Missa
do 11º. dom. comum. Palavra de Deus: 2Samuel 12,7-10.13; Gálatas 2,16.19-21;
Lucas 7,36-50.
Nós sabemos como entrar num buraco chamado
“pecado”, mas não sabemos como sair dele. Aliás, com muita facilidade nós
encontramos força e disposição em nós mesmos para cavar esse buraco e nos jogar
dentro dele, mas depois, não sabemos de onde tirar forças e encontrar
disposição para sair dali.
Quando uma situação de pecado começa a
se instalar em nossa vida, nós achamos que tudo está sob controle. Nós vemos
que aos poucos vamos afundando no erro, sabemos das consequências, mas
apostamos ou na impunidade ou na falsa certeza de que, quando quisermos,
poderemos pular fora do barco. No entanto, acontece conosco o que aconteceu com
o rei Davi: a situação de pecado sai totalmente do nosso controle, e aquilo que
era “só” um momento de prazer se transforma numa situação tão ameaçadora para
nós, que a única saída que encontramos é cometer um erro absurdo para tentar
esconder um erro menor: pra se livrar da acusação de adultério, Davi mandou
matar o esposo da mulher com quem se deitou e que agora estava grávida de um
filho seu.
Todos nós pecamos. Todos nós usamos mal a nossa liberdade na forma de
lidar com o dinheiro e com os bens materiais, com a nossa afetividade e
sexualidade; todos nós pecamos em relação ao próximo, seja tratando-o com
indiferença, seja procurando tirar proveito dele. Todos nós conhecemos não só
aquela voz em nossa consciência que nos acusa do erro que cometemos como também
aquele sentimento de culpa que tira a paz do nosso coração. Mas a Escritura
diz: “Todo homem há de voltar para o Senhor por causa dos pecados” (Sl 65,3-4).
Sempre que pecamos, machucamos a nós mesmos ou aos outros. E é a dor dessa ferida
que nos faz voltar ao Senhor, que perdoa todas as nossas culpas e cura toda a
nossa enfermidade (Sl 103,3).
O Evangelho de hoje traz uma
pergunta: O que vem antes: o amor ou o perdão? Depende de quem estamos falando.
Deus perdoa porque ama. Antes de Deus ser perdão, Ele é amor, e porque nos ama,
nos perdoa. Em Deus, o perdão é consequência do seu amor por nós. Mas, e em
nós, o que vem primeiro: o amor ou o perdão?
Jesus disse, a respeito dessa mulher
pecadora que chora aos seus pés e derrama sobre eles o seu perfume, cobrindo-os
de beijos: “os muitos pecados que ela cometeu estão perdoados porque ela
demonstrou muito amor” (Lc 7,47). O grande amor que esta mulher demonstra para
com Jesus é consequência do perdão que ela recebeu dele antes. Mas, antes
quando? Segundo os comentadores bíblicos, muito provavelmente esta mulher teve
um encontro anterior com Jesus, no qual ela foi perdoada. Seu gesto agora é de
gratidão para com ele. E Jesus, diante do amor e da gratidão dessa mulher para
com ele, confirma publicamente o perdão que havia concedido antes: “Teus
pecados estão perdoados” (Lc 7,48).
Portanto, o primeiro dom que nós
recebemos de Deus é o perdão, como fruto do seu amor para conosco. Na medida em
que nos reconhecemos perdoados por ele, nós O amamos. Dizendo de outra maneira,
o perdão de Deus para conosco é incondicional e gratuito, assim como o Seu
amor. O perdão de Deus para conosco não está condicionado pelo nosso esforço em
amar: ‘Primeiro, você me ama; depois, eu te perdôo’; ou então, ‘Se você me
amar, então eu te perdoarei’. Pelo contrário, o Evangelho que ouvimos nos convida
a reconhecer o perdão que o Pai nos concedeu na cruz de seu Filho Jesus.
Como você vive sua vida? Como alguém
que se sente constantemente em dívida para com Deus? Como alguém que carrega
culpa e condenação em seu coração? O apóstolo Paulo disse: ‘Eu vivo minha vida a
partir da minha fé em Jesus Cristo, que na cruz me amou e se entregou por mim’ (citação
livre de Gl 2,20). O próprio Jesus disse à mulher, no Evangelho que ouvimos: “Tua
fé te salvou. Vai em paz” (Lc 7,50). O que te salva do pecado, da culpa e da
condenação é a tua fé no perdão de Deus, a fé no amor do Pai que tudo perdoa.
Aquilo que pode romper o círculo vicioso do pecado em sua vida é crer no amor
de Deus por você, crer na graça que Ele te concede de romper com o pecado, convencendo-se
de que não vale a pena pagar o preço que você tem pago para se alimentar das migalhas
de falsas compensações que o pecado te dá.
“Ela
muito amou. Tem a minha paz. Vai seguir caminho sem temor. Sabe quem eu sou e
será capaz de espalhar na terra o meu amor” (Frei Fabreti, Ela muito amou). Que a consciência de
ser perdoado por Deus faça você voltar a demonstrar amor: amor pela vida, por
Deus, pelos outros, por si. Que você caminhe com seu coração firmado na paz de
Jesus, não mais carregando medo, culpa ou condenação. Que você se lembre de
quem Jesus é: o rosto visível da misericórdia do Pai, o Amor que tudo perdoa. Que
você possa levar consigo esse perfume do amor que tudo perdoa, para espalhá-lo
onde quer que se encontre.
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