Missa do 5º dom. Páscoa. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 6,1-7; 1Pedro 2,4-9; João 14,1-12.
Hoje
estamos entrando numa segunda fase do Tempo Pascal. Jesus começa a se despedir
de nós, seus discípulos, pois ele deve retornar ao Pai para, de lá, nos enviar
o Espírito Santo. Por isso, o evangelho de hoje nos coloca diante de um dos
discursos de despedida de Jesus, discurso que naturalmente começa abordando o
sentimento de perturbação que toma conta do coração dos discípulos: “Não se perturbe o coração de vocês... Tenham fé em mim” (Jo 14,1).
Como não ter o coração perturbado nos tempos
atuais? Existem perturbações que têm causas muito concretas em nossa vida: o
risco do desemprego, o medo da violência, a formação da consciência dos filhos –
sempre mais influenciados pela Internet –, problemas conjugais, a luta contra
uma doença grave etc. No entanto, precisamos nos livrar de perturbações desnecessárias,
fruto da nossa submissão ao consumismo, à sociedade da aparência, à influência
das redes sociais, etc.
Só
existe uma forma de acalmar o nosso coração e não permitir que ele seja
sufocado por perturbações: a fé em Jesus. Ele dissipa a perturbação que há em
nosso coração ao nos ensinar a cuidar do essencial e não nos perder no
supérfluo, ao unificar o nosso coração na busca da vontade do Pai, tirando-nos
da dispersão causada pelos vários apelos do mundo. Mas, de maneira muito
concreta, a fé que Jesus pede que tenhamos nele é quanto ao nosso destino
final: “Na casa de meu Pai há muitas moradas... Vou
preparar um lugar para vocês... a fim de que onde eu estiver vocês também estejam”
(Jo 14,2-3).
Na época de Jesus, os líderes religiosos falavam da
casa de Deus como um lugar muito pequeno, onde apenas alguns poderiam entrar, o
que servia apenas para ameaçar, pôr medo nas pessoas e desencorajá-las quanto
ao próprio caminho de fé. Ao invés disso, Jesus nos fala da casa do Pai como um
lugar amplo, porque Ele quer salvar a todos, porque “Deus é para aqueles que
têm necessidade de que ele seja bom” (Pe. Pagola). Sobretudo, a confiança que
Jesus quer que tenhamos nele é quanto à nossa morte: ela só acontecerá quando ele tiver preparado o nosso lugar na casa do Pai. Além disso, a nossa própria
ressurreição foi prometida por Jesus, pois ele garantiu que nós estaremos onde
ele agora está: junto do Pai!
A
consciência da nossa futura mudança para a casa do Pai deveria nos fazer rever
os nossos valores a partir dessa verdade: “Se a nossa morada terrestre, esta
tenda, for destruída, teremos no céu um edifício, obra de Deus, morada eterna,
não feita por mãos humanas” (2Cor 5,1). O nosso grande erro é querer tornar
eterno o que é provisório, investindo tempo, dinheiro e energia, na tentativa
de transformar nossa tenda numa casa, ao mesmo tempo em que descuidamos da
preparação da nossa mudança para a nossa casa definitiva.
Também
os primeiros cristãos tiveram que resolver conflitos entre o material e o
espiritual, e aqui a decisão sábia da Igreja primitiva serve de orientação para
as nossas paróquias: a prioridade é a vida de oração e a pregação da Palavra de
Deus (cf. At 6,2.4), ao mesmo tempo em que os pobres e necessitados não devem
ser ignorados, mas socorridos (cf. At 6,1.3). O apóstolo Pedro, por sua vez,
nos fala da importância de cada cristão ser uma “pedra viva” na Igreja, um
construtor que ajuda na edificação da comunidade, e não um mero consumidor de
sacramentos. A expressão “pedra viva” nos remete para o Ano Vocacional: cada um
deve encontrar o seu lugar na Igreja e no mundo, abraçando a tarefa que lhe está
sendo pedida em favor do bem e da salvação da humanidade.
Enfim,
antes de retornar ao Pai, Jesus nos propõe um relacionamento com ele pautado em
três imagens: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai
ao Pai senão por mim” (Jo 14,6). CAMINHO – todo ser humano trilha um caminho na
vida. A questão é saber se esse caminho foi escolhido por ele, como uma
resposta ao chamado, à vocação que recebeu, ou se lhe foi imposto a partir de
fora, desviando-o da sua própria vocação. Se o caminho que tomamos na vida não
nos levar ao Pai, teremos falhado gravemente na condução da nossa existência. VERDADE
– ela expressa a necessidade que temos de estarmos em coerência com o nosso verdadeiro
ser. Quanto mais nos afastamos da nossa verdade interior, mais adoecemos e mais
nos destruímos como pessoas. Quanto mais estamos em sintonia com essa verdade,
mais saúde física e emocional temos, e mais somos livres dos nossos próprios
enganos e das mentiras do mundo, para o qual não existe a Verdade, mas apenas
aquilo que convém a cada um, segundo a ignorância que tem a respeito de si
mesmo. VIDA – todo ser humano busca não apenas sobreviver, mas viver com
sentido; todo ser humano necessitar ter uma razão para viver. O desejo pela
vida, que cada um de nós carrega dentro de si, vai muito além do biológico;
é o desejo por sentir-se vivo a partir de dentro; é a necessidade de viver por
uma causa, e isso só podemos encontrar em Jesus, cuja vida transformou a vida
de muitas outras pessoas, cuja existência devolveu sentido à existência de
muitas outras pessoas.
ORAÇÃO
– Senhor Jesus, confio às tuas mãos tudo aquilo que neste momento perturba,
angustia e tira a paz do meu coração. Creio em ti, Senhor Ressuscitado. Creio
no chamado que recebi de ti e quero assumir o meu lugar como “pedra viva” na
construção da tua Igreja e na edificação de um mundo melhor. Concede-me a capacidade
de distinguir entre o provisório e o definitivo, entre o essencial e o
supérfluo em minha vida. Que eu não me iluda com a construção da minha tenda
neste mundo, esquecendo-me de que estou destinado(a) a morar contigo na casa do
Pai. Não quero seguir nenhum atalho ilusório, mas trilhar o Caminho que tu
mesmo és, para poder chegar ao Pai, destino final da minha existência. Que a
tua Verdade habite o mais profundo do meu ser e me liberte das mentiras que me
adoecem e me mantém prisioneiro(a) do erro. Enfim, que a minha existência tenha
um sentido, uma razão de ser, sabendo que “eu sou uma missão nesta terra; por
isso estou neste mundo” (Papa Francisco, EG 273). Amém!
Pe.
Paulo Cezar Mazzi
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