sexta-feira, 3 de junho de 2016

ALMAS RETIRADAS DO ABISMO

Missa do 10º. dom. comum. Palavra de Deus: 1Rs 17,17-24; Gálatas 1,11-19; Lucas 7,11-17.

“Vós tirastes minha alma dos abismos e me salvastes quando estava já morrendo” (Sl 30,4). No mundo em que vivemos há diversos abismos engolindo muitas almas. O abismo da migração forçada engole no mar inúmeras almas que tentam escapar da fome e da guerra, sobretudo na África ou em alguns países do Oriente Médio. O abismo do tráfico e do consumo de drogas engole inúmeras almas adolescentes e jovens à nossa volta. O abismo de doenças graves como o câncer, engole almas de todas as idades e de todas as classes sociais. Existem também os abismos emocionais, que engolem inúmeras almas por meio da depressão, da ansiedade, do pânico, da fobia, da falta de sentido para a vida, do suicídio etc.  
Hoje queremos nos colocar na presença do nosso Deus, o único que pode retirar a nossa alma do abismo em que ela porventura se encontra, e nos salvar da morte precoce, prematura, como aconteceu com esses dois jovens: o primeiro deles, ressuscitado por Deus mediante a oração do profeta Elias; o segundo, ressuscitado por Jesus. Talvez muitos de nós já fizemos essa experiência de sermos ressuscitados por Deus. Nossa alma estava no abismo do desânimo, da aflição, do sofrimento ou mesmo da morte, mas a mão de Deus nos alcançou e nos retirou do fundo desse abismo. Então, voltamos a viver, a nos sentir vivos; recobramos o ânimo, a força, a esperança.
As duas ressurreições que nos foram narradas aconteceram num contexto de profunda miséria: duas viúvas pobres perderam seu filho único. Além de não terem o marido para ajudar no sustento da casa, perderam também o filho, única possibilidade de sustento e de futuro para elas. Como se diz, ‘miséria pouca é bobagem’. Deus às vezes parece não só insensível, mas também cruel e impiedoso, quando permite que certas coisas ruins aconteçam a quem já está sofrendo. É uma pancada em cima de outra, é uma dor que se soma a outra, é uma injustiça que se junta a outra. E nós perguntamos: Onde está Deus?
Nesses momentos em que a nossa fé chega ao seu limite de suportar o sofrimento ou a injustiça, precisamos ter uma conversa sincera com Deus, como teve o profeta Elias: “Senhor meu Deus, até a viúva, em cuja casa habito como hóspede, queres afligir, matando-lhe seu filho?” (1Rs 17,20). É claro que não é Deus quem “mata” alguém, mas ele pode permitir que a morte atinja tal pessoa. Elias expressa diante de Deus o seu cansaço ao lidar com o sofrimento e também a sua raiva por não compreender os desígnios de Deus. Mas a sua oração sincera nos revela algo muito importante: ele se dirige a Deus chamando-o de “meu Deus”.
Quando me dirijo a Deus chamado-o de “meu” Deus, estou dizendo que, mesmo com raiva da Sua aparente indiferença para com o sofrimento humano, Ele é o “meu” Deus, o Deus em quem eu creio e o único a quem eu posso recorrer para clamar misericórdia e compaixão, seja para comigo, seja para com as outras pessoas. Elias sabia que somente Deus poderia devolver a vida ao filho da viúva de Sarepta. Por isso clamou: “Senhor, meu Deus, faze, te rogo, que a alma deste menino volte às suas entranhas”. E foi atendido na sua oração.
Se nós não podemos “produzir” ressurreição, podemos suplicar a Deus por tantas pessoas expostas precoce ou injustamente à morte. Se nós não podemos ressuscitar fisicamente pessoas, podemos descer aos abismos onde elas se encontram e ajudá-las a sair dali. Jesus nos convida a ir ao encontro da dor, daquela dor mais terrível, que é a experiência da perda. “Jesus espera que renunciemos a procurar aqueles abrigos pessoais ou comunitários que permitem manter-nos à distância do nó do drama humano, a fim de aceitarmos verdadeiramente entrar em contato com a vida concreta dos outros e conhecermos a força da ternura. Quando o fazemos, a vida complica-se sempre maravilhosamente” (Francisco, A alegria do amor, n.308).
            Não tenhamos medo de entrar em contato com quem sofre. Façamos como Jesus. Ele ressuscitou o filho da viúva de Naim por iniciativa própria. Ninguém veio lhe pedir nada. Nós não precisamos esperar as pessoas virem até nós e nos pedirem ajuda. Tomemos a iniciativa de ir ao encontro daquele que está sofrendo. Entremos em contato com as lágrimas de quem chora neste momento. Peçamos a Deus que nos visite hoje, trazendo-nos a vida do seu Espírito...
            “Hoje em minha vida, onde eu estiver, Ele continua a passar. Incansavelmente insiste em me visitar. Em meu coração quer ficar. O mesmo Deus e Senhor hoje passa aqui. A nossa história também quer tocar com a mesma força e poder, incansável amor que procura a quem transformar, que transforma a quem encontrar...” (Ministério Adoração e Vida, Lugares).
                                                             
Pe. Paulo Cezar Mazzi


4 comentários:

  1. Muito intenso...já passei por um abismo...mais graças ao meu Deus sai....

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  3. Nossa essa palavras me tocaram,eu sou testemunha que nas mãos Deus tudo posso,eu fui ressuscitada pelo seu amor.

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