Missa do 29º. dom. comum. Palavra de Deus: Êxodo
17,8-13; 2Timóteo 3,14 – 4,2; Lucas 18,1-8.
Você
já sabe disso: quanto mais a corda do arco fica frouxa, menos força ela tem
para lançar a flecha para frente. Da mesma forma, quanto mais somos frouxos,
melindrosos, manhosos, menos condições temos de atingir algum objetivo que valha
a pena na vida. O que esperar, então, desta geração que está vindo, de crianças
que, independente da classe social, crescem como árvores que não aceitam ser
podadas, não sabem ouvir um “não”, não aceitam ser frustradas; precisam fazer
somente o que querem: comer o que querem, vestir o que querem, assistir ao que
querem, tratar os outros como querem, e assim por diante?
Esta é a geração
“quebra-fácil”: pessoas que, bastou soprar um vento contrário, quebram –
desanimam, desistem, recorrem à bebida, às drogas, ao suicídio ou à agressão
contra quem está à sua volta; é a geração “não-me-frustre” – pessoas que, bastou
a vida não dar o que elas querem, do jeito que elas querem e na hora em que
elas querem, ficam deprimidas, mal humoradas, revoltadas, e inclusive perdem a
fé, deixam de rezar e de buscar a Deus.
O recado da Palavra de
Deus para nós é muito simples: a vida é luta; a oração é luta; a fé é luta.
Viver significa lutar; lutar, antes de mais nada, contra a própria preguiça,
contra a indolência, contra a eterna mania que muitos de nós temos de fazer
“corpo mole” e de achar que basta fazer um pouco de “manha” para que as coisas
se tornem mais fáceis, menos duras... Engano nosso! Quem decide fazer “corpo
mole” está optando por assumir um papel de fracassado perante si mesmo e
perante a vida. Suas manhas não merecem ser levadas a sério; ele colhe
exatamente aquilo que planta.
O
povo de Israel, ao longo da sua história, teve que enfrentar inúmeras lutas. O
texto do Êxodo nos coloca diante de uma: contra Amalec. Porém, aqui entra um
detalhe: esta luta não se vence só com a força humana; a vitória depende também
da oração. Por que especificamente da oração?! Porque “o nosso combate não é
contra uma pessoa humana, mas contra o mal, que combate contra nós de várias
formas, inclusive por meio de outras pessoas” (citação livre de Ef 6,12). Desse
modo, “enquanto Moisés conservava a mão levantada – entenda-se, em oração –,
Israel vencia; quando abaixava, vencia Amalec” (Ex 17,11).
Qual
está sendo o seu combate neste momento? Como você entende a importância da
oração na sua vida? Jesus acabou de nos dizer que é necessário “rezar sempre e
nunca desistir” (Lc 18,1). Você tem convicção disso? Como a luta entre Israel e
Amalec foi longa, “as mãos de Moisés tornaram-se pesadas” (Ex 17,12). Isso
significa que a oração não transforma, como num passe de mágica, a situação que
estamos enfrentando. Ela nos dá, sim, forças para lidarmos com aquela situação.
Então, como estão suas mãos e seus joelhos? Eles também tornaram-se “pesados”,
no sentido de que você se cansou de rezar? Em relação à sua vida de oração,
você também costuma fazer “corpo mole”? Lembre-se de que, para a geração de
hoje, tudo pesa! São pessoas que se cansam facilmente, que desistem facilmente.
Ter uma vida de oração séria, então?! Esquece!
Aarão
e Ur compreenderam a importância da oração de Moisés para que Israel pudesse
vencer a luta, e encontraram uma forma de sustentar as mãos de Moisés. “Assim,
suas mãos não se fatigaram até o pôr do sol, e Josué derrotou Amalec” (Ex
17,12-13). O que sustenta ou pode ajudar a sustentar a sua oração? Além disso,
pelo quê você reza? “A oração cristã,
antes de ser palavra que implora, é silêncio profundo para ouvir e acolher em
si a palavra de Deus” (Missal Dominical, p.1269). Daí o convite do apóstolo
Paulo: aprenda a permanecer na Palavra de Deus – ela tem o poder de te salvar.
Deixe-se ensinar, corrigir e educar na justiça por esta Palavra. Além disso,
insista no anúncio desta Palavra, com suas atitudes e com sua boca, não importa
se as pessoas estão a fim ou não estão a fim de escutar: proclame, argumente,
repreenda, aconselhe as pessoas a partir da Palavra, de maneira paciente e
sábia (cf. 2Tm 3,14 – 4,2).
Voltemos
ao assunto da “luta”. Para nos falar da necessidade de “rezar sempre e nunca
desistir” (Lc 18,1), Jesus mencionou a luta de uma pobre viúva para conseguir
que um juiz lhe fizesse justiça. E ela foi atendida não porque o juiz era
bondoso, ou justo, mas por causa do seu grito insistente: “Faze-me justiça
contra o meu adversário!” (Lc 18,3). “Quem não chora não mama”. Quem não grita
perante uma injustiça não verá a situação injusta mudar. Nada muda por si
mesmo. As coisas mudam quando decidimos
gritar – com a boca e com as atitudes – e esse grito nada mais é do que uma
reação positiva, um protesto, uma decisão de enfrentar o problema ao invés de
ser engolido por ele ou de fazer de conta que ele não existe.
Com
quem você precisa gritar? Talvez consigo mesmo, com as suas manhas, com a sua
mania de se colocar como vítima diante da vida. Talvez com determinadas
pessoas, que se acostumaram a fazer-lhe injustiça porque você permitiu. Talvez com Deus ou para Deus... Quando foi a última vez que você gritou para Deus? Jesus
nos ensina que a oração muitas vezes é uma verdadeira luta, uma luta entre
continuar a crer ou deixar de crer, uma luta entre impor para Deus a sua
vontade ou dobrar-se à vontade d’Ele para a sua vida. Nesta luta, que é a
oração, você precisa tomar cuidado com o que vai pedir a Deus: não se deve pedir a Ele algo que cabe a você
mesmo fazer. Além disso, tome cuidado para não pedir algo para Deus e
depois agir no sentido contrário ao que você pediu. As suas atitudes precisam
estar em sintonia com o seu grito – não se esqueça disso.
Eis
uma pergunta incômoda, colocada por Jesus no final do Evangelho: “(...) o Filho
do homem, quando vier, será que ainda vai encontrar fé sobre a terra?” (Lc
18,8). Quando Jesus voltar, encontrará alguém sobre a terra cujo arco esteja
tensionado o suficiente para lançar sua flecha para frente? Ele encontrará
alguém sobre a terra que não tenha desistido de não somente de gritar, mas
também de agir em favor da justiça? Jesus encontrará alguém que não tenha
deixado de lutar com Deus na oração, como Jacó quando, agarrado a Deus, disse: “Eu
não te deixarei se não me abençoares” (Gn 32,27)? A oração movida pela fé é
isso: eu me agarro a Deus e d’Ele não solto, a Ele não dou descanso, até que me
faça justiça, até que me dê a bênção que Ele, como Pai, sabe ser necessária
para a minha vida.
Sempre perfeito. Quanta sabedoria! ! Que Deus te abençoe sempre!
ResponderExcluirQue linda reflexão a partir da Bíblia! Feliz em conhecer o seu trabalho, que me foi recomendado pelo Dr. Bechelli. Parabéns! Que Deus o continue abençoando!
ResponderExcluirMuito obrigado, Naiane! Deus a abençoe!
ExcluirAmém, Roseli! Grande abraço!
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