Missa do batismo do Senhor. Palavra de Deus: Isaías 42,1-4.6-7; Atos dos Apóstolos 10,34-38; Lucas 3,15-16.21-22.
No diálogo que teve com Nicodemos,
Jesus deixou claro que existem dois tipos de nascimento: um, da terra; outro,
do céu; um, de baixo; outro, do alto; um, o nascimento segundo a carne; outro,
o nascimento segundo o Espírito (cf. Jo 3,3-6).
Todo
ser humano nasce de baixo, nasce segundo a carne, porque nasce da relação de um
homem com uma mulher. Ora, quando a Sagrada Escritura chama o ser humano de
“carne”, ela quer afirmar que ele é mortal, finito, perecível, passível de
destruição e de aniquilamento. Além disso, o apóstolo Paulo, ao falar sobre a
ressurreição, isto é, sobre a nossa destinação à vida eterna, afirma que “a
carne e o sangue não podem herdar o Reino de Deus” (1Cor 15,50). Portanto,
todos nós, depois de termos nascido da carne, precisamos de um segundo nascimento,
que é o nascimento operado por Deus, através do Espírito Santo. Isso nos faz
compreender a absoluta importância do Batismo.
Hoje, ao celebrarmos a festa do
batismo de Jesus, poderíamos nos perguntar: Por que Jesus precisou ser
batizado, se Ele já existia em Deus antes de vir ao mundo e assumir a nossa
carne, isto é, a nossa condição mortal? Na verdade, Jesus não precisou
ser batizado; Ele quis ser batizado, seja para nos falar da necessidade
do batismo para a nossa salvação, seja para santificar as águas por meio das
quais se realiza o batismo. De fato, São Máximo de Turim afirmou: “Cristo foi
batizado não para ser santificado pelas águas, mas para santificá-las”.
Como o Evangelho de hoje deixou
claro, antes de Jesus começar seu ministério já existia um tipo de batismo: o
batismo de João. No entanto, o próprio João revelou a superioridade do batismo
de Jesus ao afirmar: “Eu vos batizo com água, mas virá aquele que é mais forte
do que eu... Ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo” (Lc 3,16). Aqui
podemos lembrar algo muito simples: a água tem o poder de lavar, de limpar, mas
o fogo tem o poder superior de purificar. Por exemplo, a prata ou o ouro podem
ser lavados o quanto forem, mas somente passando pelo fogo é que ambos perdem
todas as suas impurezas. O fogo tem um poder superior ao da água para purificar
o ouro e a prata. Além disso, o fogo tem o poder de transformar até mesmo o
metal mais duro.
Quando João Batista compara o seu
batismo na água ao batismo de Jesus no fogo, ele está falando do Espírito Santo,
que nos é dado no batismo como Aquele que opera em nós o nascimento do alto,
Aquele cujo fogo nos purifica, nos santifica e nos transforma, quando nos
deixamos conduzir por Ele. De fato, após o batismo realizado por João, Jesus se
colocou em oração, e, “enquanto rezava, o céu se abriu e o Espírito Santo
desceu sobre Jesus em forma visível, como pomba” (Lc 3,21-22). O que São Lucas
quer nos mostrar é que Jesus não recebeu o Espírito Santo da água, isto é, do
batismo de João, mas do alto, do céu, que se abriu sobre Ele enquanto rezava.
Conosco acontece algo novo. A partir
do momento em que Jesus, ao ser batizado, santifica as águas, elas se tornam
para nós o sinal visível da graça invisível do Espírito Santo. De fato, o
próprio Jesus compara o Espírito Santo à água, mas O chama de “água viva” (cf.
Jo 7,37-39), isto é, água capaz de transmitir a vida do alto, a vida eterna! Mas,
atenção! O batismo não é algo mágico. Não basta receber o Espírito Santo no
batismo e já estamos automaticamente destinados à vida eterna. Como muito bem
afirma o apóstolo Paulo, “todos os que são conduzidos pelo Espírito de Deus são
filhos de Deus” (Rm 8,14). Paulo poderia ter afirmado: “todos os que são
batizados são filhos de Deus”, mas preferiu colocar, no lugar de “ser
batizado”, a expressão “ser conduzido” pelo Espírito Santo.
Inúmeras pessoas já foram batizadas,
mas quantas delas aceitam ser conduzidas pelo Espírito Santo? Aliás, cada um de
nós, batizados, precisa fazer um sério exame da sua vida de batizado. Para isso,
o profeta Isaías nos dá uma grande ajuda, ao mostrar como é o comportamento de
uma pessoa que se deixa conduzir pelo Espírito de Deus: “Não quebra uma cana
rachada nem apaga um pavio que ainda fumega; mas promoverá o julgamento para
obter a verdade. Não esmorecerá nem se deixará abater, enquanto não estabelecer
a justiça na terra” (Is 42,3-4). Também podemos lembrar aqui como foi a vida de
Jesus após o batismo: “Ele andou por toda a parte, fazendo o bem e curando a
todos os que estavam dominados pelo demônio; porque Deus estava com ele” (At
10,38).
Uma coisa é ter sido batizado; outra
coisa é procurar viver segundo a verdade do próprio batismo. Viver segundo o
Espírito Santo recebido no batismo é ser paciente e tolerante consigo e com os
outros; é pautar sua vida pela verdade e buscar em todas as coisas a verdade; é
lutar incansavelmente pela justiça; enfim, é fazer o bem onde quer que se
encontre e sempre que possível.
Mas
há um outro aspecto muito importante, quando se fala do nosso batismo: nossa
relação com Deus Pai. O fato de Jesus, após o batismo, se colocar em oração é
algo fundamental para a nossa vida de batizados: todo filho de Deus vive numa
absoluta dependência espiritual do Pai. São Lucas é o evangelista que mais
destaca o quanto Jesus valorizava e cultivava sua vida de oração. Não por nada,
foi durante sua oração após o batismo que o Pai declarou: “Tu és o meu Filho
amado, em ti ponho o meu bem-querer” (Lc 3,22). O que essas palavras
significam? Elas falam da nossa verdadeira origem. Nossa origem não é terrena,
mas celeste! Nossa referência de vida não é a terra, mas o céu. Quem nos amou
primeiro e nos chamou à vida não foram os nossos pais terrenos, mas o nosso Pai
do Céu. A força que nos anima e nos faz enfrentar com coragem as dificuldades
da vida não está em nossa carne, mas no Espírito que nos habita!
A cena final do batismo de Jesus – sua oração ao Pai e a confirmação de que Ele é Seu Filho amado – é um convite para que diariamente nos coloquemos em oração e voltemos a ouvir a voz do nosso Pai, que nos confirma como filhos Seus e nos confia uma missão sagrada: “Eu, o Senhor, te chamei para a justiça e te tomei pela mão; eu te formei e te constituí como o centro de aliança do povo, luz das nações, para abrires os olhos dos cegos, tirar os cativos da prisão, livrar do cárcere os que vivem nas trevas” (Is 42,6-7). Que a água viva do Espírito Santo renove a graça do batismo que um dia recebemos. Que o Seu fogo queime nossas impurezas e nos transforme na imagem do Filho único de Deus, cuja festa do batismo celebramos hoje. Assim seja.
Pe. Paulo Cezar Mazzi
A cena final do batismo de Jesus – sua oração ao Pai e a confirmação de que Ele é Seu Filho amado – é um convite para que diariamente nos coloquemos em oração e voltemos a ouvir a voz do nosso Pai, que nos confirma como filhos Seus e nos confia uma missão sagrada: “Eu, o Senhor, te chamei para a justiça e te tomei pela mão; eu te formei e te constituí como o centro de aliança do povo, luz das nações, para abrires os olhos dos cegos, tirar os cativos da prisão, livrar do cárcere os que vivem nas trevas” (Is 42,6-7). Que a água viva do Espírito Santo renove a graça do batismo que um dia recebemos. Que o Seu fogo queime nossas impurezas e nos transforme na imagem do Filho único de Deus, cuja festa do batismo celebramos hoje. Assim seja.
Pe. Paulo Cezar Mazzi
Boa noite padre sua bênção...
ResponderExcluirSou ministra e as suas reflexões vem me ajudando muito nas minhas celebraçoes.🙏
Boa noite! Fico feliz em poder ajudar. Deus a abençoe!
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