Missa
do 19. dom. comum. Palavra de Deus: 1Reis 19,9a.11-13a; Romanos 9,1-5; Mateus 14,22-33.
Estamos no mês vocacional. Depois de
termos celebrado a vocação sacerdotal, no domingo passado, hoje celebramos a
vocação paterna, meditando na figura do pai no seio da família. Exatamente hoje
a Palavra do Senhor nos fala sobre dois tipos de tempestade: aquela que
aconteceu no coração do profeta Elias e aquela que aconteceu com os discípulos,
durante a travessia no mar. Isso significa que toda vocação tem seus momentos
de tempestade. Toda pessoa que foi chamada por Deus a uma missão tem que lidar
com tempestades dentro de si mesma (Elias) e também com tempestades que
acontecem no seio da Igreja (discípulos) e da sociedade humana.
Assim como aconteceu com o profeta
Elias, às vezes a nossa alma transforma-se num mar agitado. Nós desejamos e
precisamos nos encontrar com Deus, mas não o conseguimos de maneira imediata,
pois Ele não está no furacão dos nossos afetos desordenados e das nossas
emoções cegas e descontroladas. Deus também não está no terremoto da nossa raiva
intensa e do nosso ódio contra tudo aquilo que consideramos errado e pensamos
que deva ser destruído. Enfim, Deus também não está no incêndio da nossa
intolerância e do nosso desejo de eliminarmos de uma vez por todas nossas
imperfeições e sermos ouro ou prata totalmente puros. Somente quando
silenciamos o barulho provocado pelo furacão, pelo terremoto e pelo incêndio
que nos habitam, é que podemos encontrar o Senhor e ouvi-Lo na brisa suave do
seu Espírito.
Assim como Elias, o pai é um homem
às vezes perdido dentro de si mesmo, perdido na sua própria tempestade
interior, um homem que deve enfrentar seus furacões, terremotos e incêndios interiores,
um homem chamado a ter a coragem de silenciar e de ouvir o murmúrio de uma brisa
suave, de ouvir a voz de Deus, vivendo sua vocação paterna não mais a partir da
sua carne, dos seus instintos egoístas, mas a partir do Espírito Santo que
torna o seu espírito humano capaz de domínio de si mesmo. Como fez com Elias,
Deus confiou ao pai a missão de purificar a fé da sua família e de dar à sua
casa a firmeza e a confiança necessárias para resistir às tempestades da vida.
Justamente porque nossa vocação nunca
é vivida de maneira individualista, mas comunitária e social, o Evangelho nos
fala das tempestades que se fazem presentes na Igreja e na sociedade humana. Recentemente,
o Papa Francisco afirmou que em um mundo doente como o nosso, a Igreja não pode
pretender ser totalmente saudável. Em outras palavras, as tempestades que
afetam o mundo, afetam também a nossa Igreja. As doenças e os conflitos que
atingem a humanidade atingem também a nós, cristãos. Os ventos contrários que atentam
contra a vida das pessoas também sopram contra a Igreja de Jesus Cristo, na
tentativa de silenciar a voz do Papa Francisco, dos bispos e de todos os
cristãos que se colocam na defesa da vida, da ecologia e contra uma economia
que produz morte.
Enquanto a barca dos discípulos,
imagem bíblica da Igreja, “era agitada pelas ondas, pois o vento era contrário,
Jesus... veio até os discípulos, andando sobre o mar” (Mt 14,24-25). O mesmo
Jesus que caminha sobre as águas agitadas e não afunda nelas é aquele que
estava em oração ao Pai, por si e pelos seus discípulos de todos os tempos. Isso
significa que somente a oração nos capacita lidar com as tempestades; somente a
força da oração nos faz atravessar as tempestades sem sermos tragados por elas.
Assim como Elias, assim como Jesus, é na oração que podemos silenciar nossas
tempestades e voltarmos a ouvir a voz de Deus.
Àqueles discípulos, que gritavam de
medo, Jesus disse: “Coragem! Sou eu. Não tenhais medo!” (Mt 14,27). Jesus quer
que nós o reconheçamos junto a nós, em nossas tempestades. Se a voz do medo
fala conosco, em nossas travessias e na vivência diária da nossa vocação, a voz
da coragem precisa falar mais alto. Quando não superamos esse medo, nossa vocação
acaba ficando comprometida. Portanto, assim como Pedro, nós também estendemos
nossa mão a Jesus e gritamos: “Senhor, salva-me!” (Mt 14,30). E Jesus prontamente
aceita a fraqueza da nossa fé e nos estende a mão todas as vezes que nós caímos
ou nos afundamos. “Jesus oferece, pois, à sua Igreja, a vitória sobre as forças
do mal e a segurança nas provações, mas pede como condição essencial uma confiança
sem hesitação” (Missal dominical, p.769).
Na Bíblia, o mar representa o mal,
cuja força grandiosa tudo domina, uma força ameaçadora para todos nós. Na vida
do pai, na vida de cada um de nós, da nossa Igreja, das nossas comunidades e da
sociedade humana, o mal é uma realidade presente que precisa ser enfrentada. O mal
quer nos fazer acreditar que a travessia para a outra margem não é possível,
não dará certo. Ele sempre procura nos manter paralisados no medo e no desânimo,
tirando do nosso horizonte a perspectiva da mudança. Mas Jesus continua a nos
encorajar e a nos incentivar a fazer a travessia, mantendo os olhos fixos nele,
que vem ao nosso encontro nas horas mais sombrias da nossa vida e nos entende a
sua mão, para que possamos enfrentar os ventos contrários e chegar à outra
margem, à meta que está no horizonte da vocação de cada um de nós.
“Senhor, salva-me!” (Mt 14,29). Esse é o grito
que o pai e cada um de nós hoje dirige a Jesus. Que o Senhor nos salve de afundarmos
na falta de fé; que Ele nos salve de ficarmos paralisados no medo e no
desânimo; que Ele salve cada pai e cada
família de serem tragados pelo mal que há no mundo; que Ele salve a nossa
Igreja, especialmente o Papa Francisco, nossos bispos, nossos padres, enfim, todos
os cristãos. “O vento pode soprar o quanto quiser; a montanha jamais se curva
diante dele” (provérbio chinês). Que nós não nos curvemos diante dos ventos
contrários, mas diante do Senhor Jesus, o Filho de Deus, que silencia nossas
tempestades e navega conosco, levando-nos com segurança e firmeza até o outro
lado.
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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