Missa do 4º.
dom. da Páscoa. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 13,14.43-52; Apocalipse 7,9.14b-17; João 10,27-30.
A Sagrada
Escritura escolheu a imagem da ovelha e do pastor para falar da nossa relação
com Deus. A única coisa que mantém a ovelha unida ao seu pastor é a voz dele.
Nenhuma corda, nenhuma coleira, nenhum cabresto. Apenas a voz do pastor. Por
isso, Jesus declara: “As minhas ovelhas escutam a minha voz, eu as conheço e
elas me seguem” (Jo 10,27).
“As minhas
ovelhas escutam a minha voz”. Desde o Antigo Testamento, escutar Deus tornou-se
condição para Israel se manter vivo (cf. Dt 6,4; Sl 95,7; Sl 81,9). Nós
precisamos ouvir Deus, se quisermos viver. Mas, como escutar Deus, se os nossos
ouvidos estão sempre ocupados? É verdade que Deus normalmente não fala aos
nossos ouvidos, mas sim à nossa consciência e ao nosso coração. Mas, como ouvir
Deus, se nos mantemos afastados da voz da nossa própria consciência, se temos
medo de escutar nosso próprio coração?
O fato é que nós nos tornamos pessoas
incapazes de escutar. Antes de mais nada, não sabemos escutar as pessoas com as
quais convivemos diariamente. Depois, não sabemos escutar nosso próprio
interior. Por fim, não sabemos escutar Deus. Ou melhor, não queremos escutar Deus, pois, segundo a
Bíblia, escutar é sinônimo de obedecer:
“Mas meu povo não ouviu minha voz, Israel não quis obedecer-me” (Sl 81,12). E
quando não queremos escutar/obedecer a Deus, perdemos o nosso GPS interior,
ficamos sem bússola, sem direção: “então os entreguei ao seu coração
endurecido: que sigam seus próprios caminhos!” (Sl 81,13).
Paulo e Barnabé
declararam que quando rejeitamos a palavra do Senhor, no sentido de não
obedecê-la, agimos como pessoas indignas da vida eterna. Somente aquele que
escuta a Palavra e a obedece destina-se à vida eterna (cf. At 13,46.48). Também
Jesus deixa claro que aqueles que escutam a sua voz e o seguem encontram a vida
eterna, não se perdem, não caminham sem direção: “Eu dou-lhes a vida eterna e
elas jamais se perderão” (Jo 10,28). Quando diariamente tomamos a decisão de
silenciar e nos colocar diante da palavra do Senhor, nossa vida encontra
direção, encontra sentido; não nos perdemos nos descaminhos do mundo.
Não são poucas
as pessoas que caminham sem direção, sem sentido, pessoas que têm se perdido e
se destruído, que se habituaram a conviver com a voz do próprio egoísmo, da
própria ambição e da própria agressividade, pessoas para as quais a voz de Deus
se tornou estranha, que não se permitem parar, silenciar e ouvir a voz que pode
devolvê-las às mãos de Jesus.
Jesus nos diz que a ovelha que escuta a voz do
seu pastor e o segue confia-se às suas mãos: “Ninguém vai arrancá-las de minha
mão. Meu Pai, que me deu estas ovelhas, é maior que todos, e ninguém pode
arrebatá-las da mão do Pai” (Jo 10,28-29). Quando acontecimentos parecem negar
esta verdade? Quantos acidentes e quantos atos violentos arrancaram filhos de
seus pais, pais de seus filhos, crianças e jovens do seio de suas famílias? Quantos
acontecimentos parecem nos arrancar com violência das mãos de Jesus e nos fazer
perder completamente a nossa paz?
Jesus sempre se
confiou às mãos do Pai. Mesmo assim, teve sua vida por um momento arrancada e
entregue à morte. Mas as mãos do Pai o arrancaram da morte e o ressuscitaram.
Por isso, só ele pode dizer com segurança: “Meu Pai, que me deu estas ovelhas,
é maior que todos, e ninguém pode arrebatá-las da mão do Pai” (Jo 10,29). Nenhum
acontecimento, por mais ameaçador e destrutivo que seja, pode nos tirar da mão
do Pai e das mãos de Jesus, a quem o Pai confiou cada um de nós.
Ao mesmo tempo
em que o Evangelho nos convida a renovar o nosso compromisso de escuta e
obediência para com a voz do nosso Pastor e professar a nossa fé na força da
sua mão poderosa, ele nos pede também para sermos bons pastores, fazendo chegar
a sua voz ao coração daqueles que à nossa volta estão perdidos, sem direção,
arrancando aqueles que pudermos arrancar das mãos do mal, da injustiça e do
sofrimento e devolvendo-os às mãos de Jesus, pois a nós também se dirige esta
Palavra: “Eu te coloquei como luz das nações, para que leves a salvação até os
confins da terra” (At 13,47).
Rezemos especialmente hoje pelas vocações
sacerdotais, religiosas e missionárias, para que não faltem ao rebanho pastores
segundo o coração de Deus (cf. Jr 3,15), mulheres e homens portadores da
Palavra capaz de devolver a direção, o sentido à vida da humanidade, para que todos
reencontrem Aquele que é o verdadeiro e único Pastor, o Cordeiro, que “os
conduzirá às fontes da água da vida. E Deus enxugará as lágrimas de seus olhos”
(Ap 7,17).
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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