Missa
de São Pedro e São Paulo. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 12,1-11; 2Timóteo
4,6-8.17-18; Mateus 16,13-19.
Em fevereiro de 2013 o Papa Bento
XVI anunciou a sua renúncia como condutor humano da Igreja que Jesus fundou
sobre os apóstolos. Essa renúncia chocou o mundo, abalou a fé de alguns e foi
vista por outros como sinal nítido de uma Igreja falida. Como você, católico(a),
sentiu essa renúncia? Foi preciso que o Papa Francisco entrasse em cena para
que muitos pudessem entender a grandeza e a importância do gesto de Bento XVI
em renunciar. Por amor à Igreja de Jesus Cristo, ele assumiu sobre si a
incompreensão de muitos e feriu sua própria imagem.
A sombra escura que momentaneamente
a renúncia de Bento XVI jogou sobre a Igreja foi rapidamente substituída pela
luz radiante de Francisco. Sua alegria, sua firmeza, sua simplicidade e
coerência de vida têm contagiado a muitos, despertado a fé adormecida em tantas
pessoas e feito a Igreja, que até então se sentia envolvida por um rígido e
prolongado inverno, experimentar o florescer da primavera em si mesma.
Contudo, precisamos ter os pés no
chão. Assim como acontece com todo verdadeiro profeta, as palavras e as
atitudes do Papa Francisco têm incomodado alguns dentro e fora da Igreja. As
mesmas mãos que ontem o aplaudiam hoje lhe jogam pedras; os mesmos corações que
hoje se encantam com ele amanhã o rejeitarão, porque Francisco, como verdadeiro
discípulo de Jesus Cristo, escolheu pautar sua vida e conduzir a Igreja segundo
o Evangelho, enquanto a maioria das pessoas hoje, dentro ou fora das igrejas, pauta
sua vida segundo a própria conveniência.
Os Atos dos Apóstolos narram um
momento muito difícil para a Igreja: alguns de seus membros estavam sendo
presos, torturados e mortos. Isso nos remete aos cristãos perseguidos e mortos
em alguns países. Mas entre nós é muito comum “prender”, “torturar” e “matar”
pessoas da Igreja por meio de críticas, sobretudo onde trabalhamos. Não é
verdade que, muitas vezes, nós somos os primeiros a criticar a nossa Igreja?
Quem de nós se preocupa em defendê-la diante das críticas dos outros? Nós vibramos
quando o Papa Francisco diz que os que representam a Igreja não devem ter “psicologia
de príncipe”, mas quantos de nós, católicos, criamos os filhos segundo essa
psicologia? Quem de nós está disposto a assumir a simplicidade de vida de
Francisco, de Jesus, do Evangelho?
Jesus perguntou aos discípulos o quê
as pessoas diziam sobre ele. Hoje essa pergunta pode ser traduzida de outra
forma: como as pessoas vivem sua fé? Hoje a fé é vivida a partir do
individualismo: Deus, sim; Igreja, não. Fé, sim; religião, não. Nada de vínculo
com uma igreja; nada de compromisso com as necessidades pastorais da Igreja. No
entanto, a Igreja existe para criar, alimentar e fortalecer o vínculo das
pessoas com Jesus Cristo: o que ligar/desligar na terra será ligado/desligado
nos céus (cf. Mt 16,19).
Enquanto Pedro foi escolhido por
Jesus para ser a pedra sobre a qual Ele edificaria a sua Igreja (cf. Mt 16,18),
Paulo foi escolhido para anunciar Jesus Cristo e o seu Evangelho a todos os
povos (cf. At 9,15), uma missão que foi desempenhada em meio a muito sofrimento
(cf. At 9,16). Apesar disso, Paulo, apoiando-se na graça de Deus, sempre se
manteve fiel, a ponto de poder concluir: “Combati o bom combate, completei a
corrida, guardei a fé” (2Tm 4,7). “(...) o Senhor esteve ao meu lado e me deu
forças, ele fez com que a mensagem fosse anunciada por mim integralmente...”
(2Tm 4,17).
Na época em que vivemos há um
combate a ser travado, não só em termos de sobrevivência, mas, sobretudo, em
termos de fé, de espiritualidade, de defesa de valores e princípios que nos
mantenham no caminho da justiça e da santidade. Há também uma corrida a ser completada,
e, se por acaso tenhamos parado no acostamento do caminho da fé, precisamos
retornar ao mesmo e continuar a caminhar. Por fim, há uma fé a ser guardada,
defendida, atualizada, recuperada, a fé que nos faz vencer o mundo e perseverar
na missão que nos foi confiada na Igreja, até que Cristo venha nos dar a coroa
da justiça.
“Enquanto Pedro era mantido na
prisão, a Igreja rezava continuamente a Deus por ele” (At 12,5). Rezemos uns
pelos outros, por nosso Papa Francisco, por nosso bispo Eduardo, pelos cristãos
espalhados pelo mundo inteiro, sobretudo pelos que correm risco de morte... Que
o Senhor se faça sentir ao nosso lado e que, apesar da nossa fragilidade humana,
possamos fazer da nossa vida um anúncio integral do Evangelho para aqueles que
convivem conosco.
Pe. Paulo Cezar Mazzi