sexta-feira, 24 de junho de 2016

SEM UMA DECISÃO FIRME, NENHUM OBJETIVO É ALCANÇADO

Missa do 13º. dom. comum. Palavra de Deus: 1Reis 19,16b.19-21; Gálatas 5,1.13-18; Lucas 9,51-62.

“Então ele (Jesus) tomou a firme decisão de partir para Jerusalém” (Lc 9,51). O Evangelho de hoje nos coloca diante do início da viagem de Jesus para Jerusalém, uma viagem tão importante que o evangelista Lucas vai gastar dez capítulos do seu Evangelho – 9,51 a 19,28 – para nos falar sobre tantos fatos que aconteceram nela, fatos que têm muito a dizer para a nossa vida, para a vida de todo discípulo de Jesus. Mas, o que nos interessa por ora se encontra na atitude de Jesus, de tomar a firme decisão de partir para Jerusalém.   
Você tem sido capaz de tomar decisões? Você costuma ser firme nas decisões que toma? Que decisões a vida está pedindo para você tomar neste momento? Todos os dias nós temos que decidir; isso pode se dar em relação aos nossos sentimentos, ou à nossa vida profissional, ou às pessoas com quem convivemos, ou à nossa própria fé. Além disso, toda decisão nos põe a caminho de algo. Quando nós nos recusamos a tomar uma decisão, ficamos paralisados na nossa indecisão. Procure, então, perceber se sua vida está parada, estagnada, ou caminhando... Procure perceber se o caminho que está seguindo foi escolhido por você ou se as circunstâncias te colocaram neste caminho, por você não ter tomado uma decisão que era necessária tomar...
 Precisamos ter isso claro: toda decisão nos põe a caminho de algo. Jesus decidiu tomar o caminho de nos salvar, mas este caminho o levaria para Jerusalém o lugar onde ele sofreria, seria rejeitado, morreria e ao terceiro dia ressuscitaria (como nos lembrou o Evangelho de domingo passado). Por isso, ele precisou ser firme nessa sua decisão. Algumas pessoas decidem se casar, outras não; outras decidem se consagrar a Deus. Algumas pessoas decidem ter filhos, outras não. Alguns decidem seguir uma igreja, ter uma religião; outros não. Seja qual for a decisão que você tomou, é preciso perguntar-se: “Eu estou sendo firme na decisão que tomei?”.
Iniciando o seu caminho para Jerusalém, Jesus encontrou um obstáculo: um povoado de samaritanos não o deixou passar por ali com seus discípulos. Imediatamente, Tiago e João perguntaram a Jesus: “Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para destruí-los?” (Lc 9,54). Por mais firme que você esteja na decisão que tomou, ela não elimina por si só os obstáculos do seu caminho. Antes, esses obstáculos estão ali justamente para verificar o quanto você leva a sério as escolhas que faz e as decisões que toma na vida. E então?  Como você lida com esses obstáculos? Como você lida com a sua raiva, que desejaria destruir aquelas pessoas que resolveram atrapalhar a sua felicidade? Por mais que você invocasse o céu para mandar fogo sobre esses obstáculos, isso nunca aconteceria, porque o caminho não é esse; a solução não é essa. Os obstáculos nos ajudam a encontrar outros meios de continuarmos o nosso caminho. Eles podem ser contornados; portanto, não precisam ser vistos como motivo para desistirmos do caminho que decidimos percorrer.   
No início do seu caminho, Jesus nos ensina três coisas importantes. A primeira delas: “As raposas têm tocas e os pássaros têm ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça” (Lc 9,58). Isto significa: aprenda a enxergar a vida além do seu próprio bem estar. Quem quer crescer, amadurecer, melhorar seu relacionamento, quem quer curar suas feridas, se santificar ou ser mais plenamente de Deus, precisa sair da sua “zona de conforto”, precisa desinstalar-se e estar disposto a lidar com o desconforto.
O segundo ensinamento de Jesus é à primeira vista estranho: “Deixa que os mortos enterrem seus mortos; mas tu vai anunciar o Reino de Deus” (Lc 9,60). Jesus convida você a não desperdiçar energia com o que já está morto, mas a canalizar as suas melhores energias para aquilo que está vivo, ou para aquilo que pode viver a partir de você, do seu trabalho, da sua dedicação, do seu amor. Aquilo que já morreu não precisa mais dos seus cuidados, mas aquilo que está vivo, ou que ameaça morrer, sim. Então, cuide daquilo que você é chamado a cuidar.
O terceiro ensinamento de Jesus é um convite a olhar para frente: “Quem põe a mão no arado e olha para trás, não está apto para o Reino de Deus” (Lc 9,62). Sempre que você toma uma decisão, é obrigado a deixar algo para trás. O problema é que aquilo que você deixou, de vez em quando vai falar à tua lembrança; você sentirá saudade e se perguntará se tomou a decisão correta. E aí só existe uma maneira de seguir adiante: desprender-se do passado, atualizar a sua decisão a cada dia, olhar para frente e prosseguir, para atingir o seu objetivo.    
Jesus passa continuamente pelo caminho da vida de todo ser humano. Cada um deve dar sua resposta, tomar sua decisão. Quem deseja experimentar a vida que Jesus veio trazer precisa desprender-se, libertar-se: libertar-se em relação às coisas, às pessoas e a si mesmo. Mas, quem de nós deseja verdadeiramente ser livre a esse ponto? O apóstolo Paulo nos lembrou de que: “É para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5,1). No entanto, parece que temos medo dessa liberdade e acabamos nos deixando amarrar de novo a algum tipo de escravidão: um afeto desordenado, um vício, um pecado, uma doença etc. Outras vezes, usamos a nossa liberdade como desculpa para servirmos aos desejos do nosso egoísmo. Por isso, Paulo nos alerta: “Procedei segundo o Espírito... pois a carne tem desejos contra o espírito...” (Gl 5,16.17). Também sobre isso somos chamados a tomar uma decisão: dar ouvidos aos desejos da carne (nosso egoísmo) ou aos desejos do Espírito de Deus, que quer nos conduzir para a nova vida em Cristo.

 Pe. Paulo Cezar Mazzi

quinta-feira, 16 de junho de 2016

VOCÊ SUPORTA A CURVATURA DA CRUZ?

Missa do 12º. dom. comum. Palavra de Deus: Zacarias 12,10-11; 13,1; Gálatas 3,26-29; Lucas 9,18-24.

            Dizem que há espaços dentro de nós que só surgem depois que passamos por uma dor. Antes de enfrentar aquele sofrimento nós éramos uma pessoa arrogante, egoísta, descuidada com relação ao essencial; não estávamos nem aí pra ninguém. Mas aquela dor de alguma forma nos humanizou, nos fez mais humildes, nos ensinou a cuidar daquilo que realmente é essencial, nos deu uma compreensão melhor a respeito de nós mesmos e das outras pessoas, nos fez mais solidários com quem sofre.  
            Toda dor, todo sofrimento, toda experiência de cruz é como um chacoalhão que a vida nos dá para nos fazer acordar e nos dar conta de que o mundo não gira em torno de nós, dos desejos, dos caprichos e das fantasias do nosso ego. Nossos olhos, que muitas vezes só enxergam os nossos próprios interesses, precisam ser lavados, banhados nas lágrimas de algum tipo de dor, para que enxerguemos a realidade que está à nossa volta e que pede a nossa colaboração para ser transformada, humanizada. Foi por isso que Deus disse aos habitantes de Jerusalém: “... haverá um grande pranto... haverá uma fonte acessível... para ablução e purificação” (Zc 12,11; 13,1).
            A verdade é que ninguém passa pela vida sem se deparar com algum tipo de cruz, e ninguém tira isso de letra. Toda cruz nos coloca em crise, joga por terra as nossas certezas e nos faz questionar não só a nós mesmos, mas o próprio Deus. Nem mesmo Jesus foi poupado disso. Se o Evangelho de hoje se inicia mostrando Jesus em oração, as perguntas que ele faz aos discípulos – “Quem dizem o povo que eu sou?” e “E vós, quem dizeis que eu sou?” – revela o porquê ele estava em oração: Jesus precisava saber a respeito da sua própria identidade e da sua missão diante de Deus.
            Nem tudo era claro para Jesus, assim como não o é para nós. Há experiências de sofrimento que nos levam a questionar até mesmo se vale à pena continuarmos vivendo, se vale à pena continuar na missão que abraçamos, na fé que professamos, na função que desempenhamos. E assim como fez Jesus, nós precisamos aprender a fazer: nos colocar diante do Pai, na oração, e deixar que Ele nos torne conscientes a respeito da Sua vontade para a nossa vida.
            Jesus saiu da oração consciente de quem ele era e de qual era a sua missão: “O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado... deve ser morto e ressuscitar no terceiro dia” (Lc 9,22). Prestemos atenção à palavra “deve”. Existem sofrimentos que não são opcionais, mas fazem parte do caminho que escolhemos trilhar. Se eu quiser salvar meu casamento, recuperar meu filho, crescer como pessoa, me libertar, me santificar, se eu quiser me salvar, “devo” lidar com essa cruz, devo enfrentar tal dor. Aqui se revela a maturidade humana e espiritual de Jesus. Uma pessoa imatura procura passar pela vida desviando-se do “devo” e orientando-se somente pelo “isso me agrada”. Já uma pessoa madura sabe reconhecer qual é o momento em que não deve se desviar do seu “devo”, porque ali está a sua oportunidade de ser fiel aos valores que sustentam a sua vida e que dão sentido à sua existência.   
              O Evangelho de hoje termina com uma advertência: “... quem quiser salvar sua vida, vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, esse a salvará” (Lc 9,24). Quem dirige a sua vida somente pelo “isso me agrada”, procurando desviar-se de todo tipo de cruz, é como o arco de uma flecha que decidiu livrar-se do cordão que o mantém curvado, ou seja, é uma pessoa incapaz de atingir seus objetivos, pois eliminou a fonte da sua força interior. Por outro lado, quem aceita perder, quem aceita enfrentar a dor, a cruz, o sofrimento é como um arco que compreendeu a importância de ser curvado, pois é dali que sai a sua força para lançar a flecha, atingindo, assim, o objetivo que Deus tem para a sua vida.

            Pe. Paulo Cezar Mazzi

sexta-feira, 10 de junho de 2016

O QUE VEM PRIMEIRO: O AMOR OU O PERDÃO?

Missa do 11º. dom. comum. Palavra de Deus: 2Samuel 12,7-10.13; Gálatas 2,16.19-21; Lucas 7,36-50.

            Nós sabemos como entrar num buraco chamado “pecado”, mas não sabemos como sair dele. Aliás, com muita facilidade nós encontramos força e disposição em nós mesmos para cavar esse buraco e nos jogar dentro dele, mas depois, não sabemos de onde tirar forças e encontrar disposição para sair dali.
Quando uma situação de pecado começa a se instalar em nossa vida, nós achamos que tudo está sob controle. Nós vemos que aos poucos vamos afundando no erro, sabemos das consequências, mas apostamos ou na impunidade ou na falsa certeza de que, quando quisermos, poderemos pular fora do barco. No entanto, acontece conosco o que aconteceu com o rei Davi: a situação de pecado sai totalmente do nosso controle, e aquilo que era “só” um momento de prazer se transforma numa situação tão ameaçadora para nós, que a única saída que encontramos é cometer um erro absurdo para tentar esconder um erro menor: pra se livrar da acusação de adultério, Davi mandou matar o esposo da mulher com quem se deitou e que agora estava grávida de um filho seu.   
               Todos nós pecamos. Todos nós usamos mal a nossa liberdade na forma de lidar com o dinheiro e com os bens materiais, com a nossa afetividade e sexualidade; todos nós pecamos em relação ao próximo, seja tratando-o com indiferença, seja procurando tirar proveito dele. Todos nós conhecemos não só aquela voz em nossa consciência que nos acusa do erro que cometemos como também aquele sentimento de culpa que tira a paz do nosso coração. Mas a Escritura diz: “Todo homem há de voltar para o Senhor por causa dos pecados” (Sl 65,3-4). Sempre que pecamos, machucamos a nós mesmos ou aos outros. E é a dor dessa ferida que nos faz voltar ao Senhor, que perdoa todas as nossas culpas e cura toda a nossa enfermidade (Sl 103,3).
            O Evangelho de hoje traz uma pergunta: O que vem antes: o amor ou o perdão? Depende de quem estamos falando. Deus perdoa porque ama. Antes de Deus ser perdão, Ele é amor, e porque nos ama, nos perdoa. Em Deus, o perdão é consequência do seu amor por nós. Mas, e em nós, o que vem primeiro: o amor ou o perdão?
            Jesus disse, a respeito dessa mulher pecadora que chora aos seus pés e derrama sobre eles o seu perfume, cobrindo-os de beijos: “os muitos pecados que ela cometeu estão perdoados porque ela demonstrou muito amor” (Lc 7,47). O grande amor que esta mulher demonstra para com Jesus é consequência do perdão que ela recebeu dele antes. Mas, antes quando? Segundo os comentadores bíblicos, muito provavelmente esta mulher teve um encontro anterior com Jesus, no qual ela foi perdoada. Seu gesto agora é de gratidão para com ele. E Jesus, diante do amor e da gratidão dessa mulher para com ele, confirma publicamente o perdão que havia concedido antes: “Teus pecados estão perdoados” (Lc 7,48).
            Portanto, o primeiro dom que nós recebemos de Deus é o perdão, como fruto do seu amor para conosco. Na medida em que nos reconhecemos perdoados por ele, nós O amamos. Dizendo de outra maneira, o perdão de Deus para conosco é incondicional e gratuito, assim como o Seu amor. O perdão de Deus para conosco não está condicionado pelo nosso esforço em amar: ‘Primeiro, você me ama; depois, eu te perdôo’; ou então, ‘Se você me amar, então eu te perdoarei’. Pelo contrário, o Evangelho que ouvimos nos convida a reconhecer o perdão que o Pai nos concedeu na cruz de seu Filho Jesus.
            Como você vive sua vida? Como alguém que se sente constantemente em dívida para com Deus? Como alguém que carrega culpa e condenação em seu coração? O apóstolo Paulo disse: ‘Eu vivo minha vida a partir da minha fé em Jesus Cristo, que na cruz me amou e se entregou por mim’ (citação livre de Gl 2,20). O próprio Jesus disse à mulher, no Evangelho que ouvimos: “Tua fé te salvou. Vai em paz” (Lc 7,50). O que te salva do pecado, da culpa e da condenação é a tua fé no perdão de Deus, a fé no amor do Pai que tudo perdoa. Aquilo que pode romper o círculo vicioso do pecado em sua vida é crer no amor de Deus por você, crer na graça que Ele te concede de romper com o pecado, convencendo-se de que não vale a pena pagar o preço que você tem pago para se alimentar das migalhas de falsas compensações que o pecado te dá.
            “Ela muito amou. Tem a minha paz. Vai seguir caminho sem temor. Sabe quem eu sou e será capaz de espalhar na terra o meu amor” (Frei Fabreti, Ela muito amou). Que a consciência de ser perdoado por Deus faça você voltar a demonstrar amor: amor pela vida, por Deus, pelos outros, por si. Que você caminhe com seu coração firmado na paz de Jesus, não mais carregando medo, culpa ou condenação. Que você se lembre de quem Jesus é: o rosto visível da misericórdia do Pai, o Amor que tudo perdoa. Que você possa levar consigo esse perfume do amor que tudo perdoa, para espalhá-lo onde quer que se encontre.       
    
            Pe. Paulo Cezar Mazzi

sexta-feira, 3 de junho de 2016

ALMAS RETIRADAS DO ABISMO

Missa do 10º. dom. comum. Palavra de Deus: 1Rs 17,17-24; Gálatas 1,11-19; Lucas 7,11-17.

“Vós tirastes minha alma dos abismos e me salvastes quando estava já morrendo” (Sl 30,4). No mundo em que vivemos há diversos abismos engolindo muitas almas. O abismo da migração forçada engole no mar inúmeras almas que tentam escapar da fome e da guerra, sobretudo na África ou em alguns países do Oriente Médio. O abismo do tráfico e do consumo de drogas engole inúmeras almas adolescentes e jovens à nossa volta. O abismo de doenças graves como o câncer, engole almas de todas as idades e de todas as classes sociais. Existem também os abismos emocionais, que engolem inúmeras almas por meio da depressão, da ansiedade, do pânico, da fobia, da falta de sentido para a vida, do suicídio etc.  
Hoje queremos nos colocar na presença do nosso Deus, o único que pode retirar a nossa alma do abismo em que ela porventura se encontra, e nos salvar da morte precoce, prematura, como aconteceu com esses dois jovens: o primeiro deles, ressuscitado por Deus mediante a oração do profeta Elias; o segundo, ressuscitado por Jesus. Talvez muitos de nós já fizemos essa experiência de sermos ressuscitados por Deus. Nossa alma estava no abismo do desânimo, da aflição, do sofrimento ou mesmo da morte, mas a mão de Deus nos alcançou e nos retirou do fundo desse abismo. Então, voltamos a viver, a nos sentir vivos; recobramos o ânimo, a força, a esperança.
As duas ressurreições que nos foram narradas aconteceram num contexto de profunda miséria: duas viúvas pobres perderam seu filho único. Além de não terem o marido para ajudar no sustento da casa, perderam também o filho, única possibilidade de sustento e de futuro para elas. Como se diz, ‘miséria pouca é bobagem’. Deus às vezes parece não só insensível, mas também cruel e impiedoso, quando permite que certas coisas ruins aconteçam a quem já está sofrendo. É uma pancada em cima de outra, é uma dor que se soma a outra, é uma injustiça que se junta a outra. E nós perguntamos: Onde está Deus?
Nesses momentos em que a nossa fé chega ao seu limite de suportar o sofrimento ou a injustiça, precisamos ter uma conversa sincera com Deus, como teve o profeta Elias: “Senhor meu Deus, até a viúva, em cuja casa habito como hóspede, queres afligir, matando-lhe seu filho?” (1Rs 17,20). É claro que não é Deus quem “mata” alguém, mas ele pode permitir que a morte atinja tal pessoa. Elias expressa diante de Deus o seu cansaço ao lidar com o sofrimento e também a sua raiva por não compreender os desígnios de Deus. Mas a sua oração sincera nos revela algo muito importante: ele se dirige a Deus chamando-o de “meu Deus”.
Quando me dirijo a Deus chamado-o de “meu” Deus, estou dizendo que, mesmo com raiva da Sua aparente indiferença para com o sofrimento humano, Ele é o “meu” Deus, o Deus em quem eu creio e o único a quem eu posso recorrer para clamar misericórdia e compaixão, seja para comigo, seja para com as outras pessoas. Elias sabia que somente Deus poderia devolver a vida ao filho da viúva de Sarepta. Por isso clamou: “Senhor, meu Deus, faze, te rogo, que a alma deste menino volte às suas entranhas”. E foi atendido na sua oração.
Se nós não podemos “produzir” ressurreição, podemos suplicar a Deus por tantas pessoas expostas precoce ou injustamente à morte. Se nós não podemos ressuscitar fisicamente pessoas, podemos descer aos abismos onde elas se encontram e ajudá-las a sair dali. Jesus nos convida a ir ao encontro da dor, daquela dor mais terrível, que é a experiência da perda. “Jesus espera que renunciemos a procurar aqueles abrigos pessoais ou comunitários que permitem manter-nos à distância do nó do drama humano, a fim de aceitarmos verdadeiramente entrar em contato com a vida concreta dos outros e conhecermos a força da ternura. Quando o fazemos, a vida complica-se sempre maravilhosamente” (Francisco, A alegria do amor, n.308).
            Não tenhamos medo de entrar em contato com quem sofre. Façamos como Jesus. Ele ressuscitou o filho da viúva de Naim por iniciativa própria. Ninguém veio lhe pedir nada. Nós não precisamos esperar as pessoas virem até nós e nos pedirem ajuda. Tomemos a iniciativa de ir ao encontro daquele que está sofrendo. Entremos em contato com as lágrimas de quem chora neste momento. Peçamos a Deus que nos visite hoje, trazendo-nos a vida do seu Espírito...
            “Hoje em minha vida, onde eu estiver, Ele continua a passar. Incansavelmente insiste em me visitar. Em meu coração quer ficar. O mesmo Deus e Senhor hoje passa aqui. A nossa história também quer tocar com a mesma força e poder, incansável amor que procura a quem transformar, que transforma a quem encontrar...” (Ministério Adoração e Vida, Lugares).
                                                             
Pe. Paulo Cezar Mazzi