sexta-feira, 21 de setembro de 2018

O QUE EU PRECISO APRENDER?

Missa do 25º. dom. comum. Palavra de Deus: Sabedoria 2,12.17-20; Tiago 3,16 – 4,3; Marcos 9,30-37.

            Jesus “estava ensinando a seus discípulos” (Mc 9,30), e esse ensinamento era tão importante que Jesus afastou-se da multidão para ficar a sós com os discípulos. Nós sempre temos algo a aprender. Não sabemos tudo, não temos todas as respostas, não compreendemos a fundo o mistério da vida. Por isso, sempre é importante nos abrir àquilo que Deus quer nos ensinar por meio dos acontecimentos. Este é um primeiro ponto.
            Um segundo ponto é que, embora sempre tenhamos algo a aprender, nem sempre estamos dispostos a aprender, porque aprender significa deixar-se questionar quanto à maneira como entendemos a nós mesmos e a vida. E não são todas as pessoas que se deixam questionar; não são todas as pessoas que aceitam se sujeitar a uma revisão das suas ideias e, principalmente, a admitir que elas podem estar erradas quanto à maneira de compreenderem a vida.
            O que Jesus queria ensinar de tão importante aos discípulos? Ele queria que eles estivessem conscientes da proximidade do Seu sofrimento de cruz, e da consequente participação deles nesse sofrimento: “O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens, e eles o matarão. Mas, três dias após sua morte, ele ressuscitará” (Mc 9,31). Da mesma forma, Jesus quer que nós tenhamos consciência que não há crescimento sem dor, não há vitória sem luta, não há ressurreição sem cruz. Como já refletimos na semana passada, Jesus quer nos tornar conscientes de que o sentido da vida não está em nos desviar de todo tipo de sofrimento, mas em enfrentar todo sofrimento que precisa ser enfrentado se quisermos alcançar um ideal que seja nobre, digno e verdadeiro.
            Ao se tornarem conscientes disso, os discípulos desconversaram e começaram a discutir qual deles era o maior (cf. Mc 9,34). Conosco se dá a mesma coisa. Sempre que a vida quer nos tornar conscientes de situações desagradáveis que temos que enfrentar em vista da nossa libertação, nós nos fechamos a essa verdade e voltamos a nos refugiar no mundo da nossa fantasia, da nossa mania de grandeza, do nosso sonho de nos manter distantes da realidade. Assim também, quando alguém partilha conosco seu sofrimento, nós muitas vezes somos superficiais com a pessoa e procuramos desviar a conversa para assuntos mais “positivos”, como se a dor dela não fosse algo sério e real.
            Jesus questionou a covardia dos discípulos diante da realidade que lhes cabia enfrentar: “O que discutíeis pelo caminho?” (Mc 9,33). Esse questionamento de Jesus vale também para nós. Sobre o quê temos discutido ou conversado com as pessoas ultimamente: sobre valores ou sobre futilidades? Sobre coisas que edificam ou sobre banalidades que para nada servem? Sobre a nossa destinação à vida eterna ou sobre a nossa mera sobrevivência neste mundo? As palavras de São Tiago revelam aquilo que há dentro de muitos de nós: enquanto supostamente seguimos Jesus, alimentamos no coração inveja e rivalidade, sentimentos e atitudes que provocam desordens e toda espécie de maldade em nossa Igreja e na sociedade. A consequência disso é a falta de paz.
            Por que nos sentimos tão sem paz atualmente? Porque fugimos do confronto conosco mesmos. A desordem exterior é reflexo de uma desordem interior; o não suportar os outros é, muitas vezes, consequência de um não suportar a nós mesmos, não suportar o mal estar que há dentro de nós. Perdemos a nossa paz interior porque, ao invés de pautar a nossa vida pela simplicidade, nos tornamos cheio de cobiça, como diz São Tiago. “Cobiçais, mas não conseguis ter. Matais e cultivais inveja, mas não conseguis êxito. Brigais e fazeis guerra, mas não conseguis possuir” (Tg 4,2).
            Os discípulos de Jesus estavam assim. Muitos de nós estamos assim: vivenciando uma espiritualidade mundana. Até mesmo nossa oração é, muitas vezes, uma oração mundana: mesmo quando pedimos algo a Deus, pedimos mal, porque movidos pelo nosso egoísmo e pelos nossos interesses materiais (cf. Tg 4,3): pedimos a cura de uma doença, mas não pedimos para nos libertar de um pecado; pedimos pelo sucesso do filho na faculdade, mas não pedimos por sua vida espiritual; pedimos uma pessoa que nos ame, mas não pedimos um coração capaz de amar os que não se sentem amados à nossa volta; pedimos por nossa sobrevivência pessoal, mas não pedimos pela situação social à nossa volta.  
            Ao colocar uma criança no meio dos discípulos e ao abraçá-la, Jesus nos derruba de cima do pedestal da nossa mania de grandeza, da nossa preocupação inútil e vazia de estarmos entre os vencedores, de sermos percebidos, reconhecidos e aplaudidos pelo mundo, da esperança vazia de termos nossos vídeos, nossas fotos e nossas palavras curtidas por um grande número de pessoas nas redes sociais. O nosso lugar como discípulos de Jesus não é sobre um pedestal, atraindo a atenção das pessoas para nós, na esperança de que elas nos reverenciem. O nosso lugar como discípulos de Jesus é junto das “crianças”, isto é, junto de toda pessoa pequena, insignificante, desprezada e desconsiderada pelo mundo moderno, cujos olhos propositalmente não enxergam os pequenos e cuja sensibilidade é indiferente às necessidades dos que são esquecidos pela sociedade.
            Por ocasião do escândalo da pedofilia no estado de Pensilvânia (EUA), o Papa Francisco escreveu: “Com vergonha e arrependimento, como comunidade eclesial, assumimos que não soubemos estar onde deveríamos estar, que não agimos a tempo para reconhecer a dimensão e a gravidade do dano que estava sendo causado em tantas vidas. Nós negligenciamos e abandonamos os pequenos” (Carta ao Povo de Deus). “Não soubemos estar onde deveríamos estar”. Jesus quer que nós, sua Igreja, estejamos junto de toda pessoa que precisa ser defendida, protegida, ajudada, socorrida. O nosso lugar não é sobre um pedestal, sentindo-nos superiores aos demais. O nosso lugar é junto daqueles que o mundo despreza e trata com indiferença.
            Estamos nos aproximando das eleições. Há um sentimento quase que comum de desorientação. Não sabemos em quem votar. A Igreja nos orienta neste sentido: votar em quem apresenta sincera adesão aos valores cristãos; defende a vida, desde a concepção até o seu fim natural, defende a família, cuida dos mais necessitados, respeita seus adversários políticos, inspira confiança e credibilidade. Não votar em quem é reconhecidamente desonesto, coloca o lucro acima de tudo, apresenta atitudes agressivas e atenta contra a vida dos pobres.
Ainda a respeito das eleições, não caiamos no erro de ficar presos aos candidatos à Presidência, esquecendo-nos de que a escolha principal é em relação aos candidatos ao Senado (dois senadores para São Paulo) e ao Congresso (deputado federal e estadual). São eles que fazem as leis que ajudam ou prejudicam o país, que protegem ou que destroem a família. Enfim, tomemos cuidado com três atitudes perigosas e que em nada ajudam: votar em branco ou nulo (é mentira que mais de 50% de votos nulos anula uma eleição), votar em quem o líder religioso indica (interesse particular da sua igreja) e votar apenas em quem tem chance de ganhar (o chamado “voto útil”).

Pe. Paulo Cezar Mazzi 

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