Missa do 25º.
dom. comum. Palavra de Deus: Sabedoria 2,12.17-20; Tiago 3,16 – 4,3; Marcos
9,30-37.
Jesus “estava ensinando a seus
discípulos” (Mc 9,30), e esse ensinamento era tão importante que Jesus
afastou-se da multidão para ficar a sós com os discípulos. Nós sempre temos algo a aprender. Não sabemos tudo, não temos todas
as respostas, não compreendemos a fundo o mistério da vida. Por isso, sempre é
importante nos abrir àquilo que Deus quer nos ensinar por meio dos
acontecimentos. Este é um primeiro ponto.
Um segundo ponto é que, embora sempre
tenhamos algo a aprender, nem sempre
estamos dispostos a aprender, porque aprender significa deixar-se
questionar quanto à maneira como entendemos a nós mesmos e a vida. E não são
todas as pessoas que se deixam questionar; não são todas as pessoas que aceitam
se sujeitar a uma revisão das suas ideias e, principalmente, a admitir que elas
podem estar erradas quanto à maneira de compreenderem a vida.
O que Jesus queria ensinar de tão
importante aos discípulos? Ele queria que eles estivessem conscientes da
proximidade do Seu sofrimento de cruz, e da consequente participação deles
nesse sofrimento: “O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens, e
eles o matarão. Mas, três dias após sua morte, ele ressuscitará” (Mc 9,31). Da
mesma forma, Jesus quer que nós tenhamos consciência que não há crescimento sem
dor, não há vitória sem luta, não há ressurreição sem cruz. Como já refletimos
na semana passada, Jesus quer nos tornar conscientes de que o sentido da vida
não está em nos desviar de todo tipo de sofrimento, mas em enfrentar todo
sofrimento que precisa ser enfrentado se quisermos alcançar um ideal que seja
nobre, digno e verdadeiro.
Ao se tornarem conscientes disso, os
discípulos desconversaram e começaram a discutir qual deles era o maior (cf. Mc
9,34). Conosco se dá a mesma coisa. Sempre que a vida quer nos tornar
conscientes de situações desagradáveis que temos que enfrentar em vista da
nossa libertação, nós nos fechamos a essa verdade e voltamos a nos refugiar no
mundo da nossa fantasia, da nossa mania de grandeza, do nosso sonho de nos
manter distantes da realidade. Assim também, quando alguém partilha conosco seu
sofrimento, nós muitas vezes somos superficiais com a pessoa e procuramos
desviar a conversa para assuntos mais “positivos”, como se a dor dela não fosse
algo sério e real.
Jesus questionou a covardia dos
discípulos diante da realidade que lhes cabia enfrentar: “O que discutíeis pelo
caminho?” (Mc 9,33). Esse questionamento de Jesus vale também para nós. Sobre o
quê temos discutido ou conversado com as pessoas ultimamente: sobre valores ou
sobre futilidades? Sobre coisas que edificam ou sobre banalidades que para nada
servem? Sobre a nossa destinação à vida eterna ou sobre a nossa mera
sobrevivência neste mundo? As palavras de São Tiago revelam aquilo que há
dentro de muitos de nós: enquanto
supostamente seguimos Jesus, alimentamos no coração inveja e rivalidade,
sentimentos e atitudes que provocam desordens e toda espécie de maldade em
nossa Igreja e na sociedade. A consequência disso é a falta de paz.
Por que nos sentimos tão sem paz
atualmente? Porque fugimos do confronto conosco mesmos. A desordem exterior é
reflexo de uma desordem interior; o não suportar os outros é, muitas vezes, consequência
de um não suportar a nós mesmos, não suportar o mal estar que há dentro de nós.
Perdemos a nossa paz interior porque, ao invés de pautar a nossa vida pela
simplicidade, nos tornamos cheio de cobiça, como diz São Tiago. “Cobiçais, mas
não conseguis ter. Matais e cultivais inveja, mas não conseguis êxito. Brigais
e fazeis guerra, mas não conseguis possuir” (Tg 4,2).
Os discípulos de Jesus estavam
assim. Muitos de nós estamos assim: vivenciando
uma espiritualidade mundana. Até mesmo nossa oração é, muitas vezes, uma
oração mundana: mesmo quando pedimos algo a Deus, pedimos mal, porque movidos
pelo nosso egoísmo e pelos nossos interesses materiais (cf. Tg 4,3): pedimos a
cura de uma doença, mas não pedimos para nos libertar de um pecado; pedimos
pelo sucesso do filho na faculdade, mas não pedimos por sua vida espiritual;
pedimos uma pessoa que nos ame, mas não pedimos um coração capaz de amar os que
não se sentem amados à nossa volta; pedimos por nossa sobrevivência pessoal,
mas não pedimos pela situação social à nossa volta.
Ao colocar uma criança no meio dos
discípulos e ao abraçá-la, Jesus nos derruba de cima do pedestal da nossa mania
de grandeza, da nossa preocupação inútil e vazia de estarmos entre os
vencedores, de sermos percebidos, reconhecidos e aplaudidos pelo mundo, da
esperança vazia de termos nossos vídeos, nossas fotos e nossas palavras
curtidas por um grande número de pessoas nas redes sociais. O nosso lugar como
discípulos de Jesus não é sobre um pedestal, atraindo a atenção das pessoas
para nós, na esperança de que elas nos reverenciem. O nosso lugar como
discípulos de Jesus é junto das “crianças”, isto é, junto de toda pessoa
pequena, insignificante, desprezada e desconsiderada pelo mundo moderno, cujos
olhos propositalmente não enxergam os pequenos e cuja sensibilidade é
indiferente às necessidades dos que são esquecidos pela sociedade.
Por ocasião do escândalo da
pedofilia no estado de Pensilvânia (EUA), o Papa Francisco escreveu: “Com
vergonha e arrependimento, como comunidade eclesial, assumimos que não soubemos
estar onde deveríamos estar, que não agimos a tempo para reconhecer a dimensão
e a gravidade do dano que estava sendo causado em tantas vidas. Nós
negligenciamos e abandonamos os pequenos” (Carta ao Povo de Deus). “Não
soubemos estar onde deveríamos estar”. Jesus
quer que nós, sua Igreja, estejamos junto de toda pessoa que precisa ser
defendida, protegida, ajudada, socorrida. O nosso lugar não é sobre um
pedestal, sentindo-nos superiores aos demais. O nosso lugar é junto daqueles
que o mundo despreza e trata com indiferença.
Estamos nos aproximando das
eleições. Há um sentimento quase que comum de desorientação. Não sabemos em
quem votar. A Igreja nos orienta neste sentido: votar em quem apresenta sincera adesão aos valores cristãos;
defende a vida, desde a concepção até o seu fim natural, defende a família,
cuida dos mais necessitados, respeita seus adversários políticos, inspira
confiança e credibilidade. Não votar
em quem é reconhecidamente desonesto, coloca o lucro acima de tudo, apresenta
atitudes agressivas e atenta contra a vida dos pobres.
Ainda
a respeito das eleições, não caiamos no erro de ficar presos aos candidatos à
Presidência, esquecendo-nos de que a escolha principal é em relação aos
candidatos ao Senado (dois senadores para São Paulo) e ao Congresso (deputado
federal e estadual). São eles que fazem as leis que ajudam ou prejudicam o país,
que protegem ou que destroem a família. Enfim, tomemos cuidado com três
atitudes perigosas e que em nada ajudam: votar em branco ou nulo (é mentira que
mais de 50% de votos nulos anula uma eleição), votar em quem o líder religioso
indica (interesse particular da sua igreja) e votar apenas em quem
tem chance de ganhar (o chamado “voto útil”).
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