quinta-feira, 18 de junho de 2015

É PRECISO SAIR DA MARGEM DE SI MESMO(A)

Missa do 12º. dom. comum. Palavra de Deus: Jó 38,1.8-11; 2Coríntios 5,14-17; Marcos 4,35-41.

“Vamos para a outra margem!” (Mc 4,35). Eis o convite que Jesus nos faz hoje. Eis o desafio que Ele nos lança: ‘Vamos fazer a travessia! Está na hora de você sair da margem de si mesmo(a). Está na hora de enfrentar uma mudança que é necessária para a sua vida. Vamos! Eu vou com você! Eu estou com você nessa travessia!’, nos diz o Senhor Jesus.  
De qual travessia Jesus está falando? Daquela travessia que nos tira da nossa acomodação e da nossa adaptação a uma situação de vida pessoal e social injusta, doentia, indigna, desumana... “Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia. E se não ousarmos fazê-la, teremos ficado para sempre à margem de nós mesmos” (Tempo de Travessia – Fernando Pessoa).
O que significa ficar à margem de nós mesmos? Significa desconhecer a nossa própria força, a nossa própria verdade; significa desconhecer o rosto do verdadeiro Deus e o Seu desígnio de amor e salvação para conosco e para com a humanidade; significa continuar a nos deixar oprimir, adoecer e manipular por pessoas e situações injustas que ferem a nossa dignidade de pessoas e de filhos de Deus.
A travessia é boa e necessária! A travessia tem um sabor pascal, um passar de uma situação de morte para uma situação de vida. Porém, toda travessia tem um risco, e esse risco se chama “tempestade”. Às vezes, a tempestade vem antes da travessia. Na verdade, muitas vezes nós só nos dispomos a fazer a travessia para a outra margem porque fomos atingidos por uma tempestade. Neste caso, a tempestade foi necessária para nos acordar, para nos despertar de uma vida construída na mentira e não na verdade. Quantas pessoas “acordaram para a vida” depois de um acidente, de uma doença, de um desemprego, de um fim de um relacionamento, e se redescobriram, e redefiniram suas prioridades, e voltaram a se sentir vivas de verdade?
Contudo, muitas vezes a tempestade se apresenta como um obstáculo à travessia. É quando a voz do medo fala conosco e tenta nos convencer de que é melhor não atravessar; é melhor continuar a tentar sobreviver na margem onde nos encontramos; é melhor não arriscar a buscar uma vida mais digna, mais plena. Sem dúvida, a voz do medo fala conosco do meio das nossas tempestades. Mas ela não é a única! “O Senhor respondeu a Jó do meio da tempestade...” (Jó 38,1). E o Senhor Deus disse ao mar agitado: “Até aqui chegarás, e não além” (Jó 38,11). Sim! Deus fala conosco do meio das nossas tempestades: ‘Vamos! Eu estou com você nessa travessia!’ Ao mesmo tempo, Ele declara que colocou um limite para a tempestade, para o mar que parece querer nos afogar: ‘Até aqui, e não além!’.
Quantas pessoas, no passado, sobreviveram às suas tempestades cantando em seus corações: “Se as águas do mar da vida quiserem te afogar, segura na mão de Deus e vai!”? Assim, hoje devemos segurar na mão de Deus enquanto fazemos a nossa travessia, gritando ao Senhor em nossa aflição e sendo libertos por Ele da nossa angústia, pois Ele tem o poder de transformar a tempestade em bonança e fazer as ondas do oceano se calarem (cf. Sl 107,28-29). Na medida em que resistimos às tempestades por meio da graça de Deus e fazemos a travessia que nos é proposta, vamos experimentando a verdade dessas palavras: “Se alguém está em Cristo, é uma criatura nova. O mundo velho desapareceu. Tudo agora é novo” (2Cor 5,17).
Enquanto os discípulos eram consumidos pelo medo diante da tempestade, Jesus dormia na parte de trás da barca (cf. Mc 4,38). Não são poucas as pessoas hoje que só conseguem dormir com a ajuda de algum medicamento. O sono de Jesus é um sono de confiança, uma confiança que precisamos recuperar em nosso coração, na medida em que recordamos que o nosso Deus tem o poder de acabar com as guerras, de silenciar os tumultos e acalmar as tempestades criadas pelos próprios homens, pois Ele diz: “Tranquilizai-vos e reconhecei: Eu sou Deus, mais alto que os povos, mais alto que a terra!” (Sl 46,11).
Queremos aprender a ouvir o Senhor que nos fala do meio das nossas tempestades. Assim como os discípulos, nós também Lhe perguntamos: “(...) estamos perecendo e tu não te importas?” (Mc 4,39). ‘Minha família está perecendo, meu filho está perecendo, meu trabalho está perecendo, minha fé está perecendo, e tu não te importas?’ Sim, Senhor! Reconheço que ainda não tenho fé. Ainda vacilo diante da tempestade. Ainda não sei quem Tu és. Preciso silenciar e tranquilizar o meu coração para reconhecer-Te junto a mim, na constante travessia da vida. Preciso dizer à voz do medo em mim: “Silêncio! Cala-te!” (Mc 4,39). Preciso e quero sair da margem de mim mesmo, e me encontrar no centro do Teu coração, onde eu aprenda a Te louvar também na tempestade...
      
LOUVAREI NA TEMPESTADE (PG)
https://www.youtube.com/watch?v=3a7txTYuh9k 

Pe. Paulo Cezar Mazzi

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