Missa do 17º. dom. comum. Palavra de
Deus: Gênesis 18,20-32; Colossenses 2,12-14; Lucas 11,1-13.
“Jesus
estava rezando num certo lugar. Quando terminou, um de seus discípulos
pediu-lhe: ‘Senhor, ensina-nos a rezar’”
(Lc 11,1). Dos quatro evangelistas, São Lucas é o que mais destaca o quanto a
oração era essencial na vida de Jesus: no seu batismo (3,21), na escolha dos
doze apóstolos (6,12), no questionamento a respeito de si mesmo (9,18), depois
da profecia a respeito da sua morte de cruz (9,28), no retorno dos discípulos
da missão (10,21ss.), ao ensinar o Pai nosso (11,1ss.), na sua agonia no monte
das Oliveiras (22,41ss.), ao ser crucificado (23,34) e, finalmente, ao morrer
(23,46). Além disso, Jesus fez questão da frisar a importância de que a nossa
oração seja persistente (18,1-8) e humilde (18,9-14).
Mas,
por que Jesus se colocava em oração com tanta frequência? Primeiro, por amor ao
Pai. O Filho ama o Pai e relaciona-se com o Pai por meio da oração. Santa
Teresa de Jesus afirmava que “orar é
estar a sós muitas vezes com quem sabemos que nos ama”. A oração sempre pede
que você se coloque sozinho(a) na presença de Deus. Além disso, orar é estar a
sós “muitas vezes”, e não apenas “de vez em quando”, ou somente quando “dá
tempo”, ou, ainda, somente “quando algo dói” em você. Por fim, orar significa
você se colocar na presença d’Aquele que te ama incondicionalmente. É uma
presença que você não vê e muitas vezes não sente; basta somente que você creia
que Ele está presente, pois “aquele que se aproxima de Deus (por meio da
oração) deve crer que ele existe e que recompensa os que o procuram” (Hb 11,6).
Diferente
de Jesus, quando nós oramos o fazemos muito mais movidos por nossas necessidades
do que por amor ao Pai. Em todo caso, aqui também se revela a importância da
oração em nossa vida: o filho vive daquilo que recebe do Pai. Nós precisamos da
oração tanto quanto precisamos de ar pra respirar e viver ou tanto quanto o
barro necessita do Oleiro para tornar-se alguma coisa. Na verdade, existe um
espaço dentro de nós que nada preenche: nem a comida, nem a bebida, nem o sexo,
nem o dinheiro, nem qualquer coisa que possamos comprar ou consumir. Esse
espaço é o lugar de Deus em nós. Orar é reconhecer que somente quando Deus
ocupa o Seu espaço dentro de nós é que temos paz e sentimos uma alegria que nenhum
acontecimento externo pode retirar de dentro de nós.
A
oração de Jesus é a oração do Pai nosso. Nela não nos dirigimos a uma energia
ou a um deus forte e poderoso, mas à pessoa do Pai. Assim como Jesus, nós
vivemos do Pai, vivemos da Sua força, do Seu amor, da Sua graça e daquilo que
Ele nos dá. Na oração, o filho busca a força do Pai para olhar a vida nos
olhos: “Naquele dia em que gritei, vós
me escutastes e aumentastes o vigor da minha alma” (Sl 138,3). Na oração, o
filho busca a orientação do Pai para a sua vida: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração! Examina-me, e conhece
minhas preocupações! Vê se não ando por um caminho de morte e conduze-me pelo
caminho da Vida” (Sl 139,23-24).
Jesus
nos ensina a pedir: “santificado seja o teu nome”. Nosso comportamento
de verdadeiros filhos de Deus pode ajudar com que todas as pessoas que se
sentem orfãs na face da terra reconheçam a Deus como Pai; possam chamá-lo de
“Pai”, na certeza de que este Pai ama cada uma delas, olha por elas e quer
orientá-las no caminho da vida. Além disso, pedimos: “Venha o teu Reino”.
O “Reino” é o domínio do Pai sobre todos os Seus filhos, fazendo com que desapareça
da face da terra toda injustiça, violência e maldade, e possam reinar a paz, a
fraternidade e a alegria sobre toda a humanidade. O “Reino” não é um lugar, mas
uma situação onde não haverá mais lágrimas, dor, morte ou luto.
“Dá-nos
a cada dia o pão de que precisamos” (Lc 11,3). Jesus nos ensina a pedir o
“pão” de “cada dia” somente, e não o pão “da semana”, “do mês” ou “do ano”,
porque aquele que ama quer se encontrar com o Amado a cada dia. Isto significa
que a nossa oração ao Pai deve acontecer diariamente. Além disso, pedimos ao
Pai o pão “de que precisamos”, e não o pão que vai satisfazer nossa ganância ou
o nosso capricho. O verdadeiro pai não dá tudo o que o filho pede, mas
unicamente o que ele “precisa” para crescer, amadurecer, ser bom e justo. Portanto,
devemos ter maturidade espiritual suficiente para aceitar e confiar quando Deus
diz “não” ou “ainda não” ao que Lhe pedimos.
Uma
vez que somos pessoas que ofendem os outros e são igualmente ofendidas por
alguém, Jesus nos fala da importância de pedir diariamente ao Pai o Seu
perdão e de nos comprometer diante d’Ele a perdoar a quem nos ofendeu. Por
fim, pedimos que o Pai “não nos deixe cair em tentação”. Ao longo da
vida, sempre seremos tentados a abandonar a orientação do Pai e seguir a vida
segundo a nossa cabeça, ou então, tentados a resolver as coisas do nosso modo,
e não esperar pela justiça do Pai, ou ainda, tentados a desanimar e abandonar o
ideal que o Pai nos chama a alcançar, que é a nossa configuração ao Seu Filho
Jesus.
Ao
encerrar a oração do Pai nosso Jesus tem a preocupação de frisar a importância
de a nossa oração ser persistente. A leitura do Gênesis já nos falava da
persistência de oração de Abraão (cf. Gn 18,27.29.30.31). Eis as palavras de
Jesus, para a nossa vida de oração: “Pedi
e recebereis; procurai e encontrareis; batei e vos será aberto. Pois quem pede,
recebe; quem procura, encontra; e, para quem bate, se abrirá” (Lc 11,9-10). Quem
não persevera na oração nada receberá de Deus. Quem não procura por Deus jamais
O encontrará. Quem não bate com insistência à porta do coração de Deus não
entrará numa experiência profunda de encontro com Ele e com a Sua graça.
Persistir ou insistir com Deus na oração tem a ver com fé. Uma fé que não
suporta esperar, uma fé que não se dá ao trabalho de procurar, uma fé que não
se humilha em bater até que a porta seja aberta, não é fé; é manha, capricho,
birra, chantagem emocional...
Enfim,
o que pedir na oração? Qual é a “coisa” mais necessária para a nossa vida de
filhos de Deus neste mundo? Segundo São Lucas, nada é mais importante para a
nossa vida do que a presença do Espírito Santo junto a nós, dentro de nós. Eis,
portanto, o essencial, o mais necessário a ser pedido ao Pai todos os dias: o
Espírito Santo. “O Pai do Céu dará o
Espírito Santo aos que o pedirem!” (Lc 11,13). Quando o Espírito Santo está
em nós, Ele se une ao nosso espírito humano para orar ao Pai e pedir por nós
justamente aquilo que Deus quer nos dar (cf. Rm 8,26-27), em vista do Seu
desígnio de nos salvar em Seu Filho Jesus Cristo; em vista de
completar a obra que Ele começou em cada um de nós, como pede o salmista: “Completai em mim a obra começada; ó
Senhor, vossa bondade é para sempre! Eu vos peço: não deixeis inacabada esta
obra que fizeram vossas mãos!”. E se você quiser saber quando sua oração é “boa”,
isto é, quando ela, de fato, atingiu o objetivo para a sua vida espiritual,
lembre-se deste princípio inaciano: sua oração é boa quando você sai dela
disposto(a) a fazer a vontade do Pai...
Pe.
Paulo Cezar Mazzi