Missa do 19º.
dom. comum. Palavra de Deus: 1Reis 19,9a.11-13; Romanos 9,1-5; Mateus 14,22-33.
A vida é como um imenso oceano, e
ninguém atravessa o oceano da vida sem ter que lidar com algum tipo de
tempestade. Embora a nossa tendência natural seja fugir de problemas, desviar
de tempestades, o Evangelho de hoje nos convida a ser realistas e a tomar
consciência de que Jesus veio ao mundo não para impedir que as tempestades nos
atinjam, mas para nos ajudar a lidar com elas, a atravessá-las e a prosseguir a
nossa travessia neste mundo.
Hoje celebramos o dia dos pais e a
abertura da Semana Nacional da Família. Quais tempestades o pai ou as famílias
enfrentam hoje? Em algumas famílias, a tempestade é a própria ausência do pai –
ele está preso, ou foi morto, ou nunca se fez presente. Em outras famílias, a
tempestade é a presença nociva do pai alcoólatra, viciado em droga, violento
etc. E não são poucas as tempestades que atravessam a alma do pai: o
desemprego, o salário cada vez mais diminuído, a constante ameaça de perda do
emprego, o medo de não conseguir educar os filhos ou mantê-los longe das
drogas, a angústia em relação ao futuro, a constante exposição à violência etc.
Jesus
se fez presente na hora mais sombria da noite – às três da manhã – quando
seus discípulos estavam atormentados de medo por causa da tempestade. Nós,
padres e cristãos em geral, nos esforçamos em nos fazer presentes junto das
pessoas que se encontram no meio de uma tempestade? Um padre, um católico, um
cristão que não tem essa preocupação em estar junto de quem enfrenta uma
tempestade torna-se uma pessoa insignificante para a sociedade, para o mundo. Não
é à toa que alguns de nós insistimos em recorrer a vestes e a liturgias
ultrapassadas para tentar combater a nossa insignificância perante o mundo de
hoje, uma insignificância provocada e alimentada por nós mesmos. O Evangelho de
hoje é muito claro: o lugar da Igreja de
Jesus Cristo, o lugar de quem quer que deseje ser reconhecido como discípulo de
Jesus Cristo, é junto das pessoas que estão enfrentando tempestades como a
doença, o luto, o desemprego, a violência, a fome, as drogas, a depressão, a
angústia, o medo, a falta de sentido etc.
O encontro do profeta Elias com Deus
no Horeb é um convite a pensar no relacionamento que os homens de hoje têm com
Deus. O pai atual ainda é um homem que procura por Deus? Assim como Elias, o
pai (ou a pessoa) que hoje quiser encontrar-se com Deus precisa atravessar o
vento impetuoso da sua raiva (ou das suas emoções), lidar com o terremoto, isto
é, com o abalo das suas certezas humanas, dialogar com o fogo da sua ira (ou
das suas paixões), até encontrar-se com o silêncio do seu próprio coração, até
sentir a brisa leve da escuta de si mesmo, onde ali habita Deus.
A ausência do pai não é algo que
marca apenas a maior parte das famílias brasileiras; ela também se faz sentir
sempre mais em nossas igrejas. Antes de culparmos tantos homens pelo seu
(aparente) desinteresse pela Igreja, é muito mais necessário e honesto da nossa
parte perguntar a nós mesmos se a nossa linguagem sobre Deus chega ao coração
das pessoas de hoje, especialmente dos homens. Se cada vez menos homens se
identificam com a nossa Igreja, não é também porque a nossa postura como Igreja
não lhes diz nada? Não é também porque nossas comunidades têm um rosto cada vez
mais feminino e pouco masculino? O que dizer, por exemplo, de certas vestes
adotadas para as equipes de liturgia, vestes de caráter feminino, que acabam
por afastar os homens da proclamação da Palavra? O que dizer de tantos padres
efeminados, que ao invés de se paramentarem de maneira sóbria para a
celebração, se travestem com pompa e circunstância, com suas rendas e seus fios
dourados, portando-se de maneira pouco ou nada masculina nas celebrações? Se os
homens de hoje fossem pessoas naturalmente desinteressadas por Deus, nós não os
veríamos cada vez mais cruzando as ruas das nossas cidades para irem a outras
igrejas.
Ainda uma palavra precisa ser dita
em relação às tempestades que enfrentamos na vida. “Deus respondeu a Jó, do
meio da tempestade” (Jó 38,1). Assim como fez com Jó, Deus também fala conosco “do
meio” das nossas tempestades. O que Ele pode estar falando com você, neste
momento? O que Deus pode estar querendo te dizer no meio da tempestade pela
qual você passa agora? Do meio da tempestade, Jesus disse aos discípulos:
“Coragem! Sou eu. Não tenhais medo!” (Mt 14,27). “Sou eu”; ‘Eu estou aqui, com
você!’ “Sou eu!” ‘Sou teu Salvador, teu Senhor, teu Redentor! Coragem! Não seja
uma pessoa fraca na fé. Fortaleça-se na fé! Enfrente o que você precisa
enfrentar! Aprenda com a adversidade. Compreenda que aquilo que te desafia é também aquilo que te transforma! Quem não
enfrenta desafios não cresce, não amadurece, mas permanece infantil, fraco e
imaturo diante da vida. Todo desafio é também uma oportunidade para você se
transformar numa pessoa melhor’.
Por fim, uma pequena advertência.
Deus disse ao povo de Israel: “Porque semeiam vento, colherão tempestade!” (Os
8,7). Existem tempestades que surgem em nossa vida por responsabilidade nossa,
por causa de atitudes erradas, injustas, equivocadas. Por isso, antes de
reclamarmos das tempestades que enfrentamos, procuremos perceber se temos
alguma responsabilidade naquilo que está nos acontecendo e se, por acaso, não
somos aquele tipo de pessoa que tem mania de fazer tempestade em copo d’água,
dramatizando tudo.
Rezemos
por nossas famílias e, em especial, pelos pais:
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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