quinta-feira, 19 de setembro de 2013

FILHOS DESTE MUNDO OU FILHOS DA LUZ?

Missa do 25º. dom. comum. Palavra de Deus: Amós 8,4-7; 1Timóteo 2,1-8; Lucas 16,1-13.

Por se apegarem ao dinheiro e desprezarem a Deus, alguns donos de Bancos não apenas cobram juros abusivos dos seus clientes, como também pressionam seus funcionários a “atingirem metas” de vendas de produtos dos próprios Bancos, se quiserem manter seus cargos e empregos. O preço disso é que cada vez mais aumenta o número de bancários fazendo tratamento psiquiátrico.
Por se apegarem ao dinheiro e desprezarem a Deus, algumas redes de Supermercados decidem abrir aos domingos porque, como denunciou o profeta Amós (cf. Am 8,5), o dia do Senhor, dia de descanso, só serve de “estorvo” ao mercado, que “precisa” ganhar dinheiro também no domingo, e não somente de segunda a sábado. Por se apegarem ao dinheiro e desprezarem a Deus, empresas “põem à venda o refugo do trigo” (Am 8,7), isto é, transformam seus funcionários em “refugos humanos”, em pessoas que são privadas de seu sagrado descanso dominical, o único dia da semana em que poderiam estar com suas famílias, já que os demais dias da semana não permitem tal convívio.
Por nos apegarmos ao dinheiro e desprezarmos a Deus, quantos de nós nos tornamos indiferentes à “prostração dos pobres da terra” (Am 8,4), e nos habituamos a “diminuir medidas, aumentar pesos, adulterar balanças” (Am 8,5), ou seja, nos habituamos a nos corromper para ganhar algum dinheiro extra?
Recentemente, o Papa Francisco nos lembrou da inversão de valores em que vive o nosso mundo: “Quem manda hoje é o dinheiro... a feroz idolatria do dinheiro... Hoje em dia há crianças que morrem de fome, há enfermos que não têm acesso a tratamento, há homens e mulheres que são mendigos. Nada disso é notícia. Mas quando as bolsas de valores de algumas capitais caem 3 ou 4 pontos, isso é tratado como uma grande catástrofe mundial. Esse é o drama desse humanismo desumano que estamos vivendo” (Entrevista concedida a um repórter da Rede Globo).
Para resgatar os verdadeiros valores, o apóstolo Paulo nos convida a fazer “preces e orações, súplicas e ações de graças, por todos os homens; pelos que governam e por todos que ocupam altos cargos” (1Tm 2,1-2), sobretudo para que essas pessoas se coloquem sob a autoridade de Deus e não sob a autoridade do dinheiro, pois quem se coloca sob a autoridade do dinheiro se desumaniza. A verdade é que muitos daqueles que nos governam são “governados” por quem tem dinheiro e sustentou suas campanhas eleitorais. A verdade também é que aqueles que ocupam altos cargos ganham, obviamente, altos salários, e altos salários tornam a consciência indiferente às injustiças sociais. É por isso que essas pessoas precisam das nossas orações, para que a consciência de cada uma delas sirva a Deus e não ao dinheiro.
“Presta contas da tua administração” (Lc 16,2). O Evangelho nos recorda que, no momento do nosso encontro definitivo com Deus, deveremos prestar contas sobre a forma como conduzimos a nossa vida, e também sobre a forma como lidamos com o dinheiro. O administrador desonesto havia prejudicado muitas pessoas com os juros que cobrou em excesso, usando o dinheiro do seu patrão. Pensando na sua “salvação” (“para que alguém me receba em sua casa, quando eu for afastado da administração” Lc 16,4), chamou cada uma dessas pessoas e recalculou a dívida delas, colocando na conta o valor real. A questão central, portanto, é se cada um de nós está conduzindo sua vida em vista da própria salvação.
“Os filhos deste mundo são mais espertos em seus negócios do que os filhos da luz” (Lc 16,8). As pessoas estão muito mais preocupadas em ganhar dinheiro do que em ter um coração honesto e justo aos olhos de Deus, o que significa preocupar-se com sua salvação. Quantos “filhos da luz”, pessoas que anunciam o Evangelho aos outros, se comportam como “filhos deste mundo”, usando do Evangelho ou do cargo que ocupam na Igreja para se enriquecerem ou para terem vida de príncipes? Esse tipo de atitude não apenas desautoriza essas pessoas a falarem do Evangelho, como também desacreditam, perante a sociedade, a Igreja à qual representam.
Como todos nós lidamos com dinheiro, Jesus nos dá este conselho: “Usai o dinheiro injusto para fazer amigos” (Lc 16,9), isto é, para socorrer os pobres, para combater as injustiças sociais. Desse modo “eles (os pobres) vos receberão nas moradas eternas” (Lc 16,9). Jesus nos adverte também: “Quem é fiel nas pequenas coisas também é fiel nas grandes, e quem é injusto nas pequenas também é injusto nas grandes” (Lc 16,10). Tanto a justiça quanto a injustiça, a integridade quanto a corrupção, começam com pequenas atitudes diárias, que aos poucos se tornam hábitos; são como pequenos degraus que vamos subindo, até chegarmos ao topo, ou como páginas diárias de um livro que vamos escrevendo e que se tornará a autobiografia de um autêntico cristão ou de um autêntico corrupto, ainda que aparentando ser um homem de Deus. 
A conclusão do Evangelho é que não podemos servir a Deus e ao dinheiro, porque sempre nos apegaremos a um e desprezaremos o outro (cf. Lc 16,13). Permitamos que a Palavra radiografe o nosso bolso, a nossa consciência e o nosso coração, e nos ajude a reconhecer com sinceridade quem ocupa o centro da nossa vida, em quem encontramos segurança, a quem temos confiado a nossa alma: Deus ou o dinheiro. 

Pe. Paulo Cezar Mazzi

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