quinta-feira, 12 de setembro de 2013

NADA ESTÁ PERDIDO PARA SEMPRE

Missa do 24º. dom. comum. Palavra de Deus: Êxodo 32,7-11.13-14; 1Timóteo 1,12-17; Lucas 15,1-32.

Um homem tinha cem ovelhas e perdeu uma. Uma mulher tinha 10 moedas de prata e perdeu uma. Um pai tinha dois filhos e “perdeu” o mais novo. Quantas perdas nós já sofremos na vida? Quem de nós já não perdeu algo ou alguém precioso na vida? Quem de nós não se sente às vezes perdido na vida, perdido não só no sentido de não saber “para onde ir” com sua vida, mas também perdido no sentido de achar que não há salvação para si? Quem aqui já não se sentiu “um caso perdido”?
Sejam quais forem as perdas que sofremos na vida, sejam quais forem as perdas que teremos que lidar na vida, o Evangelho nos convida a olhar para Jesus, que disse: “O Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido” (Lc 19,10). Como o apóstolo Paulo, somos convidados a proclamar a nossa fé, declarando: Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores. E eu sou o primeiro deles!” (1Tm 1,15).
O que motivou Jesus a contar as parábolas da ovelha perdida, da moeda perdida e do filho perdido foi a crítica dos fariseus e dos mestres da Lei: “Este homem acolhe pecadores e faz refeição com eles” (Lc 15,2). Por trás dessa crítica, há uma imagem distorcida de Deus e da religião/Igreja: quando o homem decide conscientemente pecar e se afastar de Deus, Deus o abandona no seu pecado, e o papel da religião/Igreja é declarar que tal pessoa está perdida, isto é, que não tem salvação. Em outras palavras, para os fariseus e os mestres da Lei de ontem e de hoje, a Igreja é o lugar dos salvos, e o “mundo” é o lugar dos perdidos.
Jesus corrige a imagem distorcida que temos de Deus e da Igreja. Deus não aceita perder ninguém, e para recuperar um filho Seu, Ele é capaz de tudo. Ao mesmo tempo, Deus convida cada um de nós a sairmos de nossas igrejas e caminharmos pelo mundo, atrás daqueles que se sentem perdidos ou que estão em risco de se perderem. Em outras palavras, a Igreja não é o lugar dos salvos, mas dos reencontrados, porque não há ninguém que algum dia não tenha se perdido na vida. Portanto, a mesma missão que o Pai confiou a Jesus, confia a cada um de nós, discípulos de Jesus: procurar e salvar o que estava perdido, custe o que custar.
Algumas pessoas se afastam das nossas comunidades, por diversos motivos. Convém examinar se esse afastamento não se deve a algumas atitudes nossas. Nós nos preocupamos em conversar com essas pessoas que se afastam? Quando elas retornam, nós “fazemos festa” e as acolhemos com sincera alegria (cf. Lc 15,6.9.24.30), ou lhes dirigimos perguntas irônicas, do tipo: “Ressuscitou?” O Evangelho convida cada um de nós a ser um sacramento dessa procura incansável de Deus, até trazer de volta aqueles que, por diversos motivos, se afastaram.   
“Alegrai-vos comigo! Encontrei a minha ovelha que estava perdida!” (Lc 15,6). “Alegrai-vos comigo! Encontrei a moeda que tinha perdido!” (Lc 15,9). “Vamos fazer um banquete. Porque este meu filho estava morto e tornou a viver, estava perdido e foi encontrado” (Lc 15,24). Cada vez que nós fazemos o que está ao nosso alcance para procurar e salvar o que estava perdido, enchemos o coração de Deus de alegria e nos tornamos para o mundo um sinal vivo do amor de Deus, amor que ama cada pessoa desde sempre e para sempre, independente dos seus méritos e das suas culpas.
Há tempos atrás, o Papa Francisco disse: “Deus nunca se cansa de nos perdoar. Somos nós que nos cansamos de pedir perdão”. Poderíamos dizer também: Deus nunca se cansa de se levantar e de ir à nossa procura; somos nós que nos cansamos de nos levantar, de ir ao Seu encontro e de nos deixar abraçar por Ele. Essa foi a decisão que salvou a vida do filho mais novo: “Vou me levantar. Vou voltar para meu pai e dizer-lhe: ‘Pai, pequei...’ Quando ainda estava longe, seu pai o avistou e sentiu compaixão. Correu-lhe ao encontro, abraçou-o e cobriu-o de beijos” (Lc 15,18.20).
Das três parábolas contadas por Jesus, talvez uma mereça uma consideração particular: a da moeda perdida. Essa moeda foi perdida dentro de casa. Dentro da nossa casa interior algumas coisas foram perdidas ao longo do tempo, coisas pequenas como uma moeda, mas são coisas valiosas – a moeda era de prata! Há quanto tempo você não varre sua casa interior? Talvez você tenha desistido de encontrar essa moeda e considere que hoje seja tarde demais para procurá-la. Jesus nos ensina que nunca é tarde demais para procurar aquilo que se perdeu. Ao invés de seguir pela vida como vítima, lamentando a perda, a atitude mais construtiva é decidir levantar-se, acender a luz – pedir a luz de Deus para encontrar o que perdemos – varrer a casa, remover a sujeira que por anos permitimos que se acumulasse dentro de nós e, quem sabe, poderemos voltar a nos alegrar pela moeda reencontrada... 
O recado do Evangelho é claro: para Deus ninguém é um caso perdido; para Deus nada está perdido para sempre; o que falta no mundo – e em alguns de nós – é a vontade de nos levantar e a disposição em procurar até encontrar aquilo que se perdeu, permitindo, desse modo, que a alegria de Deus volte a encher o nosso coração com a sua presença... 
                                                             Pe. Paulo Cezar Mazzi

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