Missa do 31º. dom. comum. Sabedoria 11,22 – 12,2;
2Tessalonicenses 1,11 – 2,2; Lucas 19,1-10.
Há uma palavra de Jesus
no livro do Apocalipse que nos ajuda a tomar consciência do apelo do Evangelho
para nós hoje: “Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e
abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele comigo” (Ap 3,20).
Jesus está à porta da consciência e do coração de cada ser humano, independente
da sua condição social, moral e espiritual. Estando do lado de fora, Ele bate à
porta; de inúmeros modos Ele lança seu apelo, faz ressoar a sua voz e convida
cada pessoa a abrir a porta. Mas Jesus respeita a nossa liberdade: Ele entra
onde o deixamos entrar; Ele só entra se o permitimos. A chave da porta da nossa
consciência e do nosso coração fica do lado de dentro: somos nós que decidimos
se vamos abrir a porta para Jesus ou não...
Zaqueu decidiu abrir a
porta para Jesus. Na verdade, ele jamais imaginaria que Jesus um dia lhe
dirigisse esse convite: “Hoje eu devo ficar na tua casa” (Lc 19,5). Zaqueu “era
chefe dos cobradores de impostos e muito rico” (Lc 19,2), um homem considerado
“sujo”, corrupto, que se enriqueceu às custas do sofrimento de um povo dominado
pelos romanos. Por isso, ao entrar na casa de Zaqueu, Jesus ouviu este
comentário: “Ele foi hospedar-se na casa de um pecador!” (Lc 19,7). Hoje nós
certamente nos escandalizaríamos se Jesus entrasse na casa de uma pessoa que se
enriqueceu roubando, mentindo, traficando, ameaçando, causando estragos na
sociedade. Mas quando Jesus decide bater à porta de uma pessoa Ele sabe onde
está batendo; Ele sabe que lá dentro daquela consciência e daquele coração habita
“um filho de Abraão” (Lc 19,9), um ser humano que se perdeu ou que está se
perdendo e que precisa ser encontrado.
“Hoje eu devo ficar na
tua casa” (Lc 19,5). ‘Hoje eu quero entrar na intimidade da sua consciência e
do seu coração. Hoje eu quero visitar não só a sala da sua casa interior, onde você mostra para os outros apenas aquilo que quer que eles
vejam; eu gostaria de ter acesso também ao seu quintal e ao seu quartinho de
despejo, onde você guarda tudo aquilo que não quer que os outros vejam, aquilo
com o qual você não consegue lidar, solucionar, e joga lá dentro, fazendo de
conta que essas coisas não existem ou não fazem parte de você. Hoje eu gostaria
de falar com você também a respeito da sua sexualidade, da sua vida profissional,
da maneira como você lida com o dinheiro... Eu posso entrar?’
Diante
do convite de Jesus, Zaqueu “desceu depressa e recebeu Jesus com alegria” (Lc
19,6). Quando estamos na missa, existem dois momentos fortes em que recebemos
Jesus: no momento da proclamação da Palavra – sobretudo do Evangelho – e no
momento da Eucaristia. Como nós vivenciamos esses momentos? Nós estamos
presentes ou ausentes? Como nós recebemos Jesus: conscientes de que estamos
recebendo Aquele que “veio procurar e salvar o que estava perdido” (Lc 19,10)? Nós
recebemos Jesus com a mesma alegria com que Zaqueu o recebeu?
Qual
era o motivo da alegria de Zaqueu? Zaqueu se deu conta de que, antes de ele
procurar ver quem era Jesus, o próprio Jesus estava procurando por ele, assim
como procura por todo aquele que se perdeu ou que está se perdendo. Zaqueu se
deu conta de que ele, desprezado e odiado por muitas pessoas, era alguém a quem
Deus amava e com quem se importava. Ao receber Jesus em sua casa, Zaqueu se
sentiu amado por Deus, tocado por aquele amor que só pode vir de Deus, aquele “incansável amor que procura a quem transformar e
transforma a quem encontrar” (Walmir Alencar, Lugares).
Eu não sei se você atualmente
está procurando por Deus, mas tenha a certeza de que Ele procura por você,
assim como Ele procura por cada ser humano. Não sei se a porta da sua vida está
aberta ou fechada para Ele, mas saiba que Ele está à sua porta e bate: você é
quem decide se vai abrir ou não a porta, e permitir que Deus tenha acesso ao
interior da sua consciência e do seu coração. Não sei se você às vezes se sente
uma pessoa perdida – não só desorientada, mas sem esperança, sem salvação –,
mas saiba que Deus enviou Jesus para procurar e salvar o que estava perdido.
Sentindo-se encontrado pelo amor de Deus na
pessoa de Jesus, Zaqueu tomou uma decisão extremamente difícil, uma decisão que
mudou para sempre a sua vida: “Senhor, dou a metade dos meus bens aos pobres, e
se defraudei alguém, vou devolver quatro vezes mais” (Lc 19,8). Na presença de
Jesus, Zaqueu se deu conta da inversão de valores em que vivia, e decidiu fazer
duas mudanças: tornar-se solidário com os pobres, dos quais provavelmente se
mantinha distante, e rever sua conduta profissional: caso houvesse prejudicado
intencionalmente alguém, procuraria esta pessoa para reparar seu erro.
Quando
você tem um encontro verdadeiro e profundo com Jesus, seja na Palavra, seja na
Eucaristia, seja por meio de um acontecimento, você se dá conta de que há algo
que precisa mudar na sua vida; seus valores precisam ser reorientados; sua
maneira de entender a pobreza, a injustiça e a violência na sociedade ganha uma
nova compreensão e você se torna consciente de que há algo que pode
concretamente fazer para que o mundo à sua volta comece a mudar. Assim como
Zaqueu, você se dá conta de que o sentido da sua vida não consiste em ganhar
dinheiro seja do jeito que for, e sobreviver num mundo onde muitos não estão
conseguindo sobreviver. O sentido da sua vida está em fazer a sua parte para
que aqueles que estão perdidos sejam encontrados, tanto no sentido social
quanto no espiritual.
“Hoje a salvação entrou nesta
casa”. Pensemos nas casas onde moram pessoas desempregadas ou doentes, pessoas deprimidas
ou viciadas em droga, dependentes de bebida, crianças abusadas sexualmente,
pais sem filhos, filhos sem pais, pessoas solitárias, casas onde talvez não falte
dinheiro, mas falta diálogo, amor, perdão, casas habitadas por Zaqueus, por pessoas
perdidas dentro de si mesmas... Certamente Jesus está nos dizendo hoje: “Desce
depressa... Hoje eu devo ficar também nessas casas... Seja minha presença para
essas famílias... É por meio de você que eu hoje continuo a procurar e salvar o
que está perdido!”
Para
a sua oração pessoal:
(Lugares, Pe. Fábio de Melo, música de Walmir Alencar)Pe. Paulo Cezar Mazzi