Missa
do 3º dom. do advento. Palavra de Deus: Isaías 35,1-6a.10; Tiago 5,7-10; Mateus
11,2-11.
Na vida precisamos
ter expectativas: expectativas quanto à nossa saúde, aos nossos
relacionamentos, à nossa vida profissional, ao nosso futuro, à nossa vida de fé
etc. É justamente porque tem expectativa quanto à chegada da chuva que o
agricultor, mesmo no tempo da estiagem, prepara a terra, lançando nela a
semente. Ele tem esperança! Igualmente nós, cristãos, devemos esperar o Senhor
Jesus cheios de expectativa, cheios de esperança, trabalhando o chão da nossa
vida e lançando nele as sementes que fomos chamados a lançar, isto é,
cultivando em nós e no mundo à nossa volta valores como o bem, a verdade, a
justiça, o amor etc.
Mas há um
problema quando se fala de expectativas: elas podem não se cumprir; elas podem
até mesmo nos decepcionar, seja porque são expectativas irrealistas,
exageradas, seja porque a vida nos responde de uma outra forma em relação àquilo
que esperamos. Quando isso acontece, passamos por um momento de crise, de
questionamento, de revisão das nossas expectativas, das nossas esperanças.
Assim estava João Batista. Ele havia preparado a humanidade para a chegada do
Messias, do Ungido do Senhor, prometido a Israel. No entanto, quando Jesus
começou seu ministério, a forma de agir era tão diferente das expectativas de
João que ele ficou confuso e chegou a duvidar de que Jesus era realmente o
Messias esperado.
Eis,
portanto, a pergunta de João a Jesus: “És tu, aquele que há de vir, ou devemos
esperar um outro?” (Mt 11,3). Nós já nos fizemos essa pergunta muitas vezes.
Diante do fim de um relacionamento, de uma doença, de um acidente, de uma perda
irreparável, de uma tragédia, de um problema enorme ou de um sofrimento
intenso, nós começamos a questionar a nós mesmos, a vida e o próprio Deus. Onde
foi que nós erramos? Será que não rezamos como deveríamos ter rezado? Será que
Deus realmente existe? Se existe, será que realmente vê e se importa com o que
acontece conosco? Será que estamos na Igreja certa, na religião certa? Ainda
existe sentido em esperar por Deus, por seu socorro, por sua intervenção, por
sua salvação?
Depois de
responder à pergunta de João, Jesus lhe fez uma observação que é
importantíssima também para nós: “Feliz aquele que não se escandaliza por causa de mim!” (Mt 11,6). Feliz aquele que
não desistiu de buscar Deus só porque Ele frustrou suas expectativas. Feliz
aquele que não jogou Deus fora quando sua imagem a respeito d’Ele se quebrou
totalmente. Feliz aquele que não reduziu Deus ao tamanho das suas expectativas
humanas, mas permitiu que Ele alargasse o seu horizonte de compreensão por
meio de uma sofrida crise. Feliz aquele que desistiu de enquadrar Deus nos seus
esquemas humanos e permanece aberto a algo novo que Ele está lhe dizendo,
mostrando, ensinando. Feliz aquele que, mesmo não vendo uma nuvem no céu,
continua a cultivar o chão da sua vida com a semente da esperança, crendo que,
mais cedo ou mais tarde, Deus derramará a chuva da sua resposta à suplica que
lhe foi feita.
Eis,
portanto, o modelo de expectativa, o modelo de esperança, que o apóstolo Tiago
coloca diante de nós: “Ficai firmes até à vinda do Senhor. Vede o agricultor: ele
espera o precioso fruto da terra e fica firme até cair a chuva do outono ou da
primavera. Também vós, ficai firmes e fortalecei vossos corações, porque a
vinda do Senhor está próxima” (Tg 5,7-8). Quem é movido por uma expectativa ou
por uma esperança autêntica não fica de braços cruzados, esperando que a vida
mude por si mesma, mas se levanta todos os dias e cultiva o chão da sua
existência com as sementes daquilo que ele espera colher como resultado dos
seus esforços.
São Tiago
está nos lembrando de algo importante e óbvio, mas que nós às vezes nos esquecemos:
do céu só cai chuva, nunca semente! Se a chuva cai, mas não semeamos nada no
solo da nossa existência, a única coisa que crescerá ali é mato. Contudo, se
quando a chuva cai, encontra nosso solo trabalhado, semeado, “grávido” de
sementes, então os frutos dos nossos esforços, o resultado da nossa esperança
ativa (e não passiva!) começam a brotar como fruto de uma parceria entre a
graça de Deus e o nosso esforço humano.
Geração
estranha a nossa! Queremos colher o que não cultivamos! Queremos colher
resultados, mudanças, transformações, mas sem o esforço do trabalho, do cultivo
diário, de atitudes firmes e constantes que possibilitem que essas coisas
aconteçam. Além disso, às vezes nos recusamos a cultivar atitudes diferentes em
nossa vida simplesmente porque não existem garantias de que aquilo valerá a
pena, de que realmente vai chover e o fruto do nosso esforço será recompensado.
Por isso, o profeta Isaías insiste conosco: “Fortalecei as mãos enfraquecidas e
firmai os joelhos debilitados... Criai ânimo, não tenhais medo! Vede, é vosso
Deus, é a vingança que vem, é a recompensa de Deus; é ele que vem para vos
salvar” (Is 35,3-4). Por isso, o
próprio Jesus nos questiona a partir da pessoa de João Batista: “O que fostes
ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento? O que fostes ver? Um homem
vestido com roupas finas? Mas os que vestem roupas finas estão nos palácios dos
reis” (Mt 11,7-8).
Que tipo
de pessoas somos: caniços agitados pelo vento, pessoas que se quebram diante de
qualquer pancada que levam da vida? Somos pessoas inconstantes, que começam um
caminho de autoconhecimento, de mudança, de enfrentamento de uma situação, mas
que acabam por abandoná-lo porque as coisas não estão saindo do jeito que
esperamos ou planejamos? Que tipo de pessoas somos: delicadas como roupas
finas, pessoas que se rasgam diante dos puxões que o mundo nos dá? Somos pessoas
sem consistência interna, que ao invés de acolherem a vida como ela é, vivem se
refugiando dentro do palácio do seu melindre, do seu capricho, dos seus sonhos
infantis de uma vida idealizada, perfeita?
Jesus nos
convida a sermos maduros, firmes e realistas como João Batista o foi; um homem
que, como nós, teve suas crises, lidou com a frustração de algumas de suas
expectativas, mas permaneceu aberto para aquilo que a vida queria lhe ensinar.
Não nos cabe controlar o céu e fazer chover na hora em que entendemos ser
necessária; nos cabe, sim, cultivar-nos, cultivar o chão da nossa existência,
cultivar o solo do mundo à nossa volta, lançando nele as melhores sementes de
que somos capazes de lançar, colaborando para o surgimento de uma humanidade
nova, de homens e mulheres enraizados em Deus, firmados na esperança que não
decepciona, na expectativa que se alimenta da verdade da sua Palavra.
Oração: Deus Pai, tua Palavra hoje me convida a
cultivar-me, a cultivar valores que possibilitem o surgimento de mudanças em
minha vida, o surgimento de transformações necessárias para o bem da humanidade.
Preciso de sabedoria para rever minhas expectativas, para aprender a esperar confiantemente
pela chuva da tua graça no chão árido da minha existência. O Senhor me convida
ao trabalho diário de lançar as sementes das transformações que eu desejo,
mantendo-me firme nas atitudes que possibilitarão tais transformações, sabendo
que elas são fruto de uma parceria entre as sementes dos meus esforços e a
chuva da tua graça. Concede-me a força do teu Espírito, para que eu não quebre
diante dos ventos contrários e não retroceda diante das dificuldades, mas
continue a dar os passos necessários em vista da meta que o Senhor me chama a
alcançar em Cristo Jesus, meu Salvador. Amém!
Pe. Paulo
Cezar Mazzi
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