Missa
do 21º. dom. comum. Palavra de Deus: Isaías 22,19-23; Romanos 11,33-36; Mateus
16,13-20.
Na vida, nós precisamos de chaves;
precisamos de uma chave para abrir, para ter acesso a algum lugar ou ao coração
de alguém. Mas na vida nós também precisamos de uma chave para fechar, para nos
proteger de alguém ou de algum perigo externo... Uma chave serve tanto para
abrir quanto para fechar, tanto para nos ligar quanto para nos desligar de
alguém ou de alguma situação. Na verdade, a chave não é somente um objeto. Ela
pode ser uma palavra, um gesto ou uma atitude que tanto pode nos abrir quanto nos
fechar em relação a alguém, tanto pode nos aproximar quanto nos manter
afastados de uma pessoa.
Jesus
disse a Pedro: “Eu te darei as chaves do reino dos céus: tudo o que tu ligares
na terra, será ligado nos céus; tudo o que tu desligares na terra, será
desligado no céu” (Mt 16,19). Jesus também nos dá uma chave que se chama
consciência, ou liberdade de escolha. Assim, a imagem das chaves se torna um
questionamento para cada um de nós: Para o quê eu preciso me abrir? Para o quê eu
preciso me fechar? Aquilo ao qual eu me ligo ou me conecto na terra está de
fato me ligando ou me conectando ao céu? Em Apocalipse 3,20 Jesus diz: “Eis que estou à
porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa
e cearei com ele, e ele comigo”. Estamos ouvindo a voz de Jesus em nossa
consciência? Estamos abrindo a porta e permitindo que Ele entre em nossa casa,
em cada cômodo, em cada área da nossa vida?
As chaves também simbolizam
respostas. Encontrar uma chave é encontrar uma resposta. Para muitas pessoas,
Jesus é a resposta para todos os seus problemas, mas no Evangelho de hoje Ele
se coloca como uma pergunta, primeiro no sentido impessoal – “Quem dizem os
homens ser o Filho do homem?” (Mt 16,13), depois no sentido pessoal – “E vós,
quem dizeis que eu sou?” (Mt 16,15). O grande problema desta pergunta é que ela
se desdobra numa outra: “Quais são as expectativas das pessoas em relação a
mim? Qual é a sua expectativa em relação a mim? O que você espera de mim?”
Muitos esperam que Jesus seja uma
chave que lhes abra todas as portas. De fato, citando novamente o Apocalipse,
Jesus diz: “Eis que pus à tua frente uma porta aberta que ninguém poderá
fechar, pois tens pouca força, mas guardaste a minha palavra e não renegaste o
meu nome” (Ap 3,8). Jesus pode, sim, abrir muitas portas para nós, mas tais
portas são abertas na medida em que decidimos viver segundo a Sua palavra e não
renegar a nossa fé. Além disso, a porta principal que precisamos que seja
aberta não é a porta da prosperidade, nem a do sucesso, nem a da vitória, mas a
porta da verdade que nos liberta (cf. Jo 8,32).
A
pergunta sobre quem é Jesus para nós, isto é, sobre o que esperamos d’Ele,
volta sempre, em cada fase da nossa vida, mas principalmente em cada
experiência de dor, de sofrimento, de medo, de insegurança, de ameaça, de
angústia, de solidão... Esta pergunta certamente surgiu em Paulo, quando se
encontrava prisioneiro e sofrendo por causa do Evangelho, e ele, então,
respondeu: “Eu sei em quem depositei a minha fé” (2Tm 1,12). Pedro também sabia
em quem havia depositado a sua fé: em Jesus, “o Cristo, o Filho do Deus vivo”
(Mt 16,16). Esta fé de Pedro foi comparada por Jesus à firmeza de uma rocha.
Isso significa que a rocha não é a nossa pessoa, mas a nossa fé, a mesma fé que
nos reúne hoje aqui para que “na instabilidade deste mundo, fixemos o nosso
coração onde se encontram as verdadeiras alegrias” (Oração do dia), a mesma fé
que temos no Senhor que diz: “Hei de fixá-lo como estaca em lugar seguro” (Is
22,23). É a este Senhor que gritamos na oração e que aumenta no vigor da nossa
alma (cf. Sl 138,3). A Ele suplicamos como o salmista: “Eu vos peço: não
deixeis inacabada esta obra que fizeram vossas mãos” (Sl 138,8).
A
mesma responsabilidade de ligar e de desligar que Jesus confiou a Pedro também
confiou a cada membro da Igreja (cf. Mt 18,18). Portanto, examinemos a nossa
conduta cristã, para não sermos merecedores dessas palavras: “Ai de vós,
escribas e fariseus, hipócritas, porque bloqueais o Reino dos Céus diante dos
homens! Pois vós mesmos não entrais, nem deixais entrar os que querem!” (Mt
23,13). Por fim, lembremos que ser rocha não significa somente estar esclarecido
e convencido da sua fé, mas também trabalhar para confirmar os irmãos na fé
(cf. Lc 22,32). Que o nosso serviço em favor da Igreja ajude com que nossa
comunidade se torne um “lugar seguro”, um lugar onde as pessoas possam passar
de uma fé superficial para um relacionamento profundo com Deus, cuja Presença é
como a Rocha: só pode ser sentida na profundidade da fé, compreendendo que só quando
nos atrevemos a nos apoiar em Deus é que experimentamos que somos
verdadeiramente amparados e sustentados por Ele.
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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