Missa do 25º. dom. comum. Palavra de
Deus: Amós 8,4-7; 1Timóteo 2,1-8; Lucas 16,1-13.
Por se apegarem ao dinheiro e
desprezarem a Deus, alguns donos de Bancos não apenas cobram juros abusivos dos
seus clientes, como também pressionam seus funcionários a “atingirem metas” de
vendas de produtos dos próprios Bancos, se quiserem manter seus cargos e
empregos. O preço disso é que cada vez mais aumenta o número de bancários
fazendo tratamento psiquiátrico.
Por se apegarem ao dinheiro e
desprezarem a Deus, algumas redes de Supermercados decidem abrir aos domingos
porque, como denunciou o profeta Amós (cf. Am 8,5), o dia do Senhor, dia de
descanso, só serve de “estorvo” ao mercado, que “precisa” ganhar dinheiro
também no domingo, e não somente de segunda a sábado. Por se apegarem ao
dinheiro e desprezarem a Deus, empresas “põem à venda o refugo do trigo” (Am
8,7), isto é, transformam seus funcionários em “refugos humanos”, em pessoas
que são privadas de seu sagrado descanso dominical, o único dia da semana em
que poderiam estar com suas famílias, já que os demais dias da semana não
permitem tal convívio.
Por nos apegarmos ao dinheiro e
desprezarmos a Deus, quantos de nós nos tornamos indiferentes à “prostração dos
pobres da terra” (Am 8,4), e nos habituamos a “diminuir medidas, aumentar pesos,
adulterar balanças” (Am 8,5), ou seja, nos habituamos a nos corromper para
ganhar algum dinheiro extra?
Recentemente, o Papa Francisco nos
lembrou da inversão de valores em que vive o nosso mundo: “Quem manda hoje é o
dinheiro... a feroz idolatria do dinheiro... Hoje em dia há crianças que morrem
de fome, há enfermos que não têm acesso a tratamento, há homens e mulheres que
são mendigos. Nada disso é notícia. Mas quando as bolsas de valores de algumas
capitais caem 3 ou 4 pontos, isso é tratado como uma grande catástrofe mundial.
Esse é o drama desse humanismo desumano que estamos vivendo” (Entrevista concedida a um repórter da Rede
Globo).
Para resgatar os verdadeiros valores, o
apóstolo Paulo nos convida a fazer “preces e orações, súplicas e ações de
graças, por todos os homens; pelos que governam e por todos que ocupam altos
cargos” (1Tm 2,1-2), sobretudo para que essas pessoas se coloquem sob a
autoridade de Deus e não sob a autoridade do dinheiro, pois quem se coloca sob
a autoridade do dinheiro se desumaniza. A verdade é que muitos daqueles que nos
governam são “governados” por quem tem dinheiro e sustentou suas campanhas
eleitorais. A verdade também é que aqueles que ocupam altos cargos ganham,
obviamente, altos salários, e altos salários tornam a consciência indiferente
às injustiças sociais. É por isso que essas pessoas precisam das nossas orações,
para que a consciência de cada uma delas sirva a Deus e não ao dinheiro.
“Presta contas da tua administração” (Lc
16,2). O Evangelho nos recorda que, no momento do nosso encontro definitivo com
Deus, deveremos prestar contas sobre a forma como conduzimos a nossa vida, e
também sobre a forma como lidamos com o dinheiro. O administrador desonesto
havia prejudicado muitas pessoas com os juros que cobrou em excesso, usando o
dinheiro do seu patrão. Pensando na sua “salvação” (“para que alguém me receba
em sua casa, quando eu for afastado da administração” Lc 16,4), chamou cada uma
dessas pessoas e recalculou a dívida delas, colocando na conta o valor real. A
questão central, portanto, é se cada um de nós está conduzindo sua vida em
vista da própria salvação.
“Os filhos deste mundo são mais espertos
em seus negócios do que os filhos da luz” (Lc 16,8). As pessoas estão muito
mais preocupadas em ganhar dinheiro do que em ter um coração honesto e justo
aos olhos de Deus, o que significa preocupar-se com sua salvação. Quantos
“filhos da luz”, pessoas que anunciam o Evangelho aos outros, se comportam como
“filhos deste mundo”, usando do Evangelho ou do cargo que ocupam na Igreja para
se enriquecerem ou para terem vida de príncipes? Esse tipo de atitude não
apenas desautoriza essas pessoas a falarem do Evangelho, como também
desacreditam, perante a sociedade, a Igreja à qual representam.
Como todos nós lidamos com dinheiro,
Jesus nos dá este conselho: “Usai o dinheiro injusto para fazer amigos” (Lc
16,9), isto é, para socorrer os pobres, para combater as injustiças sociais.
Desse modo “eles (os pobres) vos receberão nas moradas eternas” (Lc 16,9). Jesus
nos adverte também: “Quem é fiel nas pequenas coisas também é fiel nas grandes,
e quem é injusto nas pequenas também é injusto nas grandes” (Lc 16,10). Tanto a
justiça quanto a injustiça, a integridade quanto a corrupção, começam com
pequenas atitudes diárias, que aos poucos se tornam hábitos; são como pequenos
degraus que vamos subindo, até chegarmos ao topo, ou como páginas diárias de um
livro que vamos escrevendo e que se tornará a autobiografia de um autêntico cristão ou de um autêntico corrupto, ainda que
aparentando ser um homem de Deus.
A conclusão do Evangelho é que não podemos
servir a Deus e ao dinheiro, porque sempre nos apegaremos a um e desprezaremos
o outro (cf. Lc 16,13). Permitamos que a Palavra radiografe o nosso bolso, a
nossa consciência e o nosso coração, e nos ajude a reconhecer com sinceridade
quem ocupa o centro da nossa vida, em quem encontramos segurança, a quem temos
confiado a nossa alma: Deus ou o dinheiro.
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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