Missa
do 2º. dom. da quaresma. Palavra de Deus: Gênesis 12,1-4a; 2Timóteo 1,8b-10;
Mateus 17,1-9.
Você convive com diversas pessoas, e
também se relaciona com um número muito maior delas pela internet. Entre essas
pessoas que fazem parte da sua convivência ou dos seus contatos pela internet,
quais delas colaboram com a sua transfiguração? Quais colaboram com a sua
desfiguração? Diariamente você vê imagens, lê notícias, ouve músicas, entra em
contato com novos pensamentos e novas ideias. De tudo isso que você recebe, o
quê te transfigura? O quê te desfigura?
Sim, você pode perguntar: como posso
saber quando alguma coisa ou alguém me transfigura ou me desfigura? Tudo aquilo
que afasta você da sua verdade e da luz que é Deus, te desfigura; tudo aquilo
que aproxima você da sua verdade e da luz que é Deus, te transfigura.
Em todo segundo domingo da Quaresma,
o Evangelho nos coloca diante da transfiguração de Jesus, porque ela é uma
antecipação da Páscoa, razão de ser da nossa caminhada quaresmal. A
transfiguração de Jesus é uma antecipação e uma garantia da nossa ressurreição.
Enquanto caminhamos neste mundo, nos deparamos com a cruz, seja a nossa, seja a
dos outros, e a cruz, por um momento, joga uma sombra escura sobre a nossa
vida, como que nos desfigurando. No entanto, a transfiguração de Jesus purifica
o nosso olhar e nos ajuda a enxergar a glória de Deus, a luz da Sua presença, a
verdade do Seu amor junto a nós, junto a toda pessoa que faz sua experiência de
cruz.
A leitura do Gênesis, narrando a vocação
de Abrão, nos revela como a transfiguração começa a se dar em nós: nós temos
que sair! Deus disse a Abrão: “Sai da tua terra... e vai para a terra que eu
vou te mostrar” (Gn 12,1). A vida de Abrão estava parada, interrompida,
envelhecida: ele iria morrer sem terra e sem filhos. A vida de Abrão estava
desfigurada, mas Deus lhe lançou um desafio: ‘Sai! Rompe com as tuas velhas
seguranças, confie em mim; Eu vou te indicar o caminho; Eu vou ampliar o horizonte
da tua existência; Eu vou fazer de você um grande povo e uma grande bênção para
a humanidade!’ (citação livre de Gn 12,2-3).
Abrão, não tendo nenhuma garantia da parte
de Deus de que cumpriria Suas promessas, confiou, teve fé, obedeceu e “partiu,
como o Senhor lhe havia dito” (Gn 12,4a). Aqui não só a vida de Abrão, mas a
própria história da humanidade começou a se transfigurar, porque aqui começou a
história da salvação. Portanto, a transfiguração começa na sua vida quando você
confia na Palavra do Senhor, que lhe convida a sair, a partir, a sofrer “por
causa do evangelho, fortificado pelo poder de Deus” (2Tm 1,8b), este Evangelho
por meio do qual Jesus Cristo faz “brilhar a vida e a imortalidade” (2Tm 1,10)
para todo aquele que nele crê.
“Sai da tua terra...” (Gn 12,1). Uma das
insistências do Papa Francisco em relação a nós, que somos Igreja, é sair: “sair
em direção aos outros para chegar às periferias humanas... Saiamos, saiamos
para oferecer aos outros a vida de Jesus Cristo!... Prefiro uma Igreja
acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja
enferma pelo fechamento e pela comodidade de se agarrar às próprias seguranças”
(EG 46 e 49). Para que a Igreja possa oferecer aos outros a vida de Jesus Cristo,
ela precisa de você, precisa que você abrace a sua vocação, a exemplo do que
Abrão fez.
Já que mencionamos o Papa Francisco, que
no dia 13 último completou seu primeiro ano de pontificado, é inegável que suas
palavras e suas atitudes têm transfigurado o rosto da nossa Igreja. Contudo, alguém
disse que enquanto nós apenas admirarmos o Papa Francisco, a nossa Igreja não
vai mudar. Mas, a partir do momento em que nós fizermos o que o Papa Francisco
tem nos ensinado, aí então a nossa Igreja mudará.
A transfiguração de Jesus também nos faz
entender que as nossas palavras e nossas atitudes podem transfigurar ou desfigurar
as pessoas com as quais convivemos e o meio no qual nos encontramos. Há muita
gente perto de nós desfigurada por doenças, conflitos, dificuldades; desfiguradas
pelos vícios, pela violência, pela tristeza, pela falta de fé ou pela
solidão... Assim como uma nuvem luminosa
envolveu os discípulos e, do meio da nuvem, a voz do Pai disse: “Este é o meu
Filho amado... Escutai-o!” (Mt 17,5), assim nossa presença pode fazer com que
essas pessoas sintam Deus perto delas e entrem em contato com a palavra de
Jesus, Aquele que é a garantia da nossa futura e definitiva transfiguração.
Nesta segunda semana da Quaresma,
assumamos uma atitude concreta de nos fazer presente junto a alguém que se
encontra desfigurado, e levemos a essa pessoa a luz da transfiguração de nosso
Senhor Jesus. Se de fato for impossível estar junto dessa pessoa, tenhamos
momentos profundos de oração por ela...
P.S. Se você deseja tomar uma atitude
concreta de transfiguração, a Cáritas Brasileira, órgão da nossa Igreja, está
socorrendo as vítimas da guerra civil na Síria. Segundo a Cáritas, “mais de 320
mil pessoas já foram atendidas, com alimentos, água, serviços de saúde, roupas
e abrigos. No entanto, mais de 9 milhões de pessoas precisam urgentemente de
nossa caridade”. No site da Cáritas,
você encontra orientações de como ajudar: www.caritas.org.br
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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