Missa
do 12º. dom. comum. Palavra de Deus: Jó 38,1.8-11; 2Coríntios 5,14-17; Marcos
4,35-41.
“Vamos para a outra margem!” (Mc 4,35).
Eis o convite que Jesus nos faz hoje. Eis o desafio que Ele nos lança: ‘Vamos
fazer a travessia! Está na hora de você sair da margem de si mesmo(a). Está na
hora de enfrentar uma mudança que é necessária para a sua vida. Vamos! Eu vou
com você! Eu estou com você nessa travessia!’, nos diz o Senhor Jesus.
De qual travessia Jesus está falando? Daquela
travessia que nos tira da nossa acomodação e da nossa adaptação a uma situação
de vida pessoal e social injusta, doentia, indigna, desumana... “Há um tempo em
que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e
esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo
da travessia. E se não ousarmos fazê-la, teremos ficado para sempre à margem de
nós mesmos” (Tempo de Travessia – Fernando Pessoa).
O que significa ficar à margem de nós
mesmos? Significa desconhecer a nossa própria força, a nossa própria verdade;
significa desconhecer o rosto do verdadeiro Deus e o Seu desígnio de amor e
salvação para conosco e para com a humanidade; significa continuar a nos deixar
oprimir, adoecer e manipular por pessoas e situações injustas que ferem a nossa
dignidade de pessoas e de filhos de Deus.
A travessia é boa e necessária! A
travessia tem um sabor pascal, um passar de uma situação de morte para uma
situação de vida. Porém, toda travessia tem um risco, e esse risco se chama “tempestade”.
Às vezes, a tempestade vem antes da travessia. Na verdade, muitas vezes nós só
nos dispomos a fazer a travessia para a outra margem porque fomos atingidos por
uma tempestade. Neste caso, a tempestade foi necessária para nos acordar, para
nos despertar de uma vida construída na mentira e não na verdade. Quantas
pessoas “acordaram para a vida” depois de um acidente, de uma doença, de um
desemprego, de um fim de um relacionamento, e se redescobriram, e redefiniram
suas prioridades, e voltaram a se sentir vivas de verdade?
Contudo, muitas vezes a tempestade se apresenta
como um obstáculo à travessia. É quando a voz do medo fala conosco e tenta nos
convencer de que é melhor não atravessar; é melhor continuar a tentar sobreviver
na margem onde nos encontramos; é melhor não arriscar a buscar uma vida mais
digna, mais plena. Sem dúvida, a voz do medo fala conosco do meio das nossas
tempestades. Mas ela não é a única! “O Senhor respondeu a Jó do meio da
tempestade...” (Jó 38,1). E o Senhor Deus disse ao mar agitado: “Até aqui
chegarás, e não além” (Jó 38,11). Sim! Deus fala conosco do meio das nossas tempestades:
‘Vamos! Eu estou com você nessa travessia!’ Ao mesmo tempo, Ele declara que
colocou um limite para a tempestade, para o mar que parece querer nos afogar: ‘Até
aqui, e não além!’.
Quantas pessoas, no passado,
sobreviveram às suas tempestades cantando em seus corações: “Se as águas do mar
da vida quiserem te afogar, segura na mão de Deus e vai!”? Assim, hoje devemos
segurar na mão de Deus enquanto fazemos a nossa travessia, gritando ao Senhor em
nossa aflição e sendo libertos por Ele da nossa angústia, pois Ele tem o poder
de transformar a tempestade em bonança e fazer as ondas do oceano se calarem (cf.
Sl 107,28-29). Na medida em que resistimos às tempestades por meio da graça de
Deus e fazemos a travessia que nos é proposta, vamos experimentando a verdade
dessas palavras: “Se alguém está em Cristo, é uma criatura nova. O mundo velho
desapareceu. Tudo agora é novo” (2Cor 5,17).
Enquanto os discípulos eram consumidos
pelo medo diante da tempestade, Jesus dormia na parte de trás da barca (cf. Mc
4,38). Não são poucas as pessoas hoje que só conseguem dormir com a ajuda de
algum medicamento. O sono de Jesus é um sono de confiança, uma confiança que
precisamos recuperar em nosso coração, na medida em que recordamos que o nosso
Deus tem o poder de acabar com as guerras, de silenciar os tumultos e acalmar as
tempestades criadas pelos próprios homens, pois Ele diz: “Tranquilizai-vos e
reconhecei: Eu sou Deus, mais alto que os povos, mais alto que a terra!” (Sl
46,11).
Queremos aprender a ouvir o Senhor que
nos fala do meio das nossas tempestades. Assim como os discípulos, nós também
Lhe perguntamos: “(...) estamos perecendo e tu não te importas?” (Mc 4,39). ‘Minha
família está perecendo, meu filho está perecendo, meu trabalho está perecendo, minha
fé está perecendo, e tu não te importas?’ Sim, Senhor! Reconheço que ainda não
tenho fé. Ainda vacilo diante da tempestade. Ainda não sei quem Tu és. Preciso
silenciar e tranquilizar o meu coração para reconhecer-Te junto a mim, na
constante travessia da vida. Preciso dizer à voz do medo em mim: “Silêncio!
Cala-te!” (Mc 4,39). Preciso e quero sair da margem de mim mesmo, e me
encontrar no centro do Teu coração, onde eu aprenda a Te louvar também na
tempestade...
LOUVAREI
NA TEMPESTADE (PG)
https://www.youtube.com/watch?v=3a7txTYuh9k Pe. Paulo Cezar Mazzi
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