Missa
do 13º. dom. comum. Palavra de Deus: 1Reis 19,16b.19-21; Gálatas 5,1.13-18;
Lucas 9,51-62.
“Então ele (Jesus) tomou a firme decisão
de partir para Jerusalém” (Lc 9,51). O Evangelho de hoje nos coloca diante do
início da viagem de Jesus para Jerusalém, uma viagem tão importante que o
evangelista Lucas vai gastar dez capítulos do seu Evangelho – 9,51 a 19,28 – para
nos falar sobre tantos fatos que aconteceram nela, fatos que têm muito a dizer
para a nossa vida, para a vida de todo discípulo de Jesus. Mas, o que nos
interessa por ora se encontra na atitude de Jesus, de tomar a firme decisão de partir para Jerusalém.
Você tem sido capaz de tomar decisões?
Você costuma ser firme nas decisões que toma? Que decisões a vida está pedindo
para você tomar neste momento? Todos os dias nós temos que decidir; isso pode
se dar em relação aos nossos sentimentos, ou à nossa vida profissional, ou às
pessoas com quem convivemos, ou à nossa própria fé. Além disso, toda decisão
nos põe a caminho de algo. Quando nós nos recusamos a tomar uma decisão,
ficamos paralisados na nossa indecisão. Procure, então, perceber se sua vida
está parada, estagnada, ou caminhando... Procure perceber se o caminho que está
seguindo foi escolhido por você ou se as circunstâncias te colocaram neste
caminho, por você não ter tomado uma decisão que era necessária tomar...
Precisamos ter isso claro: toda decisão nos
põe a caminho de algo. Jesus decidiu tomar o caminho de nos salvar, mas este
caminho o levaria para Jerusalém o lugar onde ele sofreria, seria rejeitado,
morreria e ao terceiro dia ressuscitaria (como nos lembrou o Evangelho de domingo
passado). Por isso, ele precisou ser firme nessa sua decisão. Algumas pessoas
decidem se casar, outras não; outras decidem se consagrar a Deus. Algumas
pessoas decidem ter filhos, outras não. Alguns decidem seguir uma igreja, ter
uma religião; outros não. Seja qual for a decisão que você tomou, é preciso
perguntar-se: “Eu estou sendo firme na decisão que tomei?”.
Iniciando o seu caminho para Jerusalém,
Jesus encontrou um obstáculo: um povoado de samaritanos não o deixou passar por
ali com seus discípulos. Imediatamente, Tiago e João perguntaram a Jesus: “Senhor,
queres que mandemos descer fogo do céu para destruí-los?” (Lc 9,54). Por mais
firme que você esteja na decisão que tomou, ela não elimina por si só os
obstáculos do seu caminho. Antes, esses obstáculos estão ali justamente para
verificar o quanto você leva a sério as escolhas que faz e as decisões que toma
na vida. E então? Como você lida com
esses obstáculos? Como você lida com a sua raiva, que desejaria destruir
aquelas pessoas que resolveram atrapalhar a sua felicidade? Por mais que você
invocasse o céu para mandar fogo sobre esses obstáculos, isso nunca
aconteceria, porque o caminho não é esse; a solução não é essa. Os obstáculos
nos ajudam a encontrar outros meios de continuarmos o nosso caminho. Eles podem
ser contornados; portanto, não precisam ser vistos como motivo para desistirmos
do caminho que decidimos percorrer.
No início do seu caminho, Jesus nos
ensina três coisas importantes. A primeira delas: “As raposas têm tocas e os
pássaros têm ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça” (Lc
9,58). Isto significa: aprenda a enxergar a vida além do seu próprio bem estar.
Quem quer crescer, amadurecer, melhorar seu relacionamento, quem quer curar
suas feridas, se santificar ou ser mais plenamente de Deus, precisa sair da sua
“zona de conforto”, precisa desinstalar-se e estar disposto a lidar com o
desconforto.
O segundo ensinamento de Jesus é à
primeira vista estranho: “Deixa que os mortos enterrem seus mortos; mas tu vai
anunciar o Reino de Deus” (Lc 9,60). Jesus convida você a não desperdiçar
energia com o que já está morto, mas a canalizar as suas melhores energias para
aquilo que está vivo, ou para aquilo que pode viver a partir de você, do seu
trabalho, da sua dedicação, do seu amor. Aquilo que já morreu não precisa mais
dos seus cuidados, mas aquilo que está vivo, ou que ameaça morrer, sim. Então,
cuide daquilo que você é chamado a cuidar.
O terceiro ensinamento de Jesus é um
convite a olhar para frente: “Quem põe a mão no arado e olha para trás, não
está apto para o Reino de Deus” (Lc 9,62). Sempre que você toma uma decisão, é
obrigado a deixar algo para trás. O problema é que aquilo que você deixou, de
vez em quando vai falar à tua lembrança; você sentirá saudade e se perguntará
se tomou a decisão correta. E aí só existe uma maneira de seguir adiante:
desprender-se do passado, atualizar a sua decisão a cada dia, olhar para frente
e prosseguir, para atingir o seu objetivo.
Jesus passa continuamente pelo caminho
da vida de todo ser humano. Cada um deve dar sua resposta, tomar sua decisão. Quem
deseja experimentar a vida que Jesus veio trazer precisa desprender-se,
libertar-se: libertar-se em relação às coisas, às pessoas e a si mesmo. Mas,
quem de nós deseja verdadeiramente ser livre a esse ponto? O apóstolo Paulo nos
lembrou de que: “É para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5,1). No
entanto, parece que temos medo dessa liberdade e acabamos nos deixando amarrar
de novo a algum tipo de escravidão: um afeto desordenado, um vício, um pecado,
uma doença etc. Outras vezes, usamos a nossa liberdade como desculpa para
servirmos aos desejos do nosso egoísmo. Por isso, Paulo nos alerta: “Procedei
segundo o Espírito... pois a carne tem desejos contra o espírito...” (Gl 5,16.17).
Também sobre isso somos chamados a tomar uma decisão: dar ouvidos aos desejos
da carne (nosso egoísmo) ou aos desejos do Espírito de Deus, que quer nos
conduzir para a nova vida em Cristo.