Missa
do 28º dom. comum. Palavra de Deus: Isaías 25,6-10a; Filipenses 4,12-14.19-20;
Mateus 22,1-14.
Um
presente sem esperança de futuro é um presente fechado no desespero: não há perspectiva,
não há pelo quê ou por quem esperar; tudo fica tomado pelo negativo de uma
situação que parece que não mudará. O problema é que o nosso olhar não consegue
ver além do tempo presente, além do véu do aqui e do agora. Mas existe uma
outra forma de ver e de interpretar o tempo presente: é a visão apocalíptica, a
visão para além do véu, pois “apocalipse” significa “revelação”, no sentido de “tirar
o véu” e nos fazer enxergar que o nosso presente está aberto a um futuro e a
uma esperança.
O
texto que ouvimos hoje, do profeta Isaías, é um texto apocalíptico que faz a
nossa visão transcender o presente e se abrir ao futuro: “O Senhor dará”; “Ele
removerá”; “o Senhor Deus eliminará”; “Ele enxugará”; “Naquele dia se dirá: ‘Este
é o nosso Deus, esperamos nele, até que nos salvou”; “A mão do Senhor repousará”...
Mas, o que existe depois do tempo presente? O que nos aguarda no futuro? Um
grande banquete! Esse banquete está sendo preparado pelo próprio Deus e é
oferecido a todos os povos, porque Deus quer que todos os seres humanos sejam
salvos. A razão de ser desse banquete é celebrar o fim da morte, o fim das
lágrimas, o fim de todo sofrimento.
O
mais importante dessa visão apocalíptica de Isaías é que ela não ficou
esquecida no passado, mas foi retomada por Jesus no Evangelho, para nos falar
do Reino de Deus, comparado a uma festa de casamento. É exatamente no livro do
Apocalipse que essa festa é especificada como a festa de casamento do Cordeiro
com sua noiva, a Igreja: “Felizes aqueles que foram convidados para o banquete
do casamento do Cordeiro” (Ap 19,9), convite atualizado em toda celebração
eucarística que realizamos. Contudo, o comparecimento ao banquete eucarístico
tem sido cada vez menor, o que é explicado por, no mínimo, dois motivos: 1)
Nossas celebrações eucarísticas, com algumas exceções, estão longe de terem
gosto de festa – na maioria das vezes, têm gosto de funeral; são vivenciadas
como um rito morto, onde as manifestações de alegria são proibidas pelas normas
litúrgicas. 2) Os convidados não têm tempo para irem à festa: estão ocupados
demais com o tempo presente para pensarem no futuro; são pessoas presas ao aqui
e ao agora, cujas vidas não têm abertura para o sonho, para a esperança, para o
Reino de Deus – suas energias são gastam em sobreviver ao reino do mundo, cujo deus
é o estômago.
Diante
da recusa dos convidados em participarem da festa de casamento, algo surpreendente
acontece: o convite sai do centro e vai para a periferia – sai dos judeus
religiosos e vai para os pagãos; sai das pessoas que se julgam merecedoras da
salvação e vai para as pessoas julgadas como perdidas – “Então os empregados
saíram pelos caminhos e reuniram todos os que encontraram, maus e bons. E a
sala da festa ficou cheia” (Mt 22,10). Como compreender que na festa do Reino
dos Céus entrem também os maus e não somente os bons? O que Jesus quer ressaltar
aqui é que salvação não é mérito nosso, mas dom de Deus, fruto do seu amor
gratuito (cf. Is 55,1; Mt 5,45).
Mas
será que, no fim das contas, tudo acabará em pizza? De modo algum! Ao observar
na sala do banquete um homem que não estava vestido com seu traje de festa, o
mesmo foi questionado e posto para fora! Esse traje de festa só pode ser
compreendido à luz do banquete do Cordeiro: “Estão para realizar-se as núpcias
do Cordeiro e sua esposa (a Igreja, isto é, os cristãos) já está pronta:
concederam-lhe vestir-se com linho puro, resplandecente – pois o linho puro representa
a conduta justa dos cristãos” (Ap 19,7-8). A gratuidade do amor e da salvação
de Deus pede uma resposta da nossa parte: ajustar o nosso comportamento diário
à vontade de Deus. Esse “traje de festa” também precisa questionar a maneira
como nos vestimos para participar da celebração eucarística...
Eis
a conclusão do Evangelho: “Muitos são chamados, e poucos são escolhidos” (Mt
22,14). Diante da vontade de Deus de salvar a todos, cada pessoa precisa responsabilizar-se
por sua própria salvação – ter uma conduta justa, num mundo de valores
invertidos, para o qual ao valor “justiça” foi substituído pelo “dar-se bem na
vida”, mesmo que isso custe causar injustiça aos outros.
Retomando
o início dessa reflexão, como está o nosso presente? Fechado em si mesmo ou
aberto a um futuro e a uma esperança? Estamos entre os poucos que ainda esperam
em Deus, ou já passamos para o lado da grande multidão que deixou de manter sua
vida aberta a tal esperança? “Eu aprendi o segredo de viver em toda e qualquer
situação, estando farto ou passando fome... Tudo posso naquele que me fortalece”
(Fl 4,12-13). Nosso presente tem sido vivido na força daquele que nos faz
suportar e superar as situações adversas, ou tem sido entregue ao desencanto e
ao desespero?
Pe.
Paulo Cezar Mazzi
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