Missa
do 24º. dom. comum. Palavra de Deus: Êxodo 32,7-11.13-14; 1Timóteo 1,12-17;
Lucas 15,1-32.
Um
homem tinha cem ovelhas e perdeu uma. Uma mulher tinha 10 moedas de prata e
perdeu uma. Um pai tinha dois filhos e “perdeu” o mais novo. Quantas perdas nós
já sofremos na vida? Quem de nós já não perdeu algo ou alguém precioso na vida?
Quem de nós não se sente às vezes perdido na vida, perdido não só no sentido de
não saber “para onde ir” com sua vida, mas também perdido no sentido de achar
que não há salvação para si? Quem aqui já não se sentiu “um caso perdido”?
Sejam
quais forem as perdas que sofremos na vida, sejam quais forem as perdas que
teremos que lidar na vida, o Evangelho nos convida a olhar para Jesus, que
disse: “O Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido” (Lc
19,10). Como o apóstolo Paulo, somos convidados a proclamar a nossa fé,
declarando: “Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores. E eu sou o
primeiro deles!” (1Tm 1,15).
O
que motivou Jesus a contar as parábolas da ovelha perdida, da moeda perdida e
do filho perdido foi a crítica dos fariseus e dos mestres da Lei: “Este homem
acolhe pecadores e faz refeição com eles” (Lc 15,2). Por trás dessa crítica, há
uma imagem distorcida de Deus e da religião/Igreja: quando o homem decide
conscientemente pecar e se afastar de Deus, Deus o abandona no seu pecado, e o
papel da religião/Igreja é declarar que tal pessoa está perdida, isto é, que não
tem salvação. Em outras palavras, para os fariseus e os mestres da Lei de ontem
e de hoje, a Igreja é o lugar dos salvos, e o “mundo” é o lugar dos perdidos.
Jesus
corrige a imagem distorcida que temos de Deus e da Igreja. Deus não aceita
perder ninguém, e para recuperar um filho Seu, Ele é capaz de tudo. Ao mesmo
tempo, Deus convida cada um de nós a sairmos de nossas igrejas e caminharmos
pelo mundo, atrás daqueles que se sentem perdidos ou que estão em risco de se
perderem. Em outras palavras, a Igreja não é o lugar dos salvos, mas dos
reencontrados, porque não há ninguém que algum dia não tenha se perdido na
vida. Portanto, a mesma missão que o Pai confiou a Jesus, confia a cada um de
nós, discípulos de Jesus: procurar e salvar o que estava perdido, custe o que
custar.
Algumas
pessoas se afastam das nossas comunidades, por diversos motivos. Convém examinar
se esse afastamento não se deve a algumas atitudes nossas. Nós nos preocupamos
em conversar com essas pessoas que se afastam? Quando elas retornam, nós “fazemos
festa” e as acolhemos com sincera alegria (cf. Lc 15,6.9.24.30), ou lhes dirigimos
perguntas irônicas, do tipo: “Ressuscitou?” O Evangelho convida cada um de nós
a ser um sacramento dessa procura incansável de Deus, até trazer de volta
aqueles que, por diversos motivos, se afastaram.
“Alegrai-vos
comigo! Encontrei a minha ovelha que estava perdida!” (Lc 15,6). “Alegrai-vos
comigo! Encontrei a moeda que tinha perdido!” (Lc 15,9). “Vamos fazer um
banquete. Porque este meu filho estava morto e tornou a viver, estava perdido e
foi encontrado” (Lc 15,24). Cada vez que nós fazemos o que está ao nosso
alcance para procurar e salvar o que estava perdido, enchemos o coração de Deus
de alegria e nos tornamos para o mundo um sinal vivo do amor de Deus, amor que
ama cada pessoa desde sempre e para sempre, independente dos seus méritos e das
suas culpas.
Há
tempos atrás, o Papa Francisco disse: “Deus nunca se cansa de nos perdoar.
Somos nós que nos cansamos de pedir perdão”. Poderíamos dizer também: Deus
nunca se cansa de se levantar e de ir à nossa procura; somos nós que nos
cansamos de nos levantar, de ir ao Seu encontro e de nos deixar abraçar por
Ele. Essa foi a decisão que salvou a vida do filho mais novo: “Vou me levantar.
Vou voltar para meu pai e dizer-lhe: ‘Pai, pequei...’ Quando ainda estava
longe, seu pai o avistou e sentiu compaixão. Correu-lhe ao encontro, abraçou-o
e cobriu-o de beijos” (Lc 15,18.20).
Das
três parábolas contadas por Jesus, talvez uma mereça uma consideração
particular: a da moeda perdida. Essa moeda foi perdida dentro de casa. Dentro
da nossa casa interior algumas coisas foram perdidas ao longo do tempo, coisas
pequenas como uma moeda, mas são coisas valiosas – a moeda era de prata! Há
quanto tempo você não varre sua casa interior? Talvez você tenha desistido de
encontrar essa moeda e considere que hoje seja tarde demais para procurá-la.
Jesus nos ensina que nunca é tarde demais para procurar aquilo que se perdeu.
Ao invés de seguir pela vida como vítima, lamentando a perda, a atitude mais
construtiva é decidir levantar-se, acender a luz – pedir a luz de Deus para encontrar
o que perdemos – varrer a casa, remover a sujeira que por anos permitimos que
se acumulasse dentro de nós e, quem sabe, poderemos voltar a nos alegrar pela
moeda reencontrada...
O recado do Evangelho é claro: para Deus ninguém
é um caso perdido; para Deus nada está perdido para sempre; o que falta no
mundo – e em alguns de nós – é a vontade de nos levantar e a disposição em
procurar até encontrar aquilo que se perdeu, permitindo, desse modo, que a
alegria de Deus volte a encher o nosso coração com a sua presença...
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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