Missa da Ascensão do Senhor. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 1,1-11; Efésios 1,19-23; Mateus 28,16-20.
Em dezembro de 2021 foi lançado nos cinemas um filme
(categoria “comédia”) intitulado: “Não olhe para cima”. Trata-se de dois
astrônomos que tentam alertar o mundo sobre a ameaça de um cometa em rota de
colisão com a Terra, mas ninguém dá crédito à ameaça, uma vez que todos estão
distraídos com as futilidades que tomam conta da mídia e das redes sociais. “Não
olhe para cima” é uma crítica ao nosso mundo atual, distraído, ocupado com discussões
vazias e inúteis, fortemente desorientado pela indústria das fake news, um
mundo onde grande parte das pessoas prefere a mentira à verdade, mergulhar na
fantasia (meta Universo, inteligência artificial) ao invés de manter o contato
com a realidade; em resumo, grande parte das pessoas está escolhendo a
insanidade como forma de sobrevivência (a insanidade é exatamente a perda de
contato com a realidade).
Os textos bíblicos de hoje estão nos convidando justamente
a “olhar para cima” e a nos dar conta da existência do Céu. Jesus, após a
ressurreição, apareceu aos seus discípulos “durante quarenta dias”. Ao final
desse período, prometeu-lhes enviar o Espírito Santo, para capacitá-los à
missão de anunciar o Evangelho. “Depois de dizer isso, Jesus foi levado ao céu,
à vista deles. Uma nuvem o encobriu, de forma que seus olhos não mais podiam
vê-lo” (At 1,9).
Essa é a condição atual da Igreja e de cada um de
nós, cristãos: Jesus “assentou-se à direita do Pai” (cf. Ef 1,20); ele entrou
no céu “a fim de comparecer diante da face de Deus a nosso favor” (cf. Hb
9,24). Nós continuamos na terra, chamados a nos manter fiéis à missão que
Cristo confiou a cada um de nós, de sermos a presença viva do seu Evangelho no
coração da humanidade. Exatamente porque uma nuvem “encobriu” Jesus, não
podemos vê-lo, o que nos obriga a compreender que devemos caminhar movidos pela
fé e não pela visão clara (cf. 2Cor 5,7), confiando na promessa que ele mesmo
nos fez: “Eu estarei com vocês todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28,20).
“Olhe para cima”. Qual é a importância de nós
olharmos para o Céu? Em primeiro lugar, trata-se de manter a consciência de que
“esse Jesus que vos foi levado para o céu, virá do mesmo modo como o vistes
partir para o céu” (At 1,10), o que significa saber que Jesus voltará como Juiz,
para julgar cada ser humano. Significa também nos lembrar de que “somos
cidadãos do céu: de lá esperamos ansiosamente como Salvador o Senhor Jesus
Cristo, que transfigurará nosso corpo humilhado, conformando-o ao seu corpo
glorioso” (Fl 3,20-21). Olhar para o Céu significa ainda crer que existe uma
recompensa para quem busca santificar-se e caminhar segundo a vontade de Deus
(cf. Sb 2,22); significa ainda lembrar-se de que o que nos move a fazer o que
fazemos é uma esperança concreta: “o que nós esperamos, conforme sua promessa,
são novos céus e uma nova terra, onde habitará a justiça” (2Pd 3,13).
Crer na existência do Céu nos leva a trabalhar por
um mundo melhor, pedindo a cada dia ao Pai: “Venha a nós o vosso Reino” (cf. Mt
6,10), assim como nos leva a confiar que nada ficará impune: os que têm fome e
sede de justiça serão saciados (cf. Mt 5,6). Crer na existência do Céu nos leva
a suportar o “ainda não”, pedindo a cada dia ao Pai: “Não abandones a obra de
tuas mãos!” (Sl 138,8) e confiando que “aquele que começou em nós a boa obra da
salvação há de levá-la à perfeição até o dia da volta de Cristo Jesus” (cf. Fl
1,6). Crer na existência do Céu nos faz saber que o Senhor recolhe cada lágrima
dos nossos olhos (cf. Sl 56,10; Is 25,8; Ap 7,17) e o Céu é a realização desta
promessa: “Ele enxugará toda lágrima dos seus olhos, pois nunca mais haverá
morte, nem luto, nem clamor, e nem dor haverá mais. Sim! As coisas antigas se
foram!” (Ap 21,4).
“E
nossa história não estará pelo avesso, assim, sem final feliz: teremos coisas
bonitas pra contar. E até lá, vamos viver; temos muito ainda por fazer. Não
olhe pra trás; apenas começamos. O mundo começa agora. Apenas começamos” (Legião
Urbana, Metal contra as nuvens). O Céu começa na terra. Assim como Jesus, a
nossa presença cristã no mundo deve ser a presença do Céu na terra. Ao subir
para o Céu, ele nos confiou a missão de fazer discípulos seus todos os povos.
Mas, ninguém pode levar o outro mais longe do que onde ele mesmo está. Ninguém pode
tornar alguém discípulo de Jesus quando ele mesmo não o é. Ninguém pode convencer
uma pessoa a olhar para cima quando ele mesmo vive como uma pessoa mundana,
olhando apenas para baixo. As pessoas olharão para cima na medida em que nós,
cristãos, as ajudarmos a se levantarem, a saírem dos abismos em que se
encontram e a se convencerem de que vale a pena direcionarem sua existência
para o Céu.
ORAÇÃO:
Pai nosso, tu estás nos Céus, acima
de tudo aquilo que se passa na Terra e que atinge cada ser humano. Nós cremos
na tua Palavra: “Eu, o Senhor, habito em lugar alto e santo, mas estou junto com
o humilhado e desamparado, a fim de animar os espíritos desamparados, a fim de
animar os corações humilhados” (Is 57,15). Levanta-nos da nossa prostração,
liberta-nos da distração que nos aliena, dá-nos a coragem de olhar para cima,
escutando aquilo que a realidade está nos dizendo.
Senhor Jesus, cremos na tua presença
diante do Pai em nosso favor, assim como cremos na tua presença junto a nós,
através do Espírito Santo. Envia-nos aonde tu desejas que o teu Evangelho
chegue. Torna-nos verdadeiramente discípulos, para que possamos levar uma
palavra de conforto a toda pessoa abatida (cf. Is 50,4). Não permitas que vivamos
como homens e mulheres mundanos, mas como verdadeiros cidadãos do Céu.
Divino Espírito Santo, força do
Alto, vem em socorro da nossa fraqueza. Infunde em nós o desejo pelo Céu e devolve-nos
a esperança nos novos céus e na nova terra onde habitará a justiça. Cura-nos da
insanidade que nos mantém alheios à realidade que somos chamados a enfrentar e
a transformar com o nosso testemunho de discípulos de Jesus. Completa em nós a
obra começada e faz com que sejamos uma presença do Céu na terra. Amém!
Pe. Paulo Cezar
Mazzi
obrigado, Pe.Paulo, pelas sempre pertinentes e existenciais reflexões sobre o Evangelho do domingo. Continue evangelizando!
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMuito obrigado pelo incentivo, Pe. Agenor! Deusvo abençoe na sua missão e vocação! Abraços!
Excluir