quinta-feira, 5 de setembro de 2013

CRISTO POR INTEIRO, NÃO AOS PEDAÇOS

Missa do 23º. dom. comum. Palavra de Deus: Sabedoria 9,13-18; Filêmon 9b-10.12-17; Lucas 14,25-33

            “Este homem começou a construir e não capaz de acabar!” (Lc 14,30). Qual é a construção mais importante a se fazer na vida? A construção de uma casa? De uma profissão? De um relacionamento/casamento? De uma família? De um patrimônio?  A primeira construção a se fazer na vida é a construção de nós mesmos como pessoas. Ora, se temos que nos construir como pessoas, isso significa que não nascemos prontos. Ainda que tenhamos herdado algo dos nossos pais e do ambiente em que nascemos e crescemos, é tarefa nossa nos construir como pessoas, uma tarefa que não podemos transferir para os outros. Construir-se como pessoa é uma responsabilidade que a vida delega a cada um de nós.
            “Este homem começou a construir e não capaz de acabar!” (Lc 14,30). Jesus dirigiu essas palavras às grandes multidões que o seguiam (cf. Lc 14,25). Portanto, o que Jesus está nos dizendo é que muitos começaram a segui-lo com entusiasmo, mas não foram capazes de chegar até o fim. Abandonaram a fé pelo meio do caminho. Por qual motivo? Porque não calcularam “os gastos” dessa construção; porque esperavam que ela fosse menos custosa, que exigisse menos renúncia e sacrifício. Numa palavra, muitos iniciaram a construção de um relacionamento, de uma família, de uma profissão, de um trabalho voluntário, de uma espiritualidade, de sua própria santificação, mas não foram capazes de chegar até o fim porque não souberam lidar com a própria cruz.
   Às multidões que seguiam Jesus ontem, e a qualquer pessoa que se propõe a segui-lo hoje, Ele diz: “Se alguém vem a mim, mas não se desapega... até da sua própria vida, não pode ser meu discípulo. Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo... Qualquer um de vós, se não renunciar a tudo o que tem, não pode ser meu discípulo” (Lc 14,26-27.33). Quem quer construir um relacionamento, mas não se desapega do seu ego, colocando no centro do relacionamento o que convém a si e não o que convém ao relacionamento, não será capaz de permanecer nele.
  “Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo” (Lc 14,27). Muitos iniciaram um caminho de fé com Jesus, mas depois desistiram, porque não aceitaram caminhar atrás de Jesus; queriam caminhar na frente, escolhendo por si mesmos o melhor caminho, o mais tranquilo, o menos sofrido. É aquilo que diz o Pe. Zezinho: “Não querem Jesus, querem a parte suave de Jesus. Não querem o Cristo, querem a parte agradável do Cristo. Não querem a cruz, querem a parte menos dolorosa da cruz... Não querem a Bíblia, querem parte dela: a que prova que estão certos. Assim agem muitos cristãos. Assim talvez nós ajamos” (Cristo aos pedaços, parte da reflexão publicada na Revista Paróquias, julho/agosto de 2013, p.58)
  Jesus convida cada um de nós a fazer um caminho com ele, o caminho da construção da nossa fé, da nossa cura, da nossa libertação, da nossa salvação, da nossa transformação... Se o alicerce dessa construção for o nosso ego, ela está fadada ao fracasso, porque o nosso ego rejeita tudo aquilo que exige dele renúncia ou sacrifício. Porque Jesus foi bem sucedido na sua construção como pessoa? Porque o centro da vida de Jesus não foi o seu ego; o centro da vida de Jesus nunca esteve nele mesmo, mas na comunhão com a vontade do Pai. Portanto, desapegue-se! Desapegue-se até da sua própria vida! (cf. Lc 14,26). Desapegue-se de tudo o que afasta você da vontade de Deus. Aceite pagar o preço pela sua transformação!
  “Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo” (Lc 14,27). A cruz hoje está tatuada no corpo de muitas pessoas, inclusive de bandidos, assassinos e traficantes. A cruz hoje está pendurada no pescoço de algumas pessoas como uma “simples” jóia. Mas, qual a disposição que essas pessoas têm em carregar a própria cruz e caminhar atrás – atrás porque é Ele quem indica o caminho, e não nós – de Jesus? Carregar a cruz significa aceitar-se, acolher-se como se é, com suas fraquezas e contradições. Carregar a cruz significa assumir as consequências da nossa construção diária como pessoas. Carregar a cruz significa amar até o fim, ser fiel, sustentar até o fim a construção que iniciamos. Numa palavra, carregar a cruz e caminhar atrás de Jesus significa ir até o fim... “Não, não pares. É graça divina começar bem. Graça maior, persistir na caminhada certa, manter o ritmo... Mas graça das graças é não desistir. Podendo ou não podendo, caindo, embora, aos pedaços, chegar até o fim...” (Até o fim, poema de Dom Hélder Câmara).

              Pe. Paulo Cezar Mazzi

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