Missa do 7º dom. comum. Palavra de Deus: 1Samuel 26,2.7-9.12-13.22-23; 1Coríntios 15,45-49; Lucas 6,27-38
Ninguém
duvida de que o nosso mundo está mais violento. A questão é saber quem admite
olhar para dentro de si mesmo e reconhecer a agressividade que o habita. As cenas
de violência, que chegam a nós por meio das telas (TV, computador, celular), se
tornaram o recheio do pão nosso de cada dia, e já é consenso que a violência
concentrada nos filmes, seriados e novelas não só insensibiliza as pessoas para
os dramas reais do cotidiano, como também estimula jovens e crianças a reagirem
com agressividade. Para as crianças de hoje, a violência é o principal tipo de
entretenimento (jogos de vídeo game!!!). Além disso, boa parte dos filmes que
assistimos contém uma ação violenta para cada 5 minutos de filme.
Atualmente,
a violência que antes só era encontrada nas ruas das cidades grandes, agora
mora onde nunca deveria morar: dentro das famílias, das escolas, dos locais de
trabalho e das igrejas. Deixamos de ver o outro como nosso irmão e passamos a
vê-lo como um monstro a ser destruído. Influenciados pelas redes sociais, nós
respiramos ódio como se fosse o ar do nosso dia a dia. Usamos nossas redes
sociais para destruir a imagem de pessoas em troca de algumas curtidas. Resumindo,
reclamamos
de uma violência que nós mesmos ajudamos a criar e a manter viva.
O texto bíblico da primeira leitura
nos coloca diante de Davi, um homem segundo o coração de Deus. Perseguido de
morte pelo rei Saul, Davi e seus homens se encontram acidentalmente com Saul e
seu exército dormindo! Esse encontro acidental é interpretado erroneamente por
Abisai como providência de Deus, que diz a Davi: “Deus entregou hoje em tuas mãos
o teu inimigo. Vou cravá-lo em terra com uma lançada, e não será́ preciso
repetir o golpe” (1Sm 26,8). Mas Davi não quis matar Saul; apenas pegou sua
espada e sua bilha de água, as quais estavam próximas da sua cabeça, e se
afastou, para deixar claro a Saul que, se quisesse, poderia tê-lo matado, mas
não o fez.
Davi age como um homem celeste, e
não como um homem terrestre, usando a linguagem do apóstolo Paulo, na segunda
leitura. Enquanto o homem terrestre se deixa arrastar pelos seus instintos, o
homem celeste submete seus instintos à sua consciência, procurando agir a
partir dos seus valores espirituais. O mais interessante é a insistência do
texto no fato de que “ninguém viu” o que Davi fez: “Ninguém os viu, ninguém se
deu conta de nada, ninguém despertou” (1Sm 26,12). Quando ninguém te vê, suas atitudes
são as mesmas de quando você está sendo observado? Se a vida te desse a chance
de destruir quem te faz mal ou te prejudica, o que você faria? Davi não
matou Saul porque tinha uma convicção: “O Senhor retribuirá a cada um conforme
a sua justiça e a sua fidelidade” (1Sm 26,23). Você tem essa convicção?
Embora Davi seja para nós um exemplo edificante, cada um de nós é chamado a se configurar não a Davi, mas a Jesus Cristo, o verdadeiro homem celeste. E Jesus nos lança um sério desafio: “Amai os vossos inimigos e fazei o bem aos que vos odeiam, bendizei os que vos amaldiçoam, e rezai por aqueles que vos caluniam” (Lc 6,27-28). “Amem”, “façam o bem”, “abençoem”, “rezem”! Em outras palavras, que as atitudes de vocês não sejam guiadas pelos seus instintos, mas pelo meu Espírito que habita em vocês. Comportem-se como cristãos, como pessoas ungidas pelo Espírito do meu Pai, e não como pagãos!
No fundo, as palavras de Jesus no
Evangelho de hoje, são um questionamento para cada um de nós: você se comporta
como um filho de Caim ou como um filho de Deus? Ao refletir sobre o fato de
Caim ter matado seu próprio irmão, o apóstolo João afirma: “Todo aquele que
odeia seu irmão é homicida; e sabeis que nenhum homicida tem a vida eterna
permanecendo nele” (1Jo 3,15). Cultivar ódio nos faz filhos de Caim e não
filhos de Deus. Jesus nos revela o que significa ser filho de Deus: “Amai os
vossos inimigos, fazei o bem e emprestai sem esperar coisa alguma em troca. Então,
a vossa recompensa será grande, e sereis filhos do Altíssimo, porque Deus é
bondoso também para com os ingratos e os maus. Sede misericordiosos, como
também o vosso Pai é misericordioso” (Lc 6,35-36).
Não nos esqueçamos: odiar é uma reação
meramente instintiva, própria do homem terrestre; amar é uma decisão espiritual,
própria do homem celeste. Além disso, estejamos atentos ao estresse e à sobrecarga
do dia a dia: eles favorecem o aumento da irritabilidade e nos fazem ter
reações desproporcionais.
Pe. Paulo Cezar Mazzi
Sugestão de vídeo: A estupidez humana.
https://www.youtube.com/watch?v=C-LsAk1yzyo
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