sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

A LAMA SE ALASTRA E MATA PORQUE A ÁGUA SANTIFICADA DO NOSSO BATISMO TEM JORRADO POUCO

Missa do Batismo do Senhor. Palavra de Deus: Isaías 42,1-4.6-7; 

Atos dos Apóstolos 10,34-38; Lucas 3,15-16.21-22.

A lama. “Faz tempo que a gente se acostumou com ela. Foi entrando na vida diária. Subindo pelas canelas até chegar ao pescoço. Rompeu barragem. Destruiu cidades. Poluiu rios. Impactou o ambiente. Matou gente. Tudo, agora, é lama... Tanta lama não se forma por acaso. Requer esforço (ou falta de). Vai embrutecendo sentidos, sentimentos e ideias. Vira descaso, desilusão, acomodação, negligencia impunidade. Invade corações e mentes. Corrompe a alma, enfim... O mar de lama começou na alma de cada um. Sem limpar a alma, não existe futuro possível. As almas estão poluídas, desencantadas. Antes de tomar a realidade de assalto, a lama invadiu a alma. Apodreceram valores, sonhos, ideias e ideais. Tornou almas desinteressadas, mesquinhas, enlameadas. Pequenas mesmo.  E se a alma é pequena, nada vale a pena” (Elton Simões, Mar de lama).
            Como está sua alma? Limpa ou enlameada? Íntegra ou corrompida? Capaz de misericórdia perante a dor alheia ou indiferente a ela? Como um verdadeiro servo de Deus, você também “não se deixa abater enquanto não estabelecer a justiça na terra” (Is 42,4), ou já se habitou a tal ponto com a injustiça que hoje é mais um a promovê-la nas suas atitudes cotidianas? Seus olhos estão limpos, foram lavados com água, de modo que você consegue enxergar que a cana rachada ainda pode ser recuperada e que o pavio que ainda fumega precisa ser valorizado (cf. Is 42,3) – o que significa agir com misericórdia? Ou seus olhos estão tão sujos da lama do individualismo e do pessimismo que você só enxerga as pessoas e a realidade social como casos perdidos, sem solução?
            A celebração do Batismo de Jesus nos fala da necessidade que temos de ser purificados com o banho da água e santificados pela Palavra (cf. Ef 5,26). “Hoje Cristo entrou nas águas do Jordão para lavar o pecado do mundo” (São Pedro Crisólogo). Nós precisamos ser lavados da lama do pecado pessoal e social que obscurece os nossos olhos, corrompe a nossa consciência e torna o nosso coração indiferente ao nosso próximo. Nós precisamos nos voltar para Aquele que é a nossa fonte (cf. Sl 87,7), a “fonte de água viva” (Jr 2,13), para Aquele que veio abrir os olhos dos cegos, tirar os cativos da prisão e livrar do cárcere os que vivem nas trevas (cf. Is 42,7).
            “Cristo foi batizado não para ser santificado pelas águas, mas para santificá-las” (São Máximo de Turim). A água que foi derramada sobre nós no dia do nosso batismo foi santificada por Jesus. Quando ainda não tínhamos consciência do pecado, mas já carregávamos conosco a tendência para o pecado, própria de todo ser humano, a Igreja nos mergulhou nas águas do batismo, santificadas por Cristo, para que, desde pequenos, pudéssemos ouvir a voz de Deus sobre as águas (cf. Sl 29,3-4) a dizer a cada um de nós: “Tu és o meu Filho amado, em ti ponho o meu benquerer” (Lc 3,22).
            Ao se referir ao batismo de Jesus, o apóstolo Pedro ressalta que “depois do batismo... Jesus de Nazaré foi ungido por Deus com o Espírito Santo e com poder. Ele andou por toda a parte, fazendo o bem...” (At 10,37-38). O que aconteceu conosco depois do nosso batismo? O que acontece com as crianças que ainda hoje são batizadas? Há uma continuidade na escuta da voz do Pai, por meio da Sua palavra – em casa, nas missas, na catequese? O Espírito Santo que nos foi dado no batismo tornou-se o nosso Condutor (cf. Rm 8,14) ou uma Presença totalmente ignorada dentro de nós? Nós somos pessoas permeáveis ou impermeáveis ao Espírito de Deus? Como batizados, nós andamos por toda a parte procurando fazer o bem que nos é possível fazer, ou estamos contribuindo para que a lama do mal continue a contaminar o mundo à nossa volta?  
            Após ser batizado, Jesus se colocou em oração. “E, enquanto rezava, o céu se abriu” (Lc 3,21). Sem oração, o céu não se abre. Sem oração, o Espírito Santo não nos é dado (cf. Lc 11,13). Sem oração, não ouvimos o Pai falar conosco (cf. Lc 3,22). Sem oração, perdemos o contato com Aquele que é a nossa fonte de água viva, e passamos a nos sentir mergulhados num mar de lama, atolados na lama do pecado pessoal e social.
            Hoje somos convidados a renovar as promessas do nosso batismo para que o céu, que ainda parece fechado sobre a vida de tantas pessoas, volte a se abrir; para que o mar de lama, que se torna cada vez mais extenso, contaminando e matando toda possibilidade de vida, de justiça e de paz à nossa volta, seja aos poucos vencido, purificado pela água que jorra de cada um de nós, aquela água santificada por Cristo que recebemos no batismo e que precisa voltar a fluir, para o nosso bem e o bem da humanidade. 

Pe. Paulo Cezar Mazzi

2 comentários:

  1. Parabéns padre... Sua colocação foi e é sempre exata,não tem como não entender...Deua Deus o conserve assim,com tanta sabedoria.

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  2. Amém! Muito obrigado, Rogéria. Deus lhe abençoe!

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