Missa da Exaltação da Santa Cruz. Palavra de Deus:
Números 21,4b-9; Filipenses 2,6-11; João 3,13-17.
Suponhamos
que você tenha perdido um filho num acidente de carro. Você colocaria na parede
da sua sala um pedaço da lataria do carro que matou seu filho? Suponhamos que
sua filha ou seu pai tenha se suicidado por enforcamento. Você colocaria na
parede da sua sala a corda com a qual ela ou ele se enforcou? Isso não seria um
absurdo, ou no mínimo, um terrível mau gosto? Pois é assim que algumas pessoas
não católicas nos interpretam em relação ao fato de termos uma imagem de Cristo
crucificado em nossa casa ou em nosso local de trabalho.
Este
dia da Exaltação da Santa Cruz nos leva a refletir sobre isso: por que ter uma
imagem de Cristo crucificado quando Ele, na verdade, está ressuscitado e
assentado à direita do Pai? Por que ter uma imagem do Filho de Deus morto,
quando Ele está vivo? De fato, algumas igrejas cristãs não católicas também
fazem uso da imagem da cruz, mas nunca com o Cristo morto nela. No entanto, uma
profecia do livro de Zacarias nos ajuda a entender porque fazemos uso não
somente da cruz, mas do Cristo crucificado: “Derramarei sobre a casa de Davi e
sobre habitante de Jerusalém um espírito de graça e de súplica, e eles olharão
para mim a respeito daquele que eles transpassaram... Naquele dia, haverá para
a casa de Davi e para os habitantes de Jerusalém uma fonte aberta, para lavar o
pecado e a mancha” (Zc 12,10; 13,1).
“Eles
olharão para mim a respeito daquele que eles transpassaram (na cruz)”. A imagem
do Cristo crucificado deve nos remeter ao Pai; deve nos fazer enxergar esta
verdade: “Deus amou tanto o mundo que deu o seu Filho único” (Jo 3,16); deu, no
sentido de entregar, de permitir que Ele fosse entregue às mãos de homens que o
crucificaram. Na cruz não está a imagem de um Deus morto, mas a imagem de um
Deus que nos ama a ponto de “perder” seu Filho único para recuperar a cada um
de nós, seus filhos adotivos. Na cruz está o valor de cada ser humano para
Deus: “(...) não foi com coisas perecíveis, isto é, com prata ou com ouro, que
fostes resgatados... mas por sangue precioso...” (1Pd 1,18-19). Portanto, se
você tem dúvida se vale alguma coisa, se sua existência é considerada por Deus,
olhe para o Cristo na cruz... Se você não se sente amado(a) por ninguém, nem
mesmo por Deus, olhe o Cristo na cruz e declare como o apóstolo Paulo: “Minha
vida neste mundo eu a vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou (numa
cruz) por mim” (Gl 2,20).
Enquanto
alguns sentem repulsa da imagem do Cristo crucificado, outros reduzem o
significado do crucifixo a um enfeite, a uma joia ou até mesmo a um amuleto.
Jesus comparou a sua imagem na cruz com a imagem da serpente de bronze que Moisés
levantou no deserto: “Quando alguém era mordido por uma serpente e olhava para
a serpente de bronze, ficava curado” (Nm 21,9). Quando olhamos para o Cristo
ferido na cruz, para Aquele que se esvaziou de si mesmo, se humilhou e se fez
obediente ao Pai até a morte de cruz (cf. Fl 2,7-8), nós podemos ser curados do
veneno do orgulho, da arrogância, da autossuficiência. As feridas d’Aquele que
nos amou até o fim (cf. Jo 13,1) nos curam da ferida que se abre em nós e na
humanidade quando nos negamos a amar, porque amar dói e exige compromisso,
presença, fidelidade até o fim.
A
imagem de Cristo na cruz nos ensina a lidar com a nossa própria cruz e também a
dar um sentido para ela. Quando estava chegando a hora de ir para a cruz, Jesus
disse: “Minha alma está agora conturbada. Que direi? Pai, salva-me desta hora?
Mas foi precisamente para esta hora que eu vim” (Jo 12,27). Jesus sentiu, em
relação à cruz, a mesma repulsa que qualquer ser humano sente. Mas ele submeteu
sua repulsa humana à consciência de que cabia a Ele enfrentar aquele momento, e
não fugir dele: “Foi precisamente para esta hora que eu vim”... Quando você
está “entre a cruz e a espada”, quando está diante de um grande sofrimento por
causa da sua fidelidade a Deus, perceba se você costuma fugir desta hora ou se tem
a firmeza de caráter de assumir a sua cruz e de dizer como Jesus: “Foi
precisamente para esta hora que eu vim”, isto é, cabe a mim enfrentar isso e não
a outra pessoa...
Uma
última palavra: quando você se deparar com a imagem do Cristo crucificado,
lembre-se de que Ele também espera que você não desvie o olhar dos crucificados
do mundo de hoje, junto aos quais você precisa estar como um verdadeiro discípulo
d’Aquele que te deu o exemplo de como lidar com a sua própria cruz e onde
estar, quando seus irmãos estão fazendo a sua experiência de cruz...
Pe. Paulo Cezar Mazzi
Pe. Paulo Cezar Mazzi
Sugestão
de música para a sua oração:
Eu entregarei (Dago Soares)
Eu
clamarei o poderoso sangue do Senhor sobre mim, e as cadeias que me cercam irão
cair, e meu louvor cantarei! Eu lutarei, com a unção que o Senhor deu para mim.
Nem as remotas situações vão resistir, não vão resistir.
Eu entregarei as
dores que guardei aos pés da Tua cruz, e confiarei. Já não há o que temer! Por
tuas chagas posso crer na vitória!
Eu
clamarei...
Uma mesa farta o Senhor preparou, diante dos
meus inimigos. Minha taça o Senhor transbordou, eu posso crer, eu posso ver!
Só através da Cruz se aprende a amar. A Cruz foi a última morada do Cristo terreno. Era instrumento de dor, mas se tornou o trono da glória, Representava o sofrimento e a morte e passou a ser símbolo da salvação e da ressurreição , De instrumento temido, passou a ser venerado . Acolheu Cristo nos últimos momentos de sua condição humana. Abraçou e viveu a dor com Ele , mas tb compartilhou junto Dele a vitória a superação do egoísmo e do pecado humano. Compartilhou de sua libertação e foi palco da remissão dos pedados do mundo. Colocamo-nos de joelhos diante desse tesouro inestimável com Maria e suplicamos de entender como Ela compreendeu, o mistério que transforma nossos corações.
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