sexta-feira, 21 de agosto de 2020

FÉ É UMA QUESTÃO DE RELACIONAMENTO

 Missa do 21. dom. comum. Palavra de Deus: Isaías 22,19-23; Romanos 11,33-36; Mateus 16,13-20.

 

Muitos de nós, cristãos, procuramos por Jesus porque esperamos encontrar nele respostas para a nossa vida. No passado, muitos cristãos se colocaram no seguimento de Jesus porque esperavam algo dele. Mas Jesus entende que, de tempos em tempos, é importante fazermos uma parada em nosso caminho de fé e nos deixarmos questionar: Quem ele é para nós? O que esperamos dele? Por que nos identificamos como cristãos? Se hoje muitas pessoas desistem de seguir Jesus, por que nós continuamos a segui-lo? Se muitas pessoas decidiram sair da Igreja, por que nós continuamos a pertencer a ela?

Todas as vezes que a pessoa de Jesus Cristo é vulgarizada, ridicularizada ou atacada por alguém, sobretudo na mídia, assim como todas as vezes que a Igreja Católica ou mesmo o cristianismo é criticado ou combatido por alguém, Jesus volta a nos perguntar: “E pra você, quem eu sou?”. Ao nos perguntar isso, ele está nos convidando a revisar o nosso relacionamento com a sua pessoa: nosso cristianismo é um seguimento cego ou irracional de doutrinas religiosas ou é um relacionamento pessoal e profundo com a pessoa do Filho do Deus vivo?

O apóstolo Paulo afirmava: “Sei em quem coloquei a minha fé” (2Tm 1,12). Nós ainda hoje colocamos a nossa fé em Jesus Cristo? Apesar de ele ultrapassar nossos esquemas e nossos conceitos e nem sempre corresponder às nossas expectativas, nós continuamos a colocar nele a nossa fé? Apesar dos escândalos, dos contratestemunhos de alguns católicos e das falhas humanas da Igreja que Jesus fundou sobre os apóstolos, nós continuamos a dizer “creio na Igreja Católica”?

Diante da pergunta: “E para vocês, quem eu sou?”, Pedro respondeu: “Tu és o Cristo (Messias), o filho do Deus vivo” (Mt 16,16). Jesus é o Messias prometido por Deus ao seu povo. Ele é o Filho do Deus vivo, habitando entre nós. Ele é o Salvador do mundo (cf. Jo 4,42). Ele é o nosso Médico (cf. Mt 9,12). Ele é a Verdade (cf. Jo 14,6). Ele é fonte de Água viva (cf. Jo 4,10; 7,37-38). Ele é o Pão vivo (cf. Jo 6,35.51). Ele é a Porta (cf. Jo 10,9). Ele é a Luz do mundo (cf. Jo 8,12). Ele é o verdadeiro Pastor (cf. Jo 10,11.14). Ele é a Videira verdadeira (cf. Jo 15,1). Ele é a Ressurreição e a Vida (cf. Jo 11,25). Todas essas respostas, nós as encontramos nos Evangelhos. Mas a questão principal é: Jesus está no centro da nossa vida? Ele é a pessoa com a qual nos relacionamos todos os dias?

“Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi um ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu” (Mt 16,17). Só o Pai pode nos revelar seu Filho: “Ninguém vem a mim (crê em mim), se o Pai que me enviou não o atrair” (Jo 6,44). Só a graça do Pai pode atrair nosso coração, nossos afetos e nossos pensamentos para a pessoa de Jesus Cristo. Portanto, crer em Jesus não é uma questão de mera vontade ou esforço humano, mas uma graça concedida pelo Pai, uma moção interior do Espírito Santo: “Ninguém pode dizer: ‘Jesus é Senhor’ a não ser no Espírito Santo” (1Cor 12,3). Sem uma experiência interior com a pessoa de Jesus Cristo, aos poucos deixaremos de ser cristãos, porque isso não terá mais sentido para nós.  

Jesus é o Salvador do mundo. Eu tenho consciência de que preciso ser salvo? Jesus é o Médico dos corpos e das almas. Eu me reconheço doente? Eu permito que ele me cure? Jesus é a Verdade. Eu permito que sua Verdade revele o mal que as minhas mentiras me causam? Jesus é fonte de Água viva. Eu busco essa fonte todos os dias, para saciar minha sede de sentido de vida? Jesus é o Pão vivo. Eu tenho fome desse Pão? Eu alimento minha fé? Jesus é a Porta. Eu me esforço por entrar pela Porta estreita do Evangelho? Jesus é a Luz do mundo. Eu desejo caminhar sob a sua luz? Jesus é o verdadeiro Pastor. Eu me deixo conduzir por sua voz em minha consciência? Jesus é a Videira verdadeira. Eu procuro permanecer ligado a esse tronco, para receber dele a seiva do Espírito Santo todos os dias? Jesus é a Ressurreição e a Vida. Eu creio nele para além da dor da morte? Eu me apoio nele diante da dor da perda de pessoas que eu amo?   

Se nós reconhecemos ou não quem Jesus é, isso não muda nada nele, mas pode mudar tudo em nossa vida. Santo Agostinho afirmava: “Quando você se afasta do fogo, ele continua aceso e aquecendo, mas você se esfria. Quando você se afasta da luz, ela continua brilhando, mas você se cobre de escuridão. O mesmo acontece quando você se afasta de Deus”. Podemos também entender que não responder quem Jesus é para nós não vai mudar nada no que ele é, mas vai fazer nossa fé perder o sentido com o passar do tempo, porque, como vimos, da resposta a essa pergunta depende o nosso relacionamento com ele. Tenhamos, portanto, a coragem de nos confrontar com essa pergunta, para que ela atualize a nossa fé e dê um sentido novo e mais profundo ao nosso relacionamento com Jesus.  

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi

2 comentários:

  1. Muito significativa a reflexão proposta... De encorajamento para o confontar-se para uma fé autêntica em maturidade. Bom domingo caríssimo Pe Paulo

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  2. Muito obrigado! Grande abraço, querido irmão!

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