Missa da
Transfiguração do Senhor. Palavra de Deus: Daniel 7,9-10.13-14; 2Pedro 1,16-19;
Mateus 17,1-9.
Com o tempo, a ação do sol desfigura
a pintura das casas e dos edifícios. Não muito diferente, também em nós a ação
do tempo nos desfigura estética, física e mentalmente. A maneira como muitas
pessoas atuam na natureza tem feito com que esta seja desfigurada. No final do
ano passado, o Congresso Nacional desfigurou totalmente as 10 medidas contra a
corrupção. A violência desfigura a vida das nossas cidades. Mas a violência
nasce de uma outra desfiguração: a desigualdade social, produzida pela má
distribuição de renda e pela falta de vontade/seriedade política em nosso país.
As drogas, especialmente o crack, desfiguram rapidamente a vida de inúmeras
pessoas. Sabemos também que, no Brasil, o Executivo, o Legislativo e boa parte
do Judiciário encontram-se desfigurados pela corrupção.
Os exemplos de desfiguração, além de
serem muitos, têm tornado a nossa realidade escura, triste, sombria. Mas,
justamente nesse contexto de escuridão, de desfiguração, hoje nós olhamos para nosso
Senhor Jesus transfigurado, cujo rosto brilha como o sol e cujas vestes estão
brancas como a luz (cf. Mt 17,2). Assim como ele quis que três discípulos seus
testemunhassem sua transfiguração, assim ele quer que nós tenhamos o seu
Evangelho “como lâmpada que brilha em lugar escuro, até clarear o dia e
levantar-se a estrela da manhã em vossos corações” (1Pd 1,19). Jesus nos
convida a não permitir que o mundo apague a nossa luz, que as dificuldades que
possamos enfrentar e as injustiças que possamos sofrer, ainda que nos
desfigurem fisicamente, não desfigurem a nossa fé, a nossa alegria, a nossa
esperança, os nossos sonhos.
Nós
precisamos ter uma reação positiva diante da desfiguração que existe à nossa
volta. Para isso, o Pai nos fala da importância de ouvirmos seu Filho: “Pedro
ainda estava falando, quando uma nuvem luminosa os cobriu com sua sombra. E da
nuvem uma voz dizia: 'Este é o meu Filho amado, no qual eu pus todo meu agrado.
Escutai-o!'” (Mt 17,5). Se é verdade que nós diariamente nos deparamos com
situações de desfiguração, situações que parecem escurecer tudo à nossa volta,
precisamos buscar a presença de Deus na oração, permitir que a “nuvem luminosa”
da sua presença nos envolva, certos de que “as montanhas se derretem como cera
ante a face do Senhor de toda a terra” (Sl 96,5). Portanto, diante do Deus que
é luz, toda sombra, toda escuridão, toda desfiguração se desfazem; tudo é
transfigurado.
Vivenciando
a experiência da transfiguração, Pedro disse: “Senhor, é bom ficarmos aqui” (Mt
17,4). Todos nós precisamos de momentos de transfiguração, mas não podemos nos
iludir quanto a isso: assim como aconteceu com Jesus, a transfiguração não é um
estado permanente em nós; há momentos em que nos sentimos transfigurados e há
momentos em que estamos desfigurados. Mais importante do que desejarmos estar o
tempo todo transfigurados, é nos darmos conta daquelas atitudes que colaboram
para a transfiguração ou para a desfiguração. Colabora para a nossa
transfiguração o diálogo, o encontro, o perdão, a reconciliação, sinceridade, a
verdade, a oração, o contato com a Palavra de Deus que nos reanima. Por outro
lado, colabora com a nossa desfiguração o isolamento, a separação, o distanciamento,
a mentira, a falsidade, a falta de oração, o afastamento nosso em relação à
Palavra de Deus.
Uma outra forma de entender o
significado da transfiguração de Jesus para a nossa vida é nos tornar
conscientes de que somos chamados por Deus a nos configurar a seu Filho Jesus: “Pois
aqueles que Deus contemplou com seu amor desde sempre, a esses ele predestinou
a serem conformes à imagem de seu Filho” (Rm 8,29). O nosso contato diário com
o Evangelho deve nos ajudar a buscar continuamente a nossa configuração com
Jesus, conscientes de que essa configuração é uma tarefa que dura a vida toda,
pois sempre teremos algo desfigurado em nós e que precisa ser transfigurado. Aqui
podem nos ajudar as palavras do Irmão Roger Schutz: “Viva aquilo que você
entendeu do Evangelho. Por menor que seja, viva-o!” Na medida em que nos
esforçamos por viver aquilo que aprendemos do Evangelho, vamos nos configurando
sempre mais a Jesus Cristo.
A
transfiguração é a nossa lenta transformação em Cristo. Há momentos em que nos
parecemos mais com Jesus, assim como há momentos em que nos distanciamos da
configuração com ele. Precisamos ter paciência, colaborar com a graça de Deus e
retomar a cada dia o nosso ideal, a vocação para a qual fomos chamados. A
oração e a meditação diária do Evangelho, a comunhão com a Eucaristia, a
frequência ao sacramento da reconciliação e, sobretudo, o contato com os
pobres, com as pessoas desfiguradas pelas injustiças sociais, vão operando em
nós essa lenta transformação em Cristo, em pessoas transfiguradas e capazes de
transfigurar o ambiente em que nos encontramos. Também neste sentido, hoje, 06
de agosto, somos convidados a orar intensamente pelos cristãos perseguidos no
mundo, especialmente no Oriente Médio.
Neste
primeiro final de semana de agosto, mês vocacional, rezamos pelos padres e
pelas vocações sacerdotais. Assim como acontece com outras instituições, também
a nossa Igreja tem sido desfigurada pelas atitudes de alguns padres, seja na
forma como conduzem sua afetividade, seja na forma como lidam com um dinheiro
que não lhes pertencem e ao qual deveriam administrar de maneira honesta e
justa. O padre, mais do que qualquer outra pessoa, é chamado a configurar-se a
Cristo e a ser uma presença de transfiguração no seio da Igreja e da sociedade
humana. Rezemos pela conversão daqueles que estão se desfigurando no seu
ministério e pela perseverança daqueles que têm lutado por configurar-se a
Jesus Cristo, colaborando assim com a transfiguração da própria Igreja.
Aplaudindo de pé! Linda reflexão! Transfiguremo-nos... 👏👏👏
ResponderExcluirParabéns pelo seu dia!Deus o abençoe! ❤
Parabéns Padre. gostei da reflexão muito boa Deus o abençoe sempre.
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