Missa do 3º.
dom. comum. Palavra de deus: Neemias 8,2-4a.5-6.8-10; 1Coríntios 12,12-14.27;
Lucas 1,1-4; 4,14-21.
As
leituras que acabamos de ouvir nos falam da força da Palavra de Deus na vida
daquele que nela crê: a Palavra que devolve alegria e força ao coração humano
(1ª. leitura), a Palavra que revela o lugar que cada um de nós ocupa no Corpo
de Cristo, que é a Igreja, (2ª. leitura), a Palavra que nunca é mera repetição
do passado, mas sempre tem algo a dizer para o “hoje” da nossa vida
(Evangelho).
O
texto de Neemias serve de exame de consciência sobre a maneira como nos
colocamos diante da Palavra, sobretudo quando a ouvimos na Igreja. A Palavra
coloca em pé, isto é, levanta, tira da prostração aquele que a
escuta. A Palavra faz você se inclinar e
se prostrar não diante dos seus problemas ou das injustiças sociais, mas
diante do Deus que é maior do que os problemas e as injustiças humanas. A
Palavra questiona os motivos da nossa
tristeza e nos devolve as razões da nossa alegria. Mas para isso,
precisamos ouvir a Palavra com atenção e
acolhê-la com o nosso “Amém!”, colocando nela a nossa fé, como quem finca
uma estaca no chão. Lembremo-nos de que a palavra “Amém!” era no nome das
estacas que Israel usava para fincar suas tendas no chão, enquanto peregrinava
pelo deserto.
A
carta de São Paulo nos mostra que a Palavra respeita a individualidade de cada
um de nós, mas nos convida a trabalhar pela unidade do Corpo de Cristo, que é a
Igreja. Um membro não pode dizer ao outro: “Não preciso de ti” (1Cor 12,21).
Ninguém de nós é autossuficiente; precisamos uns dos outros. Além disso, é
importante perceber como lidamos com as fraquezas que se encontram em nós
mesmos e nos outros, pois “os membros do corpo que parecem mais fracos são
muito mais necessários do que se pensa” (1Cor 12,22). Quando individual ou
comunitariamente rejeitamos aquilo que é fraco, essa rejeição se volta contra
nós. Uma comunidade, assim como qualquer pessoa, é saudável somente na medida
em que reconhece, respeita, acolhe e se reconcilia com aquilo que nela é fraco.
Por fim, a Palavra de Deus nos convida a desenvolvermos o cuidado de uns pelos
outros: “os membros zelem (...) uns pelos outros. Se um membro sofre, todos
sofrem com ele...” (1Cor 12,25-26). Isso significa desenvolver uma atitude de
misericórdia uns para com os outros.
Jesus é a Palavra que se fez carne,
isto é, pessoa humana (cf. Jo 1,14). Por meio de Jesus, entendemos que a Palavra
de Deus na verdade é uma Pessoa que fala conosco e que vem anunciar no “hoje”
da nossa vida a salvação que vem de Deus. Por todo lugar onde andou, Jesus
anunciou a Palavra de Deus como ela verdadeiramente é: uma boa notícia que devolve
a alegria aos pobres, a libertação aos que estão presos e a visão aos que não
conseguem enxergar, a Palavra que proclama “o ano da graça do Senhor” (Lc
4,19).
Desde o dia 08 de dezembro, estamos
vivendo em nossa Igreja o Ano Santo da Misericórdia, aberto pelo Papa Francisco,
consciente de que “ninguém pode ser excluído da misericórdia de Deus”. Neste
sentido, nós, Igreja, devemos nos tornar sempre mais “a casa que acolhe a todos
e não recusa ninguém” (palavras do Papa Francisco). Para isso o Espírito Santo
consagrou a cada um de nós, a fim de que a nossa vida seja um anúncio vivo da misericórdia
do Pai para com todo ser humano; concretamente, para com aqueles com os quais
nos encontramos no dia a dia.
“Hoje se cumpriu esta passagem da
Escritura que acabastes de ouvir” (Lc 4,21). A Palavra de Deus, escrita “ontem”
por homens e mulheres inspirados pelo Espírito de Deus, sempre tem algo a dizer
para o “hoje” da nossa história pessoal e social. Cabe a você ouvi-la “hoje”.
Cabe a você, a cada manhã, abrir o seu ouvido para que o Senhor possa falar ao
seu coração e tornar você capaz de levar uma palavra de conforto a toda pessoa
abatida que encontrar (cf. Is 50,4). Cabe a você tornar-se consciente de que,
com a sua existência única neste
mundo, você é também uma palavra única
de Deus para aqueles que convivem com você no dia a dia.
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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