sexta-feira, 15 de agosto de 2014

DEFENDER-SE DO DRAGÃO COM O ESCUDO DA FÉ

Missa da Assunção de Nossa Senhora. Palavra de Deus: Apocalipse 11,19a.; 12,1.3-6a.10ab.; 1Coríntios 15,20-27a; Lucas 1,39-56.

          A vida é feita de lutas, de batalhas. Batalha-se para conquistar a pessoa amada, para fazer um curso superior, para conseguir um lugar no mercado de trabalho. Batalha-se pela família, pela manutenção do vínculo conjugal, pela educação dos filhos. Batalha-se pela própria santificação, pela superação de um vício, pelo rompimento com uma situação de pecado. Batalha-se contra uma doença, mas também batalha-se pela expansão do tráfico de drogas, pela expansão do próprio poder sobre os outros, pela destruição daqueles que são considerados inimigos. Batalha-se, sobretudo, pelo dinheiro e pelo poder. As batalhas são inúmeras: algumas justas, dignas, plenas de sentido; outras injustas, desumanas, sem nenhum sentido.
            João também nos fala de uma batalha que começa no céu e depois passa para a terra: a batalha entre uma mulher e um dragão. A mulher é a Igreja, o Povo de Deus; o dragão é o diabo (cf. Ap 12,9). Enquanto a mulher é apresentada “revestida de sol”, símbolo da luz divina (cf. 1Jo 1,5; Sl 104,2; Is 60,20), o dragão é descrito como “cor de fogo”, símbolo da morte (“assassino desde o princípio” – Jo 8,44). O objetivo do dragão é devorar o filho que a mulher vai dar à luz (cf. Ap 12,4).
            O que pode uma mulher contra um dragão? O que podem as nossas famílias contra as drogas e a violência? O que pode uma pessoa contra uma doença grave? O que pode um povo contra uma guerra motivada por interesses econômicos ou pelo fanatismo religioso? O que podem os recursos naturais contra a nossa cultura do desperdício? O que pode a consolidação da identidade sexual de uma criança, que se dá de 0 a 3 anos de idade, contra a cultura gay? O que pode o ideal de amar até o fim contra a cultura do descartável?
            O constante aumento do mal no mundo não é sinal de que nós nada podemos contra o dragão, mesmo porque a mensagem de Ap 12 é uma só: o dragão é um eterno derrotado – derrotado por Jesus (vs.4-6), pelo arcanjo Miguel (vs.7-8), pelos que creem em Jesus (v.11) e pela própria terra (v.16). Seu único poder consiste em derrubar “a terça parte das estrelas do céu”, ou seja, derrubar os cristãos menos firmes, seduzir e arrastar atrás de si algumas pessoas, sobretudo por meio da tentação do dinheiro e do poder. Portanto, o alastramento do mal no mundo nada mais é do que os gritos de desespero de um dragão que sabe que está próximo da sua derrota definitiva.
            Na sua primeira carta, o apóstolo Pedro diz: “Eis que o vosso adversário, o diabo, vos rodeia como leão a rugir, procurando a quem devorar. Resisti-lhe, firmes na fé, sabendo que a mesma espécie de sofrimento atinge os vossos irmãos espalhados pelo mundo” (1Pd 5,8-9). A fé é a nossa resistência, o nosso escudo, a nossa arma para não sermos devorados pelo dragão. Por isso, Isabel disse a Maria: “Feliz aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu” (Lc 1,45). A fé nos faz experimentar o poder de Deus em nós e nas nossas famílias. Se Maria disse: “O Todo-Poderoso fez grandes coisas em meu favor” (Lc 1,49) é porque antes havia dito: “Eu sou a serva do Senhor; faça-se em mim segundo tua palavra” (Lc 1,38). É pela nossa fé e nossa obediência à Palavra do Senhor que permitimos que Deus faça grandes coisas em nosso favor e em favor da nossa família.
Ao celebrarmos a Assunção, a elevação de Maria em corpo e alma ao céu, estamos reafirmando a nossa fé nesta promessa bíblica: se é verdade que “todos morrem”, também é verdade que “em Cristo todos reviverão”. Ele vai destruir todo poder do mal e colocar todos os seus inimigos debaixo de seus pés. “O último inimigo a ser destruído é a morte”, subentendendo-se também o dragão, seu autor (cf. 1Cor 15,22.24-26). Se agora estamos associados ao combate de Jesus contra o maligno, é para que depois estejamos associados à sua ressurreição quando, como aconteceu com Maria, formos elevados ao céu, meta final da nossa redenção, da nossa glorificação com Cristo.
           
P.S. Reflexão alternativa:

“Não sou escravo de ninguém. Ninguém senhor do meu domínio. Sei o que devo defender... Quase acreditei na sua promessa, e o que vejo é fome e destruição! Perdi a minha sela e a minha espada. Perdi o meu castelo e minha princesa... Existem os tolos e existe o ladrão. E há quem se alimente do que é roubo, mas vou guardar o meu tesouro, caso você esteja mentindo... Olha o sopro do dragão!... Esta é a terra-de-ninguém. Sei que devo resistir. Eu quero a espada em minhas mãos!... Não me entrego sem lutar. Tenho ainda coração; não aprendi a me render: que caia o inimigo então!... Tudo passa, tudo passará... E nossa história não estará pelo avesso assim, sem final feliz. Teremos coisas bonitas pra contar! E até lá, vamos viver. Temos muito ainda por fazer! Não olhe pra trás. Apenas começamos. O mundo começa agora. Apenas começamos...”

 (Legião Urbana, Metal contra as nuvens)

Pe. Paulo Cezar Mazzi

2 comentários:

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  2. Que belíssimo Blog! Caríssimo Pe. Paulo, acredito que o sr deveria escrever um livro com suas homilias para ficarem registradas...

    Deus continue te abençoando...
    Um fraterno abraço

    Paulo André

    *Obs: na missa deste domingo usamos a música "O Cantico de Maria" do ministério Adoração e Vida, ficou mto bom tbm...

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