Missa do 2. dom. comum. Palavra de Deus: Isaías 62,1-5; 1Coríntios 12,4-11; João 2,1-11.
Onde encontrar alegria? Toda propaganda de
consumo é feita a partir da imagem de uma pessoa que está alegre. A mensagem é
simples e direta: consumir tal coisa ou obter tal produto produz alegria na
pessoa. No entanto, essa alegria costuma durar cerca de uma semana, depois do
produto adquirido. Como essa alegria é efêmera, passageira, a roda do consumo
precisa continuar a girar, para que também as pessoas continuem a sentir alegria
por um pouco mais de tempo.
Além de nós entendermos erroneamente que a alegria
está condicionada ao consumo – só sente alegria quem pode consumir –, também
costumamos condicioná-la aos fatores externos, como se só fosse possível sentir
alegria quando as coisas externas estão a nosso favor: se há doença, ou
dificuldade financeira, conflitos, desencontros no relacionamento ou problemas
a resolver, tudo isso nos impede de estarmos alegres. No entanto, a alegria não
é algo que surge em nós de fora para dentro, e sim de dentro para fora; ela não
depende de que tudo esteja bem ao meu redor, mas sim da maneira como eu escolhi
lidar com as situações adversas do dia a dia.
A falta da alegria está retratada no Evangelho
de hoje pela falta de vinho. Na Sagrada Escritura, o vinho é a imagem da
alegria, mas não de uma alegria mundana, material, e sim espiritual: é a
alegria do coração humano que se sente em comunhão com Deus, fonte perene de
alegria. Essa comunhão do coração humano com Deus, por sua vez, aparece
retratada no profeta Isaías na imagem de um casamento. Após a experiência do
exílio na Babilônia, a cidade de Jerusalém se sentia deserta e abandonada, como
uma mulher não amada pelo seu marido. Deus, esposo do seu povo, se dirige a
esta cidade prometendo mudar sua situação: ela será chamada “Minha predileta
(querida)”, “Bem-Casada”, porque o Senhor, seu esposo, não descansará até que
nela sejam restabelecidas a justiça e a salvação. E o profeta conclui: “Como a
noiva é a alegria do noivo, assim também tu és a alegria de teu Deus” (Is
62,5).
Isaías empresta a imagem do casamento não para
dizer que as pessoas que se casam são alegres e as que não se casam ou se
separam não o são. O que ele quer afirmar é que Deus ama cada pessoa na face da
terra e trabalha para que na vida dela haja justiça e salvação, condições que
possibilitam a verdadeira alegria. No mundo em que vivemos, é cada vez maior o
número de pessoas que se sentem rejeitadas, não-amadas, abandonadas, ignoradas,
sem importância para quem quer que seja. Pois bem. É justamente a essas pessoas
que somos enviados a levar o amor de Deus, a certeza de que o bem de cada uma
delas é a alegria do coração de Deus.
Na festa de casamento, onde estavam Jesus, sua
mãe e seus discípulos, acabou o vinho, e Maria foi interceder junto ao seu
Filho: “Eles não têm mais vinho” (Jo 2,3). O que é esta falta de vinho hoje?
Maria hoje está dizendo a Jesus, a respeito de tantos relacionamentos: Eles não
têm mais amor; a paixão que sentiam um pelo outro não amadureceu e não se
tornou amor verdadeiro; eles não têm mais fidelidade, respeito e consideração
um pelo outro... A respeito de tantas crianças, Maria está dizendo a Jesus:
Elas não têm mais alguém que lhes transmita a fé, que lhes coloque limites, que
lhes ensine o respeito para com o próximo; não têm uma figura paterna ou
materna que seja uma referência de amor verdadeiro... A respeito de tantas
pessoas, Maria está dizendo a Jesus: elas não têm mais saúde; não têm um
emprego digno e um salário justo; elas não têm meios de sustentar suas
famílias... A respeito de tantos idosos, Maria está dizendo: Eles não são mais
lembrados, visitados e cuidados por seus familiares; não têm mais gosto em
viver; não têm mais fé, esperança e alegria... A respeito de tantos jovens,
Maria diz a Jesus: Eles não têm senso de limite e de responsabilidade; não têm
direção e sentido de vida; eles têm bens materiais, mas não têm uma razão para
viver; não têm uma referência de espiritualidade dentro de casa; estão expostos
ao consumismo, às drogas, ao desemprego e à violência...
A falta de vinho, de alegria, de condições de
vida, de sentido de vida é gritante no mundo de hoje. E o único que pode nos
trazer o vinho de Deus, a alegria de Deus, é Jesus, esposo da nossa alma,
esposo da Igreja. Por isso Maria nos orienta: “Façam tudo o que ele disser a
vocês” (Jo 2,5). Seja qual for a situação que estejamos vivendo, Jesus sempre
tem uma palavra a nos dizer, uma orientação a nos dar. Quando nos falta o vinho
da alegria, precisamos primeiramente reconhecer essa falta; depois, verificar
qual é a nossa parcela de responsabilidade para o vinho ter acabado; depois,
encher nossas talhas de água sabendo que, se somente Jesus pode converter água
em vinho, é tarefa nossa encher as talhas. Isso significa que não podemos
reclamar da falta de alegria quando nós mesmos temos atitudes que a afastam da
nossa vida.
Eis
a surpresa: “Todo mundo serve primeiro o vinho melhor e, quando os convidados
já estão embriagados, serve o vinho menos bom. Mas tu guardaste o vinho melhor
até agora!” (Jo 2,11). O vinho melhor, a alegria mais profunda e abundante,
surgiu depois da falta, depois da crise, depois da tribulação, depois da
angústia... A vida pode tornar-se muito melhor depois que enfrentamos uma
determinada “falta de vinho”. Tudo depende de como lidamos com as situações
difíceis. Tudo depende de como entendemos a alegria. Por isso, voltemos à
pergunta inicial: Onde
nós podemos encontrar alegria? Ela normalmente nos é dada em forma de sementes;
depende do nosso cultivo. Ela não é encontrada no barulho, na agitação, muito
menos na fuga de si mesmo(a), mas está dentro de cada um de nós. Ela não nasce
apenas depois que temos um encontro profundo com Deus, mas na própria busca que
fazemos d’Ele: “Alegre-se o coração dos que procuram o Senhor!” (Sl 105,3).
Invoquemos o Espírito Santo. Ele é o
vinho novo que Deus deseja derramar nos odres do nosso coração, através de seu
Filho Jesus... “Então vem, Espírito Santo, com tudo o que tens e tudo o que És...
Ó, vem, Espírito de Deus! Do alto de tua casa traz vinho novo aos odres meus!”
(Vinho novo).
Pe.
Paulo Cezar Mazzi
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