quinta-feira, 7 de novembro de 2019

CRER NA VIDA ETERNA FAZ TODA A DIFERENÇA NA VIDA TERRENA


Missa do 32º dom comum. Palavra de Deus: 2Macabeus 7,1-2.9-14; 2Tessalonicenses 2,16 – 3,5; Lucas 20,27-38.

No mundo em que vivemos, marcado por um forte materialismo, a maioria das pessoas busca apenas sobreviver. São poucos aqueles que pensam na vida para além do aqui e do agora. Aliás, as inseguranças e as incertezas são tão grandes hoje em dia que muitos já não fazem planos para o amanhã: vive-se apenas o hoje. No entanto, Jesus nos convida a lançar o olhar para além do aqui e do agora, e a verificar se a nossa esperança nele está reduzida somente à nossa sobrevivência neste mundo, ou se cremos e esperamos pela Vida eterna. “Se temos esperança em Cristo somente para esta vida, somos os mais dignos de compaixão de todos os homens” (1Cor 15,19). Se a nossa esperança não se apoia na verdade da ressurreição, nós nada entendemos a respeito da Vida que Jesus veio nos trazer.
Enquanto os saduceus ridicularizavam a fé na ressurreição, Jesus explicou que a ressurreição não é o reavivamento de um cadáver nem o prolongamento da existência presente. A vida eterna jamais será um perpetuar as desigualdades e injustiças desse mundo. Portanto, a vida dos ressuscitados não é um prolongamento da vida terrena, mas uma total transformação dela. Se nesta vida terrena nascemos corpo mortal, fraco e desprezível, ressuscitaremos corpo imortal, cheio da força e da glória de Deus (cf. 1Cor 15,43). Se nesta vida terrena cada um nasceu num lugar, numa cidade terrena, nós, cristãos, sabemos que “a nossa cidade está nos céus, de onde também esperamos ansiosamente como Salvador o Senhor Jesus Cristo, que transfigurará nosso corpo humilhado, conformando-o ao seu corpo glorioso” (Fl 3,20-21).
            Segundo o profeta Daniel, a fé na ressurreição é a fé na justiça de Deus. Se em nosso mundo terreno, muitas pessoas morreram injustamente enquanto outras, que fazem o mal e escapam constantemente das mãos da justiça, continuam impunes, desfrutando de uma vida boa, a ressurreição é o momento onde Deus separará os bons dos maus, os justos dos injustos, e retribuirá a cada um de acordo com a sua conduta: “Muitos que dormem no pó da terra despertarão, uns para a vida eterna e outros para o horror eterno” (Dn 12,2). O próprio Jesus nos garantiu essa verdade, ao dizer: “Vem a hora em que todos os que repousam no sepulcro ouvirão a minha voz e sairão: os que tiverem feito o bem, para uma ressurreição de vida; os que tiverem praticado o mal, para uma ressurreição de julgamento” (Jo 5,28-29).
            Todos nós já perdemos pessoas – parentes ou amigos – na morte. Além disso, conhecemos pessoas que, após a morte de um ente querido, deixaram de sorrir, de sonhar, de crer e de esperar, tornando-se amargas; algumas até romperam com Deus e com a Igreja. Mas Jesus, ao nos falar sobre a verdade da ressurreição, lembra algo essencial: “Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos, pois todos vivem para ele” (Lc 20,38). Para nós, essa ou aquela pessoa morreu, mas para Deus ninguém está morto: todos vivem porque Ele é o Senhor da vida e destinou cada ser humano à ressurreição e à Vida eterna. O apóstolo Paulo afirma também que “a esperança da vida eterna” nos foi “prometida pelo Deus que não mente” (Tt 1,2).
            A fé na ressurreição e na Vida eterna é algo que muda a nossa maneira de viver o tempo presente. Como os Macabeus, nós nos tornamos capazes de enfrentar e suportar injustiças porque cremos na justiça de Deus, que ressuscitará todos os Seus justos para a Vida. Além de relativizarmos situações de dor e de sofrimento, nós não nos enganamos com engadoras promessas de felicidade veiculadas pela propaganda de consumo e incentivadas pela concorrência desumana, sobretudo nos ambientes de trabalho, pois aspiramos “a uma pátria melhor, isto é, a uma pátria celeste” (Hb 11,16). Pelo fato de crermos na ressurreição e na Vida eterna, nós nos tornamos como Abraão que, ao entregar seu filho Isaac, dizia: “Deus é capaz também de ressuscitar os mortos”. Por isso, recuperou seu filho, como um símbolo (Hb 11,19).
            Isaac, o filho a quem Abraão tanto amava, foi poupado do sacrifício para dizer que nós não fomos apenas criados por Deus para esta vida terrena, mas que Ele, no momento da nossa morte, intervirá e nos destinará à ressurreição e à verdadeira Vida. O Deus que nos criou é também o Deus que nos salva da morte definitiva, ressuscitando-nos. Portanto, a nossa vida presente, apesar de estar marcada por situações de injustiça e sofrimento, deve ser vivida como uma caminhada confiante e alegre em direção à Vida eterna. O horizonte da ressurreição deve influenciar as nossas escolhas e decisões, os nossos valores e as nossas atitudes, dando-nos a coragem de enfrentar as forças da morte que dominam o mundo, pois “o que nós esperamos, conforme sua promessa, são novos céus e uma nova terra, onde habitará a justiça” (2Pd 3,13).

            ORAÇÃO: Creio em Deus Pai, que não apenas nos chamou à existência, mas também nos prometeu a Vida eterna em seu Filho Jesus Cristo, e Deus não mente. Creio na justiça de Deus, justiça que significa separar os bons dos maus, os justos dos injustos, e retribuir a cada pessoa segundo a sua conduta, ressuscitando os que fizeram o bem para a Vida eterna e os que fizeram o mal para o julgamento.
            Creio em Jesus Cristo, morto pelos nossos pecados e ressuscitado para realizar a nossa justificação diante de Deus, ele cuja Palavra já nos faz passar da morte para a Vida e nos ensina a não temer o julgamento, pois não existe mais condenação para aqueles que creem no sacrifício redentor da Sua cruz. Cremos que Jesus virá, no momento da nossa morte, e nos levará para o seu Reino, transformando o nosso corpo fraco e mortal num corpo cheio da força e da glória de Deus.
             Creio no Espírito Santo, que ressuscitou Jesus dentre os mortos e também dará vida ao nosso corpo mortal. Creio na força do Espírito de Deus, de penetrar em nossos ossos secos e reavivar a nossa fé e a nossa esperança na ressurreição e na Vida eterna. Creio que o Espírito Santo renova a face da terra e é a garantia segura não somente de novos céus e de uma nova terra, onde habitará a justiça, mas garantia também da nossa própria ressurreição. Amém!

Pe. Paulo Cezar Mazzi

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