quinta-feira, 4 de maio de 2023

QUAL CAMINHO ESTOU TRILHANDO? QUAL VERDADE ME ORIENTA? POR QUAL VIDA EU ANSEIO?

 Missa do 5º dom. Páscoa. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 6,1-7; 1Pedro 2,4-9; João 14,1-12.

 

Hoje estamos entrando numa segunda fase do Tempo Pascal. Jesus começa a se despedir de nós, seus discípulos, pois ele deve retornar ao Pai para, de lá, nos enviar o Espírito Santo. Por isso, o evangelho de hoje nos coloca diante de um dos discursos de despedida de Jesus, discurso que naturalmente começa abordando o sentimento de perturbação que toma conta do coração dos discípulos: “Não se perturbe o coração de vocês... Tenham fé em mim” (Jo 14,1).

Como não ter o coração perturbado nos tempos atuais? Existem perturbações que têm causas muito concretas em nossa vida: o risco do desemprego, o medo da violência, a formação da consciência dos filhos – sempre mais influenciados pela Internet –, problemas conjugais, a luta contra uma doença grave etc. No entanto, precisamos nos livrar de perturbações desnecessárias, fruto da nossa submissão ao consumismo, à sociedade da aparência, à influência das redes sociais, etc.   

Só existe uma forma de acalmar o nosso coração e não permitir que ele seja sufocado por perturbações: a fé em Jesus. Ele dissipa a perturbação que há em nosso coração ao nos ensinar a cuidar do essencial e não nos perder no supérfluo, ao unificar o nosso coração na busca da vontade do Pai, tirando-nos da dispersão causada pelos vários apelos do mundo. Mas, de maneira muito concreta, a fé que Jesus pede que tenhamos nele é quanto ao nosso destino final: “Na casa de meu Pai há muitas moradas... Vou preparar um lugar para vocês... a fim de que onde eu estiver vocês também estejam” (Jo 14,2-3).

Na época de Jesus, os líderes religiosos falavam da casa de Deus como um lugar muito pequeno, onde apenas alguns poderiam entrar, o que servia apenas para ameaçar, pôr medo nas pessoas e desencorajá-las quanto ao próprio caminho de fé. Ao invés disso, Jesus nos fala da casa do Pai como um lugar amplo, porque Ele quer salvar a todos, porque “Deus é para aqueles que têm necessidade de que ele seja bom” (Pe. Pagola). Sobretudo, a confiança que Jesus quer que tenhamos nele é quanto à nossa morte: ela só acontecerá quando ele tiver preparado o nosso lugar na casa do Pai. Além disso, a nossa própria ressurreição foi prometida por Jesus, pois ele garantiu que nós estaremos onde ele agora está: junto do Pai!

A consciência da nossa futura mudança para a casa do Pai deveria nos fazer rever os nossos valores a partir dessa verdade: “Se a nossa morada terrestre, esta tenda, for destruída, teremos no céu um edifício, obra de Deus, morada eterna, não feita por mãos humanas” (2Cor 5,1). O nosso grande erro é querer tornar eterno o que é provisório, investindo tempo, dinheiro e energia, na tentativa de transformar nossa tenda numa casa, ao mesmo tempo em que descuidamos da preparação da nossa mudança para a nossa casa definitiva.

Também os primeiros cristãos tiveram que resolver conflitos entre o material e o espiritual, e aqui a decisão sábia da Igreja primitiva serve de orientação para as nossas paróquias: a prioridade é a vida de oração e a pregação da Palavra de Deus (cf. At 6,2.4), ao mesmo tempo em que os pobres e necessitados não devem ser ignorados, mas socorridos (cf. At 6,1.3). O apóstolo Pedro, por sua vez, nos fala da importância de cada cristão ser uma “pedra viva” na Igreja, um construtor que ajuda na edificação da comunidade, e não um mero consumidor de sacramentos. A expressão “pedra viva” nos remete para o Ano Vocacional: cada um deve encontrar o seu lugar na Igreja e no mundo, abraçando a tarefa que lhe está sendo pedida em favor do bem e da salvação da humanidade.

Enfim, antes de retornar ao Pai, Jesus nos propõe um relacionamento com ele pautado em três imagens: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim” (Jo 14,6). CAMINHO – todo ser humano trilha um caminho na vida. A questão é saber se esse caminho foi escolhido por ele, como uma resposta ao chamado, à vocação que recebeu, ou se lhe foi imposto a partir de fora, desviando-o da sua própria vocação. Se o caminho que tomamos na vida não nos levar ao Pai, teremos falhado gravemente na condução da nossa existência. VERDADE – ela expressa a necessidade que temos de estarmos em coerência com o nosso verdadeiro ser. Quanto mais nos afastamos da nossa verdade interior, mais adoecemos e mais nos destruímos como pessoas. Quanto mais estamos em sintonia com essa verdade, mais saúde física e emocional temos, e mais somos livres dos nossos próprios enganos e das mentiras do mundo, para o qual não existe a Verdade, mas apenas aquilo que convém a cada um, segundo a ignorância que tem a respeito de si mesmo. VIDA – todo ser humano busca não apenas sobreviver, mas viver com sentido; todo ser humano necessitar ter uma razão para viver. O desejo pela vida, que cada um de nós carrega dentro de si, vai muito além do biológico; é o desejo por sentir-se vivo a partir de dentro; é a necessidade de viver por uma causa, e isso só podemos encontrar em Jesus, cuja vida transformou a vida de muitas outras pessoas, cuja existência devolveu sentido à existência de muitas outras pessoas.  

 

ORAÇÃO – Senhor Jesus, confio às tuas mãos tudo aquilo que neste momento perturba, angustia e tira a paz do meu coração. Creio em ti, Senhor Ressuscitado. Creio no chamado que recebi de ti e quero assumir o meu lugar como “pedra viva” na construção da tua Igreja e na edificação de um mundo melhor. Concede-me a capacidade de distinguir entre o provisório e o definitivo, entre o essencial e o supérfluo em minha vida. Que eu não me iluda com a construção da minha tenda neste mundo, esquecendo-me de que estou destinado(a) a morar contigo na casa do Pai. Não quero seguir nenhum atalho ilusório, mas trilhar o Caminho que tu mesmo és, para poder chegar ao Pai, destino final da minha existência. Que a tua Verdade habite o mais profundo do meu ser e me liberte das mentiras que me adoecem e me mantém prisioneiro(a) do erro. Enfim, que a minha existência tenha um sentido, uma razão de ser, sabendo que “eu sou uma missão nesta terra; por isso estou neste mundo” (Papa Francisco, EG 273). Amém!

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi

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