sexta-feira, 19 de abril de 2013

A MINHA ALMA EM TUA VOZ ENCONTRA DIREÇÃO


Missa do 4º. dom. da Páscoa. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 13,14.43-52; Apocalipse 7,9.14b-17; João 10,27-30.

A Sagrada Escritura escolheu a imagem da ovelha e do pastor para falar da nossa relação com Deus. A única coisa que mantém a ovelha unida ao seu pastor é a voz dele. Nenhuma corda, nenhuma coleira, nenhum cabresto. Apenas a voz do pastor. Por isso, Jesus declara: “As minhas ovelhas escutam a minha voz, eu as conheço e elas me seguem” (Jo 10,27).
“As minhas ovelhas escutam a minha voz”. Desde o Antigo Testamento, escutar Deus tornou-se condição para Israel se manter vivo (cf. Dt 6,4; Sl 95,7; Sl 81,9). Nós precisamos ouvir Deus, se quisermos viver. Mas, como escutar Deus, se os nossos ouvidos estão sempre ocupados? É verdade que Deus normalmente não fala aos nossos ouvidos, mas sim à nossa consciência e ao nosso coração. Mas, como ouvir Deus, se nos mantemos afastados da voz da nossa própria consciência, se temos medo de escutar nosso próprio coração?
 O fato é que nós nos tornamos pessoas incapazes de escutar. Antes de mais nada, não sabemos escutar as pessoas com as quais convivemos diariamente. Depois, não sabemos escutar nosso próprio interior. Por fim, não sabemos escutar Deus. Ou melhor, não queremos escutar Deus, pois, segundo a Bíblia, escutar é sinônimo de obedecer: “Mas meu povo não ouviu minha voz, Israel não quis obedecer-me” (Sl 81,12). E quando não queremos escutar/obedecer a Deus, perdemos o nosso GPS interior, ficamos sem bússola, sem direção: “então os entreguei ao seu coração endurecido: que sigam seus próprios caminhos!” (Sl 81,13). 
Paulo e Barnabé declararam que quando rejeitamos a palavra do Senhor, no sentido de não obedecê-la, agimos como pessoas indignas da vida eterna. Somente aquele que escuta a Palavra e a obedece destina-se à vida eterna (cf. At 13,46.48). Também Jesus deixa claro que aqueles que escutam a sua voz e o seguem encontram a vida eterna, não se perdem, não caminham sem direção: “Eu dou-lhes a vida eterna e elas jamais se perderão” (Jo 10,28). Quando diariamente tomamos a decisão de silenciar e nos colocar diante da palavra do Senhor, nossa vida encontra direção, encontra sentido; não nos perdemos nos descaminhos do mundo.
Não são poucas as pessoas que caminham sem direção, sem sentido, pessoas que têm se perdido e se destruído, que se habituaram a conviver com a voz do próprio egoísmo, da própria ambição e da própria agressividade, pessoas para as quais a voz de Deus se tornou estranha, que não se permitem parar, silenciar e ouvir a voz que pode devolvê-las às mãos de Jesus.
 Jesus nos diz que a ovelha que escuta a voz do seu pastor e o segue confia-se às suas mãos: “Ninguém vai arrancá-las de minha mão. Meu Pai, que me deu estas ovelhas, é maior que todos, e ninguém pode arrebatá-las da mão do Pai” (Jo 10,28-29). Quando acontecimentos parecem negar esta verdade? Quantos acidentes e quantos atos violentos arrancaram filhos de seus pais, pais de seus filhos, crianças e jovens do seio de suas famílias? Quantos acontecimentos parecem nos arrancar com violência das mãos de Jesus e nos fazer perder completamente a nossa paz?
Jesus sempre se confiou às mãos do Pai. Mesmo assim, teve sua vida por um momento arrancada e entregue à morte. Mas as mãos do Pai o arrancaram da morte e o ressuscitaram. Por isso, só ele pode dizer com segurança: “Meu Pai, que me deu estas ovelhas, é maior que todos, e ninguém pode arrebatá-las da mão do Pai” (Jo 10,29). Nenhum acontecimento, por mais ameaçador e destrutivo que seja, pode nos tirar da mão do Pai e das mãos de Jesus, a quem o Pai confiou cada um de nós.
Ao mesmo tempo em que o Evangelho nos convida a renovar o nosso compromisso de escuta e obediência para com a voz do nosso Pastor e professar a nossa fé na força da sua mão poderosa, ele nos pede também para sermos bons pastores, fazendo chegar a sua voz ao coração daqueles que à nossa volta estão perdidos, sem direção, arrancando aqueles que pudermos arrancar das mãos do mal, da injustiça e do sofrimento e devolvendo-os às mãos de Jesus, pois a nós também se dirige esta Palavra: “Eu te coloquei como luz das nações, para que leves a salvação até os confins da terra” (At 13,47).  
Rezemos especialmente hoje pelas vocações sacerdotais, religiosas e missionárias, para que não faltem ao rebanho pastores segundo o coração de Deus (cf. Jr 3,15), mulheres e homens portadores da Palavra capaz de devolver a direção, o sentido à vida da humanidade, para que todos reencontrem Aquele que é o verdadeiro e único Pastor, o Cordeiro, que “os conduzirá às fontes da água da vida. E Deus enxugará as lágrimas de seus olhos” (Ap 7,17). 

Pe. Paulo Cezar Mazzi

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