quinta-feira, 8 de maio de 2014

POR QUAL PORTA ENTRAR?

Missa do 4º. Dom. da Páscoa. Palavra de Deus: Atos 2,14a.36-41; 1Pd 2,20b-25; Jo 10,1-10.

            “Eu sou a porta das ovelhas”, disse Jesus (cf. Jo 10,7). “Eu sou a porta. Quem entrar por mim será salvo; entrará, sairá e encontrará pastagem” (Jo 10,9).
            Qual o significado da porta? Para quem está com medo, ou se sente ameaçado, a porta é segurança, proteção. Para quem se sente preso, sufocado, a porta é alívio, liberdade. Existem portas que se fecham, mas que precisariam estar abertas: a porta que dá acesso ao mercado de trabalho, à saúde e à educação, mas também a porta que dá acesso ao diálogo, ao perdão e à reconciliação. Por outro lado, existem portas abertas, escancaradas, que deveriam ser fechadas: a porta de acesso às drogas, à exploração sexual e à prostituição, a porta de entrada na corrupção...
            No mundo em que vivemos, são inúmeras as portas que se apresentam à nossa frente e nos convidam a entrar. Qual delas abrir? Depende do que você está procurando. Depende do que você quer para a sua vida. Assim como é verdade que “para quem não sabe para onde vai, qualquer caminho serve” (Alice no País das Maravilhas), assim também para quem não sabe que rumo dar à sua vida, qualquer porta serve.
            Muitos entraram em portas erradas e estão se corrompendo, se destruindo, adoecendo. Muitos, ao invés de abrirem a porta da sua vida para Jesus, o verdadeiro Pastor, abriram-na para algum ladrão ou algum assaltante, para alguma situação que, ao invés de restaurar as suas forças, está sugando e exaurindo sua energia física, psicológica e espiritual. Mas Jesus afirmou que Ele “chama as ovelhas pelo nome e as conduz para fora” (Jo 10,3). Seja qual foi a porta errada pela qual você entrou, você pode ser conduzido(a) para fora dessa porta, pode encontrar a saída, pode ser liberto(a) das mãos desse ladrão ou assaltante. Para isso, é necessário deixar-se conduzir pelo verdadeiro Pastor, que é Jesus.
            “O Senhor é o pastor que me conduz” (Sl 23,1). Na verdade, o Senhor conduz quem se deixa conduzir por Ele, quem escuta sua voz – sua Palavra – e a obedece, orientando por ela a sua vida e a sua liberdade. Ele “restaura as minhas forças” (Sl 23,3), na medida em que eu paro as minhas atividades para ficar na presença d’Ele, em oração. Sem esses momentos de oração, eu sigo pela vida apenas esgotando as minhas forças. “Mesmo que eu passe pelo vale tenebroso, nenhum mal eu temerei” (Sl 23,4). No caminho da vida, não há ninguém que seja poupado de sofrimentos e de dificuldades: de vez em quando, todos nós temos que atravessar o vale tenebroso do medo, do perigo, da crise de fé, da doença, da perda de alguém, do fracasso etc., mas podemos enfrentar esses momentos na certeza de que o nosso Pastor está conosco: Ele caminha à nossa frente e nos ensina como atravessar o vale tenebroso sem sermos derrotados por ele.                
            Além de se definir como “a porta das ovelhas” (Jo 10,7), Jesus também afirmou que “quem não entra pela porta, mas sobre por outro lado, é ladrão e assaltante” (Jo 10,1). Por que temos a tentação de não entrar pela porta, mas “subir por outro lado”? Porque a porta é estreita (cf. Mt 7,13-14). Entrar por ela exige da nossa parte esforço e perseverança, e a nossa geração quer tudo na mão, quer que tudo caia pronto do céu, sem que tenhamos que lutar, nos esforçar e nos sacrificar para conseguir algo. Desse modo, adotamos o “jeitinho brasileiro”; subimos por outro lado – o mais fácil, o mais imediato – e nos tornamos ladrões e assaltantes, isto é, pessoas que crescem ou sobem na vida usando meios desonestos e corruptos, nos esquecendo de que tudo aquilo que “conquistamos” dessa forma, perderemos da mesma forma. É a lei da vida: nós colhemos o que plantamos.    
            O nosso Pastor foi ferido de morte na cruz, mas ressuscitou. “Por suas feridas fostes curados” (1Pd 2,24). Às Suas mãos confiamos as feridas das nossas famílias, sobretudo as feridas de todas as mães que, para defenderem suas famílias dos ladrões e assaltantes deste mundo, têm se machucado constantemente. Àquele que é o “pastor e guarda” de nossas vidas (cf. 1Pd 2,25), confiamos todas as ovelhas desgarradas, as pessoas que se afastaram das nossas comunidades, filhos, pais ou mães que abandonaram suas casas e decidiram morar na rua, e hoje estão sendo devorados pelo crack.                 Jesus disse: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). Peçamos a Sua intercessão junto ao Pai por todas as mães; por todas as famílias; por todos os dependentes químicos; por todos os desempregados; por todos os doentes; por todos os que, por causa da fome ou da guerra, imigram para outros países; por todos os líderes – políticos, religiosos e no campo do trabalho – para que se espelhem em Jesus na forma de tratarem as pessoas e lidarem com os bens materiais; sobretudo, rezemos pelas vocações, para que não faltem ao imenso rebanho de Deus pastores que o conduzam segundo o coração de Jesus, e que cada cristão abrace a sua vocação de conduzir para a porta que é Jesus cada pessoa com quem convive no seu dia a dia. 
                                                                   
                                                                      Pe. Paulo Cezar Mazzi

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