sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

TORNAR-SE CONSCIENTE DA NECESSIDADE DE CONVERSÃO

Missa do 3º. dom. comum. Palavra de Deus: Jonas 3,1-5.10; 1Coríntios 7,29-31; Marcos 1,14-20.

            “Convertam-se!” Este foi o apelo de Jonas aos habitantes de Nínive. Este foi também o apelo de Jesus aos seus ouvintes, no início da sua pregação. Este é também o apelo de Deus a cada um de nós, que hoje ouvimos sua Palavra: “converta-se!”
            Às vezes acontece de nós ouvirmos que tal pessoa “se converteu” a essa ou àquela igreja ou religião, mas a conversão à qual tanto Jonas quanto Jesus se referem não é uma simples mudança de igreja ou de religião, mesmo porque não são poucas as pessoas que, apesar de mudarem de igreja ou de religião, não mudam suas atitudes. A conversão à qual a Palavra de Deus hoje se refere fala da necessidade de uma mudança interna, uma mudança na forma de pensar e de agir. Além disso, a conversão não é algo que se dá de uma vez para sempre; ela é um processo que acompanha (ou deveria acompanhar) toda a nossa vida, porque sempre precisamos fazer ajustes em nossa caminhada, sempre precisamos rever o quanto estamos em sintonia ou não com a vontade de Deus.
            Os habitantes de Nínive só tomaram consciência de que precisavam se converter, de que precisavam mudar suas atitudes, quando ouviram Jonas dizer: “Dentro de quarenta dias, Nínive será destruída” (Jn 3,4). Todos nós temos resistência em mudar e só existe uma coisa que pode quebrar essa resistência: é quando nos damos conta de que, ou mudamos nossas atitudes, ou seremos destruídos pelos nossos erros; ou mudamos nossas atitudes, ou aquilo que nós mais amamos será destruído pela nossa teimosia em não mudar. Mas, ainda aqui existe um outro problema, uma outra coisa que barra o nosso processo de conversão: é quando não nos deixamos convencer pela voz de Deus em nossa consciência; é quando sabemos (mentalmente) que estamos agindo errado diante da vida, mas não temos vontade de mudar, o que significa uma espécie de suicídio ou de uma enorme falta de responsabilidade perante a vida.
            O fato é que “os ninivitas acreditaram em Deus” (Jn 3,5) e decidiram mudar, evitando assim a sua destruição. Numa outra ocasião, Jesus usou esse exemplo de conversão dos ninivitas para fazer o seguinte alerta: “No dia do julgamento, os habitantes de Nínive se levantarão e condenarão esta geração, porque eles se arrependeram diante da pregação de Jonas, e aqui está alguém maior do que Jonas” (Mt 12,6). Nós podemos cair no erro de nos blindar contra o apelo de conversão menosprezando ou descaracterizando a pessoa que Deus usou para nos fazer tal apelo, mas essa desculpa não “cola”, não justifica, porque, na verdade, quem nos chama à conversão é o próprio Deus, ainda que Ele use de mediações que não nos sejam simpáticas.
            Enquanto Jonas justificou a necessidade de conversão mediante o risco de uma destruição iminente, Jesus justifica a nossa necessidade de conversão por causa da chegada do Reino de Deus: “O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho!” (Mc 1,15). Paulo retoma a afirmação de Jesus, de que “o tempo se completou” e esclarece: “O tempo está abreviado” (1Cor 7,29), o que significa que a vida de todos nós está inserida no plano da salvação de Deus, e, segundo esse plano, nós estamos vivendo o que a Escritura chama de “últimos dias” ou de “ultima hora” (cf. 2Pd 3,3-4; 2Tm 3,1-5; 1Jo 2,18). Não é tempo de “enrolar”, de “fazer corpo mole”, de ficar “deitado eternamente em berço esplêndido”, de fazer de conta que não estamos entendendo o que Deus está nos dizendo; é tempo de agir, de tomar decisão, de fazer as mudanças que são necessárias para a salvação nossa e de toda a humanidade.
Não diferente de Jonas e de Jesus, o apóstolo Paulo nos dá um “choque de realidade”, ao afirmar que “aqueles que desfrutam das coisas deste mundo se comportem como se não desfrutassem, porque este mundo passa” (1Cor 7,31). Muitas coisas nas quais nos apegamos e às quais elegemos como fonte de segurança e de sentido para nós cairão, desaparecerão, deixarão de ter sentido, serão destruídas, se perderão e se desgastarão com o tempo. Por isso, enquanto convivemos com tantas coisas que passam, precisamos buscar nos agarrar Àquele que não passa: Deus e o seu Reino.
Algo ainda precisa ser dito a respeito do apelo à conversão, que Jesus nos faz. Ele disse: “Convertei-vos e crede no Evangelho!” Se a nossa segurança não pode estar neste mundo que passa, precisamos lançar a âncora da nossa fé na Palavra que não passa. Crer no Evangelho significa crer no próprio Cristo, pois Ele é o Evangelho, Ele é a boa notícia da salvação de Deus para todo ser humano. Crer no Evangelho significa aceitar aquilo que os evangelistas Mateus, Marcos, Lucas e João nos transmitiram como única Palavra capaz de nos conduzir para a comunhão com Jesus Cristo e com Sua vida (cf. Jo 20,31), lembrando que “o Evangelho é força de Deus para a salvação de todo aquele que crê” (Rm 1,16). O apóstolo Paulo nos diz mais ainda: quando ouvimos a “palavra da verdade, o Evangelho” da nossa salvação, somos “selados pelo Espírito Santo” para o dia da nossa redenção (cf. Ef 1,13-14).
Se há algo que ainda precisa ser dito a respeito de “crer no Evangelho” é lembrar que ele deve tornar-se nossa norma de vida, de conduta, configurando-nos a Jesus Cristo. Deus nos conceda, portanto, a graça de nos tornarmos um “Evangelho vivo” para os nossos irmãos e irmãs, e que o Evangelho de seu Filho Jesus Cristo torne-se instrumento diário de revisão das nossas atitudes, nos ajudando a fazer a conversão necessária para a salvação nossa e de toda a humanidade.

Pe. Paulo Cezar Mazzi

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