quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

POR ONDE COMEÇAR?

Missa do 3º. dom. comum. Palavra de Deus: Isaías 8,23b–9,3; 1Coríntios 1,10-13.17; Mateus 4,12-23.

            Estamos no começo de um novo ano, e o Evangelho de hoje nos convida a não simplesmente retomar o que vínhamos fazendo, mergulhando de novo no mar da rotina do nosso cotidiano, vivendo como sempre vivemos. É necessário nos fazer algumas perguntas: Por onde começar? Por onde eu devo começar a viver a minha vida afetiva, profissional, social, espiritual neste ano?
      Jesus escolheu começar o anúncio do Evangelho não em Jerusalém, capital de Israel, mas na periferia, chamada “Galileia dos pagãos” (Mt 4,15), uma região habitada por pessoas consideradas ignorantes, perdidas, sem conhecimento da Lei de Deus, um lugar insignificante, aparentemente sem importância política, nem religiosa. Se você acha que deve começar a sua vida neste ano de olho naquilo que você colocou – ou permitiu que o mundo colocasse – como centro da sua vida, o Evangelho convida você a dirigir o seu olhar para a sua própria periferia, para aquela área da sua vida considerada por você mesmo(a) como insignificante, sem importância. É justamente dessa área que virá a mudança que você quer para a sua vida.
As primeiras palavras de Jesus para nós, neste ano, são essas: “Convertam-se, porque o reino dos céus está próximo” (Mt 4,17). Converter-se, mudar a maneira de enxergar e de pensar a realidade à nossa volta; voltar-se para a luz; abrir os olhos, os ouvidos e o coração para a verdade do Evangelho; acolher o dom da salvação de Deus em seu Filho Jesus. A conversão é necessária para que não permitamos que o mundo no dê a sua forma – ou seja, nos deforme –, mas para que nós possamos perceber, em meio a tudo aquilo que o mundo nos oferece, qual é a vontade de Deus, isto é, o que ajuda o reino dos céus a acontecer aqui na terra (cf. Rm 12,1-2).
No começo deste ano, Jesus passa por nós, nos vê a partir da nossa realidade, e nos chama de dentro da rotina do nosso dia a dia, em meio aos nossos afazeres: “Sigam-me”. Justamente porque o seguimento de Jesus é marcado também pelo cansaço, por momentos de retrocesso e de infidelidade, precisamos a cada dia atualizar a nossa resposta ao Seu chamado. Nossa Diocese está vivendo seu Ano Vocacional. Dentro da sua vocação específica, cada um de nós é convidado a “sair da própria comodidade e ter a coragem de alcançar as periferias que precisam da luz do Evangelho”, nos lembra o Papa Francisco na sua Exortação Apostólica “A Alegria do Evangelho” (EG 20). Nosso Papa quer “que (a Igreja) esteja realmente em contato com as famílias e a vida do povo, e não se torne uma estrutura complicada, separada das pessoas” (EG 28). É por meio de cada um de nós que a Igreja pode e deve “estar sempre onde fazem mais falta a luz e a vida do Ressuscitado” (EG 30).
         Portanto, hoje é a nós que Jesus dirige essas palavras: “Sigam-me, e eu farei de vocês pescadores de homens” (Mt 4,19). “Pescar” uma pessoa significa fazê-la viver; significa também fazer emergir de dentro dela aquilo que ela tem de melhor. Hoje, cada vez mais, vivemos “em rede”, conectados. Precisamos estar nas redes sociais como cristãos, como verdadeiros discípulos de Jesus Cristo, usando dessas redes para anunciar aos outros a alegria do Evangelho, que sempre se torna “a força de Deus para a salvação de aquele que crê” (Rm 1,16).   
          Antes de lançarmos as redes, contudo, o apóstolo Paulo nos convida a tomar consciência de que redes rompidas não servem para pescar. Portanto, devemos superar as divisões que existem entre nós. “Será que Cristo está dividido?” (1Cor 1,13), pergunta o apóstolo. O centro da nossa fé deve ser o Evangelho, e não a pessoa do pregador do Evangelho. O centro da nossa vida deve ser Cristo, e não a pessoa que nos anuncia Cristo. Por outro lado, quando Paulo afirma que Cristo não está dividido, está nos lembrando de que devemos acolher Cristo por inteiro e também anunciá-Lo por inteiro, e não apenas a parte soft, light, d’Ele. É por isso que, ao vivermos como portadores da mensagem do Evangelho aos outros, devemos confiar muito mais na força própria da cruz de Cristo do que na sabedoria das nossas palavras. A cruz de Cristo tem sua força própria! Isso significa que “não poderemos jamais tornar os ensinamentos da Igreja uma realidade facilmente compreensível e felizmente apreciada por todos; a fé conserva sempre um aspecto de cruz”, nos lembra o Papa Francisco (EG 42). Comecemos este novo ano confiando na força própria da cruz de Cristo e nos deixemos iluminar pela verdade do seu Evangelho!

                                                                                                                              Pe. Paulo Cezar Mazzi

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