Missa do 32º dom
comum. Palavra de Deus: 2Macabeus 7,1-2.9-14; 2Tessalonicenses 2,16 – 3,5;
Lucas 20,27-38.
No
mundo em que vivemos, marcado por um forte materialismo, a maioria das pessoas
busca apenas sobreviver. São poucos aqueles que pensam na vida para além do
aqui e do agora. Aliás, as inseguranças e as incertezas são tão grandes hoje em
dia que muitos já não fazem planos para o amanhã: vive-se apenas o hoje. No
entanto, Jesus nos convida a lançar o olhar para além do aqui e do agora, e a
verificar se a nossa esperança nele está reduzida somente à nossa sobrevivência
neste mundo, ou se cremos e esperamos pela Vida eterna. “Se temos esperança em
Cristo somente para esta vida, somos os mais dignos de compaixão de todos os
homens” (1Cor 15,19). Se a nossa esperança não se apoia na verdade da
ressurreição, nós nada entendemos a respeito da Vida que Jesus veio nos trazer.
Enquanto
os saduceus ridicularizavam a fé na ressurreição, Jesus explicou que a
ressurreição não é o reavivamento de um cadáver nem o prolongamento da
existência presente. A vida eterna jamais será um perpetuar as desigualdades e
injustiças desse mundo. Portanto, a vida dos ressuscitados não é um
prolongamento da vida terrena, mas uma total transformação dela. Se nesta vida
terrena nascemos corpo mortal, fraco e desprezível, ressuscitaremos corpo
imortal, cheio da força e da glória de Deus (cf. 1Cor 15,43). Se nesta vida
terrena cada um nasceu num lugar, numa cidade terrena, nós, cristãos, sabemos
que “a nossa cidade está nos céus, de onde também esperamos ansiosamente como
Salvador o Senhor Jesus Cristo, que transfigurará nosso corpo humilhado,
conformando-o ao seu corpo glorioso” (Fl 3,20-21).
Segundo o profeta Daniel, a fé na
ressurreição é a fé na justiça de Deus. Se em nosso mundo terreno, muitas
pessoas morreram injustamente enquanto outras, que fazem o mal e escapam
constantemente das mãos da justiça, continuam impunes, desfrutando de uma vida
boa, a ressurreição é o momento onde Deus separará os bons dos maus, os justos
dos injustos, e retribuirá a cada um de acordo com a sua conduta: “Muitos que
dormem no pó da terra despertarão, uns para a vida eterna e outros para o
horror eterno” (Dn 12,2). O próprio Jesus nos garantiu essa verdade, ao dizer: “Vem
a hora em que todos os que repousam no sepulcro ouvirão a minha voz e sairão: os que tiverem feito o bem, para uma
ressurreição de vida; os que tiverem praticado o mal, para uma ressurreição de
julgamento” (Jo 5,28-29).
Todos nós já perdemos pessoas –
parentes ou amigos – na morte. Além disso, conhecemos pessoas que, após a morte
de um ente querido, deixaram de sorrir, de sonhar, de crer e de esperar, tornando-se
amargas; algumas até romperam com Deus e com a Igreja. Mas Jesus, ao nos falar
sobre a verdade da ressurreição, lembra algo essencial: “Deus não é Deus dos
mortos, mas dos vivos, pois todos vivem para ele” (Lc 20,38). Para nós, essa ou
aquela pessoa morreu, mas para Deus ninguém está morto: todos vivem porque Ele
é o Senhor da vida e destinou cada ser humano à ressurreição e à Vida eterna. O
apóstolo Paulo afirma também que “a esperança da vida eterna” nos foi “prometida
pelo Deus que não mente” (Tt 1,2).
A fé na ressurreição e na Vida
eterna é algo que muda a nossa maneira de viver o tempo presente. Como os
Macabeus, nós nos tornamos capazes de enfrentar e suportar injustiças porque
cremos na justiça de Deus, que ressuscitará todos os Seus justos para a Vida. Além
de relativizarmos situações de dor e de sofrimento, nós não nos enganamos com engadoras
promessas de felicidade veiculadas pela propaganda de consumo e incentivadas
pela concorrência desumana, sobretudo nos ambientes de trabalho, pois aspiramos
“a uma pátria melhor, isto é, a uma pátria celeste” (Hb 11,16). Pelo fato de
crermos na ressurreição e na Vida eterna, nós nos tornamos como Abraão que, ao
entregar seu filho Isaac, dizia: “Deus é capaz também de ressuscitar os mortos”.
Por isso, recuperou seu filho, como um símbolo (Hb 11,19).
Isaac, o filho a quem Abraão tanto
amava, foi poupado do sacrifício para dizer que nós não fomos apenas criados
por Deus para esta vida terrena, mas que Ele, no momento da nossa morte,
intervirá e nos destinará à ressurreição e à verdadeira Vida. O Deus que nos
criou é também o Deus que nos salva da morte definitiva, ressuscitando-nos. Portanto,
a nossa vida presente, apesar de estar marcada por situações de injustiça e
sofrimento, deve ser vivida como uma caminhada confiante e alegre em direção à
Vida eterna. O horizonte da ressurreição deve influenciar as nossas escolhas e
decisões, os nossos valores e as nossas atitudes, dando-nos a coragem de enfrentar
as forças da morte que dominam o mundo, pois “o que nós esperamos, conforme sua
promessa, são novos céus e uma nova terra, onde habitará a justiça” (2Pd 3,13).
ORAÇÃO: Creio em Deus Pai, que não
apenas nos chamou à existência, mas também nos prometeu a Vida eterna em seu
Filho Jesus Cristo, e Deus não mente. Creio na justiça de Deus, justiça que
significa separar os bons dos maus, os justos dos injustos, e retribuir a cada
pessoa segundo a sua conduta, ressuscitando os que fizeram o bem para a Vida
eterna e os que fizeram o mal para o julgamento.
Creio em Jesus Cristo, morto pelos
nossos pecados e ressuscitado para realizar a nossa justificação diante de
Deus, ele cuja Palavra já nos faz passar da morte para a Vida e nos ensina a
não temer o julgamento, pois não existe mais condenação para aqueles que creem
no sacrifício redentor da Sua cruz. Cremos que Jesus virá, no momento da nossa
morte, e nos levará para o seu Reino, transformando o nosso corpo fraco e
mortal num corpo cheio da força e da glória de Deus.
Creio no Espírito Santo, que ressuscitou Jesus
dentre os mortos e também dará vida ao nosso corpo mortal. Creio na força do
Espírito de Deus, de penetrar em nossos ossos secos e reavivar a nossa fé e a
nossa esperança na ressurreição e na Vida eterna. Creio que o Espírito Santo
renova a face da terra e é a garantia segura não somente de novos céus e de uma
nova terra, onde habitará a justiça, mas garantia também da nossa própria
ressurreição. Amém!
Pe. Paulo Cezar
Mazzi
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