sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

COMO É A SUA BUSCA POR DEUS?

Missa da Epifania do Senhor. Palavra de Deus: Isaías 60,1-6; Efésios 2,2-3a.5-6; Mateus 2,1-12

            Segundo o salmista, existe uma voz escondida no coração de todo ser humano, uma voz no mais íntimo de nós, que sussurra: “Procurem a minha face!” (Sl 27,8). Deus colocou no coração de todo ser humano o desejo por Ele, a necessidade de buscá-Lo, o desejo de encontrá-Lo, de modo que todo aquele que se coloca na busca por Deus, suplica: “É tua face, Senhor, que eu procuro. Não escondas de mim a tua face” (Sl 27,8-9).
            A procura dos magos do Oriente pelo menino Jesus nos fala do quão sofrida às vezes se torna a nossa busca por Deus. Por que essa busca às vezes é sofrida? Porque a própria Sagrada Escritura afirma: “Tu és o Deus escondido, o Deus de Israel, o salvador” (Is 45,15). Deus não é o “Deus escondido” porque vive brincando de esconde-esconde conosco. Ele é o “Deus escondido” no sentido de que transcende, ultrapassa todo o nosso entendimento; Ele vai além de todas as nossas expectativas e não aceita ser enquadrado em nossos esquemas religiosos, nem muito menos ser manipulado ou “controlado” por nossa fé.
Apesar disso, Ele, o “Deus escondido”, deixou claro que a nossa busca por Ele nunca é inútil ou em vão: “Eu nunca disse à descendência de Jacó: ‘Procurai-me e buscai-me inutilmente’” (Is 45,19). Da mesma forma, o autor da carta aos Hebreus afirma que “quem se aproxima de Deus (quem procura por Deus) deve crer que Ele existe e recompensa aqueles que o procuram” (Hb 11,6). Essa é a chave para entendermos o Evangelho de hoje: existe uma recompensa para quem busca Deus, para quem se desacomoda e se põe a percorrer o sofrido caminho da fé, atravessando noites escuras, suportando perguntas angustiantes em sua alma, até que possa encontrar-se com Aquele que é a verdade. Sim; a busca por Deus é a busca pela verdade. Por isso, só pode encontrar Deus quem O procura de coração sincero (cf. Sl 145,18).
Para compreendermos esse encontro dos magos do Oriente com Jesus precisamos nos lembrar das palavras do próprio Deus no Antigo Testamento: “Deixei-me encontrar por aqueles que não perguntavam por mim. Deixei-me encontrar por aqueles que não me procuravam. A uma nação que não invocava o meu nome eu disse: ‘Aqui estou, aqui estou!’” (Is 65,1). Essas palavras se referem aos povos pagãos, povos representados aqui no Evangelho pelos magos do Oriente, povos que jamais poderíamos imaginar que estivessem abertos a Deus. Quantas pessoas que nós jamais imaginaríamos que estivessem abertas a Deus foram alcançadas pela graça d’Ele e se abriram à Sua verdade?
Se hoje somos chamados a nos alegrar pela oferta da salvação de Deus em Seu Filho Jesus, oferta feita a todos os povos e acolhida com alegria pelos pagãos, precisamos também considerar o constante perigo do nosso fechamento a Deus, denunciado por Ele mesmo no profeta Isaías: “Estendi as mãos todos os dias a um povo desobediente, que andava por caminho mau, seguindo seus próprios caprichos” (Is 65,2). Deus estende Suas mãos todos os dias, para salvar o ser humano, mas muitos não se dão ao trabalho de estender suas próprias mãos para segurar as mãos de Deus. Muitos até gostariam de ter um encontro íntimo e transformador com Deus, mas não se dispõem a sair do seu comodismo, da sua preguiça espiritual; não se dispõem a buscá-Lo, como os magos. E aqui fica a pergunta: como uma geração como a atual, que aprendeu a receber tudo de mão beijada – ou que exige recebê-lo dessa forma – vai se dispor a buscar Deus?  
O Evangelho é muito claro: na pessoa de Seu Filho Jesus, o Pai continua a estender Suas mãos para salvar todas as pessoas. Alguns, como Herodes, rejeitam essa salvação; outros, como os magos, a acolhem. Além disso, a liturgia de hoje nos fala da mistura da luz com as trevas, sobretudo a primeira leitura e o Evangelho. O conflito entre a luz e as trevas sempre acompanha a humanidade e a vida de cada um de nós. A questão é saber o quanto a escuridão das trevas já fez alguns de nós desistirem de manterem acesa a luz da sua fé, e o quanto a preguiça espiritual de tantas pessoas já nos contaminou a ponto de deixarmos de empreender a nossa busca diária por Deus.
Nós podemos ter duas atitudes diante da escuridão das trevas: ou lamentá-la, ou acender uma luz. Foi graças à luz de uma estrela que os magos do Oriente puderam encontrar Jesus. A luz dessa estrela precisa nos remeter a uma palavra de Jesus, palavra que está sendo especialmente retomada neste Ano do Laicato, ano em que a nossa Igreja busca repensar o papel do cristão leigo em nossas comunidades e em nossa sociedade: “Vós sois a luz do mundo... Brilhe a vossa luz diante das pessoas, para que elas vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai que está nos céus” (Mt 5,14.16). Nós não nos tornamos cristãos para sermos reconhecidos pelo mundo, mas para fazer brilhar a nossa luz diante das pessoas do nosso tempo, e a nossa luz não é outra coisa senão as nossas boas obras, o nosso esforço diário em nos comportar como Jesus se comportou, lembrando sempre que o brilho da nossa luz deve glorificar o Pai e não a nós mesmos.
Diante de Jesus, o verdadeiro presente de Deus para a humanidade, os magos “abriram seus cofres e ofereceram-lhe presentes: ouro, incenso e mirra” (Mt 2,11). Você, cristão, é convidado a oferecer hoje à Igreja e à sociedade humana o seu ouro, isto é, a preciosidade da sua retidão, da sua honestidade, da sua fé e do seu trabalho voluntário. Você, cristão, também é convidado a oferecer o seu incenso, isto é, a sua presença sagrada, a força da sua espiritualidade, o perfume que emana da luta pela sua santificação diária. Enfim, como cristão, você é convidado a oferecer a sua mirra, o seu dispor-se a estar junto das pessoas que sofrem, colaborando para aliviá-las e consolá-las.     

Oração: Meu Deus, eu procuro a Tua face; procuro a Tua verdade. Tu és o Deus escondido, o Deus que eu não posso manipular e usar segundo os meus caprichos. Quero respeitar o Teu mistério, a Tua transcendência, o Teu sagrado. Livra-me do comodismo e da preguiça espiritual! Concede-me uma fé simples e sincera, pois o Senhor sempre se deixa encontrar por quem O procura de coração sincero. Por mais que a minha busca por Ti seja às vezes sofrida, que eu nunca me esqueça de que o Senhor não apenas existe, mas também nunca deixa sem resposta quem Te busca na oração sincera.  
Agarro-me às Tuas mãos, Pai! Acolho a luz do Teu Filho, imagem do Deus invisível! Acolho o presente que o Senhor oferece a toda a humanidade: a salvação em Teu Filho Jesus. Diante dele dobro meus joelhos, abro o cofre do meu coração e ofereço-me como ouro, incenso e mirra. Ofereço a preciosidade da retidão do meu caráter e do meu trabalho voluntário, para o bem da Igreja e da sociedade; ofereço a força da minha espiritualidade e o perfume que emana da minha luta em me santificar; enfim, ofereço ao Teu Filho o meu esforço em me colocar como presença cristã junto daqueles que sofrem, para confortá-los e reanimá-los.  
 Movido pelo Espírito Santo e imitando a atitude dos magos no Evangelho, eu adoro Aquele a respeito de quem o Senhor disse: “Que todos os anjos o adorem” (Hb 1,6)...

Pe. Paulo Cezar Mazzi

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