sexta-feira, 4 de agosto de 2017

CONFIGURAR-SE A CRISTO: UMA TAREFA PARA TODA A VIDA

Missa da Transfiguração do Senhor. Palavra de Deus: Daniel 7,9-10.13-14; 2Pedro 1,16-19; Mateus 17,1-9.    

            Com o tempo, a ação do sol desfigura a pintura das casas e dos edifícios. Não muito diferente, também em nós a ação do tempo nos desfigura estética, física e mentalmente. A maneira como muitas pessoas atuam na natureza tem feito com que esta seja desfigurada. No final do ano passado, o Congresso Nacional desfigurou totalmente as 10 medidas contra a corrupção. A violência desfigura a vida das nossas cidades. Mas a violência nasce de uma outra desfiguração: a desigualdade social, produzida pela má distribuição de renda e pela falta de vontade/seriedade política em nosso país. As drogas, especialmente o crack, desfiguram rapidamente a vida de inúmeras pessoas. Sabemos também que, no Brasil, o Executivo, o Legislativo e boa parte do Judiciário encontram-se desfigurados pela corrupção.
            Os exemplos de desfiguração, além de serem muitos, têm tornado a nossa realidade escura, triste, sombria. Mas, justamente nesse contexto de escuridão, de desfiguração, hoje nós olhamos para nosso Senhor Jesus transfigurado, cujo rosto brilha como o sol e cujas vestes estão brancas como a luz (cf. Mt 17,2). Assim como ele quis que três discípulos seus testemunhassem sua transfiguração, assim ele quer que nós tenhamos o seu Evangelho “como lâmpada que brilha em lugar escuro, até clarear o dia e levantar-se a estrela da manhã em vossos corações” (1Pd 1,19). Jesus nos convida a não permitir que o mundo apague a nossa luz, que as dificuldades que possamos enfrentar e as injustiças que possamos sofrer, ainda que nos desfigurem fisicamente, não desfigurem a nossa fé, a nossa alegria, a nossa esperança, os nossos sonhos.
Nós precisamos ter uma reação positiva diante da desfiguração que existe à nossa volta. Para isso, o Pai nos fala da importância de ouvirmos seu Filho: “Pedro ainda estava falando, quando uma nuvem luminosa os cobriu com sua sombra. E da nuvem uma voz dizia: 'Este é o meu Filho amado, no qual eu pus todo meu agrado. Escutai-o!'” (Mt 17,5). Se é verdade que nós diariamente nos deparamos com situações de desfiguração, situações que parecem escurecer tudo à nossa volta, precisamos buscar a presença de Deus na oração, permitir que a “nuvem luminosa” da sua presença nos envolva, certos de que “as montanhas se derretem como cera ante a face do Senhor de toda a terra” (Sl 96,5). Portanto, diante do Deus que é luz, toda sombra, toda escuridão, toda desfiguração se desfazem; tudo é transfigurado.
Vivenciando a experiência da transfiguração, Pedro disse: “Senhor, é bom ficarmos aqui” (Mt 17,4). Todos nós precisamos de momentos de transfiguração, mas não podemos nos iludir quanto a isso: assim como aconteceu com Jesus, a transfiguração não é um estado permanente em nós; há momentos em que nos sentimos transfigurados e há momentos em que estamos desfigurados. Mais importante do que desejarmos estar o tempo todo transfigurados, é nos darmos conta daquelas atitudes que colaboram para a transfiguração ou para a desfiguração. Colabora para a nossa transfiguração o diálogo, o encontro, o perdão, a reconciliação, sinceridade, a verdade, a oração, o contato com a Palavra de Deus que nos reanima. Por outro lado, colabora com a nossa desfiguração o isolamento, a separação, o distanciamento, a mentira, a falsidade, a falta de oração, o afastamento nosso em relação à Palavra de Deus.
            Uma outra forma de entender o significado da transfiguração de Jesus para a nossa vida é nos tornar conscientes de que somos chamados por Deus a nos configurar a seu Filho Jesus: “Pois aqueles que Deus contemplou com seu amor desde sempre, a esses ele predestinou a serem conformes à imagem de seu Filho” (Rm 8,29). O nosso contato diário com o Evangelho deve nos ajudar a buscar continuamente a nossa configuração com Jesus, conscientes de que essa configuração é uma tarefa que dura a vida toda, pois sempre teremos algo desfigurado em nós e que precisa ser transfigurado. Aqui podem nos ajudar as palavras do Irmão Roger Schutz: “Viva aquilo que você entendeu do Evangelho. Por menor que seja, viva-o!” Na medida em que nos esforçamos por viver aquilo que aprendemos do Evangelho, vamos nos configurando sempre mais a Jesus Cristo.    
A transfiguração é a nossa lenta transformação em Cristo. Há momentos em que nos parecemos mais com Jesus, assim como há momentos em que nos distanciamos da configuração com ele. Precisamos ter paciência, colaborar com a graça de Deus e retomar a cada dia o nosso ideal, a vocação para a qual fomos chamados. A oração e a meditação diária do Evangelho, a comunhão com a Eucaristia, a frequência ao sacramento da reconciliação e, sobretudo, o contato com os pobres, com as pessoas desfiguradas pelas injustiças sociais, vão operando em nós essa lenta transformação em Cristo, em pessoas transfiguradas e capazes de transfigurar o ambiente em que nos encontramos. Também neste sentido, hoje, 06 de agosto, somos convidados a orar intensamente pelos cristãos perseguidos no mundo, especialmente no Oriente Médio.
Neste primeiro final de semana de agosto, mês vocacional, rezamos pelos padres e pelas vocações sacerdotais. Assim como acontece com outras instituições, também a nossa Igreja tem sido desfigurada pelas atitudes de alguns padres, seja na forma como conduzem sua afetividade, seja na forma como lidam com um dinheiro que não lhes pertencem e ao qual deveriam administrar de maneira honesta e justa. O padre, mais do que qualquer outra pessoa, é chamado a configurar-se a Cristo e a ser uma presença de transfiguração no seio da Igreja e da sociedade humana. Rezemos pela conversão daqueles que estão se desfigurando no seu ministério e pela perseverança daqueles que têm lutado por configurar-se a Jesus Cristo, colaborando assim com a transfiguração da própria Igreja.

Pe. Paulo Cezar Mazzi

2 comentários:

  1. Aplaudindo de pé! Linda reflexão! Transfiguremo-nos... 👏👏👏
    Parabéns pelo seu dia!Deus o abençoe! ❤

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  2. Parabéns Padre. gostei da reflexão muito boa Deus o abençoe sempre.

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