Missa do Batismo do Senhor. Palavra de Deus: Isaías
42,1-4.6-7;
Atos dos Apóstolos 10,34-38; Lucas 3,15-16.21-22.
A lama. “Faz tempo que a gente se
acostumou com ela. Foi entrando na vida diária. Subindo pelas canelas até
chegar ao pescoço. Rompeu barragem. Destruiu cidades. Poluiu rios. Impactou o
ambiente. Matou gente. Tudo, agora, é lama... Tanta lama não se forma por
acaso. Requer esforço (ou falta de). Vai embrutecendo sentidos, sentimentos e
ideias. Vira descaso, desilusão, acomodação, negligencia impunidade. Invade
corações e mentes. Corrompe a alma, enfim... O mar de lama começou na alma de
cada um. Sem limpar a alma, não existe futuro possível. As almas estão
poluídas, desencantadas. Antes de tomar a realidade de assalto, a lama invadiu
a alma. Apodreceram valores, sonhos, ideias e ideais. Tornou almas
desinteressadas, mesquinhas, enlameadas. Pequenas mesmo. E se a alma é
pequena, nada vale a pena” (Elton Simões,
Mar de lama).
Como está sua alma? Limpa ou
enlameada? Íntegra ou corrompida? Capaz de misericórdia perante a dor alheia ou
indiferente a ela? Como um verdadeiro servo de Deus, você também “não se deixa
abater enquanto não estabelecer a justiça na terra” (Is 42,4), ou já se habitou
a tal ponto com a injustiça que hoje é mais um a promovê-la nas suas atitudes
cotidianas? Seus olhos estão limpos, foram lavados com água, de modo que você
consegue enxergar que a cana rachada ainda pode ser recuperada e que o pavio
que ainda fumega precisa ser valorizado (cf. Is 42,3) – o que significa agir
com misericórdia? Ou seus olhos estão tão sujos da lama do individualismo e do pessimismo
que você só enxerga as pessoas e a realidade social como casos perdidos, sem
solução?
A celebração do Batismo de Jesus nos
fala da necessidade que temos de ser purificados com o banho da água e
santificados pela Palavra (cf. Ef 5,26). “Hoje Cristo entrou nas águas do
Jordão para lavar o pecado do mundo” (São
Pedro Crisólogo). Nós precisamos ser lavados da lama do pecado pessoal e
social que obscurece os nossos olhos, corrompe a nossa consciência e torna o
nosso coração indiferente ao nosso próximo. Nós precisamos nos voltar para
Aquele que é a nossa fonte (cf. Sl 87,7), a “fonte de água viva” (Jr 2,13),
para Aquele que veio abrir os olhos dos cegos, tirar os cativos da prisão e
livrar do cárcere os que vivem nas trevas (cf. Is 42,7).
“Cristo foi batizado não para ser
santificado pelas águas, mas para santificá-las” (São Máximo de Turim). A água que foi derramada sobre nós no dia do
nosso batismo foi santificada por Jesus. Quando ainda não tínhamos consciência
do pecado, mas já carregávamos conosco a tendência para o pecado, própria de
todo ser humano, a Igreja nos mergulhou nas águas do batismo, santificadas por
Cristo, para que, desde pequenos, pudéssemos ouvir a voz de Deus sobre as águas
(cf. Sl 29,3-4) a dizer a cada um de nós: “Tu és o meu Filho amado, em ti ponho
o meu benquerer” (Lc 3,22).
Ao se referir ao batismo de Jesus, o
apóstolo Pedro ressalta que “depois do batismo... Jesus de Nazaré foi ungido
por Deus com o Espírito Santo e com poder. Ele andou por toda a parte, fazendo
o bem...” (At 10,37-38). O que aconteceu conosco depois do nosso batismo? O que
acontece com as crianças que ainda hoje são batizadas? Há uma continuidade na
escuta da voz do Pai, por meio da Sua palavra – em casa, nas missas, na
catequese? O Espírito Santo que nos foi dado no batismo tornou-se o nosso
Condutor (cf. Rm 8,14) ou uma Presença totalmente ignorada dentro de nós? Nós
somos pessoas permeáveis ou impermeáveis ao Espírito de Deus? Como batizados,
nós andamos por toda a parte procurando fazer o bem que nos é possível fazer,
ou estamos contribuindo para que a lama do mal continue a contaminar o mundo à
nossa volta?
Após ser batizado, Jesus se colocou
em oração. “E, enquanto rezava, o céu se abriu” (Lc 3,21). Sem oração, o céu
não se abre. Sem oração, o Espírito Santo não nos é dado (cf. Lc 11,13). Sem
oração, não ouvimos o Pai falar conosco (cf. Lc 3,22). Sem oração, perdemos o
contato com Aquele que é a nossa fonte de água viva, e passamos a nos sentir
mergulhados num mar de lama, atolados na lama do pecado pessoal e social.
Hoje somos convidados a renovar as
promessas do nosso batismo para que o céu, que ainda parece fechado sobre a
vida de tantas pessoas, volte a se abrir; para que o mar de lama, que se torna
cada vez mais extenso, contaminando e matando toda possibilidade de vida, de
justiça e de paz à nossa volta, seja aos poucos vencido, purificado pela água
que jorra de cada um de nós, aquela água santificada por Cristo que recebemos
no batismo e que precisa voltar a fluir, para o nosso bem e o bem da
humanidade.
Pe. Paulo Cezar Mazzi
Parabéns padre... Sua colocação foi e é sempre exata,não tem como não entender...Deua Deus o conserve assim,com tanta sabedoria.
ResponderExcluirAmém! Muito obrigado, Rogéria. Deus lhe abençoe!
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