Missa do 5º. dom. comum. Palavra de Deus: Isaías 6,1-2a.3-8; 1Coríntios 15,1-11; Lucas 5,1-11.
“Nós trabalhamos a noite inteira e
nada pescamos” (Lc 5,5). Todos nós fazemos, vez ou outra, a experiência do fracasso.
Todos nós sabemos da angústia de ter nossas redes vazias. Se pescar é, para a
maioria de nós lazer, distração, para Simão e André, Tiago e João, era uma
questão de sobrevivência. Portanto, trabalhar a noite inteira e nada pescar é
desesperador: Como sobreviver? Como sustentar a família? Como pagar as contas?
O Evangelho de hoje nos ensina que a
única forma que temos de não entrar em desespero é ouvir a Palavra de Jesus e
nos orientar por ela. De fato, a centralidade do nosso texto está na
importância da Palavra: “A multidão apertava-se ao seu redor para ouvir a
palavra de Deus” (Lc 5,1). Jesus “sentou-se e, da barca, ensinava as multidões”
(Lc 5,3). Simão respondeu a Jesus: “Em atenção à tua palavra, vou lançar as
redes” (Lc 5,7). E o que a Palavra de Jesus nos diz hoje? “Avance para águas mais
profundas” (Lc 5,4). ‘Volte para o lugar do seu fracasso e mude sua maneira de
lidar com ele’.
“Avance para águas mais profundas” (Lc
5,4). Nossa geração não tem tempo, nem paciência, para aprofundar nada. O
excesso de informações e de tarefas (cobranças externas) nos impede de sermos
profundos naquilo que fazemos, e, sem profundidade, o resultado é o fracasso. Só
pode haver mudança quando tomamos a decisão de sermos profundos na relação com
as pessoas e, sobretudo, em nossa vida de oração. Os peixes estão no mar, mas
não na margem, não nas águas superficiais, e sim nas águas profundas! A verdade
não é que “o mar não está pra peixe”; a verdade é que “é preciso pescar
diferente”; é preciso nos orientar pela Palavra de Deus e obedecê-la mesmo
quando nos parece absurdo fazer o que Deus está nos dizendo.
Tanto no trabalho de evangelização
quanto na vida relacional e profissional, nós nos tornamos pessoas mais preocupadas
com os resultados do que com a obediência à Palavra do Senhor que nos diz: “Não
tenha medo” (Lc 5,10). Ao invés de nos lançarmos na aventura de enfrentar o mar
da vida, nós vamos em busca de algum “pesque-pague” que nos garanta pescar
peixes graúdos em abundância. Ao invés de nos entregarmos ao desânimo, nossas
redes vazias precisam nos questionar sobre a forma como fazemos as coisas e nos
alertar para o perigo de nos omitirmos diante da missão que somos.
“De hoje em diante tu serás pescador
de homens” (Lc 5,10). Se queremos entender essa expressão de Jesus – “pescador
de homens” – precisamos levar em conta que o mar, na Bíblia, simboliza as
forças do mal, perante as quais o ser humano se sente impotente. “Pescar homens”
significa resgatar as pessoas de situações de adoecimento, de destruição e de
morte. Não tem sentido nós, enquanto Igreja, enquanto barca de Jesus, ficarmos
acomodados numa pastoral estilo “pesque-pague”, enquanto inúmeras pessoas estão
se afogando no mar da destruição. O lugar da barca da Igreja é nas águas profundas
e não na margem do distanciamento de quem está sendo atacado, ferido e
destruído pelo mal.
Hoje Deus pergunta à nossa
assembleia reunida o mesmo que perguntou durante o culto do qual participava
Isaías: “Quem enviarei? Quem irá por nós?” (Is 6,8). Quem enviarei para
resgatar das águas profundas da morte as pessoas que estão se afogando? Quem
enviarei para junto das famílias desestruturadas, das crianças, adolescentes e
jovens que estão se afogando no erro, na mentira, no vício, enquanto navegam na
Internet? Quem enviarei para junto das pessoas que estão afundando na bebida,
nas drogas, nas dívidas e numa vida sem sentido? Que tenhamos a coragem de nos
deixar tocar por essa pergunta e responder como Isaías: “Aqui estou! Envia-me”
(Is 6,8).
Sugestão de oração pessoal diante da
Palavra: “Canção de Pedro” (Banda Dom).
Pe.
Paulo Cezar Mazzi
Alguns acréscimos
para a meditação do Evangelho (Colaboração do site dos Dehonianos):
1.
Nossa
paróquia/comunidade, neste agitado séc. XXI, é um espaço privilegiado onde a
voz de Jesus ecoa no mundo para consolar, para animar, para curar, para apontar
caminhos, para dar vida? No meio do rugido das tempestades que o mundo
enfrenta, fazemos tudo o que podemos para tornar perceptível, para os nossos
irmãos e irmãs que esperam “nas margens”, a voz de Jesus?
2.
Como
estamos desenvolvendo nossa ação pastoral? O nosso trabalho está dando
resultado? Quando desenhamos os nossos projetos pastorais e elaboramos os
nossos organogramas paroquiais, temos em conta as orientações que Jesus nos
oferece, ou fazemos as coisas de acordo com os nossos critérios pessoais e as
nossas visões estreitas? Acolhemos as propostas de Jesus, mesmo quando elas nos
parecem ilógicas, irracionais, pouco modernas, à luz da nossa compreensão das
coisas ou dos valores rasteiros dos fazedores de opinião que ditam a moda?
Gastamos mais tempo nas nossas reuniões de programação e nas nossas discussões
estéreis, ou a escutar o Evangelho que Jesus nos propõe? Confiamos plenamente
em Jesus e na sua Palavra?
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