sexta-feira, 3 de agosto de 2018

EXISTE A ÁGUIA E EXISTE A GALINHA: COM QUAL DESSAS AVES VOCÊ SE IDENTIFICA?

Missa do 18º. dom. comum. Palavra de Deus: Êxodo 16,2-4.12-15; Efésios 4,17.20-24; João 6,24-35.

            Existe um alimento que se estraga e um alimento que permanece para a vida eterna: qual deles desejamos? Existe uma roupa inteiramente nova e existe um remendo novo numa roupa velha: qual deles queremos vestir? Existem tratamentos lentos e dolorosos para se curar uma doença e existem tratamentos rápidos e superficiais, apenas para aliviar a dor: qual deles preferimos? Existem as coisas do alto e existem as coisas da terra: quais delas são mais importantes para nós? Existe a galinha, que vive ciscando no chão, e existe a águia, que voa alto: com qual dessas aves nos identificamos?
            No dia seguinte após ter sido saciada por Jesus (evangelho de domingo passado), a multidão sai à procura d’Ele, e, quando o encontra, Jesus lhe diz abertamente: “Estais me procurando não porque vistes sinais, mas porque comestes pão e ficastes satisfeitos. Esforçai-vos não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna, e que o Filho do Homem vos dará” (Jo 6,26-27). Lamentavelmente, a maioria das pessoas que procura por Deus o faz movida por necessidades momentâneas, urgentes, passageiras. Na verdade, a maioria de nós não procura por Deus, mas por algo que Ele possa nos fazer ou conceder. Isso significa que a maneira como muitos de nós vivem sua fé tem muito de terreno, de carnal, e pouco de espiritual.
            “Esforçai-vos não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna” (Jo 6,27). Essas palavras de Jesus poderiam ser traduzidas – grosseiramente – dessa forma: ‘Não se comportem na vida como galinhas, como pessoas que vivem de cabeça baixa, se alimentando das migalhas que encontram pelo chão; aceitem o desafio de se tornarem águias; desejem voar alto; abram-se a um horizonte maior, para o qual cada um de vocês foi criado’. No entanto, a nossa geração é uma geração acomodada e preguiçosa – também e, sobretudo, espiritualmente. Deixar de viver como galinha e passar a viver como águia tem um custo, dá trabalho, exige esforço e disciplina, exige a coragem de abandonar nossas muletas e caminhar com nossas próprias pernas, e são poucas as pessoas dispostas a isso.          
            Vejamos o exemplo de Israel. Para se libertar da escravidão do Egito e chegar à Terra Prometida, houve um custo chamado “deserto” – e junto com ele, o enfrentamento da fome. Mas Israel chegou ao cúmulo de dizer a Moisés: “Quem dera que tivéssemos morrido pela mão do Senhor no Egito, quando nos sentávamos junto às panelas de carne e comíamos pão com fartura! Por que nos trouxestes a este deserto para matar de fome a toda esta gente?” (Ex 16,3). Assim como Israel, muitas pessoas hoje não se importam de viverem presas a uma situação de violência, exploração ou injustiça, porque, pelo menos ali, elas recebem migalhas para se alimentar: migalhas de afeto, migalhas de compensação, migalhas de sobrevivência. Assim como Israel, nós, brasileiros, não nos importamos em trocar justiça, saúde e educação por futebol, cerveja e internet.
            No momento em que Jesus desafiou a multidão a não reduzir a sua fé a mera sobrevivência, mas a alargar o horizonte da própria vida e a abrir-se ao que a fé pode realizar no ser humano em termos de crescimento, de amadurecimento e de libertação, o povo perguntou: “Que sinal realizas, para que possamos ver e crer em ti? (...) Nossos pais comeram o maná no deserto, como está na Escritura: ‘Pão do céu deu-lhes a comer’” (Jo 6,30-31). Sendo filha daqueles hebreus que caminharam com Moisés pelo deserto e se alimentaram com o maná (cf. Ex 16,5), a multidão que dialoga com Jesus quer que as coisas caiam prontas do céu. Nossa fé às vezes se torna assim também: mesquinha, interesseira, preguiçosa, apelativa. Se Jesus nos der um espetáculo à parte e nos convencer de que vale a pena percorrer o caminho da fé, estamos prontos a caminhar com Ele e passar dos interesses materiais para os interesses espirituais; caso contrário, continuaremos a viver como pessoas carnais.            Mas Jesus nos provoca a ampliar a nossa compreensão a respeito da vida e das nossas próprias necessidades: “(...) o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo” (Jo 6,33). ‘Eu não vim para te carregar ao colo, mas para lembrá-lo de que você tem duas pernas e pode parar em pé sobre elas. Eu não vim para colocar remendos na sua vida, mas para fazer de você uma pessoa nova. Eu não vim te oferecer alguma droga para mantê-lo(a) distante da sua realidade, mas para te confrontar com aquela verdade que, embora doa profundamente, é a única capaz de curá-lo(a) e libertá-lo(a). Eu não estou aqui para manter você resignado(a) a uma vida medíocre, mas para lhe oferecer uma vida com sentido. Cabe a você escolher como quer viver sua vida: como um “homem velho”, uma pessoa fútil, corrompida, escrava de desejos enganadores (cf. Ef 4,22), ou como um “homem novo”, uma pessoa que pauta sua vida por aquilo que é verdadeiro, justo e santo (cf. Ef 4,23-24)’.   
            Diante dessa proposta de Jesus, a multidão pediu: “Senhor, dá-nos sempre desse pão” (Jo 6,34). Toda verdadeira oração nasce da necessidade de salvação. Se nós pedimos algo a Deus, é porque somos seres necessitados: algo precisa ser preenchido e respondido dentro de nós. Temos fome, estamos enfermos, sentimos medo, desejamos ser amados, queremos ser salvos. Todos nós somos necessitados e pedimos ajuda. No entanto, temos consciência de que, muito mais do que de “coisas”, o que nós necessitamos verdadeiramente é de salvação. O verdadeiro orante não pede a Deus “coisas”, mas busca a Deus por Ele mesmo, por quem Ele é e não por algo que Ele possa dar. Assim hoje queremos nos aproximar de Jesus, o pão que o Pai do céu nos dá para saciar a nossa fome de salvação; queremos passar da fome material para a fome espiritual, do pão que acalma a fome do estômago para o verdadeiro Pão que sacia todas as nossas fomes.
            Hoje, primeiro domingo de agosto, mês vocacional, rezamos pelos padres e pela necessidade urgente que nossa Igreja tem de vocações sacerdotais. São inúmeras as comunidades em nosso país, especialmente no centro-oeste, no norte e no nordeste, que não têm padres. “Poucos os operários, poucos trabalhadores e a fome do povo aumenta mais e mais”, diz a música do Pe. Zezinho. Rezemos pela perseverança dos nossos padres e dos nossos seminaristas, e trabalhemos para que muitos outros jovens se abram ao chamado de Deus e, configurados a Jesus, se tornem “pães vivos”, capazes de alimentar nas pessoas a fé, a esperança e o amor, jovens que se ofereçam como pães vivos para saciar a fome de Deus que há no coração de todo ser humano.

Pe. Paulo Cezar Mazzi

5 comentários:

  1. Perfeito Deus abençoe o senhor Padre

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  2. Suas palavras vem de encontro ao que estou vivendo e aprendendo, e ao me colocar nas mãos de Deus sabendo que Ele é Deus e me criou para ama-Lo e adora-Lo. Aprendi a aceitar a sua vontade e quanto mais O louvo e agradeço, mas graças são derramadas. Porque o meu Deus me ama e não me desampara. Obrigada Padre Paulo o Sr é iluminado pelo Espírito Santo.

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  3. Boa noite padre Paulo , sua bênção...
    Suas reflexões tem me ajudado muito.
    Sou ministra estou entendendo mais os evangelhos 🙏

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