Missa do 21º. dom.
comum. Palavra de Deus: Isaías 66,18-21; Hebreus 12,5-7.11-13; Lucas 13,22-30.
Porta significa acesso. Quando uma
pessoa está desempregada, diz: “As portas estão fechadas para mim”. Quando
queremos animar uma pessoa, dizemos: “Uma porta se fechou para você, mas outra
se abrirá!” Jesus declara no livro do Apocalipse: “Eis que pus à tua frente uma
porta aberta que ninguém poderá fechar, pois tens pouca força, mas guardaste
minha palavra e não renegaste meu nome” (Ap 3,8). Jesus é a verdadeira e única porta
que nos dá acesso ao Pai: “Por meio dele, nós, judeus e pagãos (isto é, todas
as pessoas), num só Espírito, temos acesso ao Pai” (Ef 2,18).
Jesus usou a imagem da porta para
responder à pergunta que alguém lhe fez: “Senhor, é verdade que são poucos os
que se salvam?” (Lc 13,23), ao que Jesus respondeu: “Fazei todo esforço possível
para entrar pela porta estreita. Porque eu vos digo que muitos tentarão entrar
e não conseguirão” (Lc 13,24). Se não queremos ter uma ideia errada do que
significa a “porta estreita”, devemos levar em conta a afirmação bíblica que
diz que Deus “quer que todos sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade”
(1Tm 2,4). Isso é comprovado na leitura que ouvimos do profeta Isaías, quando
Deus declara: “Virei para reunir todos os povos e línguas; eles virão e verão minha
glória” (Is 66,18), e também no final do Evangelho, quando Jesus diz: “Virão
homens do oriente e do ocidente, do norte e do sul e tomarão lugar à mesa no
Reino de Deus” (Lc 13,29).
A
porta que dá acesso ao Pai, que dá acesso à salvação, foi aberta por Jesus e
ninguém poderá fechá-la. Porém, qualquer pessoa pode não querer entrar por ela.
Por qual motivo? Porque ela é estreita. Estreita em que sentido? Porque ela é a
porta da justiça: “Afastai-vos de mim, todos vós, que praticais a injustiça!”
(Lc 13,27). Não são poucas as pessoas de diferentes igrejas e religiões que se
colocam como guardiãs da porta do Reino de Deus, julgando os outros e determinando
quem vai ser salvo e quem vai ser condenado. Jesus deixa claro que, independente
da religião, devemos ser pessoas justas e trabalhar em favor da justiça. Como
afirmou o Papa Francisco, “que todos trabalhemos pelos outros... segundo os
valores da sua (própria) fé. Primeiro, trabalhar pelos outros; depois,
conversar entre nós (sobre nossas diferenças religiosas)... Acredito que as religiões
não podem dormir tranquilas enquanto exista uma única criança que morra de
fome, uma só criança sem educação, um só jovem ou idoso sem atendimento médico”.
“Fazei
todo esforço possível para entrar pela porta estreita” (Lc 13,24), disse Jesus.
A porta estreita é o confronto consigo mesmo, o enfrentar os próprios
sentimentos, o assumir a responsabilidade pela sua vida e parar de culpar os
outros pela sua infelicidade. A porta estreita é o saber colocar limites para
si mesmo, exercitar o autodomínio, lidar consigo como adulto e não como criança
mimada. A porta estreita é o aprender a lidar com as frustrações, o aprender a
conviver com as perguntas até que cheguem as respostas. A porta estreita é o suportar
as demoras de Deus, o colocar-se na presença d’Ele com humildade, sem querer
impor-Lhe a maneira como Ele deve agir para com você. A porta estreita é aceitar
ser educado(a), repreendido(a), corrigido(a) pelo Senhor, sabendo que a dor
dessa correção é sofrida, mas necessária para formar o seu coração na justiça
(cf. Hb 12,5-7.11).
A
imagem de Deus como um Pai que corrige, repreende e educa seus filhos e filhas
para formá-los na justiça contrasta com a atitude de muitos pais hoje que não
corrigem, não repreendem e não se preocupam em formar seus filhos na justiça,
mas em servir aos seus caprichos e proporcionar-lhes um constante bem-estar. O
resultado já está sendo visto: personalidades fracas – crianças, adolescentes e
jovens incapazes de lidar com frustrações; adultos infantilizados – caricaturas
de cristãos, pessoas que escolhem passar longe de qualquer porta estreita
porque rejeitam tudo aquilo que exige delas algum tipo de esforço, renúncia ou
sacrifício.
O
Evangelho termina com um alerta: “Há últimos que serão primeiros, e primeiros
que serão últimos” (Lc 13,30). Muitos que hoje decidiram viver segundo a
justiça talvez amanhã desistam dela, enquanto outros que hoje rejeitam o caminho
da justiça amanhã decidam andar por ele. Jesus nos ensina que a decisão de
entrar pela porta estreita é algo a ser tomado todos os dias. Portanto, “firmai
as mãos cansadas e os joelhos enfraquecidos; acertai os passos dos vossos pés,
para que não se extravie o que é manco, mas antes seja curado” (Hb 12,12-13).
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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