sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

LEPRAS ATUAIS: COISAS QUE PODEM NOS APODRECER COMO SERES HUMANOS E COMO CRISTÃOS

Missa do 6º. dom. comum. Palavra de Deus: Levítico 13,1-2.44-46; 1Coríntios 10,31–11,1; Marcos 1,40-45. 

            Diariamente o noticiário tem nos falado da febre amarela, da preocupação das pessoas que moram em áreas de risco de contaminação, da problemática da vacinação e da atitude desesperada de algumas pessoas que mataram centenas de macacos, desconhecendo o fato de que o transmissor da febre amarela não é o macaco, mas um tipo de mosquito. O macaco, na verdade, é um importante sinal que mostra em qual região está o vírus da doença e quais pessoas precisam efetivamente ser vacinadas.
            A primeira leitura e o Evangelho de hoje não nos falam de febre amarela, mas de lepra, uma doença contagiosa e muito temida. O medo atual da febre amarela tem uma certa semelhança com o medo da lepra no mundo bíblico. Na época de Moisés, o cuidado para se evitar a contaminação com a lepra era tão grande que o leproso deveria andar “com as vestes rasgadas, os cabelos em desordem e a barba coberta, gritando: ‘Impuro! Impuro!’” (Levítico 13,45), para que ninguém se aproximasse dele. Embora isso nos pareça até desumano, o objetivo era evitar o contágio e a proliferação da doença. Mas, antes de ver como Jesus lida de uma outra forma com essa questão, vamos analisar o significado bíblico da lepra para o nosso tempo.
            A lepra é uma doença que surge na pele e que, se não tratada, leva ao apodrecimento daquela região corporal. Ora, a pele lembra a preocupação excessiva da nossa sociedade com a aparência, descuidando da essência. Desse modo, nós temos pessoas esteticamente belas e fisicamente saudáveis, mas corrompidas em sua consciência, em sua honestidade, em sua fidelidade. Temos um cuidado excessivo com a estética, mas um grande descuido com a ética, com o comportamento reto e justo. Além disso, uma vez que a lepra pode levar ao apodrecimento de determinada região do corpo, podemos nos perguntar: O que está apodrecendo em nós e em nossa sociedade? O que dizer da lepra da corrupção, que apodrece a Política e a Justiça em nosso país? O que dizer da lepra da droga e da violência, da lepra da pornografia e da infidelidade? O que dizer da lepra da ideologia de gênero, que está apodrecendo a formação da identidade sexual de muitas crianças? Até que ponto nós também não estamos contaminados com algum tipo de lepra?*
            Embora todo leproso devesse manter-se distante das pessoas para não contaminá-las com sua doença, o Evangelho nos mostra um leproso que, numa atitude de desespero, rompe com a lei religiosa de Moisés, se aproxima e se ajoelha diante de Jesus, suplicando: “Se queres, tens o poder de curar-me” (Mc 1,40). Na verdade, o que faz com que esse leproso se aproxime de Jesus não é só o desespero do seu sofrimento, mas principalmente a sua fé: “Tens o poder de curar-me!” Só a força da fé pode nos fazer sair da nossa situação de desespero e nos lançar aos pés de Jesus, a quem o Pai concedeu o poder de curar, de salvar e de dar a vida eterna a todo ser humano (cf. Jo 17,2). Sem a força da fé, nós ficamos fechados em nossa dor, isolados em nossa solidão, apodrecendo em nossa doença.
            Mas a fé desse leproso comporta um elemento muito importante: o reconhecimento de que Deus é livre e nunca pode ser pressionado ou obrigado a fazer por nós aquilo que Lhe pedimos. Eis o respeito pela liberdade de Deus: “Se queres”. Certamente há uma urgência em nós pela cura, pela libertação de alguma situação de sofrimento. Mas como é importante respeitar a vontade de Deus! Como é importante aproximar-se d’Ele com humildade e respeito, jamais determinando o que Ele deve fazer para nós e quando Ele deve agir em nossa vida! Como é importante não só ter fé no poder de Deus, mas também confiar nos Seus propósitos a nosso respeito, dizendo-Lhe: “Se queres”; ‘Se for da Tua vontade’; ‘Se o Senhor achar que isso é importante e necessário para a minha vida, para a minha salvação’...
            Diante dessa fé humilde e confiante do leproso, “Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele e disse: ‘Eu quero: fica curado!’ No mesmo instante a lepra desapareceu e ele ficou curado” (Mc 1,41-42). A primeira atitude de Jesus para com o leproso é a compaixão, compaixão que significa sentir a dor do outro, permitir que a dor do outro me afete. Desse modo, Jesus nos convida a não sermos indiferentes diante daqueles que sofrem. A segunda atitude de Jesus é estender a mão e tocar no leproso. Diante da lepra do individualismo e da frieza nos relacionamentos, diante do fato de que os nossos dedos tocam diariamente a tela de um celular, mas tocam cada vez menos nas pessoas que moram, estudam, trabalham conosco ou cruzam o nosso caminho, Jesus nos convida a humanizar e a devolver vida aos nossos relacionamentos. As pessoas precisam ser tocadas para sentirem que existem, para saberem que não estão abandonadas em sua solidão, em seu isolamento ou sofrimento. Enfim, ao tocar no leproso, Jesus de uma certa forma lhe disse: ‘Eu não tenho medo de ser contaminado por você, por sua doença, por sua imperfeição’. Precisamos combater o contágio do preconceito e ver o outro não como um perigo a ser evitado, mas como um irmão a ser amado e ajudado.
            O leproso havia suplicado: “Se queres, tens o poder de curar-me!” (Mc 1,40). E Jesus agora responde: “Eu quero: fica curado!” (Mc 1,41). Sim. Deus quer a nossa cura. Deus quer a cura dos políticos e dos juízes do nosso país. Deus não quer que a nossa sociedade apodreça na corrupção, nas drogas e na violência. Deus não nos quer apodrecidos em nossa consciência. Deus quer, sim, a restauração das famílias, a cura dos relacionamentos, mas nós também precisamos querer; precisamos não só querer, mas também ter a coragem de tocar nas nossas feridas, para tratá-las, para possibilitar que sejam curadas; precisamos reconhecer a nossa lepra, reconhecer o quanto estamos contaminados por ideias, contravalores, sentimentos e atitudes que estão nos apodrecendo como pessoas e como cristãos, para que, então, o Senhor Jesus possa, com a verdade do seu Evangelho, nos descontaminar e nos curar.

Oração: Senhor Deus, sei que Tu vês não apenas a minha pele, mas a minha alma e as profundezas do meu coração. Sob a luz da Tua palavra eu reconheço que também eu estou sujeito à contaminação da lepra da corrupção, da violência, da inversão de valores, da infidelidade, da entrega da minha sexualidade à cegueira dos meus afetos desordenados. Cura-me, Senhor! Descontamina-me! Não permita que eu apodreça como ser humano e como cristão(ã). Devolve não somente a saúde ao meu corpo, mas, sobretudo, a integridade, pureza e retidão à minha alma e ao meu coração.
            Senhor Jesus, estende Tua mão e toca nas minhas feridas, nas minhas lepras. Livra-me do apodrecimento físico, moral e espiritual. Diante da verdade do Teu Evangelho comprometo-me a me afastar de tudo aquilo que possa me contaminar, me adoecer e me corromper como ser humano e como cristão(ã). Ensina-me a me deixar afetar pela dor do meu semelhante. Ensina-me a usar as minhas mãos para tocar aqueles que precisam do meu afeto, do meu respeito, da minha solidariedade, da minha compaixão. Eu creio que tens o poder de curar-me, de curar a cada um de nós. Assim, como esse leproso do Evangelho, eu agora Te suplico: https://www.youtube.com/watch?v=oSdOBQrOMik (Música “Se queres”, Ministério Amor e Adoração).  

*No canal do Youtube, há um vídeo muito interessante do filósofo Mário Sérgio Cortella, intitulado “Gente podre por dentro”. Vale a pena assistir:

Pe. Paulo Cezar Mazzi

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