisão de ouvi-La!            

            “Ninguém jamais viu a Deus. O Filho único, que está voltado para o seio do Pai, este nos deu a conhecê-Lo” (Jo 1,18). O Filho nasceu para nos libertar de toda compreensão doentia ou deformada que tínhamos do Pai. Portanto, só podemos conhecer o Deus único e verdadeiro ouvindo o Filho, a quem o Pai concedeu o poder sobre toda carne, ou seja, sobre todo ser humano. Mas qual poder? O poder de nos dar a vida eterna. “Ora, a vida eterna é esta: que eles conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e aquele que enviaste, Jesus Cristo” (Jo 17,2-3).

Que você tenha um Natal habitado pelo silêncio e pela simplicidade de coração, para permitir ao Filho pronunciar sobre a sua carne a Palavra da Verdade, e lhe introduzir na intimidade amorosa, curativa e libertadora do Pai.

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi

 

 

quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

NOSSOS PESADELOS NÃO IMPEDEM DEUS DE SONHAR EM NÓS

 Missa do 4º dom. Advento. Palavra de Deus: Isaías 7,10-14; Romanos 1,1-7; Mateus 1,18-24.

Os textos bíblicos deste último domingo do Advento nos colocam diante de dois homens chamados a se tornarem pais: o rei Acaz (séc. 8 aC) e o carpinteiro José (séc. 1 dC). Enquanto o filho de Acaz representa a promessa, o filho de José representa a realização da promessa, para mostrar que Deus “vigia sobre a sua Palavra até que ela se realize” (cf. Jr 1,12). Isso significa que nenhuma das promessas de Deus ficará esquecida ou perdida no tempo, mas todas se cumprirão no seu devido tempo.

        O rei Acaz é chamado a tornar-se pai num contexto de ameaça de guerra. A guerra destrói tudo, trazendo consigo a morte e a perda de confiança no futuro. Exatamente na iminência de uma guerra que poderá destruir o seu reino, Acaz recebe uma promessa de Deus: “Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e lhe porá o nome de Emanuel” (Is 7,14). A virgem, nesse caso, é a esposa de Acaz; o filho é Ezequiel, futuro rei de Israel, garantia de que haverá um futuro para um reino que está ameaçado de ser eliminado da face da terra.

           O futuro nascimento de Ezequias aponta para outro nascimento, o de Jesus Cristo, verdadeiro Emanuel, o “Deus conosco” (Mt 1,23), que nos garantiu: “Eu estarei convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28,20). Séculos mais tarde, o apóstolo Paulo perguntará: “Se Deus está conosco, quem estará contra nós?” (Rm 8,31).

O Evangelho de hoje nos fala da “origem” humana de Jesus, uma origem que se dá num contexto de forte crise para o coração de José. A gravidez de Maria surpreendeu José e o jogou numa profunda crise, enchendo seu coração de perguntas que ele não conseguia responder. Desconhecendo o plano de Deus, era natural que José concluísse que a gravidez de Maria era fruto de uma traição, a qual pedia a justiça da época: o apedrejamento até a morte.

Aqui entra a grandeza de José, aquilo que o Evangelho chama de “justiça”: “José, seu marido, era justo” (Mt 1,19). Para não denunciar Maria publicamente e expô-la ao risco de um apedrejamento, José decide abandoná-la em segredo, assumindo a “culpa” de ter engravidado sua noiva e não ter assumido a responsabilidade pelo filho. José poderia ter exigido “justiça” e entregue Maria ao apedrejamento, mas ele não o fez. Quantas injustiças nós causamos aos outros ao ficarmos cegos pelo nosso desejo de justiça?

         Assim como José, alguns dos nossos sonhos se tornam pesadelos: o sonhado filho cresce e se torna dependente químico, ou mesmo bandido; o casamento se deteriora em divórcio; determinado sonho de consumo traz consigo dívidas impagáveis que transtornam a família; o sonhado trabalho numa determinada empresa esconde a convivência com pessoas corruptas ou pagãs, que serão má companhia para o marido ou para a esposa...

            Durante a vida, todos nós teremos que enfrentar alguns pesadelos, mas o Evangelho nos traz a boa notícia de que Deus pode sonhar dentro dos nossos pesadelos, falar ao nosso inconsciente e ampliar o horizonte da nossa vida. Enquanto o nosso consciente se defende daquilo que a vida está nos pedindo, o nosso inconsciente se mantém aberto àquilo que Deus sonha para nós. Desse modo, Deus fala a José por meio de um sonho, explicando a “origem” da gravidez de Maria e convidando José a se abrir aos Seus planos.

         José foi chamado a cuidar de um filho que ele não gerou. A quantos de nós a vida está pedindo para cuidar de algo – ou de alguém – que não geramos, que não foi querido ou “causado” por nós, mas que depende absolutamente do nosso cuidado, para ter prosseguimento e futuro? A nossa vida pode ganhar um sentido totalmente novo quando aceitamos cuidar de algo que não é nosso, mas que Deus colocou em nosso caminho, para que o abracemos como nossa responsabilidade.  

            José não teve participação alguma na geração de Jesus no ventre de Maria, mas cabe a ele dar um nome àquele menino: “Tu lhe darás no nome de Jesus” (Mt 1,21), que significa “Deus salva”. Toda criança que nasce precisa de uma referência masculina e de uma feminina. Infelizmente, mais da metade das famílias brasileiras não tem “José” dentro de casa. A ausência de uma figura paterna abre uma lacuna enorme na formação da personalidade dos filhos, por mais que a mãe seja uma heroína e os crie sozinha.

            Deus nos desafia como Igreja a sermos a presença de José junto às inúmeras crianças carentes de pai, crianças “adotadas” precocemente pelo tráfico de drogas, pelo mundo da criminalidade e pela profunda desorientação das redes sociais. Que a presença discreta e silenciosa de José na Sagrada Escritura nos inspire a ocuparmos o nosso lugar na história da salvação. Assim como ele, que nós nos tornemos homens e mulheres “justos”, dispostos a ajustar a nossa vida aos projetos de Deus, que visam o bem e a salvação nossa e da humanidade.

 

Oração: Senhor Deus, meu Pai, muitos são os pesadelos que atormentam a minha mente e angustiam o meu coração. Ajuda-me a dormir, para que o meu consciente, que sempre se defende dos Seus planos a meu respeito, desligue e o meu inconsciente acolha os sonhos que Tu tens para mim. Desse modo, poderei compreender a razão pela qual fui chamado(a) à existência, e ocupar o meu lugar na história da Salvação, sendo fiel à tarefa de cuidar daquilo que a vida está me pedindo para cuidar, neste momento. Por Jesus Cristo, na força do Espírito Santo. Amém.   

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi

 

 

quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

NUNCA SE ESQUEÇA DE QUE "A REALIDADE É MAIOR DO QUE A IDEIA"

Missa do 3º dom. Advento. Palavra de Deus: Isaías 35,1-6a.10; Tiago 5,7-10; Mateus 11,2-11.

 

O Evangelho nos fala de João Batista preso, por ter confrontado Herodes com o seu pecado de adultério. Na prisão, João faz uma pergunta sobre Jesus que revela a sua decepção: “És tu, aquele que há de vir, ou devemos esperar um outro?” (Mt 11,3). “És tu, aquele que há de vir, ou devemos esperar um outro?” (Mt 11,3). Eu estou na igreja/religião certa, ou devo procurar outra? Sempre que Deus não responde imediatamente à nossa oração, nós nos decepcionamos com Ele.  João esperava que Jesus fosse radical como ele, mas, em lugar de colocar o machado na raiz da árvore, Jesus colocou o adubo da misericórdia, na esperança de que cada pessoa se converta e seja salva.

            Jesus reponde à pergunta de João: “Os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados” (Mt 11,5), cumprindo a profecia de Isaías que ouvimos na primeira leitura (cf. Is 35,5-6a). E Jesus acrescenta algo na resposta para falar a todo aquele que, ao longos dos tempos, aderir a ele pela fé: “Feliz aquele que não se escandaliza por causa de mim!” (Mt 11,6). No sentido bíblico, “escândalo” significa aquilo que leva uma pessoa a perder a fé. E João Batista estava perdendo a fé em Jesus não por estar preso, mas por Jesus não corresponder às suas expectativas.

            “Feliz aquele que não se escandaliza por causa de mim!” (Mt 11,6). Ao longo da vida, nós nos escandalizamos com Deus, por Ele não fazer por nós o que esperávamos que fizesse; pelo fato de que os Seus caminhos não são os nossos (cf. Is 55,8); pelo fato de, exatamente como Jesus, nós termos a nítida sensação de que Ele nos abandonou no momento em que mais precisávamos (cf. Mt 27,46). Um fé que não sobrevive às inúmeras decepções com Deus – não por Ele ser indiferente a nós, mas porque nossas expectativas não têm o poder de colocá-Lo a nosso serviço –, conhecerá o seu fim rapidamente.

            Justamente porque a nossa fé precisa suportar o mistério de Deus, Isaías nos faz esse convite: “Fortalecei as mãos enfraquecidas e firmai os joelhos debilitados” (Is 35,3). O apóstolo Tiago, por sua vez, nos aconselha: “Ficai firmes até à vinda do Senhor. Vede o agricultor: ele espera o precioso fruto da terra e fica firme até cair a chuva do outono ou da primavera” (Tg 5,7). A chuva que esperávamos tanto veio agora, e compensou o trabalho e a espera de cada agricultor. Como toda espera é sofrida, São Tiago nos ensina: “Tomai por modelo de sofrimento e firmeza os profetas” (Tg 5,10). Sofrimento e firmeza precisam caminhar juntos. Se o sofrimento aumenta, a firmeza deve aumentar também.

            Aqui entra o modelo de firmeza que Jesus nos propõe: João Batista. Mesmo tendo decepções em seu coração, ele não era “um caniço agitado pelo vento” – uma pessoa volúvel, que não tem raiz e que, por isso mesmo, vive como folha seca empurrada pelo vento da constante desorientação do nosso mundo. João também não era “um homem vestido com roupas finas, morando num palácio” – uma pessoa vaidosa e, por isso mesmo, vazia, fútil, escrava do consumismo, que sonha com palácios e rejeita a simplicidade de uma modesta casa. Em outras palavras, João Batista nos ensina a cultivar a nossa essência, numa sociedade escrava da aparência; a sermos livres, numa época em que a tecnologia nos torna escravos das suas constantes novidades.

Se nós quisermos sair da prisão da nossa decepção para com Deus, devemos recordar um importante ensinamento que orientou o ministério do Papa Francisco: “A realidade é maior que a ideia”. O mistério de Deus se revela muito mais na vida real do que nos livros de teologia. Cada decepção que temos com Deus é um convite a nos abrirmos à realidade à nossa volta e entendermos melhor o que Deus está nos mostrando e nos dizendo, devolvendo sentido à nossa fé, à nossa esperança e, principalmente, à nossa vida.

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi


quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

NOSSO LOBO E NOSSO CORDEIRO PODERÃO VIVER JUNTOS, PACIFICAMENTE!

 Missa do 2º. dom. do avento. Palavra de Deus: Isaías 11,1-10; Romanos 15,4-9; Mateus 3,1-12.

 

         Estamos entrando na segunda semana do Advento. Nosso olhar se levanta para o que está por vir: a Parusia, ou seja, a segunda Vinda de Cristo. Segundo o profeta Isaías, a vinda de Cristo provocará uma mudança no interior das pessoas e até mesmo dos animais: “O lobo e o cordeiro viverão juntos..., o leão comerá palha como o boi; a criança de peito vai brincar em cima do buraco da cobra venenosa... Não haverá danos nem mortes...” (Is 11,6.7.8.9). Dentro de nós há um lobo, um leão, uma cobra venenosa; há uma pessoa que instintivamente age no sentido de se defender quando ameaçada. Mas também moram em nós um cordeiro manso, um boi que não se alimenta de sangue, uma criança capaz de brincar. A nossa saúde física, mental e espiritual depende de aprendermos a colocar em diálogo o lobo e o cordeiro, o leão e o boi, a criança e a cobra venenosa que nos habitam.

Se a profecia de Isaías nos parece uma utopia, um sonho maravilhoso, mas tremendamente irreal, o apóstolo Paulo afirma que tudo o que foi escrito no passado foi escrito para que, “pelo conforto espiritual das Escrituras, tenhamos firme esperança” (Rm 15,4). Ora, a esperança não se assenta sobre aquilo que somos agora, mas sobre aquilo que podemos vir a ser, na medida em que nos deixamos conduzir pelo Espírito de Deus. Ele pode nos conceder “a graça da harmonia e da concórdia uns com os outros” (Rm 15,5). O Natal só é possível de ser celebrado quando nos dispomos à reconciliação, à reaproximação, a acolher aqueles para os quais temos mantida fechada a porta do nosso coração.

                Nesta segunda semana do advento, bate à porta da nossa consciência a voz de João Batista, aquele que veio preparar a primeira vinda de Cristo: “Convertei-vos! (...) Preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas!” (Mt 3,2-3). O contrário da conversão – voltar-se para Deus – é a perversão – andar numa direção que não é a de Deus, que não conduz para Deus. “Converter-se”, no seu mais genuíno sentido bíblico, é abandonar os caminhos que nos levam para longe de Deus (os caminhos do egoísmo, da autossuficiência, do orgulho, da preocupação com os bens materiais) e voltar para trás, ao encontro de Deus; é tomar a decisão de viver ao estilo de Jesus, no amor, na partilha, no serviço, no perdão, no dom de si próprio a Deus e aos irmãos.

Para aqueles que têm a convicção de estarem caminhando na direção de Deus, vale o alerta de João Batista a alguns grupos religiosos do seu tempo: “Raça de cobras venenosas... Produzi frutos que comprovem a vossa conversão” (Mt 3,7-8). Nós nos julgamos ‘filhos de Deus’, mas muitas vezes nos comportamos como ‘filhos do maligno’, simbolizado biblicamente pela serpente. Participamos das celebrações da nossa Igreja sem escutar a voz da nossa consciência e sem a disposição de mudar nossas atitudes.  

             O que identifica a árvore é o fruto que ela produz. “Toda árvore que não der bom fruto será cortada e jogada no fogo” (Mt 3,10). Talvez você já tenha montado sua árvore de Natal. Os enfeites dela apontam para os frutos. Que frutos as pessoas têm encontrado em você? As suas atitudes têm ajudado a despertar a fé e a esperança nos outros? Na sua segunda vinda, o Senhor Jesus virá como Juiz. Julgar, no sentido bíblico, significa separar. “Ele está com a pá na mão; ele vai limpar sua eira e recolher seu trigo no celeiro; mas a palha ele a queimará num fogo que não se apaga” (Mt 3,12). Trigo – imagem bíblica de uma pessoa que amadureceu como bom fruto; palha – imagem bíblica de uma pessoa vazia, desprovida de conteúdo. Você está cuidando do seu cultivo pessoal, para um dia se tornar trigo e não palha?

Algumas tarefas que podemos assumir durante esta segunda semana do Advento: 1) Colocar em diálogo nosso lobo e nosso cordeiro; 2) Quem devemos acolher? A quem devemos voltar a abrir a porta ou à porta de quem precisamos bater, em busca de reconciliação? 3) Nós estamos amadurecendo como trigo ou como palha?

Pe. Paulo Cezar Mazzi

   

             

 

quinta-feira, 27 de novembro de 2025

PREPARAR-SE PARA O SENHOR É RESPONSABILIDADE DE CADA PESSOA

 

Missa do 1º dom. do advento. Palavra de Deus: Isaías 2,1-5; Romanos 13,11-14a; Mateus 24,37-44.

 

O Tempo do Advento, que hoje iniciamos, é composto por quatro semanas. Nas duas primeiras, fortalecemos a nossa esperança diante da segunda vinda de Jesus, com poder e glória; nas duas últimas, fazemos a memória da sua primeira vinda, na fragilidade da carne humana, como afirma o Prefácio do Advento I: “Revestido da nossa fragilidade, ele veio a primeira vez para realizar seu eterno plano de amor e abrir-nos o caminho da salvação. Revestido de sua glória, ele virá uma segunda vez para conceder-nos em plenitude os bens prometidos que hoje, vigilantes, esperamos”.

Um profeta nos ajuda a viver o Tempo do Advento: Isaías. Ele é, por excelência, “o profeta da espera”. Toda a sua profecia está direcionada para a vinda de Cristo, o qual restaurará todas as coisas. E aqui está a primeira profecia de Isaías: “Acontecerá, nos últimos tempos” (Is 2,2). Isaías levanta o véu que cobre os nossos olhos e nos impede de enxergar para além do momento presente. Ele nos revela o que acontecerá: Cristo virá para nos ensinar, e o seu ensinamento provocará uma transformação em nós: “transformarão suas espadas em arados e suas lanças em foices: não pegarão em armas uns contra os outros e não mais travarão combate” (Is 2,4).

Diante dessa transformação de pessoas agressivas em pessoas que promovem a paz, podemos nos perguntar como anda a nossa agressividade, a nossa impaciência e a nossa baixa tolerância. Sempre é bom lembrar que nós não escolhemos sentir agressividade, raiva, ódio, nervosismo – há situações específicas que despertam essas coisas em nós. Mas é nossa responsabilidade escolher a forma de lidar com isso. Se, na noite de Natal, o profeta Isaías proclamará que o menino que nasceu para nós é “o príncipe da paz” (Is 9,5), precisamos, desde agora, reconhecer todo tipo de agressividade que nos habita e permitir que Jesus opere uma transformação interior dos nossos instintos, para que este Natal não seja uma mentira em nossa vida. Portanto, acolhamos o convite do profeta: “Deixemo-nos guiar pela luz do Senhor” (Is 2,5).

O Tempo do Advento nos convida a olhar para frente: “agora a salvação está mais perto de nós do que quando abraçamos a fé” (Rm 13,11). O Cristo que nos alcançou no passado, por meio do Evangelho, está à nossa frente: “Cristo foi oferecido uma vez por todas para tirar os pecados da multidão; Ele aparecerá uma segunda vez (...), àqueles que o esperam para lhes dar a salvação” (Hb 9,28). Essa segunda vinda de Cristo é chamada no Novo Testamento de “Dia”, “Dia do Senhor Jesus”: “O dia vem chegando: despojemo-nos das ações das trevas e vistamos as armas da luz” (Rm 13,12).

Na missa do dia de Natal, o Evangelho nos recordará que “nele (em Jesus Cristo) estava a vida, e a vida era a luz dos homens” (Jo 1,4). Se nessa época do ano muitas casas são enfeitadas com “luzes de Natal”, tais luzes nos lembram do nosso compromisso de vivermos como filhos da luz e não das trevas. Concretamente, isso significa não nos comportarmos como pagãos: nada de comer exageradamente, beber exageradamente, levar vida sexual desregrada, viver em brigas (de novo, a agressividade) e com rivalidades (cf. Rm 13,13). Essa palavra do apóstolo Paulo nos revela o quanto o final do ano é uma época onde o paganismo escancara a sua face.

Acolhamos agora a palavra de Jesus, no Evangelho: “A vinda do Filho do Homem será como no tempo de Noé (...): todos comiam e bebiam, casavam-se e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca. E eles nada perceberam até que veio o dilúvio e arrastou a todos” (Mt 24,37-39). A questão principal está aqui: eles nada perceberam até que veio a destruição. Esse é retrato do nosso mundo. A indústria da distração foi criada para não percebermos o que está acontecendo à nossa volta. Nós buscamos nos desligar da realidade mergulhando em vídeos, filmes, séries etc., enquanto os grandes bilionários seguem firmes no seu propósito insano de enriquecimento sem limites à custa da destruição do Planeta.

A vinda de Jesus não será precedida por nada de espetacular porque, na verdade, ele vem todos os dias e nos visita nas mais diversas situações. Quem espera por algo grandiosamente impactante, para só então mudar suas atitudes, vai morrer por situações desastrosas criadas por si mesmo. Mas, atenção! Essa destruição não se refere a todos, como Jesus acabou de afirmar: “Dois homens estarão trabalhando no campo: um será levado e o outro será deixado. Duas mulheres estarão moendo no moinho: uma será levada e a outra será deixada” (Mt 24,40-41). Ser levado significa ser salvo; ser deixado significa ser condenado à destruição que a própria pessoa ajudou a provocar. Portanto, a salvação passa por uma escolha livre e consciente de cada um.  

            Eis o apelo final de Jesus: “ficai atentos!” (Mt 24,42); “ficai preparados! Porque na hora em que menos pensais, o Filho do Homem virá” (Mt 24,44). Toda pessoa que decide separar um tempo diário para meditar e rezar percebe os sinais da vinda de Jesus na sua vida particular. Ela não será surpreendida, por causa da sua preparação diária para o encontro com o seu Esposo e Salvador.

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi

 

Oração do Advento

 

Para Te acolher, Senhor Jesus, para preparar nossa terra, para crer em Ti, nosso grande Senhor e Salvador, não há nada de extraordinário a fazer: basta ter um coração sincero e sem máscaras. Basta ter um olhar de acolhida e ternura para com toda pessoa que encontramos no dia a dia. Basta colocar nos lábios o sorriso e a alegria. Basta abrir as mãos para dar e repartir. Basta ser atencioso e fiel à Tua Palavra. Basta amar, sem colocar condições. Basta ouvir o Teu apelo e decidir mudar de vida, Senhor! Amém.

quinta-feira, 20 de novembro de 2025

NÃO EXISTE CONDENAÇÃO PARA QUEM ESCOLHE VIVER SOB O DOMÍNIO ESPIRITUAL DE CRISTO

Missa de Cristo, Rei do Universo. Palavra de Deus: 2Samuel 5,1-3; Colossenses 1,12-20; Lucas 23,35-43.

 

            Hoje se dá o enceramento do ano litúrgico. Cada celebração dele nos ensina que a nossa vida neste mundo, marcada pelo tempo cronológico, está inserida num tempo maior, que nos ultrapassa, o tempo chamado “kairós”, palavra grega que significa “o momento certo” ou “o tempo oportuno”, tempo onde Deus realiza a sua salvação na vida de cada um de nós. Esse tempo de Deus tem como horizonte final restaurar todas as coisas em seu Filho Jesus Cristo. Uma vez que “tudo foi criado por meio dele (Cristo) e para ele” (Ef 1,16), Deus Pai “quis habitar nele com toda a sua plenitude e por ele reconciliar consigo todos os seres, os que estão na terra e no céu, realizando a paz pelo sangue da sua cruz” (Ef 1,19-20).

            Existe uma afirmação bíblica que nos deixa desconcertados, quando proclamamos que Jesus Cristo é o rei do universo: “O mundo inteiro está sob o poder do Maligno” (1Jo 5,19). João, ao afirmar isso, está dizendo que todos aqueles que não aceitam livremente se colocar debaixo do domínio de Cristo (obediência ao seu Evangelho), acabam sofrendo uma dominação imposta pelo Maligno. Ora, o Maligno é o divisor: aonde ele exerce o domínio, cria conflito. Esse conflito se encontra no coração de muitas pessoas e igualmente em muitas famílias e locais de trabalho. Somente quando deixamos os sentimentos de Jesus (cf. Fl 2,5) reinarem sobre nós é que podemos nos beneficiar da reconciliação que o Pai nos oferece, reconduzindo-nos à Sua paz.

            A leitura de Samuel 5,1-3 nos fala do momento em que todo o país de Israel decide se colocar sob o senhorio de Davi, reconhecendo-o como rei. Até então, Israel era dividido entre reino do norte e reino do sul, uma divisão que sempre prejudicou a vida das pessoas e enfraqueceu o país na sua política, na sua economia e também na sua religião. Quando o rei Davi unificou o país, os israelitas voltaram a ter paz. Davi foi “um homem segundo o coração de Deus” (cf. 1Sm 13,14). Mas, no auge do seu reinado, não dominou os seus desejos e cometeu adultério, tentando depois escondê-lo de todos, a ponto de mandar matar a esposo da adúltera (cf. 2Sm 11 – 12). A partir desse momento, Davi recebeu o anúncio da futura divisão do reino que ele tanto lutou para unificar.

            O sucesso e o fracasso do rei Davi nos ensinam que nenhum homem pode pretender ser rei, isto é, exercer domínio sobre pessoas ou situações, quando ele não sabe dominar a si mesmo. O contrário do domínio sobre si é aquilo que assistimos na vida política do mundo: escândalos sexuais e financeiros. Os roubos bilionários, que às vezes são descobertos, têm uma ligação direta com a vida promíscua de políticos e empresários corruptos.

            Se o rei Davi traiu a sua identidade de “homem segundo o coração de Deus”, Jesus é verdadeiramente o Filho segundo o coração do Pai. Sendo verdadeiramente homem, ele escolheu viver longe dos centros de poder, tanto político quanto religioso. Embora tenha vindo para libertar o ser humano de todo tipo de domínio injusto, doentio e destrutivo, Jesus encontrou muitas pessoas fechadas à sua proposta de salvação: “Não queremos que esse homem reine sobre nós” (Lc 19,14).

O trono de Jesus, por excelência, foi a cruz. Exatamente ali a sua realeza foi questionada três vezes: “Salve-se a si mesmo” (Lc 23,35); “Salva-te a ti mesmo!” (Lc 23,37); “Salva-te a ti mesmo e a nós!” (Lc 23,39). Nós também pensamos a vida dessa forma: salvar a nós mesmos. Quanto aos outros... Um exemplo claro. Os mesmos super-ricos que  esgotam os recursos naturais e fazem campanha contra a preservação do meio ambiente, unicamente para aumentarem o próprio capital, estão se preparando para o que eles mesmos chamam de “grande apocalipse”, construindo bunkers (construções de ferro e concreto subterrâneas) e estocando comida e água para sobreviverem às catástrofes provenientes das mudanças climáticas, as quais são negadas por eles (Assista ao vídeo de Átila Iamarino: “O que os BILIONÁRIOS não te contam” – Youtube).

Jesus não é o rei “salve-se a si mesmo” porque ele não veio “se” salvar, mas salvar a humanidade de si mesma (pecado pessoal) e da tirania dos reis do mundo (pecado social). Além disso, o domínio salvífico de Jesus só pode ser experimentado por quem se submete à verdade do Evangelho, como ele mesmo afirmou: “Todo aquele que comete pecado é escravo do pecado. Se o Filho vos libertar, sereis verdadeiramente livres” (cf. Jo 8,34.36). Essa libertação foi experimentada por um homem que, assim como Jesus, estava condenado à morte: “Jesus, lembra-te de mim, quando entrares no teu reinado”. Jesus lhe respondeu: “Em verdade eu te digo: ainda hoje estarás comigo no Paraíso” (Lc 23,42-43).

Na sua carta aos Romanos, ao apóstolo Paulo afirma: “Não existe mais condenação para aqueles que estão em Cristo Jesus” (Rm 8,1). Muitas vezes já nos sentimos e, certamente, ainda vamos nos sentir condenados: uma doença incurável; uma culpa que não nos abandona; uma situação de penúria na vida financeira; a solidão pelo término de um relacionamento; um vício que não superamos; a voz do acusador (Maligno), que tenta nos fazer desacreditar do perdão de Deus e cancelar a nossa esperança de salvação, etc. Em todas essas situações nas quais nos sentimos “condenados”, precisamos clamar como o ladrão na cruz: “Lembra-te de mim”.

“Em verdade eu te digo: ainda hoje estarás comigo no Paraíso” (Lc 23,43). O Reino do Pai e do Filho não é para quem não tem nenhuma condenação, mas para quem não aceita morrer condenado a nada, e por isso recorre ao perdão do Rei; e também por isso decide viver cada dia de sua vida não mais carregando o peso de uma condenação, mas liberto por Aquele que o Pai enviou não para condenar, mas para salvar.  

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi

quinta-feira, 13 de novembro de 2025

HÁ UM SENTIDO MAIOR POR DETRÁS DE DESTRUIÇÃO DE TODAS AS COISAS

 Missa do 33º dom. comum. Palavra de Deus: Malaquias 3,19-20a; 2Tessalonicensses 3,7-12; Lucas 21,5-19. 

 

Estamos caminhando para o final do ano litúrgico, o qual será encerrado no próximo domingo, com a festa de Cristo, Rei do Universo. Por isso, as leituras de hoje, sobretudo o Evangelho, são leituras “escatológicas”. Escaton é uma palavra grega que significa “o fim”. Trata-se do evento final do plano divino para a criação e toda a humanidade.  

No Antigo Testamento, os profetas anunciavam o “Dia do Senhor”, um dia de ira, onde Deus viria para fazer justiça aos justos e destruir os injustos. Uma vez que Jesus afirmou que “o Pai a ninguém julga, mas confiou ao Filho todo julgamento” (Jo 5,22), o Novo Testamento passou a anunciar o “Dia do Senhor” como “Dia do Senhor Jesus”, dia da Parusia, da segunda vinda de Cristo, o qual virá como Juiz (julgar significa separar). Ele separará a humanidade, recolhendo os justos como trigo no celeiro de Deus e esmagando os injustos como uvas, “no grande lagar do furor da ira de Deus” (cf. Ap 14,14-20). A cor da uva – vermelho – significa que todos aqueles que derramam sangue sobre a terra (violência, destruição, morte), terão o seu sangue derramado, isto é, serão condenados.

O profeta Malaquias nos fala do “Dia do Senhor” como um fogo que destruirá as pessoas injustas e más como palha. Ao mesmo tempo, esse fogo do julgamento de Deus se tornará “sol da justiça” para os que perseveraram no bem. Já o salmista nos convidou a confiar que “O Senhor virá julgar a terra inteira; com justiça julgará”. A impunidade e a injustiça que pairam sobre a Terra não têm a última palavra.

No Evangelho, Jesus dialoga com pessoas que estavam maravilhadas com a beleza e suntuosidade do Templo de Jerusalém. Hoje também as pessoas se maravilham com muitas coisas: Inteligência Artificial, celulares e computadores de última geração, carros elétricos, robôs inteligentes etc. Mas, para quem quer que esteja encantado com a evolução da ciência e da tecnologia, Jesus questiona e alerta: “Vocês admiram estas coisas? Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído” (Lc 21,6).

Quantas vezes a vida já nos colocou diante da realidade da destruição? Morte de crianças e de jovens por doença ou acidente; acidentes fatais; catástrofes ambientais; o “pequeno apocalipse” de Rio Bonito (Paraná), provocado por um tornado que destruiu 90% da cidade, e, contudo, matou “apenas” sete pessoas; o câncer, que continua a espalhar a sua destruição sobre cada vez mais pessoas, independente da idade e da condição social, etc.

Ao nos tornar conscientes da futura destruição de tudo aquilo que hoje temos como segurança e amparo na vida presente, Jesus nos convida a não nos iludir: a Terra não é o Céu. Tudo o que vivemos aqui é transitório, e nada ficará para sempre; nada, nem mesmo nós. Retornando à imagem do Apocalipse, todos seremos ceifados desta Terra, e a questão é saber se a ceifa nos encontrará como trigo (pessoas que não desistiram de caminhar na justiça e na santidade) ou como uva (pessoas que se cansaram de perseverar no bem e decidiram aproveitar deste mundo enquanto ele, que já está em processo de destruição, serve aos nossos interesses egoístas).

Muitas coisas ruins já estão acontecendo, e muitas outras coisas ainda virão. Quanto mais se aproxima a volta de Jesus, mais o maligno grita de desespero, sabendo da sua destruição definitiva. Em meio a tudo isso, Jesus nos faz um apelo: “Esta será a ocasião em que testemunharão a sua fé” (Lc 21,13). Uma casa só testemunha o seu alicerce diante de uma forte tempestade. Da mesma forma, a nossa fé é chamada a se erguer como absoluta confiança no Pai que nos chamou à salvação em seu Filho Jesus Cristo, o qual nos advertiu: “O céu e a terra passarão; minhas palavras, porém, não passarão” (Lc 21,33).

 Eis o convite de Jesus para nós: “É permanecendo firmes que vocês irão ganhar a vida!” (Lc 21,19). Toda e qualquer destruição que já tenha nos visitado em nossa vida pessoal, ou que esteja visitando a história da humanidade, não deve nos encher de pessimismo e falta de sentido, mas despertar a firmeza da nossa fé e da nossa esperança, uma firmeza que se traduz em não desistirmos de viver cada um dos nossos dias na santidade e na justiça, esperando o momento da nossa colheita, não desistindo de fazer o bem de que somos capazes e esperando firmemente no “sol da justiça”, que nos garantiu: “Eis que venho muito em breve e retribuirei a cada um segundo as suas obras (atitudes)” (Ap 22,12).

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi