sexta-feira, 10 de junho de 2016

O QUE VEM PRIMEIRO: O AMOR OU O PERDÃO?

Missa do 11º. dom. comum. Palavra de Deus: 2Samuel 12,7-10.13; Gálatas 2,16.19-21; Lucas 7,36-50.

            Nós sabemos como entrar num buraco chamado “pecado”, mas não sabemos como sair dele. Aliás, com muita facilidade nós encontramos força e disposição em nós mesmos para cavar esse buraco e nos jogar dentro dele, mas depois, não sabemos de onde tirar forças e encontrar disposição para sair dali.
Quando uma situação de pecado começa a se instalar em nossa vida, nós achamos que tudo está sob controle. Nós vemos que aos poucos vamos afundando no erro, sabemos das consequências, mas apostamos ou na impunidade ou na falsa certeza de que, quando quisermos, poderemos pular fora do barco. No entanto, acontece conosco o que aconteceu com o rei Davi: a situação de pecado sai totalmente do nosso controle, e aquilo que era “só” um momento de prazer se transforma numa situação tão ameaçadora para nós, que a única saída que encontramos é cometer um erro absurdo para tentar esconder um erro menor: pra se livrar da acusação de adultério, Davi mandou matar o esposo da mulher com quem se deitou e que agora estava grávida de um filho seu.   
               Todos nós pecamos. Todos nós usamos mal a nossa liberdade na forma de lidar com o dinheiro e com os bens materiais, com a nossa afetividade e sexualidade; todos nós pecamos em relação ao próximo, seja tratando-o com indiferença, seja procurando tirar proveito dele. Todos nós conhecemos não só aquela voz em nossa consciência que nos acusa do erro que cometemos como também aquele sentimento de culpa que tira a paz do nosso coração. Mas a Escritura diz: “Todo homem há de voltar para o Senhor por causa dos pecados” (Sl 65,3-4). Sempre que pecamos, machucamos a nós mesmos ou aos outros. E é a dor dessa ferida que nos faz voltar ao Senhor, que perdoa todas as nossas culpas e cura toda a nossa enfermidade (Sl 103,3).
            O Evangelho de hoje traz uma pergunta: O que vem antes: o amor ou o perdão? Depende de quem estamos falando. Deus perdoa porque ama. Antes de Deus ser perdão, Ele é amor, e porque nos ama, nos perdoa. Em Deus, o perdão é consequência do seu amor por nós. Mas, e em nós, o que vem primeiro: o amor ou o perdão?
            Jesus disse, a respeito dessa mulher pecadora que chora aos seus pés e derrama sobre eles o seu perfume, cobrindo-os de beijos: “os muitos pecados que ela cometeu estão perdoados porque ela demonstrou muito amor” (Lc 7,47). O grande amor que esta mulher demonstra para com Jesus é consequência do perdão que ela recebeu dele antes. Mas, antes quando? Segundo os comentadores bíblicos, muito provavelmente esta mulher teve um encontro anterior com Jesus, no qual ela foi perdoada. Seu gesto agora é de gratidão para com ele. E Jesus, diante do amor e da gratidão dessa mulher para com ele, confirma publicamente o perdão que havia concedido antes: “Teus pecados estão perdoados” (Lc 7,48).
            Portanto, o primeiro dom que nós recebemos de Deus é o perdão, como fruto do seu amor para conosco. Na medida em que nos reconhecemos perdoados por ele, nós O amamos. Dizendo de outra maneira, o perdão de Deus para conosco é incondicional e gratuito, assim como o Seu amor. O perdão de Deus para conosco não está condicionado pelo nosso esforço em amar: ‘Primeiro, você me ama; depois, eu te perdôo’; ou então, ‘Se você me amar, então eu te perdoarei’. Pelo contrário, o Evangelho que ouvimos nos convida a reconhecer o perdão que o Pai nos concedeu na cruz de seu Filho Jesus.
            Como você vive sua vida? Como alguém que se sente constantemente em dívida para com Deus? Como alguém que carrega culpa e condenação em seu coração? O apóstolo Paulo disse: ‘Eu vivo minha vida a partir da minha fé em Jesus Cristo, que na cruz me amou e se entregou por mim’ (citação livre de Gl 2,20). O próprio Jesus disse à mulher, no Evangelho que ouvimos: “Tua fé te salvou. Vai em paz” (Lc 7,50). O que te salva do pecado, da culpa e da condenação é a tua fé no perdão de Deus, a fé no amor do Pai que tudo perdoa. Aquilo que pode romper o círculo vicioso do pecado em sua vida é crer no amor de Deus por você, crer na graça que Ele te concede de romper com o pecado, convencendo-se de que não vale a pena pagar o preço que você tem pago para se alimentar das migalhas de falsas compensações que o pecado te dá.
            “Ela muito amou. Tem a minha paz. Vai seguir caminho sem temor. Sabe quem eu sou e será capaz de espalhar na terra o meu amor” (Frei Fabreti, Ela muito amou). Que a consciência de ser perdoado por Deus faça você voltar a demonstrar amor: amor pela vida, por Deus, pelos outros, por si. Que você caminhe com seu coração firmado na paz de Jesus, não mais carregando medo, culpa ou condenação. Que você se lembre de quem Jesus é: o rosto visível da misericórdia do Pai, o Amor que tudo perdoa. Que você possa levar consigo esse perfume do amor que tudo perdoa, para espalhá-lo onde quer que se encontre.       
    
            Pe. Paulo Cezar Mazzi

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