sexta-feira, 22 de agosto de 2014

AS CHAVES, AS PORTAS E A ROCHA

Missa do 21º. dom. comum. Palavra de Deus: Isaías 22,19-23; Romanos 11,33-36; Mateus 16,13-20.

            Na vida, nós precisamos de chaves; precisamos de uma chave para abrir, para ter acesso a algum lugar ou ao coração de alguém. Mas na vida nós também precisamos de uma chave para fechar, para nos proteger de alguém ou de algum perigo externo... Uma chave serve tanto para abrir quanto para fechar, tanto para nos ligar quanto para nos desligar de alguém ou de alguma situação. Na verdade, a chave não é somente um objeto. Ela pode ser uma palavra, um gesto ou uma atitude que tanto pode nos abrir quanto nos fechar em relação a alguém, tanto pode nos aproximar quanto nos manter afastados de uma pessoa.  
            Jesus disse a Pedro: “Eu te darei as chaves do reino dos céus: tudo o que tu ligares na terra, será ligado nos céus; tudo o que tu desligares na terra, será desligado no céu” (Mt 16,19). Jesus também nos dá uma chave que se chama consciência, ou liberdade de escolha. Assim, a imagem das chaves se torna um questionamento para cada um de nós: Para o quê eu preciso me abrir? Para o quê eu preciso me fechar? Aquilo ao qual eu me ligo ou me conecto na terra está de fato me ligando ou me conectando ao céu?  Em Apocalipse 3,20 Jesus diz: “Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele comigo”. Estamos ouvindo a voz de Jesus em nossa consciência? Estamos abrindo a porta e permitindo que Ele entre em nossa casa, em cada cômodo, em cada área da nossa vida?
            As chaves também simbolizam respostas. Encontrar uma chave é encontrar uma resposta. Para muitas pessoas, Jesus é a resposta para todos os seus problemas, mas no Evangelho de hoje Ele se coloca como uma pergunta, primeiro no sentido impessoal – “Quem dizem os homens ser o Filho do homem?” (Mt 16,13), depois no sentido pessoal – “E vós, quem dizeis que eu sou?” (Mt 16,15). O grande problema desta pergunta é que ela se desdobra numa outra: “Quais são as expectativas das pessoas em relação a mim? Qual é a sua expectativa em relação a mim? O que você espera de mim?”
            Muitos esperam que Jesus seja uma chave que lhes abra todas as portas. De fato, citando novamente o Apocalipse, Jesus diz: “Eis que pus à tua frente uma porta aberta que ninguém poderá fechar, pois tens pouca força, mas guardaste a minha palavra e não renegaste o meu nome” (Ap 3,8). Jesus pode, sim, abrir muitas portas para nós, mas tais portas são abertas na medida em que decidimos viver segundo a Sua palavra e não renegar a nossa fé. Além disso, a porta principal que precisamos que seja aberta não é a porta da prosperidade, nem a do sucesso, nem a da vitória, mas a porta da verdade que nos liberta (cf. Jo 8,32). 
              A pergunta sobre quem é Jesus para nós, isto é, sobre o que esperamos d’Ele, volta sempre, em cada fase da nossa vida, mas principalmente em cada experiência de dor, de sofrimento, de medo, de insegurança, de ameaça, de angústia, de solidão... Esta pergunta certamente surgiu em Paulo, quando se encontrava prisioneiro e sofrendo por causa do Evangelho, e ele, então, respondeu: “Eu sei em quem depositei a minha fé” (2Tm 1,12). Pedro também sabia em quem havia depositado a sua fé: em Jesus, “o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16,16). Esta fé de Pedro foi comparada por Jesus à firmeza de uma rocha. Isso significa que a rocha não é a nossa pessoa, mas a nossa fé, a mesma fé que nos reúne hoje aqui para que “na instabilidade deste mundo, fixemos o nosso coração onde se encontram as verdadeiras alegrias” (Oração do dia), a mesma fé que temos no Senhor que diz: “Hei de fixá-lo como estaca em lugar seguro” (Is 22,23). É a este Senhor que gritamos na oração e que aumenta no vigor da nossa alma (cf. Sl 138,3). A Ele suplicamos como o salmista: “Eu vos peço: não deixeis inacabada esta obra que fizeram vossas mãos” (Sl 138,8).
                 A mesma responsabilidade de ligar e de desligar que Jesus confiou a Pedro também confiou a cada membro da Igreja (cf. Mt 18,18). Portanto, examinemos a nossa conduta cristã, para não sermos merecedores dessas palavras: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque bloqueais o Reino dos Céus diante dos homens! Pois vós mesmos não entrais, nem deixais entrar os que querem!” (Mt 23,13). Por fim, lembremos que ser rocha não significa somente estar esclarecido e convencido da sua fé, mas também trabalhar para confirmar os irmãos na fé (cf. Lc 22,32). Que o nosso serviço em favor da Igreja ajude com que nossa comunidade se torne um “lugar seguro”, um lugar onde as pessoas possam passar de uma fé superficial para um relacionamento profundo com Deus, cuja Presença é como a Rocha: só pode ser sentida na profundidade da fé, compreendendo que só quando nos atrevemos a nos apoiar em Deus é que experimentamos que somos verdadeiramente amparados e sustentados por Ele.  

                                                                                                                                                                                   Pe. Paulo Cezar Mazzi

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