Missa do 29. dom. comum. Palavra de Deus: Isaías 45,1.4-6; 1Tessalonicenses 1,1-5b; Mateus 22,15-21.
Quando
Jesus se fez pessoa humana e veio ao mundo para nos salvar, nasceu na
Palestina, a qual estava subjugada ao poder do Império Romano, desde o ano 63
aC. O imperador de Roma, considerada capital do mundo na época de Jesus, era
chamado de “César”, título que representava a autoridade máxima. Como cidadãos
de um território ocupado pelos romanos, os judeus eram obrigados a pagar
impostos a César (na época de Jesus, o imperador Tibério, que reinou de 14 a 37
dC). Tais impostos sustentavam Roma, capital do império, e os luxos e desmandos
do imperador.
Quem
é o nosso César hoje? César é toda pessoa que exerce a autoridade política sobre
nós. No caso da democracia, essa autoridade foi escolhida por nós mesmos,
através do voto. Concordando ou não, todos nós pagamos impostos a César, e como
o grande problema do nosso País é a desigualdade social, todo César – encarnado
no poder Executivo, Legislativo e Judiciário – é beneficiado não só por um alto
salário, mas também, com raríssimas exceções, com dinheiro desviado, seja para seu enriquecimento particular, seja para “devolver” o dinheiro que o setor
privado (empresários) lhe “emprestou” durante a campanha eleitoral.
A
verdade é que não existe César que seja limpo, porque o sistema que o gera é
sujo. É verdade também que o Brasil viveu um momento de delírio: acreditou-se
que um César “cristão” poderia salvar o País da corrupção. Mas o tempo se
encarregou de nos fazer cair na real de que nenhum César é Messias; nenhum
César permanece no poder sem comprar o apoio da maioria do Congresso, e para
realizar tal compra, precisa tirar dinheiro de algum lugar, lembrando que a
fome do Congresso é insaciável.
A
afirmação de Jesus – “Dai a César o que é de César” (Mt 22,21) – indica que nós,
cristãos, temos responsabilidade para com a vida pública e não temos o direito
nos tornarmos pessoas corruptas com a justificativa de que todo César é
corrupto. O pior estrago que César pode fazer é corromper a nossa consciência e
nos convencer de que “ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão”.
Portanto, Jesus questiona o nosso “jeitinho brasileiro”, as trapaças que
fazemos para escapar de determinados impostos e também os mecanismos que utilizamos
para obter lucro causando prejuízo a outras pessoas. Em suma, Jesus quer saber
se nós, cristãos, vivemos como filhos de Deus ou como filhos de César.
“Dai
a Deus o que é de Deus” (Mt 22,21). Todo ser humano precisa ser retirado da
voracidade das mãos do mercado, que se alimenta do sangue dos pobres, e
devolvido a Deus. A Amazônia, o Cerrado, o meio ambiente em geral precisa ser
protegido da voracidade de empresários predadores que se enriquecem sempre mais
às custas do sangue das florestas desmatadas e dos rios poluídos. Deus nos deu
a natureza como Mãe que nos fornece os meios para sobrevivermos. Matar nossa
Mãe é cometer um suicídio global. A natureza, o meio ambiente, precisam ser
devolvidos a Deus, no sentido de que cada um de nós retome o seu papel de
guardião da criação. Os ambientes de trabalho também precisam ser devolvidos a Deus, de
forma que os trabalhadores ajam com dedicação e honestidade e os empresários com
justiça e humanidade.
“A
César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” (Mt 22,21). A César nossas
horas de trabalho; a Deus nosso momento de descanso. A César nossa produção; a
Deus nossa espiritualidade, nosso momento de deixar que Ele produza em nós
cura, restauração, salvação. A César nossa responsabilidade em cuidar do bem
comum; a Deus nossa responsabilidade em cuidar do que Ele confiou especificamente
aos nossos cuidados – nossa família. A César nosso respeito enquanto cidadãos;
a Deus, nossa relação filial. A César nossa consciência crítica; a Deus nossa
obediência de fé.
ORAÇÃO: Senhor, Tu és o nosso único Deus. Toca com Tua mão na consciência de todo César do nosso tempo, para que use do seu poder para cuidar do meio ambiente e protegê-lo dos interesses gananciosos do mercado. Concede sabedoria a todo César para que se afaste da corrupção e exerça seu governo segundo a justiça, sempre visando a dignidade e o bem de cada ser humano.
Livra-nos dos líderes religiosos que
usam do Teu nome unicamente para seus próprios projetos de poder. Torna-nos
conscientes de que o papel da religião é acompanhar criticamente a política, e
não se colocar a serviço dela em vista da manutenção das estruturas injustas de
poder que aprofundam sempre mais a desigualdade em nosso País.
Ensina-nos a dar a Ti aquilo que é Teu, fazendo da nossa oração diária o momento em que nos deixamos amar e cuidar por Ti, orientando a nossa consciência diariamente por Tua palavra, não nos corrompendo diante do poder mundano e cuidando da vida de cada ser humano e do meio ambiente, a fim de promover a fraternidade universal. Por Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém!
Pe. Paulo Cezar Mazzi
Nenhum comentário:
Postar um comentário