Missa do 19º.
dom. comum. Palavra de Deus: 1Reis 19,4-8; Efésios 4,30–5,2; João 6,41-51
Por que algumas pessoas escolhem
praticar uma religião e outras não? Por que algumas pessoas têm fé e outras
não? A ciência já tentou responder a essas perguntas com a teoria de que
existiria na genética das pessoas religiosas, isto é, das pessoas que têm fé,
uma predisposição para Deus. Portanto, abrir-se para Deus, abrir-se para a fé,
segundo alguns cientistas, é uma questão genética: alguns nascem biologicamente
predispostos a isso e outros não.
Jesus tem uma outra resposta para
essa questão: “Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o atrai” (Jo
6,44). A expressão “vir a mim”
significa “crer em mim”. Diante da resistência de alguns judeus em crer n’Ele,
Jesus entende que a fé não é um simples querer humano; ela não é uma invenção
da mente humana, mas um dom de Deus. A fé carrega consigo um mistério chamado
Deus. Misteriosamente, Deus tem caminhos que não conhecemos para falar à
consciência e ao coração humano. Embora seja verdade que Deus queira salvar
todos os seres humanos (cf. 1Tm 2,4), nem todos foram visitados por Sua graça
insondável, que age no coração humano de uma maneira que não podemos controlar,
entender ou explicar. Portanto, diante da fé nós só podemos ter uma atitude de
humildade e gratidão: ela não é conquista nossa, não é mérito nosso, mas puro dom,
pura graça de Deus.
Mas há uma outra verdade importante
revelada por Jesus no Evangelho de hoje: “Está escrito nos Profetas: ‘Todos
serão discípulos de Deus’. Ora, todo aquele que escutou o Pai e por ele foi
instruído, vem a mim” (Jo 6,45). Toda pessoa que escuta a voz de Deus em sua
consciência e em seu coração abre-se para a fé em Jesus, isto é, sente-se
atraída para Ele. Mas quem hoje escuta a voz de Deus? Quem hoje escuta seu
próprio interior? Nós vivemos mergulhados no barulho; estamos cheios de
barulhos: barulhos externos e também internos, e os piores são os internos! Portanto,
o problema não é que Deus tenha deixado de falar com a humanidade, mas nós, humanidade,
ou não queremos ouvi-Lo, ou não estamos compreendendo o que Ele está nos
falando por meio da vida, por meio dos acontecimentos.
Quem se deixa instruir, ensinar,
orientar pelo Pai, acolhe a verdade de que é uma pessoa que carrega em si uma
profunda fome de salvação e essa fome só pode ser saciada por Jesus, o pão vivo
descido do céu: “Eu sou o pão da vida... Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem
comer deste pão viverá eternamente” (Jo 6,48.51). Jesus não é apenas pão, mas
“pão vivo”. Ele é fonte de vida e só Ele pode responder à nossa fome de paz, de
justiça, de alegria, de amor e de salvação. A vida que Jesus transmite aos
discípulos através do Evangelho e da Eucaristia é a mesma que Ele recebe do
Pai, que é a fonte inesgotável de vida plena; uma vida que não se extingue com
nossa morte biológica. Por isso Jesus afirma: “Quem comer deste pão viverá
eternamente”; ‘Quem se alimentar de mim jamais morrerá interiormente’.
Assim como o profeta Elias, nós
passamos por momentos em que “entramos deserto adentro”, nos jogamos no chão e
pedimos a morte (cf. 1Rs 19,4). Além de ser a imagem de cada um de nós, Elias é
especialmente a imagem do pai que se cansou de lutar – lutar por sua família,
por seu casamento, por seus filhos, por sua sobrevivência, por sua fé, por sua
santidade, lutar por um mundo mais justo. Assim como Elias, muitos pais se
tornaram homens abatidos, deprimidos e solitários, consumidos pelo medo e pelo desespero,
tendo apenas uma vontade: morrer. Assim como Elias, muitos pais hoje se jogaram
no chão e adormeceram, entrando num sono que funciona como fuga da realidade,
um sono que ajuda a manter a consciência anestesiada, para não ter que se
angustiarem com perguntas que não têm como responder (cf. 1Rs 19,5).
Mas Deus visita o pai no seu
deserto, tomado pelo desejo de morrer. Deus fala à consciência e ao coração do
pai: “Levante-se e coma!” ‘Alimente-se da Palavra e da Eucaristia do meu Filho!
Não se entregue ao desânimo e ao fracasso. Você ainda não terminou sua missão’.
“Levante-se e coma! Você ainda tem um caminho longo a percorrer” (1Rs 19,7). ‘Seu
caminho não termina nesse fracasso, nessa queda, nessa derrota. Há algo que
você ainda tem que realizar. Você não morrerá nesse deserto, mas chegará à meta
para a qual aceitou caminhar comigo’.
“Elias
levantou-se, comeu e bebeu, e, com a força desse alimento, andou quarenta dias
e quarenta noites, até chegar ao Horeb, o monte de Deus” (1Rs 19,8). Sem a
nossa comunhão com Jesus Cristo, nós não chegaremos à montanha de Deus. Sem nos
alimentar com o “pão vivo” que Jesus nos oferece na sua Palavra e na sua
Eucaristia, nós corremos o risco de ser consumidos pelo desânimo e morremos no
deserto do nosso desespero. Só com a força do alimento espiritual que é Jesus,
“o pão vivo descido do céu” (Jo 6,48) é que podemos reagir ao desânimo, nos
levantar do nosso sentimento de fracasso e retomar nossos ideais, dirigindo a
nossa vida para a meta que fomos chamados alcançar: a nossa salvação.
“Chegar
ao Horeb, o monte de Deus” (1Rs 19,8) significa chegar à meta a que fomos
chamados, seja como pessoas, seja como filhos de Deus; significa também chegar
à realização da nossa vida familiar, afetiva e profissional. Elias só chegou ao
monte de Deus “com a força” daquele alimento que o próprio Deus lhe
providenciou. Como temos alimentado nossos sonhos, nossos ideais? Nós temos
alimentado nossos relacionamentos? Com o quê? Temos alimentado nossa esperança,
nossa fé, nossa espiritualidade? De que forma? “Você ainda tem um caminho longo
a percorrer” (1Rs 19,7). Não nos entreguemos ao desânimo, muito menos ao
pessimismo ou ao derrotismo. Retomemos a cada dia o nosso caminho. Alimentemo-nos
diariamente do Senhor, por meio da nossa oração pessoal, e deixemos com que a
força da Sua graça nos levante do chão e recoloque nossos pés no caminho rumo
ao Seu monte, onde se dará a nossa comunhão definitiva com Seu Filho, no qual
temos a vida plena e a salvação.
Oração:
Pai, peço-Te a graça da fé, a graça de sentir-me atraído(a) para o Teu Filho
Jesus, a graça de crer n’Ele com toda a minha alma. Quero deixar-me instruir
por Ti; quero orientar-me por Tua verdade, e nela encontrar o sentido para a
minha vida. Hoje eu renuncio a todo barulho que há em mim e silencio o meu
interior para ouvir Tua voz. Preciso Te ouvir, Senhor! Preciso da Tua Palavra
tanto quanto preciso de pão para viver. “Mostrai-me, ó Senhor, vossos caminhos,
e fazei-me conhecer a vossa estrada. Vossa verdade me oriente e me conduza,
porque sois o Deus da minha salvação” (Sl 25,4-5).
Assim como Elias, algumas vezes eu
fujo para o deserto e me entrego ao desânimo; algumas vezes eu desisto de
lutar, desisto de crer e de esperar em Ti, desisto de viver. Visita-me, Senhor!
Desperta-me do sono do pessimismo e do desespero. Fala à minha consciência e ao
meu coração. Devolve-me a fé, a esperança, o ânimo, o sentido da vida! Quero
levantar-me e retomar o meu caminho. Quero retomar a missão para a qual o
Senhor me chamou. Alimenta-me com a Tua Palavra. Sustenta-me com o Teu
Espírito. Fortalece meus passos para que eu continue a caminhar até chegar ao
Teu monte, à Tua presença, à meta para a qual o Senhor me chamou, que é a
salvação em Teu Filho Jesus, o pão vivo descido do céu. Amém!
Amei, belíssima reflexão para um retiro espiritual. Deus abençoe seus dons Pe. Paulo.
ResponderExcluirAmem! Muito obrigado!
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