Missa do 22º. dom. comum. Palavra de Deus: Eclesiástico 3,19-21.30-31;
Hebreus 12,18-19.22-24a; Lucas 14,1.7-14.
O
nosso país acabou de encerrar as Olimpíadas. Em nossa memória talvez tenham
ficado nomes e imagens de atletas que ganharam medalhas de ouro, de prata ou de
bronze. Mas quem se lembraria dos outros atletas, daqueles que ficaram em
quarto ou em quinto lugar? Quem se lembraria daqueles que ficaram em último
lugar? Além disso, é importante perguntar-se: Como eu lido com a derrota, numa
competição? Mais ainda: O quanto eu vivo a minha vida num permanente estado interior de competição, cobrando de mim mesmo a
medalha de ouro em tudo o que eu faço, não admitindo o segundo ou o terceiro
lugar e não permitindo jamais a hipótese de ocupar o último lugar?
Não
há dúvida de que é muito importante nós procurarmos dar o melhor de nós naquilo
que fazemos. Mas como é perigosa essa engrenagem chamada ‘competição’, que move
a nossa sociedade. Ela nos convence de que ou nós ocupamos o primeiro lugar, ou
nós simplesmente não existimos aos olhos do mundo. E aí nós passamos a medir o
nosso valor pela quantidade de curtidas nas redes sociais em relação a algo que
publicamos, por exemplo. Já não nos basta estar vivos e com saúde. Nós
precisamos impressionar, impactar. Não admitimos passar despercebidos num
ambiente. Ficamos tristes, angustiados e deprimidos quando não nos aplaudem ou quando
não nos elogiam, quando, então, temos que admitir que não somos o centro do
mundo, mas apenas uma pessoa entre tantas outras.
“Jesus notou como os convidados escolhiam os
primeiros lugares” (Lc 14,7). A busca pelos primeiros lugares faz sérios estragos
na alma das pessoas, além de sérios estragos na família, no ambiente de
trabalho, na sociedade e também nas igrejas. Ela nos torna egoístas, interesseiros
e corruptos. Ela endivida pessoas desnecessariamente, tirando-lhes a paz. Ela
nos distancia de Deus, pois “é aos humildes que ele revela os seus mistérios”
(Eclo 3,20). Ela é o combustível do carreirismo na nossa Igreja. Ela adoece
gravemente a nossa alma, como afirma a Escritura: “para o mal do orgulhoso não
existe remédio” (Eclo 3,30).
Jesus
nos conhece por dentro e sabe que todos nós estamos intoxicados pelo veneno do
orgulho, da arrogância, da soberba. Ele nos propõe um caminho de desintoxicação
desse veneno: “Quando você for convidado, vá sentar-se no último lugar” (Lc
14,10). Liberte-se da cobrança da sociedade sobre você e da fome insaciável do
seu ego em querer o tempo todo ser reconhecido e aplaudido. O seu valor está
naquilo que você é como pessoa, e não naquilo que você possui e procura
ostentar para os outros. A sua cura está no diálogo e na reconciliação com a
sua sombra, com aquilo que em você é fraco e imperfeito, mas que faz parte da
sua personalidade e pede para ser integrado em você. Não se torture querendo
ocupar o primeiro lugar o tempo todo. Escolha livremente o último lugar. Ali
você encontrará a paz que o seu coração procura. Quanto mais você se aproximar
da humildade, mais estará próximo da sua verdade, e somente ela pode te
realizar como pessoa. Desça do salto alto do orgulho, da soberba, da
arrogância. Permita-se ficar descalço. Sinta a terra (húmus) sob os seus pés. Entre
em contato com a sua verdadeira origem. Encontre a sua verdadeira medida.
Enxergue o seu verdadeiro tamanho, pois, como alguém disse, “ser humilde é ser
do tamanho que se é”.
Neste
último final de semana de agosto, mês vocacional, celebramos o dia do
catequista. Eis uma reflexão oportuna:
Às
quartas-feiras, milagre
Jacinto perguntou a
Gabriela: “Que fez de bom, hoje?” “Fiz um milagre”, respondeu ela. “Foi na
catequese”. “E como foi que fez o milagre?”, perguntou o menino. “Temos uma
catequista que está muito doente. Não pode fazer nada sozinha, somente falar e
sorrir. Ela falava dos milagres de Jesus. E nós, catequizandos, lhe dissemos:
‘Não é verdade que existam milagres. Porque se existissem, Deus já teria te
curado’. Mas ela respondeu: ‘Meu milagre são vocês! Porque me levam a passear,
nas quartas-feiras, empurrando minha cadeira de rodas’. Compreendeu?”,
perguntou Gabriela a Jacinto. “Fazemos milagres todas as quartas à tarde”. “Não
parece que a vida é também um milagre?”, perguntou o menino. E Gabriela
respondeu: “Não. A vida é para fazer milagres!”.
Gabriela tem razão, a
vida é para fazer milagre, às quartas, às quintas e aos domingos. A vida não é
para sentar-se esperando que Deus faça milagres espetaculares, não é para
limitar-se a confiar que Ele resolva nossos problemas, mas para começar a fazer
este pequeno milagre que Ele colocou já em nossas mãos, o milagre de amar-nos e
ajudar-nos. Que é mais milagroso, devolver a vista a um cego ou a felicidade a
um amargurado? Multiplicar os pães ou saber reparti-los bem? Mudar água em
vinho ou o egoísmo em fraternidade? Se nos dedicássemos a construir pequenos
milagres na metade do tempo que gastamos em sonhá-los espetacularmente, o mundo
já estaria caminhando melhor.
E o milagre de amar
podem fazê-lo todos, crianças e grandes, pobres e ricos, sãos e enfermos.
Prestem bem atenção: a um homem podem privá-lo de tudo, menos de uma coisa: de
sua capacidade de amar. Um homem pode sofrer um acidente e não poder nunca mais
andar. Porém, não existem acidentes que nos impeçam de amar... Não existem
correntes que aprisionem o coração, a não ser as do próprio egoísmo...
Texto resumido de José Luís Descalzo
Nossa
gratidão, admiração, respeito e oração por todos os catequistas!