Missa do 3º. dom. da páscoa. Palavra de Deus: Atos dos
Apóstolos 5,27b-32.40b-41; Apocalipse 5,11-14; João 21,1-19.
Na primeira vez
que Jesus apareceu aos discípulos, após a ressurreição, Tomé não estava
presente e não acreditou no testemunho que os discípulos deram: “Vimos o
Senhor!” (Jo 20,25). Então, Jesus apareceu uma segunda vez aos discípulos, e
fez questão de dizer a Tomé: “Não seja incrédulo, mas tenha fé!” (Jo 20,27). Agora,
o Evangelho nos fala da terceira vez em que Jesus, após a ressurreição, aparece
aos discípulos, e o objetivo dessa terceira aparição é falar ao coração de Pedro,
o discípulo que havia negado Jesus três vezes na hora da cruz.
Após a
ressurreição de Jesus, Pedro seguia sua vida com normalidade. Podemos perceber
isso quando tomou a iniciativa: “Eu vou pescar” (Jo 21,3). Ele já era pescador
antes de conhecer Jesus. Mas Jesus o havia convidado a segui-Lo e a se tornar
pescador de homens (cf. Mt 4,18-20). Portanto, quando Pedro decide ir pescar, ele
pode estar retornando à sua antiga profissão de pescador, ou simplesmente dando
continuidade à missão que Jesus lhe confiou antes da Sua morte e ressurreição. O
fato é que naquela noite os discípulos não pescaram nada (cf. Jo 21,3).
Pedro é a imagem
de cada um de nós. Por bem mais de três vezes nós já negamos Jesus; já nos
omitimos em falar d’Ele; já nos recusamos a trabalhar para Ele, seja por
comodismo, seja para não corrermos o risco de sermos criticados pelas pessoas. Assim
como Pedro, nós nos sentimos tentados a abandonar a missão que Jesus um dia nos
confiou, ou a desempenhá-la por nós mesmos, sem uma união profunda com o Senhor
por meio da oração. E quando fazemos isso, fracassamos.
O que há de
errado com a nossa vida? Por que aquilo que estávamos habituados a fazer não
funciona mais? Por que, apesar de estarmos trabalhando para Jesus, nos sentimos
às vezes fracassados em nosso trabalho? Porque fazemos as coisas por nós
mesmos, a partir de nós e não de Jesus; porque trabalhamos para Jesus sem a
convicção de que Ele está vivo, ressuscitado junto de nós! A notícia da
ressurreição de Jesus pode ter chegado aos nossos ouvidos, mas ainda não fez
reviver o nosso coração de discípulos.
Na
medida em que a palavra de Jesus Ressuscitado penetrou no coração dos discípulos
e eles a obedeceram, as redes se encheram de peixes (cf. Jo 21,6). Mas o objetivo
de Jesus, nesta terceira aparição, era devolver o vigor e a fidelidade ao
coração de Pedro. Como Pedro representa cada um de nós, é ao nosso coração que
Jesus se dirige neste terceiro domingo da Páscoa, perguntando se nós O amamos mais
do que as pessoas com as quais convivemos O amam. Se Jesus nos perguntasse se
nós cremos n’Ele, talvez não fosse tão difícil responder. Mas Ele pergunta se
nós O amamos. O amor é a única força capaz de nos fazer passar da morte para a
vida (cf. 1Jo 3,14). Quando o amor se enfraquece ou morre em nós, tudo à nossa
volta se enfraquece e morre. Se as nossas redes estão vazias não é porque não
estamos fazendo bem o nosso trabalho, mas porque o fazemos sem amor, sem um
amor verdadeiro por Jesus Cristo.
Na
medida em que Pedro, com sinceridade, declara o seu amor por Jesus, Jesus lhe
responde: “Apascenta os meus cordeiros... Apascenta as minhas ovelhas” (Jo
21,15.16.17). O amor não é apenas um sentimento, mas uma atitude que nasce de
um sentimento. Quem ama, cuida. Somente quando amamos Jesus é que nos
envolvemos no cuidado com as pessoas que Ele nos confia, assim como nos
envolvemos no cuidado com a Sua Igreja.
Ao terminar seu
diálogo com Pedro, e com cada um de nós, Jesus deixa claro que o amor por Ele
implicará algum tipo de sofrimento para nós. Em nossa vida de discípulos, chegará
o momento em que nos levarão para onde não queremos ir (cf. Jo 21,18). Por
causa do nosso amor por Jesus Cristo e pelo Seu Evangelho, nós experimentaremos
a morte, no sentido de sermos ignorados e desprezados, ou quem sabe até mortos
pelo mundo! Mas isso servirá para glorificarmos a Deus. Independente do quê nos
aguarda no caminho de discípulos, Jesus nos diz: “Siga-me” (Jo 21,19). Siga-me,
mesmo na sua fraqueza, nos seus tropeços, no seu amor inconstante por mim. Siga-me,
também quando você for obrigado a fazer coisas que não gostaria, quando tiver
que sofrer por causa de Mim (cf. At 5,40-41). Siga-me confiando que, se à tarde
o pranto vier te visitar, de manhã a alegria virá te saudar, e o teu pranto
será transformado em uma festa (cf. Sl 30,6.12). Siga-me, esperando com plena
confiança o dia da tua ressurreição!
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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